A Lenda da Lua escrita por Paola_B_B


Capítulo 24
II. O Mistério dos Olhos Azuis


Notas iniciais do capítulo

Ai eu sei que demorei uma eternidade para postar, me perdoem! Minha faculdade ainda me deixará louca D:
Mas finalmente o capítulo novo está online e espero que vocês gostem. Prestem atenção nos nomes dos personagens, trarei muitos daqueles que criei na fic para cá ;)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/448968/chapter/24

O mistério dos olhos azuis

O silêncio prevalecia dentro do grande salão do castelo, todos aguardavam com expectativa o desfecho daquela inesperada situação. Estranhamente os únicos a sentirem-se receosos eram aqueles que tinham os olhos vermelhos. Tudo o que tinham que fazer era pegar a princesa, avisar sobre as condições de troca e executar o plano de fuga. Definitivamente não esperavam que a futura raptada fosse a primeira a notá-los, muito menos a demonstrar um poder desconhecido para ameaçá-los.

Eles se depararam com um impasse. Seu mestre e grande líder não havia lhes dito o caminho para o caso do plano principal dar errado. Ele estava certo que nada atrapalharia o rapto da princesa. Havia planejado detalhadamente como incapacitar a guarda real e impedir qualquer um de rastreá-los.

Os três trocaram olhares em busca de uma rápida solução para o problema. Entretanto nenhuma ideia passou-lhes pela cabeça. Foram criados apenas para obedecer, não para pensar.

– O que vocês querem? – exigiu Anna sem que a mira de suas flechas de fogo azul deixasse de apontar para o centro do peito de cada um dos três homens.

Sem perceber ela fizera a pergunta certa para que os três reagissem.

Eles agacharam-se como felinos arreganhando seus dentes deixando que seus rosnados ecoassem por todo o salão.

– Você. Nós queremos você.

E como o planejado eles partiram para cima de Anna.

A princesa de inocentes olhos castanhos se apavoraria com o eminente ataque, talvez gritaria por socorro e toda a guarda se jogaria em sua frente para protegê-la. Entretanto ela sentia-se diferente, sentia-se confiante, sentia algo correr lentamente pelas suas veias, algo que a acalmava e a encorajava. Deixou então que aquela personalidade guiasse seus atos e soltou as flechas do poderoso fogo azul sem qualquer pensamento dúbio ou culposo.

O silêncio novamente caiu sobre o salão enquanto cinzas espalhavam-se pelo bonito chão de mármore. O perigo literalmente desintegrara-se.

Isaac em nenhum momento tirou sua atenção de Anna. Seus braços estavam arrepiados pelo que presenciou, por um segundo pensou estar no passado vendo aquela jovem menina destruir a assassina de seu companheiro. Lutou para voltar a respirar e se convencer do tempo em que estava. Obrigou-se a se mexer quando notou os olhos da princesa voltarem à cor castanha e ela imediatamente cair na inconsciência.

O guarda-costas segurou sua protegida e voltou seu olhar para seus governantes que pareciam tão assustados quanto todas as outras testemunhas da demonstração de tamanho poder.

Calixa aproximou-se de seu companheiro.

– É melhor leva-la para os seus aposentos. – murmurou preocupada. O olhar que trocou com Isaac deixava clara a importante decisão que ele deveria tomar.

Quando o ancião levantou a princesa em seus braços o torpor que tomava conta de todos se desfez e os convidados abriram o caminho para que ele passasse. Rei Argos iria segui-lo, mas sua companheira discretamente o impediu.

– Junte-se com Mathias e descubra sobre os invasores, eu cuidarei de nossa Anita.

Argos assentiu e beijou a têmpora de Ísis antes de virar-se em direção a grande porta de entrada do salão.

– Mathias! – chamou imponente. – Vamos! Quero saber quem ousou um ataque contra minha filha!

– Sim meu rei.

Logo a movimentação era grande. A festa havia acabado, mas o falatório estava apenas começando e a noticia da mudança da cor dos olhos da princesa se espalharia pela Lua mais rápido que grãos de pólen em uma ventania.

***

Rei Argos torceu os lábios assim que percebeu a falta de guardas nos portões principais do castelo. A noite estava quieta. Quieta demais.

– Mathias, achei que havia guardas nos portões.

– E havia majestade! – o chefe da guarda real parecia tão surpreso quanto seu rei.

O descendente dos sábios voltou-se para Ângelo, o mensageiro que a pouco trouxera a notícia sobre o perigo.

– Eles estavam aqui quando cheguei! – Ângelo temeu virar bode expiatório daquela situação. Rei Argos nem de longe se comparava aos ditadores do passado, entretanto era suficientemente severo quando necessário.

A preocupação do mensageiro era desnecessária, nenhum dos dois elementares lhe destinava desconfiança.

– Ângelo, volte para a entrada do salão e não permita a saída de ninguém. Eu e Mathias cuidaremos de descobrir o que está acontecendo. Se pressentir qualquer perigo não hesite em tocar a trombeta que carrega consigo.

– Sim meu rei. – o mensageiro inclinou-se rapidamente em uma reverência e correu de volta para a entrada do castelo.

O homem de longos cabelos castanhos e porte atlético olhou com desgosto para rei Argos que caminhava apressadamente para a esquerda dos portões.

– Não é sábio que nos separemos meu rei. – advertiu incomodado.

O mais velho deixou que um sorriso presunçoso se espalhasse em seus lábios.

– Vocês sábios... Sempre cuidadosos demais. Seja mais espontâneo meu amigo, às vezes o instinto diz mais do que a nossa cabeça.

– Não renegue seu sangue primo. – sorriu Mathias. – Sei que gosta de exaltar o sangue de sua avó perseverante, mas ser apenas perseverante pode levá-lo ao descuido.

– Então equilibremos nossas personalidades. – piscou o rei antes de se concentrar em farejar qualquer anomalia.

Os dois homens seguiram atentos pelas calçadas de pedras. A iluminação provinda dos postes de luz era fraca e clareava apenas o estritamente necessário para que se localizassem. Não demoraram a encontrar, encostados nas grades que circundavam toda a extensão dos domínios do castelo, os cinco guerreiros responsáveis pela proteção dos portões principais. Estavam todos desacordados e amontoados como brinquedos velhos.

Mathias rapidamente abaixou-se e tentou acordar um deles.

– Gerrie! Acorde Gerrie! – deu leves tapas na face do experiente membro da guarda real, entretanto o homem sequer resmungou e continuou em seu profundo sono.

– Não adianta Mathias, eles foram envenenados. Olhe! – apontou para o pequeno dardo cravado no pescoço da guerreira de longos cabelos loiros.

Argos retirou o dardo e cuidadosamente o levou para perto do nariz.

– Cymorth Cysgu. – constatou. – Veneno do sono.

Não havia nada que pudessem fazer para ajudar os guerreiros além de esperá-los despertar e aquilo levaria boas 12 horas. Então apenas os acomodaram lado a lado para que o constrangimento quando acordassem não fosse ainda maior.

– Escutou isso? – perguntou Argos fechando os olhos para aguçar sua audição.

– Vem dos campos de treinamento!

O som era de ferro chocando-se com ferro e gritos furiosos misturando-se a gritos de dor. Os dois elementares partiram em disparada para descobrir o que, pelos céus, estava acontecendo.

O grande campo aberto tinha forma retangular e era dividido em outros quatro menores retângulos, em cada um deles era executado um tipo diferente de treinamento. No primeiro, o menor deles, encontrava-se uma grande construção de madeira, uma espécie de forte onde se guardava armamentos e equipamentos médicos. Neste primeiro espaço também estavam os diversos alvos para a prática com arco e flecha. Logo após vinha o local reservado para os duelos com espadas e lutas corpo a corpo, o retângulo seguinte, e segundo maior, era destinado para o adestramento de poderes, nele o terreno tinha diferentes elevações e um pequeno rio o atravessava.

O quarto e último retângulo tinha um terço da extensão de todo o campo de treinamento seu espaço era reservado para que os guerreiros juntassem todas as práticas dos campos anteriores. E era nele que neste momento a guarda real lutava contra rebeldes de olhos vermelhos.

Os guerreiros estavam com a batalha dominada e faltavam poucos olhos vermelhos para derrotar. Poucos foram os feridos e dentre eles os ferimentos era leves. Quando o rei e o chefe da guarda chegaram ao local o último rebelde estava sangrando ao chão e os guardas comemoravam a vitória.

– Não comemorem guerreiros, esta luta foi apenas uma distração. – alertou Mathias.

Os homens e mulheres viraram-se ao escutar a voz de seu chefe, preocuparam-se com a presença do rei e reverenciaram-no antes que Daniel um dos líderes do grupo de 15 guerreiros indagasse preocupado.

– Distração? Aconteceu alguma coisa no castelo?

O homem era naturalmente imponente e muito respeitado. Seus olhos verdes arregalaram-se em preocupação.

– Joseph ficou com sua equipe nos portões.

– Sim, nós o encontramos junto com seus guerreiros. Estavam todos jogados na calçada em sono profundo. – disse Mathias.

– Veneno?

– Cymorth Cysgu.

Argos tinha a expressão séria e os pulsos cruzados em suas costas. Agora que a surpresa dos poderes de sua filha estava mais branda em seu coração a irritação pela ousadia dos rebeldes começava a tomar conta.

– É melhor que voltemos. Ângelo está sozinho contendo os convidados no castelo. E também é preciso tirar Joseph e sua equipe do relento. Não sabemos se essas... – olhou para os corpos queimando no chão. – São as únicas distrações.

***

– Você tem certeza?

– Não posso arriscar Calixa, não é sobre uma batalha pequena ou um problema do reino qualquer. Isto envolve todo um povo. Talvez envolva muito mais do que apenas nossa espécie, mas também aquela que vive no planeta azul.

– Então é melhor que você fique aqui. Eu irei atrás dele. Você deve continuar de olho na princesa.

– Creio que esta seja a melhor decisão. – suspirou e puxou sua companheira para um abraço de despedida. – Tome cuidado pelos caminhos.

– Não se preocupe, voltarei a tempo de tentarmos mais uma vez. – piscou maliciosa.

– Calixa! – Isaac riu estalando um rápido beijo nos lábios da companheira.

A conversa cochichada nos corredores do castelo não tardou a acabar e Calixa partiu para a saída no exato momento em que o rei e a guarda real retornavam e liberavam a saída dos convidados. Isaac ainda sorrindo pela indecorosa companheira caminhou até a porta do quarto da princesa e ali ficou como bom guarda costas.

Suspirou pensando em seu dilema, não pode evitar colocar-se no lugar de seus governantes. Principalmente agora que ele e Calixa tentavam tão havidamente ter um filho. Rei Argos e rainha Ísis deveriam estar tão confusos com o mistério que rondava a princesa.

Dentro do aposento Ísis observava sua filha que ainda estava desacordada. Acariciou os longos cabelos negros de Anna e agoniou-se por notar o rosto de sua criança contorcido em aflição.

Anna começou a se agitar preocupando ainda mais sua mãe.

– Anna?! Anita! Acorde!

A princesa sentou-se na cama e abriu os olhos. As lágrimas escorriam enquanto os soluços preenchiam o até então silencioso quarto. Ísis puxou-a para os seus braços tentando acalmá-la.

O pesadelo se repetiu novamente, o desespero, o fogo, os gritos... O sonho era o mesmo, mas cada vez mais real.

– Está tudo bem querida... Não chore. – pediu amorosa para então segurar delicadamente o rosto de sua filha entre suas mãos. – Está tudo bem. – repetiu para ela mesma, pois percebeu os olhos azuis de Anna.

Pacientemente aguardou que a jovem se acalmasse para só então iniciar uma conversa.

– Querida, você não precisa se preocupar. Aqueles homens já haviam perdido suas almas quando beberam sangue semelhante.

Anna não disse nada, apenas controlou seus soluços, pois as lágrimas ela não conseguia. Ísis observava a filha tentando descobrir o que, pelos céus, estava acontecendo.

– Anita... Há quanto tempo eles estão mudando de cor?

– Eles...? – fungou confusa.

A rainha não sabia se se sentia aliviada por sua filha não fazer ideia do que ela estava falando ou ainda mais preocupada. Então puxou o espelho de mão que se encontrava em cima da mesa de cabeceira. Segurou-o para que ela se olhasse.

O ar fugiu de seus pulmões e sua boca abriu-se em espanto. Aquele rosto que refletia no espelho não era o seu, não podia ser o seu. Levou sua mão esquerda a sua própria bochecha e tocou para confirmar que aquela era realmente ela. O os olhos pareciam sábios demais, velhos demais... Seu rosto não demonstrava o pânico que sentia e aquilo a assustou ainda mais. Talvez aquele fosse o reflexo de seu futuro.

Com o desespero dominando seu coração seus olhos voltaram à cor normal assim como seu rosto voltou a expressar-se com a jovialidade da qual dispunha.

– O que está acontecendo mamãe? – seus lábios tremiam com o prelúdio de um choro.

– Eu não sei meu bem, mas vamos descobrir... Ora, não chore princesa. Vai ficar tudo bem.

Anna deitou nas pernas da rainha e deixou-se ser consolada. Nem mesmo a leve batida na porta a fez parar de soluçar. Era rei Argos que entrava no quarto. Seu peito apertou ao ver a filha naquele estado e apressou-se e sentar ao seu lado para segurar-lhe as mãos.

– O que está acontecendo comigo papai?

– Eu não sei minha pequenina, eu não sei.

Entre soluços a princesa ergueu-se o suficiente para olhar esperançosa para os olhos de seu pai.

– Isaac! Chame Isaac!

– Isaac?

– Sim! Ele sempre me olha como se escondesse um segredo, ele sabe o que está acontecendo! Chame-o, por favor!

Argos levantou-se mais por tranquilizar sua filha do que realmente acreditar que o ancião sabia de alguma coisa. Seguiu rapidamente para o corredor onde o segurança se encontrava. Isaac estava parado com seus dentes trincados, sua audição havia captado o desespero da princesa e aquilo lhe quebrava o coração.

– Isaac?

– Sim meu rei?

Isaac engoliu em seco ao olhar diretamente para os olhos inquisidores de Argos. Manteve sua postura rígida, mas já começava a sentir as pernas tremerem. O efeito de um elementar poderia ser ainda mais forte se houvesse segredos em seu coração.

O rei não demorou a notar aquele temor e segurando a ira inquiriu.

– Isaac, o que você sabe?

– Refere-se a que meu rei?

– A minha filha. O que está acontecendo com ela?

Instintivamente o guerreiro deu um passo para trás. Droga! Odiava aquilo!

– Você realmente sabe alguma coisa. – espantou-se o soberano. – Eu exijo que me fale Isaac!

– Me desculpe, mas eu não posso.

– Não pode?! Eu sou seu rei Isaac!

– Me desculpe. – repetiu agoniado.

Contrariado e estupefato lançou o ancião contra a parede. Isaac balançou suas pernas e braços tentando soltar-se, mas já sabia que a luta era inútil. Fechou os olhos com força antes de abri-los novamente e explanar com dificuldade.

– Por favor, entenda, eu não posso arriscar a vida da princesa.

Argos o soltou deixando que o segurança caísse sentado no tapete vermelho do corredor.

– O que quer dizer?

– O que eu sei pode causar um mal imensurável a princesa.

– Isaac, eu preciso saber o que está acontecendo para que eu possa ajudar minha filha! – exasperou-se.

– Eu temo que o senhor não possa ajudá-la. – murmurou.

Rei Argos o olhou com espanto e estava prestes a inquiri-lo, mas foi interrompido pela voz de sua filha.

– Por favor, Isaac, o que está acontecendo? – Anna segurava-se no batente da porta de seu quarto, Ísis a apoiava.

Isaac levantou-se lentamente antes de respondê-la com o coração nas mãos.

– Eu sinto muito princesa. Eu gostaria de simplesmente ter as repostas das quais precisa. Mas tudo o que sei só a deixaria mais confusa e temo que seus pesadelos se tornariam ainda mais insuportáveis. É um sofrimento que eu posso evitar. E eu vou.

– Qualquer informação seria de grande ajuda Isaac, a ignorância já a faz sofrer. – insistiu o rei.

O ancião já começava a sentir-se desesperado por não conseguir sair daquela situação. Sabia que seria difícil, mas não imaginou que seu rei seria tão obstinado.

– Está tudo bem papai. Deixe Isaac em paz.

Algo nos olhos do guerreiro fez com que Anna concordasse com suas palavras. Ele apenas abaixou a cabeça em agradecimento.

– Eu o deixarei minha filha, mas enquanto ele não nos contar o que sabe ele não fará mais a sua proteção.

– Mas papai!

– Sem mas! Não posso confiar em alguém que mantém segredos tão ocultos.

Isaac apenas manteve a cabeça baixa em resignação. Já havia desafiado seus governantes o suficiente. Manteria seus olhos na princesa, apenas precisava ficar afastado o bastante.

– Apenas mantenha seus pensamentos naquilo que importa princesa. – pediu antes de inclinar-se para a família real e retirar-se do castelo.

[...]


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Então? Gostaram? Espero que sim ^^ Farei de tudo para não demorar para a próxima postagem, mas não prometerei nada porque minha vida está corrida D: Em todo caso, fiquem ligados no grupo do face que sempre que posso dou notícias e spoilers ;)

https://www.facebook.com/groups/479210868793110/



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Lenda da Lua" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.