Os cinco passos. escrita por StardustWink


Capítulo 2
Onde ele tem cólicas estranhas.


Notas iniciais do capítulo

E aíiii pessoal! Eu estou de volta da minha viagem, yay! E poderei escrever mais agora uvu Muuuuito obrigada pelos reviews, favoritos e acompanhamentos da história!! (owo)/

Bom, sem mais delongas, vamos ao capítulo. Boa leitura!



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Com você sinto-me como estivesse com um milhão de borboletas no estômago, minha respiração fica mais rápida, minhas mãos tremem e vejo todo o resto do mundo parar. Das duas, uma: ou estou tendo ataque cardíaco, ou é amor.

– Carolina Bensino

Não consegui dormir naquela noite.

Depois do discurso sem sentido de Mei, passei outra meia hora tentando convencê-la de como era absolutamente óbvio que eu não tinha uma queda pela minha chefe White. Ela, por fim, me disse que “Não estava disposta a discutir àquela hora da madrugada” e me mandou ir descansar, coisa que tentei fazer pelo resto da noite sem sucesso.

Era um pouco difícil fazer isso, já White estava no mesmo quarto que eu. E, mesmo que discordasse do que Mei falara antes, não conseguira evitar o nervosismo ao saber que ela estava tão perto de mim, a menos de um metro de distância, dormindo.

E tudo por causa daquela maldita frase que ela me dissera!

Suspirei, encarando o teto do quarto do hotel. O sol podia ser visto no horizonte já há algum tempo, mas o cansaço que a falta de sono me proporcionara tirou de mim todas as forças para levantar.

Para falar a verdade, Mei não era a única pessoa a sugerir que eu talvez gostasse da White. Também tinha a chata da Iris e suas implicações desnecessárias, a minha amiga meio maluca Bianca e também a “Beleza Cintilante”, Elesa.

Claro, eu tinha muito mais com o que me preocupar antes para realmente ouvir o que elas estavam me dizendo. E, agora depois que a quase gêmea de White me dissera aquelas coisas, tudo parecia voltar ao mesmo tempo na minha cabeça.

Quase pensei em chamar Musha, mas não queria que isso acordasse a garota que dormia tranquilamente ao meu lado. Sim, porque mesmo que ela fosse a causa mor dos meus problemas, ainda tinha a decência de me preocupar com seu sono de beleza.

Isso porque eu perdia completamente a vontade de acordá-la ao ver o seu rosto tranquilo. Essa, afinal, era uma das únicas vezes que eu conseguia ver White dormindo - ela sempre acordava mais cedo que eu e sempre dormia mais tarde, devido à seu vicio por trabalho.

Não que eu pudesse culpá-la, é claro, pois esse é o seu sonho. Eu até me lembro de todas as noites que passei estudando sobre os ginásios! Mesmo assim, ela podia sim dormir mais um pouco de vez em quando...

Principalmente porque ela fica com olheiras gigantes no dia seguinte e, quando eu comento isso,ela me manda um olhar mortal e demora sempre o dobro do tempo se arrumando para sair.

Mas, é claro, eu me preocupo por ela ser minha amiga. Eu sei disso, e não vai ser um palpite de uma garota que eu acabei de conhecer que mudará minha opinião.

Arrisquei um sorriso decidido, ainda com os olhos grudados ao teto.

...Tudo bem, isso. Vou fingir que nada de diferente aconteceu ontem, treinarei meus pokémons hoje como sempre e pensarei num novo sonho para seguir, coisa que já deveria estar fazendo. Não tem como dar errado!

–... Black?

Uma voz ainda sonolenta me tirou de meus devaneios e meu coração pulou até a garganta.

Olhei para o lado, e minha respiração parou.

Ela esfregava o rosto, me fitando com um brilho curioso em seus orbes azuis, cabelo levemente desarrumado e sua blusa branca um pouco levantada pela posição em que estava dormindo e ah, droga, onde estava a parte de esquecer o que tinha acontecido mesmo?

Virei-me para o canto do quarto imediatamente sentindo meu rosto pegar fogo. Aquela visão não fizera nem um pouco bem para minha mente já sobrecarregada e que não tivera seu digno descanso, pois por um momento pensei em coisas que nunca passariam pela minha cabeça em toda a minha vida.

– Black, o que houve? - Pude ouvir o tom de surpresa em sua voz, e o ranger da cama enquanto ela se movia para ajeitar-se melhor. Tentei retomar o meu fôlego.

– N-nada! -Respondi, xingando a mim mesmo mentalmente por ter gaguejado. - Eu acho que vou dormir mais um pouco hoje, pode ir na frente se quiser!

– Eh? - Dava para imaginar com clareza a imagem da garota franzindo a testa ao falar isso. – Mas... você não disse que ia acordar cedo para treinar?

– Uh, é que... - Procurei desesperado por uma desculpa que prestasse e não consegui achar nenhuma. - E-eu não dormi muito bem, então vou ficar mais um tempo. É. São só umas horas, não vai fazer diferença.

É claro que vai, idiota! Fechei os olhos, querendo esquecer a besteira que acabara de fazer, e desejei do fundo da minha alma que ela acreditasse nessa resposta e fosse embora.

Infelizmente, não foi isso que aconteceu.

Só percebi que ela se aproximava de mim quando senti uma mão pousar delicadamente na minha testa. Com o susto, acabei por me enrolar no cobertor, me desequilibrar e cair da cama.

– Ai! - Senti uma pontada de dor na cabeça, e levei minha mão até o galo recém-formado. White estava do meu lado no segundo seguinte, e parecia tão assustada quanto eu. - Prez, o que-?

– Desculpa! Você tá bem? - Assenti, só assim percebendo que o rosto dela estava um pouco perto demais. Virei o rosto para o lado.

–Você está estranho desde ontem, então achei que poderia estar com febre... - Parecia estar arrependida. Voltei a encará-la e caramba ela está ainda mais perto agora.

– Black, tem certeza que está bem? - Seus olhos pareciam brilhar a essa distância. Eles eram tão azuis assim mesmo ou era só eu que estava ficando louco? Engoli em seco, sentindo meu rosto retomar o tom de vermelho.

– Uh, sim! Não precisa se preocupar! - Levantei tão depressa que cheguei a ficar um pouco tonto. - B-bom, eu vou me arrumar, ok? Estou indo!

– Espera, você não ia dormir mais? - Pude ouvi-la perguntar enquanto eu corria em direção ao banheiro.

– Mudei de ideia! - Respondi, e fechei a porta antes que ela pudesse falar algo mais.

Tive de apoiar as costas na parede para ficar de pé. Minha respiração vinha em golfadas de ar curtas e desesperadas, meu coração batia tão forte que achei que teria um ataque cardíaco e meu rosto parecia estar em chamas te dão quente.

– O que está acontecendo comigo...? - Murmurei, atônito. Andei devagar até o espelho e olhei para o reflexo de alguém que parecia ter sido quase atropelado por uma manada de Tauros. Ou Bouffalants. Talvez os dois.

Procurei por uma resposta no rosto que era mostrado pelo vidro, por um indício de solução enviada por Arceus ou qualquer outro legendário que se dispusesse a me fornecer pistas do que exatamente podia estar errado comigo.

Porém, não encontrei absolutamente nada além de mim mesmo.

xxx

– Bom, eu vou ficar no set até meio dia, e depois volto às duas da tarde para ficar até o mesmo horário de ontem. - A voz de White entrava pelos meus ouvidos, mas não conseguia prestar atenção em quase nada do que dizia.

Minha cabeça estava lotada de coisas, e eu achava que acabaria sobrecarregando meu cérebro ao ponto de desmaiar. Tentei respirar fundo e só então percebi que a garota ao meu lado estava silenciosa.

– E então? - Olhei para o lado, onde ela me encarava, esperando.

–Ahn... Claro? - Arrisquei, torcendo para que aquilo servisse de resposta.

– Ok. - Ela sorriu, e suspirei mentalmente de alívio. - Me encontre lá nessa hora, e depois decidimos o que fazer em seguida. Tudo bem?

– Sim. - Menti, sorrindo sem graça. - Até lá então, Prez...

– Até. - White me direcionou outro olhar desconfiado antes de virar-se e sair andando pelas portas do hotel. Quase que imediatamente, meus ombros relaxaram e pude respirar fundo.

Agir como se nada tivesse acontecido seria impossível se eu mal conseguia olhar para ela sem pensar no que Mei dissera. Tinha certeza de que White estava com sérias desconfianças sobre mim agora... Precisava esvaziar a cabeça.

Passei correndo pelas portas do hotel, me deparando com a imensidão azul que era o céu daquela manhã. Algumas pessoas já estavam acordadas, mas as ruas ainda estavam quase vazias. Perto do cais, pude ver um barco grande atracado ao porto.

Respirei fundo.

– YOOOOOOSH! - Gritei para o céu, ganhando confiança com a minha própria voz determinada. Olhei para frente, para a rua que terminava num complexo industrial no qual visitara no dia anterior. Aquele lugar seria perfeito!

– Vamos lá! - Me propulsionei para frente com os pés, e comecei a correr. Abri um sorriso largo, me animando. Não iria desperdiçar meu dia me estressando por nada!

xxx

Foi quando o sol estava quase brilhando paralelamente em relação ao solo que finalmente me lembrei de que deveria estar fazendo alguma coisa nesse exato momento.

– Uh... - Pisquei, desviando minha atenção da batalha travada entre Tula e Carra para me concentrar melhor. - O que era...?

A voz de White passou pela minha cabeça. Ela pedira para encontrá-la no set, certo...? Que horas exatamente, mesmo?

Bom, eu vou ficar no set até meio dia...”

Oh. Olhei para o meu Xtransceiver, esperando que Dialga estivesse do meu lado hoje...

...Exceto que ele não estava no meu pulso.

Ah, eu deixei ele na escrivaninha do hotel! Dei um tapa forte na testa. Com toda aquela confusão que tivera de manhã, nem me lembrara de colocá-lo antes de sair!

E agora eu nem ao menos sei que horas são, muito menos posso ligar para a White. Ótimo, Black. Maravilhoso, você acabou de assinar a sua sentença de morte.

Peguei as pokébolas de todos rapidamente, chamando-os de volta o mais depressa possível. Agarrei minha mochila do chão, e saí correndo na direção que eu achava ser a do estúdio.

A White vai me matar. Engoli em seco, Ela vai me matar e pedir para aquela Serperior psicopata dela me cortar em pedacinhos com um Leaf Blade.

Consegui atravessar a cidade relativamente rápido, e cheguei até entrada do estúdio. O que eu achava ser a entrada do estúdio, no caso. Pelo menos o letreiro gigante na frente da entrada dizia que aquele era o PokéStar.

Passei pela recepcionista sem falar nada e pelas portas giratórias, e lá estava eu; num lugar gigante cheio de sets, sem ideia de para onde ir.

Não devia ser muito tarde. Se inventasse uma boa desculpa tipo dizer que me perdera em alguma parte da cidade, esbarrara em Alder para uma batalha que não tinha como recusar e ajudara uma moça a chegar ao set certo antes de encontrá-la, ela ficaria com raiva, mas me perdoaria. White era assim mesmo. Então estaria tudo bem, certo?

Mas...Senti uma dor desconfortável no peito. E se alguma coisa acontecera enquanto ela estava esperando? E se ela tiver se metido numa enrascada?

A imagem de White sendo carregada por Marshall em Nimbasa voltou à minha cabeça. Se eu tivesse a achado mais cedo... Todas as horas que passei a vendo ter pesadelos no hospital me fizeram prometer a mim mesmo que eu nunca deixaria algo assim acontecer novamente.

Não enquanto eu estivesse por perto. Não enquanto eu pudesse impedir.

Olhei em volta, mais alerta. Ela podia cuidar de si mesma muito bem, mas, mesmo assim...

– Acho que é por ali. - Sem pensar duas vezes, comecei a correr em direção dos vários sets de produção gigantescos. Estava tão distraído em achar o caminho que nem vi a pessoa que estava correndo em minha direção.

Trombamos, e eu caí para trás. Olhei para a pessoa, querendo sair o mais depressa possível dali, mas ela parecia ter outros planos.

– Você!

Era um garoto. Um garoto com cabeça de Qwilfish...?

– Onde é o set do quarto filme das Portas Mágicas?

– O que do quem? - Pisquei, não entendendo nada. O cabeça de Qwilfish bufou com o rosto raivoso, me puxando para levantar. Depois de eu quase cair para frente, ele me segurou pelos ombros.

– O quarto filme! O da princesa e do boneco de pelúcia que vira um príncipe e eles vivem um romance e blá blá blá! - O garoto exclamou enquanto me sacudia, e seus olhos vermelhos transmitiam uma fúria que eu nunca vira antes na vida. - Eu preciso chegar lá nesse instante!

– Eu não sei onde é! - Respondi, ficando um pouco irritado. Eu também tinha um lugar para estar agora e uma garota louca me esperando e possivelmente em apuros. Será que nada estava ao meu favor nesse dia? - Pode me soltar agora?

– Você não entende! - O cabeça de Qwilfish finalmente me largou, mas foi só para tirar um papel amassado de dentro do casaco e estendê-lo na frente da minha cara. Piscando, tentei ver do que aquilo se tratava. Eram falas... Parecia um script de uma peça?

– Tem um beijo nesse filme! - Ele apontou para uma parte aleatória do papel. - Um beijo!

–... E? - Murmurei.

– E eu não posso deixar a Mei fazer isso! – O garoto exclamou, chamando a atenção de algumas pessoas que passavam.

– Mei... – Arqueei uma sobrancelha. – Mei Rosaria?

– É! A com olhos azuis e cabelo em forma de rosquinha! – Ele assentiu, gesticulando para imitar o que descrevia. – Você tem que me dizer onde ela está!

– Bom, também estou indo para lá. – Comentei, e ele animou-se significativamente. – Mas eu não sei onde é. - Ah, encolheu de novo.

Depois, me olhou com desconfiança. – Como assim não sabe? Não está indo para lá?

– Eu só não sei e ponto! – O estranho me mandou um olhar mortal, e senti uma veia brotar na minha testa. – Por que está me olhando assim? Você também não sabe, idiota.

– Isso é porque eu saí correndo assim que vi isso aqui! – Ele rebateu, gritando outra vez. Rangi os dentes de frustração. Eu não tenho tempo para isso!

– E por que você se importa tanto se a Mei beijar alguém nesse filme, afinal?

Meu grito de resposta o silenciou de vez, e um borrão de vermelho espalhou-se por suas bochechas. Franzi a testa, observando-o gaguejar uma explicação que eu não estava realmente ouvindo.

Ele gosta dela? Ele totalmente gosta dela.

E os minutos continuavam passando. Eu realmente não tenho tempo para isso. Estreitei os olhos, continuando a encarar o garoto gesticular e falar coisas incompreensíveis.

Mas o que eu faço com ele? E se ele for um fã maluco que invadiu o estúdio e a Mei estiver correndo perigo?

– O que você exatamente é da Mei, garoto? – Cruzei os braços, bufando. O estranho parou seu momento vergonha para me olhar de volta.

– Sou o melhor amigo dela. – Respondeu em um tom sério. – Por que quer saber?

Por que você parece mais o fã nº 1 dela?

Abri a boca para responder, mas nesse exato momento outra voz sobrepôs-se à minha.

– Hyuu? O que você tá fazendo aqui? – Olhei para o lado e me deparei com Mei, que tinha surpresa estampada em seu rosto delicado.

Eles se conhecem?! Encarei a cena incrédulo enquanto o cabeça de Qwilfish endireitou-se num segundo, parecendo ter lembrado de todo o desespero que tinha antes.

– Mei! – Ele correu até ela e colocou as mãos em seus ombros. – No script, tem um beijo lá! Não me diga que...?

Ela piscou, e um leve rubor tingiu suas bochechas. Pelo menos eu acho que ela corou, fica meio difícil ver com o cabelo gigante desse garoto na frente.

– Uh... Hyuu... – Mei abriu um sorriso sem graça. – Podemos ter essa conversa em outro lugar...?

Foi aí que percebi as pessoas olhando para nós. Parece que elas pararam para olhar o cabelo de peixe se envergonhando em público.

– Uh, desculpa. – Ele tirou as mãos dela, parecendo mais tranquilo. – É que eu vim correndo, e... – O “Hyuu” estreitou os olhos. – Esse beijo vai ser com aquele Curtis, não é.

– O nome dele é Christoph. – A garota o corrigiu um pouco irritada. – E sim, Hyuu. Mas nós vamos conversar isso em outro lugar, ok?

– Mas...

– Eu disse que vamos e ponto final. – A aura tranquila que Mei tinha pareceu congelar em poucos segundos, o suficiente para o suposto amigo dela assentir um pouco aborrecido.

– Sabia que você ia entender. – Abriu um sorriso doce. – Agora, por que estava parado aí fazendo poses estranhas?

– Ah. – Ele piscou, e virou-se para mim novamente com a fúria presente nos olhos. – Estava te procurando e acabei trombando com aquele cara ali.

Cara? Quem esse peixe ambulante pensa que é? Teria respondido àquele estúpido se Mei não tivesse me interrompido. Sim, outra vez.

– Black...? – Ela piscou, e arregalou os olhos. – Você está aqui? A White disse que ia te encontrar na frente do hotel há quase uma hora!

– ...Uh? – Murmurei.

Hotel? Como?

– Ela disse que tinha combinado com você! – A garota cruzou os braços. – Que iam almoçar num lugar perto de lá, e até saiu apressada porque disse que estava atrasada...

Ah não, eu confundi tudo?

Droga, ela vai me matar. Ela deve estar me esperando há um tempão...

– Vai logo seu idiota! Vai deixar a garota que você gosta esperando? – Mei falou algo parecido com isso, mas eu estava sem tempo de sequer negar suas acusações. Então, resolvi ignorar tudo e correr logo para lá o mais rápido possível.

Trombei com mais algumas pessoas, pulei sobre um Purrloin que passeava pela calçada e virei algumas ruas até avistar a pousada. Suspirei de alívio ao ver que White estava lá, sã e salva, até ver que ela tinha um semblante preocupado no rosto.

– Prez! – Gritei em sua direção e ela se virou. Pude ver a surpresa, alívio e raiva alternarem-se em seu rosto em questão de segundos e me perguntei se vir correndo até aqui tinha realmente sido uma boa ideia.

– Black! – Ela gritou de volta, o que era surpreendente porque era ela que normalmente me repreendia por falar alto. – Onde você estava?

– Desculpa... – Respondi, sentindo um quente agradável tomar conta do meu estômago ao notar que ela estava preocupada comigo. Ou era porque estava com fome.

– Não! Eu fiquei aqui esperando por um século, recebi uma ligação urgente e não pude ir encontrar com o produtor por sua culpa! – Ela rebateu, parecendo realmente furiosa. Engoli em seco.

– E-eu perdi a hora, e pensei que você estava no estúdio...

– Estúdio? Não combinamos de se encontrar aqui no hotel? – Ela estreitou os olhos.

– Eu esqueci, tá! – Respondi já um pouco irritado. Não tinha me esquecido da preocupação que tivera quando ela não atendera minhas ligações. – Eu teria te chamado pelo Xtransceiver, mas ele ficou lá no quarto!

– Eu sei disso, o que você acha que eu fiz por quase uma hora enquanto não sabia onde você estava? – White aumentou seu tom de voz. – Eu estava te ligando! E como você não respondia, fiquei tão preocupada que acabei ficando aqui plantada que nem uma boba quando devia estar na reunião!

– Bom, desculpa! Eu saí correndo para o estúdio achando que você estava lá, só que aí eu esbarrei com um amigo da Mei e ele começou a me sacudir perguntando onde ela estava!

Esperei ela responder, mas nada veio. Pisquei, subindo os olhos para encarar seu rosto. A raiva que ela tinha pareceu ter-se esvaído, sendo substituída por algo que eu não pude dizer bem o que era.

– Mei?

–... É. – Respondi, também diminuindo a intensidade da minha voz.– Eu a encontrei também, depois. Foi a Mei que disse que você estava aqui.

– Ah, é mesmo? – White abriu um sorriso que não era nem de longe o habitual dela. Tinha algo faltando lá e me doeu não saber o que era. – Você foi lá para vê-la?

– Eh? Não, eu... – Estreitei os olhos, não entendendo mais nada. – Eu fui lá atrás de você, Prez. Do que você tá falando?

Seus olhos azuis me encararam por um tempo, como se procurassem por algo. Ela voltou a olhar para o chão e sorriu outra vez.

–... Bom, eu tenho que ir. Já estou atrasada demais para a reunião. – Sem me encarar, continuou. – Você vai ter que almoçar sozinho hoje, Black. Desculpa.

– Uh...? Bom, tudo bem, mas... – Dei uns passos para frente, ainda não entendendo. – Você não vai comer nada?

– Ah, não se preocupa. Eu devo comer uma coisinha depois de sair. – White sorriu outra vez aquela imitação mal sucedida de seu sorriso e eu tive certeza de que alguma coisa estava errada. – Até mais, Black.

Ela passou por mim, olhando para baixo, sem olhar para trás.

Então por quê...?

Virei-me e observei-a ir, até que sua silhueta desapareceu entre muitas outras.

Por que eu não estou fazendo nada?

Parei para olhar para os lados. Ninguém tinha observado nossa pequena discussão – isto é, ninguém além de uma garota que me parecia familiar. Ela estava me encarando com certo interesse, e algo nos seus olhos me fez ouvir um “crack” na minha consciência.

Olhei para onde White tinha ido outra vez, cerrei os punhos, e comecei a correr.

Não ousei ver a reação da desconhecida, preocupado apenas com as batidas frenéticas do meu peito e o meu desejo súbito de ver o sorriso verdadeiro da minha chefe novamente.

xxx

Já era a terceira vez que corria atrás de uma mesma garota hoje, então eu resolvi parar no meio do caminho e fazer algo mais sensato. Quer dizer, só porque minha vida estava meio confusa no momento não quer dizer que tudo isso fosse virar um romance meloso desses de filmes de comédia romântica clichés!

Já tinha passado algum tempo quando vi Brav planando na minha direção. Ele aterrissou alguns passos à frente, ajeitando suas asas e piando alto.

– Achou ela? – Perguntei, me aproximando. Apertei mais a sacola que levava em uma das mãos quando ele assentiu.

– Ok, vamos. Isso não vai funcionar se ela já tiver saído.

Subi em cima do meu pokémon e segurei com força em seu pescoço longo quando ele levantou voo, e tentei me concentrar na situação. Se chegasse atrasado não daria tempo. Talvez se White gastasse alguns minutos conversando com um empresário, ou se um produtor a parasse para discutir sobre sua proposta...

Nessas horas eu realmente queria estar com um relógio.

Um pigarreio alto desviou minha atenção para frente e pude ver minha chefe saindo com alguns homens de um café. Brav planou e desceu, bem a tempo de alcançá-la se despedindo dos desconhecidos.

– Ei, Prez!

Ela se virou, e pude ver a surpresa estampada em seus olhos. Ok, eu não posso estragar isso.

– B-black? – White não se moveu; preferiu esperar enquanto eu dava mais uns passos para frente.

Não sei se fora por causa da adrenalina de alguns momentos atrás ou o nervosismo me devorando por dentro, mas meu estômago comprimiu desconfortavelmente quando finalmente fiquei de frente com ela.

– Olá. – Abri um sorriso sem graça, estendendo o saco que ainda levava nas mãos. – Eu trouxe algo daquele restaurante que você comentou comigo antes de vir para cá, lembra? Uh, eles normalmente não deixam levar algo para viagem, mas parece que ser Campeão da liga tem lá as suas vantagens.

Ela me encarou, tomando o saco de mim e olhando o que tinha dentro. Se possível, seu rosto ficou ainda mais perplexo, e a mesma levantou a cabeça para me encarar de novo.

– Você... – White parou de falar, olhando para o saco, e depois para mim. – Fez isso por mim?

– Bom, sim... – Hesitei. Senti todo o nervosismo de antes voltar com força total, mas respondi mesmo assim. Estava claro como eu devia responder. – Eu não podia te deixar passando fome, principalmente quando você já não come direito quando se envolve demais com o seu trabalho.

Ao vê-la estreitar os olhos, continuei. – E, bom, você é minha chefe, então...

Parei assim que ouvi o que tinha dito: Aquelas palavras não pareciam certas. Não era como se eu não fosse empregado de White, aquilo era verdade, mas depois de tudo o que passamos juntos aquela palavra já não servia mais para classificar o que nós dois tínhamos.

Usá-la parecia errado, então eu resolvi consertar.

– Ou melhor... Você é minha amiga, e eu não posso fazer uma coisa dessas depois de tudo que você já fez por mim.

Os olhos azuis dela arregalaram, e um brilho diferente se apossou deles. Depois, ela abriu um sorriso – o sorriso dela – e um quente agradável tomou conta de todo o meu ser. Tinha conseguido a deixar feliz novamente.

– Obrigada. – Ela falou, andando para frente e estendendo os braços para me abraçar. Assim que eles envolveram-se pelo meu pescoço e pude sentir a respiração dela próxima da minha orelha, um frenesi tomou conta do meu corpo.

Queria abraçá-la de volta e não soltá-la por um bom tempo, mesmo que ela provavelmente perderia a hora no estúdio.

Ainda assim, aquele sentimento intenso de posse que nunca tivera por ela em todo o nosso tempo juntos me deixou surpreso e sem fôlego.

–... Bom, eu tenho que ir. – Imperceptível a mim e ao meu estado de transe, minha chefe afastou-se do abraço com o rosto corado e sorriu novamente, segurando firme na sacola de comida. – Não se esqueça de almoçar também, ouviu?

– Ah... – Pisquei umas três vezes para lembrar como prestar atenção em algo além do timbre agudo da voz dela. – Ok...?

– Até! – Ela acenou brevemente e se virou com rapidez, começando a andar em direção ao estúdio. Permaneci parado, com o coração acelerado e me perguntando de onde exatamente tinha saído tudo aquilo.

Era estranho. Quando estava longe dela, dizer que não gostava de White era fácil. Mas, toda vez que ela falava comigo ou encostava-se a mim, um fogo parecia subir pelas minhas veias e não conseguia pensar em nada além dela e do que Mei havia me dito.

Claro, eu nunca admitiria que pudesse estar errado – que realmente havia algo de diferente em relação a ela que eu não havia percebido antes e que agora não saia mais da minha cabeça.

Mesmo assim, era óbvio que algo acontecia quando ficava próximo dela. Agora... O que eu faria em relação a isso?

Não sei se fora minha distração, mas só percebi a pessoa que andara até o meu lado quando ela começou a se pronunciar.

– Olha, não é que você conseguiu fazer as pazes com a sua namorada, bobão?

Olhei para o lado, surpreso, quando me deparei com a desconhecida de horas antes. Ela era pequena, tinha cabelos brancos curtos e uma roupa em variações de roxo e azul. E era familiar, de um modo que não podia explicar direito...

– Quem é você? – Perguntei.

Ela arqueou uma sobrancelha, e pude notar que ficou irritada.

– Você é mais idiota do que eu pensei, Campeão. – E, apontando para si mesma com um semblante orgulhoso, ela falou em voz alta. – Eu sou a líder de ginásio da cidade, Roxie!

Algo me dizia que aquela seria uma longa tarde.


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Notas finais do capítulo

E aqui está! Dois personagens novos num capítulo só, estamos indo bem! uvu Aparentemente, muitas coisas acontecerão ainda... Espero que nosso protagonista também pare de ser um cabeça dura e admita algumas coisas, siiiigh.

Nos vemos depois, pessoal!