A última primavera escrita por Valerie


Capítulo 18
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A hora do cerimonial chagou e como manda a tradição todos foram receber os diplomas e colocar aquele bagulhinho na cabeça. Todos fizeram pose para a foto, inclusive eu que puxei Lívia pela mão e tiramos a foto juntas.

Todos os alunos (ou quase isso) da minha sala tinham um discurso a declamar, deixei todos irem na minha frente, até a diretora perguntar se mais alguém queria falar algo, caso contrário ela faria o juramento e a festa se encerraria. Levantei a mão e ela sorriu pra mim. Eu enfim estava lá, no palco, tremendo. Com um pedaço de papel na mão. Eu sei que decorei o texto, mas também sei que não lembro de nada.

Senti por um momento a presença dele, por essa fração de segundos me senti feliz, mais viva. E como o Dr. João tinha dito: minha saúde esta em risco perto dele. Amassei o papel do discurso e abaixei a cabeça para ditar o poema:

– “Quero que você me queira assim,

Com meu sorriso meio triste,

Com minhas asas longas ou curtas,

Com exagero de raiva ou de afeto,

Com a gargalhada e o mau humor,

Com minha capacidade de falar

E as manias de me fechar em silencio...”.

Levantei a cabeça e fiz uma pausa para olhar ao redor.

Todos me olhando, inclusive Paolo que da porta sorria pra mim.

O olhei de cima a baixo, o cabelo mexido para o lado, terno e gravata, e all star! Ri para mim mesma ao ver minha lista em sua mão.

Peguei o copo com água que era para fazer o juramento e tomei-o.

Todos riram da minha atitude e continuei declamando o poema, agora exclusivamente pra ele.

– “Quero que você cante comigo, todas as canções de amor.

Quero que você viaje comigo pros paises mais encantados;

Quero dançar nas nuvens com você.

Quero você junto, remexendo minha rotina.”.

Por mais que estivéssemos brigados ou não, quis fazer isso. Não sei bem porque, mas eu sabia que era necessário, necessário para vivermos nossa última primavera.

Não me privei de evitar o esforço e continuei dizendo palavra por palavra. Acabei, mas não ouvi uma palma se quer, todos os meus sentidos estavam concentrados nele, somente nele.

Tentei ouvir seus pensamentos, mas tudo que ouvi foi aquela melodia que agora tinha se transformado numa linda música.

“Eu nunca consegui saber diferenciar:

Não querer com não mais sentir, não merecer com não mais amar.

E hoje eu estou aqui, sem ter lugar pra ficar, escrevendo canções pra que você possa escutar com outro alguém do seu lado.

Alguém que te faz sorrir,

Alguém que vai te abraçar,

Quando a escuridão cair, te impedindo de me enxergar...

E hoje eu estou aqui e pra sempre vou ficar.

Segundos antes de dormir, de mim você vai lembra.

Tente me ouvir, tente me ver...

Um outro alguém eu vou buscar, eu juro que eu vou ser.”.

Sim, aquela seria a nossa música, mas não pude aplaudi-lo.

Não consegui ficar em pé por muito tempo.

Ele corria para perto de mim, e a cada passo eu me sentia mais fraca.

Apoiei-me no púpto, pensei que ia cair no chão com o impacto, mas ele me segurou rápido estávamos ali frente a frente.

Uma roda de pessoas tinha se formado a nossa volta, mas agora elas pouco me importavam eu só queria falar pra ele...

Balbuciei algumas palavras sem sentido:

– Última primavera. Minha última.

O sorriso em seu rosto deixou de existir, e o pânico tomou conta. Acariciei seu rosto, aquela poderia ser a ultima vez que o veria.

Seu rosto chegou mais perto de mim e por fim senti doçura, sede, desejo, vontade e o que abrangia todos esses sentimentos: havia o mais puro amor naqueles lábios.

Depois daquele beijo não tive nem força para abrir os olhos e sucumbi num sono profundo e pesado. Não tenho muitas recordações do que houve depois de ter o beijado.

Mas ouvi tudo a minha volta, coisas se quebrando, gritos, choro...

Toda aquela confusão e eu não conseguia levantar e mandar todo mundo calar a boca.

Passaram alguns dias assim, bem pelo menos era o que Sandra me falava todas as vezes que eu ouvia sua voz. Queria responder, abrir os olhos, mas não conseguia de nenhuma forma.

Não era só a voz de Sandra que eu ouvia. Lukas, Flávia, Lívia, Dr. João, Vovó Cibele... Todos conversaram comigo, mas ninguém falou nada sobre o Paolo.

Certo dia ouvi uma voz e com dificuldade pude reconhecê-la.

– Quando falei pra você que só voltaria a falar contigo quando estivesse a beira da morte, não era pra levar a sério!

Seu tom era de lamentação.

A mesma voz que meses atrás pedia desculpas por não ter me segurado na escada, a voz do garoto teimoso que me fez ter forças para abrir os olhos e respondê-lo.

– Está tudo bem Lô, quando me levantar daqui prometo que te dou um abraço.

Ele me olhou como se tivesse visto um fantasma e esfregou os olhos.

– Clara, você acordou? Mesmo?

– Não bobão, ainda estou dormindo (--‘).

Ele abriu um sorriso e me abraçou forte. Pediu mil desculpas e perguntou o que poderia fazer por mim naquele momento.

– Você pode começar me explicando esse quartinho verde que esta me dando náusea.

– Você esta num hospital, depois que beijou o cara lá...

O interrompi com um pigarro.

– Esta bem, o Paolo, você desmaiou e entrou em coma...

– Como é que é? Estou dormindo por quanto tempo?

– Uma semana.

Fiquei calada e me recordei de quando entrei em coma quando tinha 8 anos, foi exatamente uma semana. Mas coincidências não eram importantes naquele momento.

– E o Paolo, onde ele está? Por que não veio me visitar?

– Eu não sei direito, vou chamar sua mãe, para avisá-la que você acordou.

Olhei melhor o quarto e notei que estava cheio de flores e bichinhos de pelúcia.

Vi meu vestido de formatura pendurado ao lado da porta. Na minha frente vi o relógio e o calendário pendurados na parede.

Olhei para mim mesma e vi que tinha um bagulhinho dentro do meu sutiã, achei isso uma pouca vergonha e arranquei-o.

Comecei a me mexer para checar os movimentos e descobri que esta tudo no seu devido lugar, realizando suas funções. Não senti nenhum tipo de dormência então desci da cama e peguei o cartão de uma das flores.

– “Melhore logo Clarinha, estou com saudades da aluna falante que sempre contesta as teorias, um grande beijo do professor Bruno”.

Li em voz alta e lembrei das besteiras e bilhetes que passei nas aulas do meu professor de matemática favorito. Eu ri. Mas minhas risadas não duraram muito ao ver Sandra na porta do quarto chorando com um lenço na mão.

– Mal acordou e já esta fazendo bobagem. Filha! Você tem que repousar.

Deitei, obrigada. Fiz um bico e disse que poderia até dançar se quisesse.

– Vou ligar para todos virem te ver. Sabia que seus professores não param de mandar flores? Carlos Eduardo e Bruno são mesmo uns amores...

– Mãe, primeiro você vai me dizer onde esta o Paolo. - Implorei.

– Ele está aí do lado. - Ela respondeu confusa.

– Então mande ele entrar! - Pedi impaciente.

– Ele não vai poder, filha...

Mamãe abaixou a cabeça e Lorran que estava todo serelepe também não moveu um músculo. Não deixei o silencio tomar conta do quarto e exigi que me dissessem onde ele estava.

– Mãe, por favor, me diz onde ele está...

Nesse momento Dr. João entrou no quarto e responde brevemente a minha pergunta:

– Ele esta no quarto ao lado.

“Clara, sei que eles me pediram para não conta, mas... eu não vou conseguir guardar isso. Você sabe que eu sou péssimo em esconder pensamentos”.

Lorran está disposto a me contar então permaneci quieta e ouvindo atentamente aos seus pensamentos.

“Só o que eu sei é que ele esta muito pior que você, e no quarto do lado esquerdo. Eu já fui vê-lo e peço para que não se assuste, nem faça escândalo, o horário da visita esta quase acabando, mas ele quase não fica sozinho. Tem sempre um cara lá do lado dele. Sua mãe não vai deixar-la ir vê-lo, então aconselho ir de noite.”

Depois de tudo aquela informação, me calei para pensar, bolar um plano, para poder ver e falar com ele de novo.

Talvez eu conseguisse me comunicar.


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