Acordo com as batidinhas em minha porta.A cama é tão confortável que nem dá vontade de sair dela.Continuo com os olhos fechados com a esperança de que tudo seja apenas um sonho ruim.Mas quando os abro, vejo meu quarto gigante.
Me levanto e digo a Effie que não demorarei.
Estou tão sonolenta que aperto mais uma vez vários botões do banheiro, voam loções diferentes para todos os lados.
Tem uma roupa de ginástica no meu quarto, com o número do meu distrito.Visto e prendo meu broche de tordo.
Tomamos um café da manhã leve.Haymitch estaria com as bebidas, mas parece que deram um jeito nisso.
–Então, o seu talento especial. - diz ele para mim.
Peeta ainda não chegou.Estamos somente eu, ele e Effie.As avoxes passam com petiscos dos quais recuso.
–Não tenho nenhum. - digo tomando um pouco de suco.
–Então, não há nada que eu possa fazer. - ele se levanta.Nesse momento Peeta chega e se senta.
–Aonde vai Haymitch?
–Lugar nenhum, garoto.A menina ali...
–Prim. - corrijo-o.
–Prim não quer dizer a habilidade especial dela, então eu disse para ela que é meio impossível ela ter alguma chance se não tem habilidades.
–Pegue leve com ela, ela ainda é uma criança. - diz Peeta se servindo.
–Não importa quantos anos ela tem, todos ali são alvo.Ninguém terá dó dela. - Haymitch começa a beber.
Ficamos um tempo em silêncio.
O que eu poderia ter para me defender?Poderia tentar o arco, mas eu sabia que era péssima...facas?Talvez.Armadilhas, não sei.Não acho que serei capaz de matar alguém com as minhas próprias mãos.Não falo isso.
–Hora de irmos. - diz Effie nos apressando. -Faltam exatamente 5 minutos que é o tempo levado para chegarmos até lá.Vamos, vamos.
–É bom descobrir a sua habilidade, ou então não teremos nada a que se apegar como defesa. - diz Haymitch.
Me levanto o mais rápido possível e escovo os dentes.Nós descemos o elevador em silêncio.Effie entra conosco no centro de treinamento.Chegamos na hora certa, porém todos já estão lá.
–...vocês não podem ferir uns aos outros, terão tempo para isso lá na arena. - continua explicando uma das instrutoras.Eu deveria imaginar, eles não nos esperariam para começar. -Aperfeiçoem o que bem sabem, e aproveitem para aprender técnicas novas.E que a sorte esteja sempre ao seu favor.
Os carreiristas vão direto para as facas, lanças.
Me sinto um peixe fora da água.Procuro Peeta, mas como não o encontro, sigo para a ala de arco e flechas.
Um homem está lá.
–Prim, não é?
–Sim.
–Posso te ajudar com isso. - diz ele.
Os instrutores podem nos dar dicas, mas se você não tem o talento, não adianta de nada.
Fico a manhã inteira no arco, mas não acho que seja a coisa certa no momento.Porém acho que se tiver um arco em mãos na arena, poderei ter mais chances de vencer...
Vou tomar um pouco de água, Peeta tenta escalada.Nisso eu sou um pouco boa, uma vez Katniss me levou para a floresta e tivemos que escalar árvores.Para mim era bem melhor do que atirar em animais indefesos.
Ele acaba caindo.Os carreiristas riem dele.Não vejo como Peeta vai conseguir fazer algum trato.Sem pensar, vou até onde ele caiu.
–Está tudo bem? - pergunto baixo.
–Só torci. - diz ele com uma careta. -Melhor você ir treinar, não perca tempo aqui me ajudando.
Olho para os carreiristas.
–Eles olham para você como se fosse o almoço deles.Tenho que fazer alguma coisa.Se você quer se aliar a eles e me colocar no meio disso, eu tenho que agir.
Não espero uma resposta, puxo mais o nó que está no rabo de cavalo do meu cabelo e começo a escalada na rede.
Não é nada fácil, me sentia mais confiante escalando árvores.Mesmo assim, continuo a subir.A rede começa a balançar perigosamente e sei que se eu cair ali, vai ter mais do que uma simples torção.
Estou quase no fim dela agora, minhas mãos quase escorregam das cordas.Uma ou duas vezes, meu pé enroscou e quase cai, mas continuei seguindo em frente.Chego até a outra ponta e desço em uma corda única.Não foi a decida mais espetacular ou a escalada perfeita, mas foi alguma coisa.
Olho de volta para os tributos do 1,2 e 4.Eles parecem menos debochados agora que viram que eu sei fazer alguma coisa descente.
–Como você conseguiu? - pergunta Peeta.
–Você só tem que se segurar bem e ir devagar.Não acho que teremos tempo para isso na arena, mas para começar, tem que fazer isso. - explico para ele.
–Continue fazendo coisas como essas, demonstrações de que sabe o que está fazendo.Isso pode ajudar no trato. - concordo com a cabeça. -Nos encontramos no almoço.
Concordo e me dirijo para a ala de arco e flechas mais uma vez.Ficarei o dia todo nisso se precisar, acho que Katniss se orgulharia de mim, ver que eu tenho alguma chance.
–Você de novo. - diz o homem que tinha me atendido.
–Sim, preciso aperfeiçoar essa técnica.Não tem muita gente nisso, não é?
Ele assente e me entrega um arco de madeira.
Hora do almoço.Me sento perto de Peeta, mas não conversamos muito.
Volto de novo para o arco, me sinto melhor nisso agora.Talvez seja minha habilidade.
O dia termina no centro de treinamento e finalmente subimos para nosso andar.Não vi muitas coisas nos outros tributos, foquei mais em mim.Amanhã tentarei ver a habilidade de cada um e tentar tirar proveito disso.
Tomo um banho e coloco uma roupa confortável.Vamos para o jantar.
–Minha estrelinha. - cumprimenta Cinna. -Nem tivemos tempo de nos falar ontem depois do desfile, mas você estava fantástica.E Peeta também.
Ambos agradecemos.
–E então, já descobriu no que é boa? - pergunta-me Cinna o mais baixo possível.
–Ainda não sei muito bem...só não quero ser pressionada.Sei que falta pouco tempo, mas eu ainda não sei.
Ele concorda levemente com a cabeça.
Cinna e a estilista de Peeta saem da sala.
Effie também sai, deixando-nos apenas com o nosso mentor.
–Primeiro, Peeta.No que é bom.
–Não faço ideia, eu não sou bom em nada.
Fico irritada com a modéstia dele.
–Ah, cala a boca! - não estou ligando para os modos. -Você é forte, pode muito bem ter muitos aliados Peeta!
Ele me olha um pouco espantado, nunca tinha sido tão rígida.
–Você só caiu aquela vez, mas isso é totalmente normal.Tem muito mais saúde que eu pelo tanto de comida boa que comeu na vida.Nunca passou fome...
–Você está enganada... - diz ele com a cabeça para baixo.
–Então Peeta é forte?Hum, podemos trabalhar com isso.Não faça cara de pateta Peeta.Pelo menos não no treinamento. - fala Haymitch dando uma bronca nele. -Mas e você, Prim?
Penso no que responder.Se eu disser que sou boa em arco e flecha, seria uma grande mentira.Não sou tão boa assim.
–Escalada. - responde Peeta por mim.Jogo empatado, eu não devia ter falado que ele era forte e tinha mais chances que eu.Aquilo por algum motivo tinha o irritado.
–Interessante.Você pode subir árvores correndo quando for caçada. - diz Haymitch abrindo uma garrafa e bebendo o líquido quase transparente que tinha nela. -Agora, vão dormir.
–Só isso? - eu pergunto. -Mais nenhum conselho?Como espera que tenhamos alguma chance?
–Você quer um conselho?
Afirmo e vejo que Peeta também.
–Fique viva. - ele dá um sorriso falso para me irritar e sai com sua bebida.
Olho para Peeta.Quase tinha me esquecido do trato.
–Ele nem se esforça em tentar nos manter vivos. - bufo de raiva.
–Mas acho que teremos que falar com ele sobre o trato.Quer dizer, ele é nosso mentor.
–Sim, mas não age como se fosse. - digo me levantando.
–Escuta Prim, você foi ótima em dizer que eu tenho capacidade.Mas é sério, não acho que tenha.Eu...não posso sair dos Jogos, entende?
–Como assim? - pergunto sem entender.
–É...digamos que eu fiz uma promessa para mim mesmo de que eu tinha que...não vou te falar, tá legal?Mas enfim, temos que fazer o trato com aqueles caras e só temos dois dias.Eu não mostrei muito hoje.
–Mostrou sim.
–Eu cai e você sabe muito bem.Terei que tentar outra coisa...mas vejo isso depois.Amanhã, vamos tentar nos aliar a eles.Por mais loucura que seja.
Concordo.
–Boa noite.
–Boa noite.
Vou para o meu quarto.Uma Avox está lá, arrumando a cama.
Faço sinal para ela sair.Tenho que ficar sozinha.
Por que Peeta não pode sair vivo daqui?Ele tem condição de voltar para casa dele e meu distrito ainda teria algum benefício.E se aliar aos carreiristas?Ontem eu até poderia ter considerado a ideia, mas hoje, depois do treinamento com eles...parece meio impossível se aliarem a mim.
Não consigo dormir, então nem faço esforço.Vou para a janela do meu quarto.
As luzes da Capital ainda estão acesas, as pessoas andam para lá e para cá.Me pergunto como é que eles se divertem vendo a morte dos outros.Eles são terríveis, cruéis.Eles merecem ir para os distritos e sentirem fome como jamais sentiram.