A última primavera escrita por Valerie


Capítulo 1
Infância


Notas iniciais do capítulo

Acho que eu sabia, bem no fundo, que uma Clara, em algum lugar, precisava dessa história.
Um beijo para Goiás ;)



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Mais uma ida ao consultório do doutor Duarte.

Aquilo já estava me cansando, mas infelizmente fazia parte de minha rotina. Eu queria fazer ir embora, eu queria crescer, não apenas crescer, mas deixar de ser aquela garotinha indefesa.

Que rotina complicada! Desde os seis anos... Foi quando começou meu tormento, estranhas sensações e dores de cabeças muito fortes. Mas não foi só isso que fez da minha infância uma memória que não faço muita questão de lembrar. Não tinha amigos, ficava sozinha em casa, e vi a separação dos meus pais do pior modo possível.

Aos oito anos dormi por uma semana sem que ninguém interferisse no meu sono, quando acordei não acreditei no que estava acontecendo comigo,para alguns uma realização, para outros motivos de sobra para festejar, mas para mim que era apenas uma garotinha, uma maldição que me condenaria pelo resto da vida.

Ainda me pergunto por que me escolheram, o que eu fiz?Atirei pedra na cruz? Não sei o porquê, mas se me escolheram haverá um motivo por trás disso tudo. Continuando a animadora história de Clara Sandy...

Aos 12 anos um aluno novo entrou na classe e pensei que aquela era minha chance de fazer mais uma amizade, além de Lívia que conheço desde que me entendo por gente. Pensei que poderia enfrentar qualquer dificuldade para obter a amizade dele, mas não foi preciso muita coisa, podemos dizer que... Ele foi com a minha cara. Certo dia pude ter um motivo para chamá-lo de melhor amigo, ele me defendeu dos outros alunos da classe que tinham a irritante mania de me rotular com um apelido um tanto desconfortável: ET. Naquele mesmo dia tive meu primeiro desmaio, como sempre Sandra foi me socorrer na escola e me levar a caminho do médico...

- Por que está tão calada filha?

Minhas lembranças foram interrompidas por minha mãe me chamando, ou melhor, me puxando de volta para o presente. Eu gostava de remoer o passado, porque a cada dia que se passava era mais perigoso pra mim. Nem percebi que continuei em silêncio, e fiz minha mãe ficar nervosa.

- Filha! Responda-me!Você está bem? - Perguntou aos gritos.

- Sim senhora dona Sandra, fique calma eu estou bem.

Tentei fugir de qualquer assunto para voltar para meu mundo excluído da realidade.

É... Parece-me que deu certo, acho que ela entendeu que eu gostaria de ficar em silêncio; Recomecei de onde parei olhando pela janela do carro as nuvens percorrerem o céu, aquilo me gerava calma.

Nenhum médico conseguia entender o que se passava comigo, até aparecer o Doutor João Frederico Duarte (ex pediatra do Lukas) uma pessoa interessada no meu caso. Ele facilmente descobriu a causa de todos os meus problemas.

Trata-se de uma anomalia no meu cérebro no sistema nervoso, minha audição não tem nenhum problema, até agora, mas os exames detectaram certas irregularidades também nesse sistema, isso me fazia tremer só de pensar na possibilidade de perder esse sentido.

Chegamos ao consultório.

- Minha querida você deveria falar mais, me preocupa esse seu jeito quieto...- Continuava aquele mesmo papo da Sandra, eu só assentia balançando a cabeça, mesmo sem prestar atenção em suas palavras e voltar a observar as nuvens no céu - Você está me escutando?

Não sei o que aconteceu comigo, eu queria responder, mas o ambiente fechado (que agora era o elevador) me deixou tonta, saí do elevador e por falta de sorte continuei enjoada, não consegui entrar na salinha verde, não tinha mais forças para mexer um músculo se quer,senti minha visão embasando e tudo ficando escuro.

“O que será que vem agora?”

Foi a última coisa que pude pensar antes de perder a consciência.

Quando acordei, reconheci o lugar. Estávamos no meu quarto, olhei para os lados e vi meu irmão do meu lado. Ele era uma das poucas pessoas que me entendiam, meu irmão mais velho: Lukas.

Fiquei o observando por uns minutos, ele estava de cabeça baixa, apoiada nas mãos, quem não o conhecesse podia jurar que ele estaria rezando! Quis quebrar todo aquele silêncio, e resolvi saber se ele estava acordado.

- Hei rapaz... - Sussurrei em seu ouvido

- Hei mocinha quem mandou você se levantar e... Você acordou!

Ele me derrubou na cama me sufocando num abraço. Depois começou a falar sobre alguma coisa que nem parei para prestar atenção, só o fitava com um sorriso, até que vi flores no criado mudo.

- Espera aí! Quem foi o cretino, mongol que me mandou flores? - Fiz uma careta bem feia levantando a sobrancelha.

-Ah! Isso aí? Foi um amiguinho seu que trouxe assim que você chegou em casa...

Meus pensamentos se atropelaram. Que horas são? Olhei o relógio e vi que já era de tarde. Fiquei fazendo pirraça na cama até parar pra pensar no que seria mais importante naquele momento: quem teria me mandado flores?

“-Um amiguinho...” ele disse, só poderia ser... Não, não é possível! Olhei Lukas profundamente com um olhar de pidão e algo muito estranho aconteceu...

Ele estava inexpressivo, calado, mas eu ouvia a voz dele na minha cabeça!

Então pensei:

“Eu não posso estar ficando mais anormal do que já sou!”

Aquela voz se repetindo na minha cabeça, era o Lukas!Não consegui me controlar e gritei:

- Cala a boca!

- Eu hein, está chapada? Eu não falei nada!

Era verdade, ele não estava falando nada, estava pensando!

Socorro! Já bastam às dores de cabeça e as sensações ridículas de já ter visto “aquela cena” antes (dejavú)... Agora eu leio mentes, definitivamente nunca serei alguém normal...

Senti meu rosto desmoronar, agarrei Lukas pela blusa e chorei no seu colo me negando a acreditar no que estava acontecendo.

- Você sabe que o seu mano aqui está boiando legal na história, não sabe? - Ele fez um carinho na minha cabeça e voltou a perguntar - Clarinha, o que está acontecendo?

- Eu sou uma aberração... - Falei baixinho como se alguém pudesse me escutar.

- Mas por quê? Não é pelo motivo de você estar toda escabelada, e o rosto todo vermelho, quer dizer que você seja um monstro.

- Não Lukas você não entendeu – Soluçando, puxei o rosto mais pra perto e cochichei no seu ouvido: Eu posso ler sua mente.

Ele ficou parado olhando pra mim igual a um bobão, tentando se comunicar comigo. Até ele cansar e enxugar minhas lágrimas e perguntar:

- No que eu estou pensando agora?

Um minuto de silêncio, até eu cair na gargalhada e responde-lo:

- Por que a playboy não é semanal? Acertei?

Ele abriu um sorriso malicioso de orelha a orelha, expondo seus dentes brilhantes e me deu um abraço apertado.

- Isso é maravilhoso! Cara imagina só eu lendo a mente da mulherada, quando você se recuperar, você vai dar uma saidinha comigo.

- A Flávia não vai gostar nada de saber disso... - Falei de braços cruzados.

Como ele podia ter se esquecido da própria namorada?Mas não o culpo a alma de mulherengo dele ás vezes toma conta.

Ele piscou e foi em direção à porta, antes de sair do quarto me avisou:

- Já ia me esquecendo, o garoto cretino e mongol que te mandou flores vai chegar às seis horas, disse que ia passar aqui depois da natação para ver se você já tinha acordado.

Depois me toquei que ele tinha me enrolado e não me contou quem era... Dei um pulo da cama e perguntei:

- Quem é?

Ele virou as costas e caminhou pelo corredor se aproveitando dos meus possíveis “poderes” escutei seus pensamentos que diziam:

“ Posso não ler mentes como você, mas tenho certeza de que não preciso disso para saber que é uma pessoa que você gostaria muito de ver agora”

Voltei para o meu quarto, fiquei parada me olhando na frete do espelho e em seguida pro meu quadro de recados com várias fotos presas, uma delas com o...

- Lorran! - Gritei surpresa.

Perdi a noção do tempo e vi que restavam vinte minutos para me arrumar isso quer dizer: banho, cabelo, arrumar o quarto.

- Mãe! - Gritei pela casa.

Ninguém em casa; Era óbvio que Sandra ainda estava trabalhando aquilo me cheirava armação do Lukas ele sempre foi com a cara do Lorran que por um acaso torciam pelo mesmo time. Joguei-me para baixo do chuveiro, coloquei aquela blusinha linda do shopping da semana passada, soltei o cabelo (e até que ficou arrumado). Agora a questão era: onde vou colocar toda essa bagunça? Incorporei a Clara retardada de 13 anos e pensei o que eu faria numa situação dessas há três anos. Coloquei tudo pra debaixo da cama e quando parei para respirar, coloquei as mãos no joelho, suspirei e o interfone tocou. Ele já estava subindo. Esperei na porta, estava impaciente, batendo o pé no chão, descascando o esmalte até perceber uma sombra bem maior que eu parada na minha frente.


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