O rosto de Melissa ainda possuía alguns tons em rosa, apesar de estar longe de Yan seus pensamentos ainda se voltavam para o beijo que trocaram, ou melhor, o beijo que ele havia dado. Um beijo que não saia de sua cabeça e nem de seu corpo. Cada pedaço de si, clamava por ele, e isso a estava matando. Os olhos de Melissa buscavam Yan por todo o lugar em que estava. Todos no jardim comentavam sobre o comportamento apaixonado de Yan e o modo como Melissa o olhava apaixonadamente, e a especulação sobre quando seria o casamento aumentava a cada segundo em que Melissa permanecia avoada em busca de Yan pelo jardim. Todos riam felizes ao ver o transviado finalmente ter um rumo em sua vida.

–Eu estou realmente emocionada por vê-lo assim – Alicia comentou com Sandra, a qual mantinha a sua expressão mau humorada – Ele demorou tanto para se apaixonar, mas escolheu a pessoa certa. Viu como os quadris dela são largos? Aposto que logo terei netos – falou emocionada.

–Ela é apenas gorda – Sandra resmungou ao olhar com inveja para Melissa. Ela não conseguia suportar que alguém como ela tivesse agarrado um homem como Yan. Um homem que nem ela mesmo havia conseguido prender. Mak apenas observava tudo de longe. Ele percebia que algo estava estranho no relacionamento deles e iria se divertir muito ao tentar descobrir o que era. Mak tinha tempo livre e muita imaginação, e se pudesse fazer com que Yan passasse vergonha seria ainda melhor.

–Não seja grossa, querida – Alicia disse séria ao olhar para Melissa, a qual permanecia próxima as primas de Yan – Ela é uma ótima garota para o nosso Yan. Ele precisa de alguém como ela, carinhosa e feminina.

–Eu também sou assim! – Sandra se viu falando com arrogância atraindo um olhar de censura de Alicia. – Eu quis dizer que também sou feminina e carinhosa.

–Sandra, o que vocês tiveram acabou. É casada com meu outro filho, Yan é um homem comprometido com Melissa, consegue entender isso?

–Sim, eu consigo – respondeu sem vontade. A ultima coisa que Sandra desejava era confrontar a matriarca da família e começar uma guerra entre elas. – Espero que não tenha me entendido mal.

–Jamais faria isso, pois é minha nora querida – Alicia falou ao sorrir – Lembre-se que Cássio a ama.

–Eu sei – murmurou sem vontade.

***
Yan manteve-se afastado de todos o quanto conseguiu. Ele sabia que a sua família poderia estar deixando Melissa louca, mas não se importou, pois foi ela que havia procurado por isso. Pelo menos era nisso que ele queria acreditar. Cruzou os braços em frente ao seu corpo ao se recostar na parede atrás de si. Observou todos os movimentos de Melissa e pegou-se pensando sobre o que ela estaria conversando ao rir tão abertamente com as suas primas.

–Ainda não me disse a quanto tempo está com ela – Cassio falou ao se aproximar de Yan e olhar na mesma direção que seu irmão – Eu não consigo acreditar que resolveu trazer uma mulher para a nossa mãe conhecer.

–Nem eu – admitiu pensativo – Não se prenda a detalhes desnecessários.

–Não estou me prendendo – sorriu largamente – Só acho que deve tomar cuidado para o final não ser o mesmo de antes.

–Não será – Yan tornou sério com a voz grave – desta vez não há erros. Não sairei machucado.

–E ela?

–Tambem não – afirmou sem certeza ao vê-la acenar para ele com entusiasmo.

Melissa não sabia o que estava fazendo, e ao se ver acenando para Yan recriminou-se internamente.

Eu sei que estou desesperada, mas ficar apaixonada por um gay está fora dos meus planos.

–Melissa, não nos disse como conheceu o Yan –a mulher com sorriso caloroso e longos cabelos pretos perguntou atraindo a atenção de todas a sua volta. Melissa engoliu em seco tentando se recordar sobre alguma historia falsa. – Não se lembra? – a mulher tornou a perguntar agora confusa.

–Claro que lembro!- sorriu – Estava apenas relembrando a sensação. Sabe como é olhar para trás e sentir as mesmas emoções? O mesmo frio no estomago, a mesma ansiedade, o mesmo tremor quando os olhos se encontram? É difícil descrever, mas senti tudo isso ao olhar para ele naquela tarde – Melissa se viu falando com os olhos perdidos, entretanto a realidade era bem diferente. Melissa mantinha-se focado nas recordações de um filme que vira a alguns anos. – Eu estava passeando com um cachorro, pelo parque, quando vi esse homem andando falando no celular. Não consegui parar de olhar para ele e logo me vi andando ate aonde estava. Fui bastante louca, não é? – sorriu fingindo estar constrangida – Ele percebeu que estava sendo seguido, olhou para mim e eu sorri. Foi assim que começou, e também ele entrou no meu restaurante dias depois. Nós sorrimos e aqui estamos – as primas de Yan olharam uma para a outra sem saber o que falar daquela história. Todas tinham certeza que aquele encontro parecia uma cena de filme, mas como dizer a ela que não acreditava? Divididas entre a educação e a verdade encararam Melissa sem saber o que dizer.

–Contando a mesma história fantasiosa? – Yan perguntou ao abraçar Melissa pela cintura aproximando o seu rosto do pescoço dela – Ela é uma romântica incurável. A verdade foi menos “hollywoodiana”. Ela estava com o cachorro, ele se soltou, veio ate mim, eu cai, culpei ela e depois entrei em seu restaurante por um erro do meu empresário. Brigamos e de alguma forma aqui estamos – mentiu tranquilamente. Yan tinha escutado toda a conversa de Melissa e se perguntou o quão tola ela poderia ser para inventar uma história tão ruim como aquela.

–Agora faz mais sentido – a prima de cabelos escuros falou animada – Sem ofensas, Melissa, mas conhecemos Yan bem demais para saber que ele nunca seria delicado – uma gargalhada geral ecoou fazendo com que Melissa sorrisse sem graça.

–Hora do almoço – Alicia gritou atraindo a atenção de todos.

–Como todos vão comer aqui? – melissa se viu perguntando ao olhar para as vinte pessoas indo para a parte lateral da casa.

–Ficará surpresa – Yan garantiu ao afastar-se dela e guia-la ate onde todos estavam, os esperando.

Melissa prendeu a respiração ao ver o enorme toldo a sua frente. Havia uma grande mesa preenchida por todos que encontravam-se naquele jardim anteriormente. Pequenos vasos com flores enfeitavam algumas partes da mesa.

–Isso é lindo! – exclamou maravilhada sem ver o olhar surpreso de Yan. Melissa era a primeira mulher que se mostrara tão encantada com aquela tradição familiar dele.

–Não é tão grandioso assim – resmungou mais como um habito do que por vontade própria.

–É sim. Sabe como é lindo ter uma família reunida assim? Reunidos apenas para estarem próximos? Eu realmente desejo isso para mim – se viu falando antes de andar na direção de Alicia, a qual acenava. Yan a olhou por alguns segundos antes de andar em sua direção, sentando-se ao seu lado, o único lugar disponível.

–Quero fazer um brinde – Alicia disse ao se levantar e erguer a sua taça de vinho – Um brinde a Melissa e a Yan, que permaneçam juntos por muitos anos!

Mak sorriu largamente com escarnio ao se levantar com graciosidade erguendo a sua própria taça.

–Faço das suas as minhas palavras – provocou ao olhar para Melissa e em seguida para Yan.

Todos sorriram e começaram a conversar entre si a medida em que se serviam, porem Melissa não se movia.

–O que há de errado? – Yan perguntou baixo apenas para ela escutar.

–Só..parece que seu irmão me odeia – Melissa respondeu ao aproximar seus lábios do ouvido dele. Estranhou ao vê-lo se arrepiar.

–Ele odeia a todos, incluindo a mim – Yan esclareceu afastando-se um pouco dela. Ele não queria admitir que aquele pequeno gesto havia o deixado aturdido. Bebeu a taça de vinho completamente antes de pigarrear. Ele precisava se controlar ou colocaria tudo a perder.

–Filho, não vai leva-la para passear pela Grécia? – Alicia falou ao ver o casal agindo estranhamente – aposto que ela irá adorar.

–Vou, não se preocupe - Yan murmurou em resposta ao encher a taça novamente e beber em dois goles. Melissa apenas fingiu ignorar e rogou aos céus para que pudesse transformá-lo em hétero ate o final daquela viagem. O olha de Melissa direcionou-se para Sandra e em seguida para Yan, aproximou o seu rosto do dele e sussurrou.

–Não deveria contar a verdade? Quanto mais demorar... –Yan gelou ao escutar as palavras de Melissa e sem pensar se viu virando o rosto, colocando seus lábios nos dela. Seus olhos não se fecharam, apenas se encararam como se buscassem resposta para aquele ato. Yan afastou-se sentindo-se, constrangido pela primeira vez em anos, ao escutar os gritos de incentivo de sua família. Ele virou o rosto com receio de que ela pudesse falar algo, mas Melissa se viu levando a mão aos lábios e sorrindo levemente.

–Talvez aja esperança – disse a si mesma antes de erguer o olhar e se deparar com o olhar frio de Mak e a inveja de Sandra – Ou talvez não.

***
Vitor, o agente de Yan, olhou para os diversos tabloides de fofoca que foram depositados em sua mesa sem conseguir acreditar no que lia. Em todos Yan, o notório solteiro, encontrava-se ao lado de uma mulher. Ao ler todas as noticias exibiu um largo sorriso ao perceber o quanto poderia lucrar com aquilo.

–Yan, nunca mais terei que limpar sua sujeira – disse animado antes de pegar o telefone e começar a fazer ligações. Ele tinha pouco tempo para espalhar a noticia como verídica antes que Yan retornasse.