Os cinco passos. escrita por StardustWink


Capítulo 1
Onde ele rejeita a hipótese.


Notas iniciais do capítulo

Heeeey gente! Eu sei que não devia estar postando essa história tão cedo aqui, mas não aguentei! >w< Como eu amo agencyshipping e eles mereciam uma fic minha que se concentrasse neles (bom, não exatamente, já que a fic também terá sequel...) , resolvi escrever uma 5-shot bonitinha~

Enfim! Eu mantive a Mei e o Hyuu com os nomes em japonês porque gosto mais deles assim, mas se vocês tiverem muitos problemas com isso, eu posso mudar. owo Eles estão com as personalidades dos personagens dos jogos, já que eu planejei essa fic antes do mangá de BW2 ser lançado, então isso aqui é meio que um "semi-UA".

E, por último, a história será contada inteiramente em primeira pessoa! É a minha primeira vez fazendo isso numa longshot, então perdoem-me se eu parecer repetitiva algumas horas. Farei o meu melhor para permanecer fiel à personalidade do Black!

Sem mais delongas, espero que gostem! ♥



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Mas tudo isso não adianta nada, se nessa selva oscura e desvairada não se souber achar a bem amada - para viver um grande amor.

- Vinicius de Moraes.

Ela era a garota perfeita. De gestos suaves, um rosto bem definido, lábios finos e delicados, ombros frágeis e olhos de um azul cativante que te convidavam a mergulhá-los toda vez que os visse.

Morreria por ela - iria até o fim do mundo por ela - e seu sorriso estonteante que a deixava com um brilhinho nos olhos só o fazia querê-la mais e mais. Ele, que nunca se achara nessa situação antes: estava despencando em um mar de amores, sua paixão era maior a cada segundo...

...Se você acha que lerá uma história tão melodramática assim, pare de ler esse texto agora.

Primeiro porque isso não é um romance - não se enganem pela sinopse, ela é uma farsa - e aquela garota não chega aos pés de perfeita, muito menos de alguém que me faria ter o risco de perder meu título de campeão da Liga Pokémon.

Essa é a história de um pobre garoto que trabalha para uma menina difícil e confusa e teve que sofrer as consequências da pior maneira possível.

Repetindo, isso não vai ter essa baboseira de amor eterno, de ficar fraco nos joelhos e perder-se nos olhos de alguém. Se é que isso é possível.

Porque White é uma louca que esconde suas maluquices sem sentido por trás de um sorriso convincente e papo burocrático. E mesmo sendo gentil, alegre, bonita, boa com os outros, determinada e honesta, ela ainda é um saco.

E eu não estou apaixonado por ela.

Não mesmo.

xxx

Estava perdido. Num corredor grande e extenso, num lugar em que mal conhecia, perdido.

Acho que devo explicações de como exatamente isso aconteceu.

Meu nome é Black, tenho 15 anos e sou o mais novo campeão da Liga Pokémon de Unova. Finalmente realizei o meu sonho de derrotar a liga depois de acabar virando empregado de uma agência, achar ter perdido um dos meus companheiros de jornada mais preciosos, entrar de última hora na competição, lutar contra o “rei” da Team Plasma e estudar muito. É, tudo isso.

...A desvantagem é que, quando se realiza um sonho, você não sabe muito bem o que fazer em seguida.

Quer dizer, eu tenho um título a manter e isso é incrivelmente importante! Mas não é como se eu pudesse passar todo o resto da minha vida treinando meu time sem parar.

(Na verdade eu poderia, mas a White iria me matar se eu tentasse.)

E então, eu decidi partir para o plano 2: Ajudar a acabar a minha dívida que eu contraí por causa de um pequeno acidente de muitos meses atrás. Acidente esse que me fez ser contratado pela agência BW, presidida pela minha atual companheira de viagem.

A White é uma pessoa legal, claro. Ela é bem esforçada, algumas vezes até demais (não consigo nem contar mais nos dedos quantas vezes a encontrei dormindo em cima de um bando de papéis), e o seu sonho é ser a perfeita gerente de uma empresa de pokémons artistas.

O problema é que ela pode exagerar um pouco com sua determinação. E ter ideias loucas.

E isso nos traz aqui, para esse corredor de um set de produção gigante de um estúdio de produção maior ainda de uma cidade que eu nem tivera a chance de pisar antes de toda a minha aventura por Unova.

Resumindo, eu estou ferrado.

- Ela tinha que me largar aqui e sair correndo? - Suspirei, ligando meu Xtransceiver e descendo os olhos pela lista de nomes. Quando a encontrei, cliquei em seu nome. Porém, após algumas tentativas, o aparelho bipou duas vezes antes de desligar. - Droga! Quem ela está ligando agora?

Talvez para os milhares de contatos que ela tem, como sempre, completei mentalmente. Olhei para os lados, tentando decidir o que fazer em seguida. Será que mandar Brav procurar por uma saída valeria à pena?

Foi aí que imaginei, no segundo seguinte, um Braviary derrubando uma série de cenários enquanto voava e uma White medonha correndo atrás de mim junto de sua Serperior por eu ter estragado um dos trabalhos mais importantes de sua carreira.

Não seria uma boa ideia.

Ótimo, minha vida não podia ficar melhor, pensei ironicamente.

Nesse momento, avistei o que seria a segunda coisa mais estranha que aconteceria naquele dia.

Uma garota corria na minha direção. Estava vestida de princesa, com um vestido imenso cheio de babados e correndo na minha direção.

Oi?

Não tive muito tempo para raciocinar que esse era um set e ela devia ser uma atriz, pois a desconhecida não conseguiu frear a tempo e acabou me jogando no chão junto de si mesma.

- Ai... - Ela levantou a cabeça de sua posição nada estratégica de cima de mim, e piscou. Depois, abriu um sorriso largo. - Ah, desculpa por isso!

- Não tem problema, uh... - Respondi. A garota, que ainda não saíra do lugar (o que me deixava um pouco desconfortável), inclinou a cabeça para o lado com um brilho do que eu julguei ser curiosidade nos olhos.

Olhos azuis cristalinos, que eu já vira em alguém antes. Ela também tinha um cabelo longo, e podia até ser mais claro, mas, mesmo assim, parecidíssimo com os da...

- Você... Eu já te vi antes? - Ela me perguntou, parecendo ler minha mente. Neguei com a cabeça, e iria perguntar outra coisa quando outra voz nos interrompeu.

-... Senhorita Mei?

Espera, eu conhecia aquela voz. Desviei os olhos para a origem do som e me deparei com White, junto de uma mulher de aparência chique. A garota, que aparentemente se chamava Mei, também olhou para as duas e rapidamente se levantou.

- Ah, desculpa! Eu estava atrasada, saí correndo na direção do estúdio e acabei esbarrando no... - Ela se virou para mim novamente, - Qual o seu nome?

- Black. - White respondeu antes que eu pudesse abrir a boca. Era impressão minha ou ela parecia levemente irritada?

- Ah, seu nome é Black? Prazer! - Mei abriu um sorriso simpático para mim, antes de voltar-se para as duas. - Então, uh... Vamos?

- Claro. – Minha chefe concordou, arriscando um sorriso. - Só não suma desse jeito outra vez, estávamos preocupados.

- Eu estava conversando com um amigo... Desculpa. - Mei olhou para baixo, e pude notar que ficara vermelha. Estranho.

- Não tem problema, chérie. Agora vamos, oui? Christoph já está a postos! - A mulher, que até o momento só observava a cena em silêncio, falou algo no que parecia ser um sotaque da região de Sinnoh. Talvez de Hearthome? A líder de ginásio de lá era bem conhecida por sua fama de atriz, treinadora e coordenadora. Ela usava pokémons tipo fantasma, e seu predileto era uma Mismagius de nome...

- Black, você vem ou não?

Pisquei, percebendo que tinha me distraído. Olhei novamente para minha companheira de viagens, que estava ao lado de Mei com os braços cruzados. Foi aí que finalmente notei o que viria a ser a primeira coisa mais estranha que aconteceria naquele dia:

White e Mei eram quase idênticas.

xxx

- Tem certeza de que não são irmãs? Talvez primas? - Eu perguntei pela décima quinta vez.

- Não, Black. - White respondeu ao meu lado em um tom de voz irritado. - Só somos parecidas, nada de mais. Agora dá para parar de me perguntar isso?

- Tá, tá, tudo bem. - Bufei, desviando o olhar novamente para o estúdio. Olhando de fora, parecia um set como outro qualquer; até que, quando passara pela porta, tinha encontrado algo parecido como o interior de um castelo de contos de fadas.

Quer dizer, tinham escadas longas que davam para um andar de cima, um candelabro posto no teto e um grande espaço no meio, além de móveis aparentemente caros. Perguntei-me como exatamente eles poderiam criar um ambiente assim só para fazer um filme.

- Os designers daqui são bem eficientes, - A minha chefe pareceu ler minha mente, ou só o meu rosto impressionado. - E esse é normalmente o set que usam para filmar bailes de gala em filmes. É bem bonito, não acha?

- Err, sim. - Respondi, não tirando os olhos do lugar. Depois, finalmente desviei-os para White. - Então, quais serão os pokémons dessa vez?

- Hm? Ah, bem... - Ela checou uma pequena prancheta que carregava nos braços. - Teremos alguns Woobats, uma Froslass e um Absol como atores. Teríamos também uma Vanilluxe, mas Mei disse que queria usar sua própria pokémon, então...

- E eles podem fazer isso?

- Não normalmente, mas estamos falando de Mei Rosaria. - Diante da minha cara de indiferença, ela arqueou uma sobrancelha. - Sabe, a estrela de Riolu Girl? A da trilogia das Portas Mágicas?

Neguei com a cabeça. Ela me mandou um olhar de descrença e continuou.

- Black, em que mundo você vive? Ela é uma das revelações do ano, uma estrela! - White movimentou os braços para demonstrar o quão importante ela era. - Eu te disse isso quando falei que seria uma honra trabalhar com ela mais cedo!

Opa, eu não tinha prestado atenção nisso. Também, ela vai falar essas coisas logo quando eu acabei de acordar?

- Bom, White, eu tenho coisas mais importantes a fazer do que ficar vendo filmes, sabe. - Rebati, bufando. Eu era o campeão da liga, por Arceus! Não podia perder tempo com aquelas baboseiras.

- Não use essa desculpa, Black. Você veio comigo até aqui por não ter nada mais para fazer, lembra? - Ela cruzou os braços.

Droga, não é como se eu pudesse discordar disso.

- ...Tudo bem então, eu sou um ignorante. - Revirei os olhos, irritado. Pude ouvir White suspirando, mas só parei para olhá-la quando me chamou.

- Olha, desculpa. Você não é ignorante nem nada disso. - Iria rebater sobre como ela só estava falando aquilo por falar, mas parei assim que vi que a mesma me olhava com sinceridade. -... Para falar a verdade, Black, você é uma das pessoas mais inteligentes que eu conheço.

- Uh. - Pisquei, não sabendo o que dizer.

Ela pensava isso de mim? Um quente familiar tomou conta do meu estômago e meu rosto ficou vermelho. Para alguém que sempre se importava com trabalho, era raro dela ter tempo para me elogiar desse jeito.

Senti seu olhar permanecer em meu rosto por mais alguns segundos, antes que ela desviasse seus olhos.

-... Bom, eu vou ajudar a produção. Nos vemos depois! - E saiu apressada, sem nem me avisar como exatamente eu sairia dali.

E eu fiquei lá parado, atônito, até que finalmente alguém resolveu me tirar do meu transe.

- Ei! - Senti uma cutucada no ombro, e olhei para o lado. Mei me encarava com uma expressão curiosa. - Você está bem?

- Ah, sim, claro! - Respondi rapidamente, - Por que não estaria?

- Você estava olhando para o nada que nem um besta até alguns segundos atrás. - Ela comentou com um sorriso.

Senti meu rosto ficar vermelho outra vez.

- Então, eu descobri porque eu achava que te conhecia! - A garota disse para recomeçar o assunto. - Meu pseudo-irmão se parece exatamente com você!

-Pseudo-irmão...? - Ergui uma sobrancelha. Rindo, ela continuou:

- Sabe, minha mãe o adotou um dia quando o encontrou abandonado num centro pokémon. Ele é meu irmão, só que não é, então eu inventei essa expressão. - Concluiu sorridente, - O nome dele é Nate! Mas ele está mais para treinador que ator, sabe? No momento deve estar no continente principal batalhando algum líder de ginásio.

Continente principal...? Seria esse o modo no qual eles se referiam à área principal de Unova?

- Ele é treinador, então? - Abri um sorriso confiante. - Espero que ele chegue a batalhar comigo um dia. Se ele for forte o suficiente, quer dizer.

- E é sim, posso te assegurar disso. - A garota sorriu, - Você parece bem confiante para alguém que acabou de se tornar Campeão de Unova. Eu teria mais cuidado se estivesse no seu lugar.

Espera, como ela sabe...? Ah, claro! Tinha esquecido completamente que a final da Liga fora televisionada. Uma atriz como ela deveria saber de muitas coisas.

- Bom, eu não vou deixar esse título ser roubado de mim tão facilmente. - Disse, com convicção. - Foi algo que eu conquistei depois de muito tempo de esforço. Não vou desistir dele por nada no mundo, e vou fazer o impossível para consegui-lo de volta caso eu o perca.

Era o meu sonho, afinal, eu não estou disposto de perdê-lo sem lutar.

Mei ficou quieta por alguns segundos, antes de sorrir novamente. Seus olhos cintilaram com um brilho nostálgico, como se já tivesse ouvido algo parecido com o que eu havia dito.

- Ah... Você se parece com ele, sim. - Murmurou, ainda com aquele olhar.

Ela tinha um sorriso meigo nos lábios, e não parecia estar pensando mais em seu irmão, Nate. Quem, então?

- Srta. Rosaria, começaremos em quinze minutos! - Uma voz do que eu achei que era o assistente de palco a informou, de longe. Mei virou-se para voz e acenou, antes de dar mais uma olhada rápida em minha direção.

- Bom, eu tenho que ir, Curtis já deve estar me esperando. - A garota parou um pouco, antes de continuar, - Foi um prazer te conhecer. Você vai ficar aqui até o fim das filmagens?

Assenti, e ela aumentou seu sorriso. Despedindo-se rapidamente, foi em direção de o que eu julgava serem maquiadores no outro lado da sala.

Mei podia parecer-se com White, mas elas eram diferentes. A primeira parecia ser mais tranquila do que minha chefe, pelo menos.

Falando nela...

Percorri os olhos pela sala, até parar quando vi um rabo de cavalo grande. Lá estava ela, coordenando os pokémons para suas posições como uma verdadeira diretora de cinema. Ela parecia estar fazendo um excelente trabalho, ao ponto das pessoas em volta a olharem surpresos.

Sorri. White podia ser chata às vezes, mas ela ainda assim era incrível. Se pudesse apenas ser um pouco mais honesta...

Sua fala de antes voltou à minha cabeça em seguida. Não sabia que ela podia pensar algo assim de mim. Era... bom. Por algum motivo, a opinião dela sempre importava muito para mim. Seria bom se ela me elogiasse mais de vez em quando.

Uma White imaginária surgiu em meus pensamentos, repetindo o que falara anteriormente.

- ...Black, é melhor achar a saída desse lugar. - Murmurei para mim mesmo, mas a figura da garota sorrindo à minha frente não saíra da minha cabeça. - Treinar o pessoal. Eles precisam estar fortes, lembra?

A White falsa repetira sua frase novamente, mas ela estava um pouco alterada.

Black, você é uma das melhores pessoas que eu já conheci em toda a minha vida.

- Você tem que ir lá para fora... Talvez conhecer a cidade... - As imagens não iam embora. Fechei os olhos, mas elas não saíam.

Ela agora estava mais perto.

Você é importante para mim.

Engoli em seco, repreendendo-me por ter gostado de como aquelas palavras soaram em sua voz. Tinha de sair dali, parar com isso, não era algo que eu pensaria-!

Aparentemente, meu cérebro não estava acabado com aquela sessão absurda de imagens impossíveis. Na minha cabeça, ela se aproximava cada vez mais, até ficar na ponta dos pés para murmurar uma frase no meu ouvido.

Uma frase que me incomodou profundamente.

Não, isso já é demais. Abri os olhos e saí correndo pelo mesmo corredor que entrei, decidido a me afastar o mais rápido possível dela. De onde diabos aquilo tinha saído?

Um canto da minha cabeça continuou a repetir a frase continuamente, ignorando minhas preces interiores. Daqui a pouco teria um curto circuito cerebral, precisava fazer alguma coisa e rápido.

- Musha! - Lancei minha pokébola no ar, e dela saiu meu companheiro de viagens. - Por favor, tire isso da minha cabeça!

O pokémon não gastou um segundo sequer para vir na minha direção. Senti a sensação familiar de ter minha mente esvaziada.

- Ufa... - Pus uma mão sobre a testa, suspirando. - Obrigado, pode voltar agora.

Retornei-o para sua pokébola, me sentindo um pouco melhor. O que fora aquilo, afinal? Por um momento, achei que iria ficar louco!

Nunca pensaria sobre White daquele jeito. Era impossível. Éramos amigos, e eu me importava muito com ela, mas não até esse ponto. Não o suficiente para querer que ela...

Uma pequena vozinha sussurrou no meu ouvido. Musharna é um pokémon que devora sonhos, Black. Se ele aceitou tão rápido esvaziar sua mente, talvez...

Talvez eu realmente desejasse ouvir aquilo.

- Ugh, pare de pensar nisso! - Gritei para o corredor vazio. Algumas pessoas que passavam me olharam com medo, mas as ignorei completamente. Ao invés disso, fui correndo por um caminho qualquer.

Precisava sair dali, respirar um ar fresco. Aquilo não estava me fazendo muito bem.

Black, eu gosto de você.

A voz suave de White ecoou na minha mente mais uma vez antes que eu conseguisse a reprimir por completo.

xxx

- Você está estranho.

Senti vontade de quebrar alguma coisa. Era a quinta vez que White falava aquilo.

- Não estou não. - Rebati, andando com as mãos nos bolsos sem olhar para ela. Tinha ido encontrá-la umas oito da noite, depois que finalmente achei o caminho de volta ao estúdio após um passeio longo pela cidade e seus arredores.

E não, ainda não tinha conseguido retirar o fiasco que fora aquela tarde da cabeça.

- Está sim, Black. - Ela bufou, e pude ver que cruzou os braços. - Eu te vi saindo correndo do set hoje. Aconteceu alguma coisa?

O tom de voz dela parecia preocupado...?

Não, não pense nisso. Você já esqueceu esse assunto, não o traga de volta.

- Não aconteceu nada, Prez. - Virei para encará-la, e senti meu coração acelerar quando vi que ela olhava diretamente para mim. - Sério. Eu só estou um pouco cansado.

- Hm... - Ela manteve seu olhar por um instante antes de olhar para o chão. - Está confuso sobre o que fazer agora?

- Uh? - Pisquei. Tendo passado o dia inteiro tentando esquecer o que pensara mais cedo, esqueci completamente do meu pequeno dilema. - Não, eu... Quer dizer, talvez.

White pareceu satisfeita com a resposta, pois suspirou novamente, agora com um sorriso no rosto.

- Você não precisa ficar assim. Eu tenho certeza que vai achar outro sonho agora que conseguiu o que queria. - Ela pousou uma das mãos no meu ombro, e eu senti uma corrente elétrica passar daquele local até a minha espinha. - Vai dar tudo certo, ok?

- Ah... Claro. - Sorri de volta para assegurá-la. Me senti um pouco mal por mentir para White, mas não poderia dizer que estava confuso pois me pegara imaginando como seria se ela gostasse de mim. Isso seria estranho, e ela provavelmente me chamaria de pervertido e me odiaria para todo o sempre.

Talvez não o segundo, era de White que eu estava falando. Mas, mesmo assim, não queria estragar nossa amizade desse jeito, principalmente por um pensamento passageiro que nunca mais voltaria à minha mente.

Ela era minha amiga, somente isso.

- Bom, chegamos. - Virei-me para frente para ver onde exatamente estávamos, e me deparei com um prédio mediano com cara de pousada. - É aqui que ficaremos por enquanto.

- Não vamos acampar? Ótimo! - Pelo menos não dormirei numa cabana outra vez. White me chamou para entrar, e largou do meu ombro para ir à direção da recepção.

Senti um vazio incômodo na região onde a mão dela estava há minutos antes, e quase me xinguei em voz alta por ficar prestando atenção nessas coisas.

Permaneci no saguão, sentado num sofá e olhando com tédio para as pessoas que entravam e saíam.

Justamente quando White me chamou, pensei ter visto Mei dentro do elevador. Estranho, ela não deveria estar num lugar mais chique, como um hotel cinco estrelas?

- Uh, Prez... Onde os atores costumam ficar durante as gravações? - Perguntei, enquanto esperávamos pelo próximo elevador.

- Tem um hotel de luxo nos arredores do PokéStar. - Ela respondeu, - Eu aluguei um quarto para os pokémons lá.

- E por que nós não poderíamos ter ficado lá?

- Por que nós não somos atores, e eu não sei se conseguiria pagar um quarto grande naquele hotel! - Ela respondeu já irritada. - Você queria dormir no sofá ou coisa assim?

- Não. - Respondi, semicerrando os olhos. Ela nunca muda, não é mesmo.

- Que bom.

Devia ser impressão, então. Uma atriz tão importante como Mei certamente iria para o hotel chique.

O elevador finalmente parou, e subimos. Entramos num quarto do terceiro andar, e White foi logo deixando suas coisas em cima da cama. Encarei os papéis enquanto ela ia checar o banheiro.

- Você vai trabalhar a essa hora?

- Não, não. Esses são só os scripts do filme. - Ela respondeu, voltando para o quarto. - Eles me deixaram ler tudo antes quando eu disse que era fã dos filmes.

Virei-me para o lado; ela parecia feliz por ter ganhado os papéis. Pelo menos o dia de alguém fora bom.

Enquanto eu ficava me remoendo por coisas estúpidas, ela pulava de felicidade por estar participando das filmagens de um filme que gostava. Já devia até ter se esquecido do que me dissera essa tarde, aquela maldita.

- Bom, eu vou dormir. Quero acordar cedo para treinar todo mundo amanhã. - Disse, tirando meu casaco e jogando-o num canto do quarto. - Boa noite.

- Não vai jantar? - White me olhou confusa.

- Sem fome. - Resmunguei de minha posição confortável na cama, me virando para o lado oposto. Ela não falou mais nada depois disso, então provavelmente deveria ter ido arrumar o resto das coisas.

Fechei os olhos, tentando me concentrar apenas em quão macio era o meu travesseiro. Mesmo assim, meus pensamentos voltavam para White, e para o que ela dissera, e para o que eu pensei que ela pudesse ter dito.

O que estava acontecendo comigo, hein? Isso nunca acontecera antes, não desse jeito. Minha chefe era uma pessoa legal e até era bonita, mas ela tinha sim seus pontos fracos (tipo o fato dela ser maluca e viciada em trabalho), além de ser só uma amiga.

E, se eu pensasse mais nisso, iria acabar enlouquecendo.

Comprimi os olhos, desviando os pensamentos dela para minha taça reluzente da Liga no meu quarto. Tinha coisas mais importantes para pensar agora, e coisas mais importantes a fazer também. Não era hora de refletir sobre algo assim.

Daqui a pouco pegaria no sono e me esqueceria disso tudo no dia seguinte.

xxx

Não deu muito certo.

Depois de umas horas me revirando na cama e tentando dormir, percebi que não iria conseguir. Sentei-me, olhando para minha companheira de quarto que dormia profundamente, alguns papéis esquecidos por cima de si mesma.

Suspirei. Levantei lentamente para não fazer barulho e fui até ela. Depois de recolher os papéis e colocá-los sobre a mesa de cabeceira, subi o lençol até que ele cobrisse-a até os ombros.

White parecia estar tendo um sonho bom, pois sorria feito uma idiota. Senti vontade de fazer o mesmo, e acho que acabei sorrindo também. É difícil raciocinar quando se está com insônia.

Peguei as chaves do quarto e abri a porta, felizmente não a acordando. Dar uma volta lá fora talvez me deixasse com sono. Desci até o saguão e, para minha surpresa, encontrei alguém acordado lá.

Olhando para o céu estrelado pela janela estava Mei Rosaria, com um olhar perdido. Sobre o que ela estaria pensando, e por que diabos ela estaria aqui?

Aproximei-me lentamente até que ela virasse para me avistar. Ela piscou, confusa, e abriu um sorriso pequeno.

- Também não consegue dormir?

- ...É. - Sentei-me no sofá de frente para o dela. - Pensei que ficaria no hotel de luxo que a White me falou.

- White? Aquela sua amiga? - Mei tombou a cabeça para o lado.

- É. A que parece com você.

- Você já é a quinta pessoa a me dizer isso hoje! - Ela riu, e eu acabei sorrindo também. Não sei como, mas ela parecia poder influenciar qualquer um a ficar mais tranquilo. Parecia que emanava uma aura boa, o suficiente para agradar as pessoas à sua volta.

A única coisa assim que vira antes fora o sorriso de White, mas não queria pensar nela no momento, então afastei os pensamentos da cabeça.

- Respondendo sua pergunta, eu prefiro esse hotel. - Mei olhou em volta. - Foi aqui que eu passei dias e dias me esforçando para chegar até onde eu estou hoje. Eu gosto mais da simplicidade daqui do que dos milhares de excessos do hotel para os atores.

- Hm. - Eu não recusaria um hotel com excessos, mas Mei tinha mesmo a aparência de uma pessoa simples. Ainda mais agora que estava que nem eu: sem sono, usando uma roupa casual e sentada num sofá durante a madrugada.

- Agora, por que você está aqui a essa hora da noite? Algum motivo para não conseguir dormir? - Perguntou em seguida, e eu desviei os olhos.

- Bom... Tem um, sim.

-... Aconteceu alguma coisa? - Ela perguntou, e eu me lembrei de White pelo jeito que pronunciou aquelas palavras.

-Sim. Uma coisa muito estranha.

Sem motivo aparente, aquelas palavras escapuliram da minha boca. Talvez fosse Mei e sua aura amigável, minha falta de sono que estava mexendo com minha cabeça ou simplesmente a necessidade de contar para alguém o que estava sentindo.

Normalmente, eu lidava com meus problemas sozinho. White já me dera uma bronca por causa disso, mas ainda assim não gostava de me abrir com os outros. As coisas que eu faço são de minha responsabilidade e as minhas dificuldades são, também, minha culpa.

...Então o que estava acontecendo de errado comigo?

- Eu sou amigo dessa garota, sabe. Ela é maluca, trabalha demais, convence todos com seu carisma e me faz concordar com coisas que atrapalham minha rotina. Mas eu gosto dela, como amigo, e até aí estava tudo bem. - Comecei, por fim, mandando minhas inseguranças para o ar. - Até que ela me disse algo que eu não esperava ouvir, e não sei por que, mas a minha cabeça começou a formular cenários de coisas que ela não disse! E pior, eram coisas que ela nunca diria, por que ela não gosta de mim desse jeito!

Parei um pouco para respirar. Depois, terminei:

- Ela é minha amiga, e eu não sei o que está acontecendo. Eu não consegui parar de pensar nisso mesmo pedindo ajuda do Musha e, depois de não conseguir dormir pensando nela, aqui estou eu contando isso para uma garota que conheci a pouco mais de um dia.

Suspirei. À minha frente, Mei soltou um risinho. Quando olhei para ela para perguntar o que diabos era tão engraçado, ela falou a frase que seria indubitavelmente a causa futura da minha morte.

- Black, eu acho que você está apaixonado.

O quê?

As palavras giraram num ciclo sem fim pela minha cabeça. Apaixonado, apaixonado, apaixonado. Minha mente procurou desmentir o fato desesperadamente.

Não era verdade, eu não gostava de White. Aquilo devia ser um engano!

- Não, é claro que não! - Neguei, sentindo meu rosto ficar quente e meus pensamentos se confundirem em minha cabeça. - Eu conheço a White há muito tempo e isso nunca aconteceu antes! Não tem como eu, por causa de uma coisa idiota e simples que ela me disse, de repente começar a gostar dela - Não faz sentido!

- Mas antes você tinha algo mais com o que se preocupar, certo? Algo que tirava sua atenção dela e de todo o resto suficientemente para não o fazer perceber seus próprios sentimentos. - Mei falou com uma certeza que me fez duvidar que ela já tivesse vivido algo parecido.

Eu não podia discordar disso... Não depois de todas as loucas por quais tinha passado nesses últimos meses.

-... Pode até ser, mas... - Murmurei. - M-mesmo assim... Eu não acho que deixaria de perceber uma coisa dessas.

- Não minta para si mesmo. - Ela me repreendeu. - Eu conheço alguém que é teimoso exatamente como você. E, por mais que eu me esforçasse para fazê-lo prestar atenção em mim... – Ela desviou seus olhos para o chão antes de terminar a frase.

- Tudo o que ele tinha em mente era o seu próprio desejo e nada além disso.

- Mei...? - Ela tinha terminado de falar num sussurro melancólico, ao ponto de me deixar com medo que sua voz fosse falhar. Porém, a garota já parecia recuperada após um suspiro, retornando ao seu sorriso usual.

Ela era, afinal, uma atriz. Mas, depois disso, não consegui mais ver seu sorriso com os mesmos olhos. Estaria ela encenando antes, assim como agora?

-... Enfim, Black, pense um pouco. - Ela chamou minha atenção novamente. - Você provavelmente já deve estar apaixonado por ela há muito tempo, mas só percebeu agora que teve tempo para notar isso. Não estou certa?

Isso... isso fazia sentido.

Meus olhos arregalaram e minha respiração ficou presa na garganta. Isso fazia sentido. Todas as imagens de hoje mais cedo voltaram para minha cabeça num turbilhão de memórias, e eu não consegui respondê-la.

Não.

Não podia ser. Eu não estava apaixonado por White e ninguém me convenceria disso! Absolutamente ninguém!

Aquilo devia ser delírio da Mei. Aquilo era definitivamente um engano.

Ainda assim, eu senti uma pergunta borbulhar pela parte mais profunda do meu ser, que eu sabia ser minha e também verdade.

Seria mesmo impossível?


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Notas finais do capítulo

Eeeee aqui está o primeiro capítulo! Espero que tenham gostado! (owo)/

Até mais, pessoal! ♥



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