O braço de Yan latejava, seus olhos permaneciam fechados apesar de sentir um aroma diferente. Ele tinha certeza que sonhava ao sentir uma pele macia contra a sua. A brisa agradável passava pela janela o fazendo sentir-se ainda mais relaxado. Yan não fazia ideia a quanto tempo encontrava-se adormecido em seu quarto apesar de uma reunião barulhenta estar se formando no jardim, mas tudo era agradável demais para abrir os olhos, acordar e afastar-se daquela sensação. Uma sensação de aconchego e paz, algo que não sentia a muito tempo.

Ou talvez nunca tenha sentido.

As pernas de Melissa encontravam-se cruzadas com a de Yan, enquanto a sua cabeça repousava no braço dele. Yan mantinha sua mão pousada na barriga dela, e ela mantinha o seu rosto próximo ao corpo dele.

Suas respirações ritmadas mantinham-se constantes, seus rostos relaxados e a sensação de aconchego os deixou ainda mais agradáveis aos olhos de qualquer pessoa. Quem entrasse naquele quarto teria a certeza que eles estavam apaixonados, e infelizmente a pessoa menos indicada para isso acabou entrando.

Sandra não conseguia aguentar a inquietação que lhe preenchia o seu ser. Ela precisava saber aonde Yan estava e o que fazia com Melissa. Ela não suportaria ser a mulher rejeitada por ele. Sandra desejava ser amada por Yan tanto que lhe doía apenas pensar nisso. Impaciente ao perceber que eles não haviam retornado ao jardim após uma hora, optou por ir atrás deles sem que seu marido, Cassio, percebesse, o que não foi difícil. Alegou uma tontura e antes que ele pudesse falar algo, se afastou rapidamente e foi para dentro da casa. Subiu as escadas apressada e assim que abriu a porta do quarto, estancou com a raiva transbordando em seus olhos. Sem conseguir segurar a surpresa e a raiva, gritou. Um grito baixo que foi suficiente para que Yan abrisse os olhos, assustado.

Yan despertou atordoado. Abriu os olhos ficando duplamente surpreso, pois ao seu lado uma mulher lhe agarrava, enquanto em sua frente a sua cunhada o olhava com raiva.

–O que está acontecendo aqui? – ele se perguntou ao afastar a sua mão do corpo de Melissa, que murmurou algo em protesto, aconchegando-se a ele ainda mais. O olhar de Yan prendeu-se nela. Observou a forma como o corpo dela conseguia se moldar ao seu apesar de estarem deitados de forma tão estranha. Gravou em sua mente o modo como o cabelo dela caia pelo seu braço e os seus lábios rosados.

–O que estavam fazendo? – Sandra perguntou abismada ao ver que Yan a ignorava para olhar a mulher que encontrava-se deitada ao seu lado, ainda adormecida.

Yan voltou a sua atenção para Sandra e com um sorriso irônico espreguiçou-se.

–O que acha? – respondeu divertindo-se com a confusão dela – Ela é minha namorada, estávamos no quarto e agora dormindo. Não consegue somar dois mais dois? Não posso culpá-la por isso.

–Como pode..transar com ela?..com isso? – disse indignada ao olhar com nojo para Melissa que havia se virado e agora encontrava-se de costas para Yan. O vestido que usava subiu consideravelmente, e se ele olhasse com atenção poderia ver a sua calcinha.

–Sinceramente.. seria difícil não transar com ela – Yan se viu dizendo ao olhar para a bunda dela. – Você nunca teve bunda, sabe? E ela.. é muito bem nessa área – falou ainda olhando para Melissa, com o olhar travesso apalpou a bunda dela e segurou uma gargalhada ao vê-la emitir um som que para ele soou como um gemido. – E ela é muito receptiva a mim, como poderia não querer nada com ela? – virou-se para Sandra e a olhou curioso – e o que faz aqui? Não deveria estar com Cassio?

–Ele está.. no jardim.

–Deveria estar com ele.

–Eu sei – gritou ao alterar-se – eu quero.. – antes que ela terminasse calou-se ao ver Melissa abrir os olhos e olhar para ela e em seguida para Yan – Já estou indo – se pronunciou antes que Melissa abrisse a boca.

Melissa olhou com perguntas transbordando pelos seus olhos ao voltar a sua atenção para Yan. O encarou ainda deitada na cama e obteve como resposta uma piscadela.

–É melhor se ajeitar, vamos descer – Yan disse ao sair da cama, mas antes olhou para a bunda dela mais uma vez – Não é ruim – murmurou ao ir para a porta – te espero na sala.

Melissa assentiu em silencio ao vê-lo sair e somente então conseguiu suspirar fortemente e levar a mão ao rosto com vergonha. Ela não sabia por quanto tempo conseguiria continuar a fingir estar dormindo. Escutou cada palavra de Yan e desejou ardentemente que ele não fosse gay. Ela não conseguia se lembrar a ultima vez que alguém tinha falado dela com tanto desejo.

O que eu poderia fazer para fazê-lo virar homem? Seria egoísmo demais desejar querer alguém como ele para mim? Estou realmente louca ao pensar dessa forma, já que a única coisa que deveria estar fazendo é sendo a namorada falsa de um homem gay. Ele é gay, lembre-se disso. Mas mesmo assim não posso negar que me sinto atraída por aquele corpo, aquela voz.. e que mãos ele tem.

Meneou a cabeça ao tentar afastar seus pensamentos e somente então se levantou da cama. Ajeitou a sua maquiagem e em poucos minutos descia as escadas em direção a sala, rogando para que ele ainda estivesse a esperando, porem ao vê-lo de costas para si, o encontrou sorrindo, sussurrando algo no ouvido da mulher de outrora. Lizzie. Melissa permaneceu parada olhando para eles de longe e só então viu o quanto ridícula estava sendo. Sorriu consigo ao ir ate aonde eles estavam, e pousar a sua mão no ombro de Yan.

–Desculpe a demora, querido – Melissa falou ao olhar em seus olhos e em seguida sorrir para Lizzie – Devo deixá-los a sós? – ela perguntou com seu tom calmo a Yan que franziu uma sobrancelha ao negar em silencio. – Então vamos voltar ao jardim?

–Claro, depois nos falamos, Lizzie – Yan despediu-se passando seu braço pelo ombro de Melissa e a conduzindo para longe da modelo – O que foi aquilo de antes? - perguntou com a voz baixa.

–Do que esta falando?

–Sobre você e Lizzie, seu comentário sobre deixar-nos a sós.

–Falei algo errado? Não vi mal algum em comentar isso afinal não deveria demonstrar ciúmes, ou deveria?

–É claro que deveria – falou sério. – como uma namorada não sente ciúmes?

–Sou uma namorada segura.

–Segura? – riu com gosto ao menear a cabeça – continue assim e vou acabar descontando o dinheiro.

–Como?

–Eu transferi apenas metade, no final eu irei transferir o resto – falou calmo diante da expressão aterrorizada dela.

–Não acredito que estou sendo enganada por você – murmurou perplexa ao retirar a mão dele de seu ombro – como você..

–Eu não vou lhe dar um golpe ou calote – ponderou – estou apenas me assegurando que não fará nenhuma loucura, afinal não lhe conheço, enquanto você já conhece toda a minha família, e eu ainda sou famoso.

Melissa o olhou em silencio por alguns segundos e apesar de sentir vontade de brigar com ele, concordou. Ele tinha muitos motivos para ser cauteloso ainda mais com alguém que havia atacado ele na boate.

–Tudo bem, mas se ousar pensar em não transferir o dinheiro.. conto tudo para todo o mundo do planeta Terra – o ameaçou com o olhar sério – entendeu?

–Claro – concordou ao olhar para atrás e perceber o olhar de Lizzie – Acho que está na hora do nosso primeiro show de verdade – murmurou antes de envolver a cintura dela com seus braços e a puxar para si – Relaxe – aconselhou ao fechar os olhos e colar os seus lábios nos dela.

Melissa sentiu o seu corpo gelar ao sentir os lábios quentes de Yan sobre os seus. Fechos os olhos, enquanto repetia inúmeras vezes em sua mente que ele era gay, que aquilo tudo era uma atuação e que nada era verdade. Tudo era uma atuação. Uma atuação e nada mais. Mas nada conseguia fazer parar as sensações que surgiam em seu intimo. O beijo calmo de Yan estava a deixando sem jeito, e sem perceber o que fazia, segurou na gola da camisa dele e o puxou ainda mais para si, aprofundando o beijo.

As mãos de Yan antes pousadas delicadamente sobre as costas de Melissa, moviam-se pela nuca dela e seu cabelo, puxando-o algumas vezes. O sabor doce de seus lábios penetrava nos lábios dele, lembrando-lhe da noite em que se conheceram. Antes tinha o sabor de álcool e agora era doce. As mãos de Melissa permaneciam firmes na blusa dele, temendo que ele fugisse dela. As línguas entrelaçavam harmoniosamente e assim que se afastaram em busca de ar, seus olhos se encontraram e a confusão permanecia no olhar de Melissa, assim que palmas foram escutadas ao seu lado. Ambos se viraram, se deparando com Alicia emocionada e Mak com o cenho franzido.

–Meu filhinho está realmente apaixonado. Eu estou tão feliz – Alicia revelou ao levar a mão ao seu coração – Esta é a primeira vez em que o vejo.. tão..

–O nome disso é desejo, mamãe – Mak alfinetou ao observar o rosto corado de Melissa – O que há com ela? – perguntou sarcástico – uma mulher envergonhada por beijar o seu namorado? Isso é raro ou patético?

Yan não havia percebido essa reação de Melissa e sem perceber, levou a mão ao seu rosto, acariciando-o.

–O nome disso é fritada.

–Fritada? – Mak questionou confuso.

–Quando no freio as rodas travam e o carro desliza pela pista soltando fumaça pelos pneus. – Yan explicou calmo pela primeira vez um termo de corrida automobilística – É exatamente assim.. que é.

–Estar dizendo que.. sou perigosa ou assustadora? - Melissa perguntou com a expressão incrédula. Eu sei que não é gentil, mas falar isso para o seu irmão não é ser cruel demais?

–De onde tirou isso? - perguntou pasmo - eu disse que..

–Você faz as coisas mais emocionantes, querida - Alicia o interrompeu com um sorriso largo na face - não é querido? - Yan apenas concordou em silêncio, envergonhado pelo que dissera no calor do momento.

Melissa prendeu a respiração ao sentir o seu coração palpitar ainda mais. Ela percebei que estaria perdida ate o final de domingo e nada poderia salvá-la disso, a não ser que conseguisse fazer um milagre.

Eu tenho que transformá-lo em um homem e fazê-lo se interessar por mim. Isso é loucura.. como alguém pode ser.. assim como ele?