Priston Tale escrita por Yokichan


Capítulo 8
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

Um cap bonitinho. q



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/44619/chapter/8

Hakuna POV On.

 

 

         Jamais esperei que um dia Mizu me fizesse feliz, como realmente eu sonhara em ser. Jamais esperei que um dia eu pudesse amá-lo, ao invés de apenas conseguir nutrir por ele um bondoso sentimento de ternura. E então, eu estava realmente surpresa comigo mesma. Surpresa com Mizu. Surpresa com o que ele fora capaz de fazer por mim. Já não era doloroso lembrar daquele dia, quando eu imaginei ser apenas um fracasso para mim mesma. A dor havia ficado naquele passado tortuoso, sofrido. E desde então eu me pergunto se sozinha eu teria conseguido buscar a luz que fora apagada em mim. Sem Mizu, me pergunto se eu teria suportado a dor em meu coração.

 

        

         "Eu era jovem, muito jovem para compreender o que acontecera comigo naquela noite. Jovem demais para livrar-me sozinha das garras do mau. Jovem demais para buscar forças e sair daquela escuridão. As sombras me envolviam, e terrivelmente cresciam dentro de mim. Pude ver meu futuro se esvaindo para longe, como as águas de um fosso que correm para dentro de um bueiro escuro. Eu fracassei, humilhantemente, quando não consegui ser forte. Oh, como eu fora fraca naquele passado amaldiçoado. Eu tinha apenas quinze anos.

         Encolhida em meu próprio corpo em um canto escuro de Pillai, eu refleti dolorosamente sobre o que precisava fazer, sobre o que eu ainda tinha forças para fazer. As sombras não paravam de crescer dentro de mim, aquele mau maculado, aquela terrível sensação de impureza que não me deixava em paz por um único momento. Abracei meu ventre o mais forte que pude, tentando expulsar aquela maldição de meu corpo, aquela semente negra que havia sido plantada em mim sem o meu consentimento. Eu estava suja, imunda, e meu rosto refletia aquela vergonha. Como eu contaria aos meus pais que eu havia sido violentada por um estranho, e não tive forças para resistir? Como eu contaria ao meu clã que havia sido fraca, mesmo sendo a escolhida para representar minha classe na Elite? Como eu me revelaria na luz do dia, diante dos olhares repugnados sobre meu corpo, sobre meu rosto cabisbaixo? Eu havia envergonhado as pessoas que esperavam grandes fatos de mim. Eu havia envergonhado a mim mesma. E as sombras não paravam, não importava o quanto eu as repelisse em minha mente, elas continuavam a crescer. O que eu faria?

         E inesperadamente, a luz brilhou para mim? Eu havia sido perdoada por fraquejar quando as trevas se apossaram de meu corpo? Deus havia me perdoado com um milagre, livrando de meu ventre aquela semente maldita? Não, algo muito mais grandioso brilhou para mim, mostrando seu sorriso iluminado diante de meu rosto temeroso. Eu estava salva, como jamais pensei que pudesse estar. Braços quentes e confortáveis envolveram o meu corpo, acolhendo-me naquele abrigo humano tão delicado. Um rosto sereno surgiu ao lado de minha orelha, despejando graciosamente seu hálito fresco na curva de meu pescoço. Eu jamais pudera me enganar com aquele aroma suave. Mizu, meu eterno amigo, meu eterno confidente. Ele cedeu seu corpo por trás do meu, envolvendo-me naquele abraço carinhoso e protetor. Oh, como era doce aquela divina proteção.

 

- Está tudo bem, Hakuna. - a voz dele chegou melancólica e agradável ao meu ouvido, enquanto seus lábios deslizavam levemente por minha pele; senti um arrepio inédito percorrer a totalidade de meu corpo de uma maneira sutilmente romântica - Eu estou aqui. - completou ele, confortando-me diante das sombras

 

- M.. Mizu. - murmurei surpresa ao sentir que a mão dele tocava meu ventre carinhosamente; ele não temia o que crescia dentro de mim

 

- Venha, está frio aqui fora. Vai acabar resfriando nosso filho. - a voz dele dançou melodicamente em meu ouvido, tão calma e terna como se nada de ruim pudesse acontecer dali por diante, porque ele estaria ao meu lado; aquilo me abismou

 

- Nosso filho? - repeti ruborizada; naquele momento, não fui capaz de compreender a grandiosidade do amor de Mizu, mas ele me fez sentir especialmente segura

 

- É claro. Não se faça de boba, Hakuna. É meu filho este que está em seu ventre, não é? Precisamos apressar o casamento, ou todos irão comentar. - ele brincou graciosamente com as palavras, erguendo-me do chão com seu abraço protetor; só então pude olhar a claridade tênue de seu rosto e perceber o quão bondoso era seu coração; Mizu sorriu para mim, como se não se importasse com aquela doce mentira

 

         Ele abraçou-me fortemente, e enquanto eu chorei desolada - e aliviada ao mesmo tempo - sobre seu peito quente, ele apenas ficou ao meu lado, como ninguém jamais esteve. Ele não teve receio de tocar em meu ventre enquanto ele crescia, e não hesitou em sorrir para a protuberância do mesmo, murmurando carinhosas frases para a criança que ali crescia. 'Nasça com saúde, meu filho', foi o que ele disse quando as lágrimas sumiram de meus olhos. Permaneci estagnada ao perceber tamanho amor na feição serena de Mizu, mas então entendi que ele quisera me proteger daquilo. Mesmo negando o fato de que aquela criança não era sua, ele me acolheu com seu amor radiante. Ele acolheu aquele fruto das trevas, como sendo seu esperado filho. Imaginei o quão ilimitado era aquele sentimento, de tratar uma criança concebida com tristeza como sangue de seu sangue, carne de sua carne. Mizu foi o meu salvador. Livrou-me das punições horrendas de meu clã e de minha família, tomando a mim com sua mulher, a qual carregava um legítimo filho seu. Mizu me amou, mesmo sabendo que eu poderia jamais corresponder àquele sentimento. Protegeu-me, acolheu-me, e inesperadamente, eu também o amei."

 

          

         Pelo amor de Mizu, eu pude seguir o meu destino, de ser a Sacerdotisa a representar a minha classe na Elite de Priston. Eu havia conseguido superar aquele passado, escondendo-o com o novo amor que surgira em minha vida, e então eu estava feliz. Eu realmente conseguira descobrir meu amor por Mizu, reconhecendo nele o homem mais forte do mundo, o de maior coração.

         Nosso casamento havia sido lindo, o mais belo de Pillai. O sorriso de meu marido me enchia de felicidade, e meu olhar afável o aquecia, eu podia sentir aquela sutil chama no fundo de seus olhos azuis. Ele estava debruçado no beiral da janela a admirar a noite calma de Pillai, quando eu o chamei.

 

- O jantar está pronto. - comuniquei com um sorriso agradável ao surgir na porta da cozinha

 

         Elegantemente, ele virou o rosto para me olhar. Seu sutil sorriso era encantador e lascivo. Os longos cabelos azuis deslizaram de um lado para o outro de suas costas perfeitas, presos frouxamente por uma pequena fita. Um longo robe de cor clara descia por seu corpo, juntamente com um manto amarelado. Seus olhos me encararam com amor, e com um suave movimento de mão ele chamou-me para perto da janela. Curiosamente, me aproximei dele.

 

- O que foi? - perguntei, juntando-me à ele na beira da janela

 

- Olhe como a noite está bonita. - ele sorriu, indicando com o rosto para o alto do céu estrelado enquanto passava um de seus braços ao redor de minha cintura delicadamente

 

- Ora, é verdade! - meus olhos cintilaram para o manto de brilhantes da noite - Eu não havia percebido. - murmurei encantada

 

- Como está nosso filho? - perguntou-me terno, acariciando meu ventre com uma das mãos grandes e elegantes

 

- Hum, está bem. Certamente, ele está feliz. - afirmei sorridente, passando meus braços ao redor do pescoço de Mizu

 

- Você está feliz? - ele perguntou, desferindo um suave beijo sobre minha testa

 

- Muito. - respondi radiante, fechando os olhos e erguendo lentamente o rosto para o dele - Muito feliz. - acrescentei

 

- Então todos estamos bem. - finalizou graciosamente, tocando meus lábios com os seus

 

 

 

Hakuna POV Off. Mizu POV On.

 

 

         Ela era realmente como um vício aos meus olhos, e eu não conseguia me ver longe de Hakuna, em hipótese alguma. Ela levava o meu filho, o nosso filho. Era como eu dissera que seria, e eu iria com aquela promessa até o fim. O progenitor biológico da criança que Hakuna levava no ventre era desconhecido para nós, e ambos não tínhamos interesse algum em saber o nome do cretino imundo que a havia violentado nas sombras de uma noite silenciosa. Ela não pudera ver o rosto do homem, devido à escuridão, mas aquilo já era irrelevante. Eu havia me tornado o pai daquela criança, e para mim, era como se fosse verdadeiramente meu filho. A imagem maternal de minha Sacerdotisa era lindamente brilhante, algo iluminado. Uma luz distinta havia pairado sobre os olhos dela, no momento em que eu a encontrara.

         Em nossa nobre casa, éramos felizes um com o outro. Passei meus braços ao redor da silhueta delicadamente protuberante dela, abraçando-a carinhosamente. Nosso grandioso amor nos aquecia. Meus lábios passeavam pelos dela, em beijos extremamente sentimentais, saudosos, gentis. Os braços dela apertaram-se naquele elo ao redor de meu pescoço. Ela me amava.

 

- Eu a amo, certo? - sorri afável, passando a mão pelos longos cabelos rosados e macios de Hakuna

 

- Eu também, Mizu. - ela assentiu, abrindo os olhos para o meu, com seu rosto iluminado pela luz prateada da lua

 

- Venha, vamos jantar. - disse após um beijo breve em seus lábios, conduzindo-a para longe da janela; batidas na porta me fizeram parar

 

- É tão tarde. - ela comentou olhando-me curiosa - Quem será?

 

- Vou ver. Me espere na cozinha, sim? - sorri naturalmente enquanto ela desvencilhava-se de meus braços

 

- Não demore, amor. - ainda pude ouvir sua voz doce quando desapareceu pela porta da cozinha

 

- Não demorarei. - prometi enquanto caminhava até a porta da sala, abrindo-a - Sim? - encarei o jovem rapaz

 

- Desculpe incomodar a esta hora, Sr. Mizu, mas o Conselheiro Verkan pediu que lhe entregasse este pergaminho em mãos. - anunciou cordialmente o rapaz, estendendo para mim um rolo amarelado de pergaminho

 

- Verkan? O que pode ser? - refleti em meio tom de voz, pegando o pergaminho - É apenas isso? - sondei, curioso

 

- Sim. Tenha uma boa noite, senhor. - o rapaz despediu-se, afastando-se rapidamente

 

- Hum. - assenti ao fechar a porta

 

          Hesitei alguns breves momentos imaginando o conteúdo misterioso daquele pergaminho. Verkan não costumava mandar comunicados daquela maneira, e quando o fazia era por um motivo de extrema importância. O que estava se passando, afinal? As coisas pareciam calmas no continente desde os últimos tempos. Aproximei-me da janela aberta, escorando-me na moldura de madeira da mesma. Designei que seria melhor abrir o pergaminho antes do jantar, pois não desejava preocupar Hakuna desnecessariamente. Auxiliado pela claridade agradável da lua no céu, abri o sutil cilindro de papel amarelado. O silêncio acompanhou minha breve leitura, cautelosamente.

 

         "Guerreiros da elite de Priston, os convoco para uma reunião de urgência na manhã do dia que está por vir. Um assunto importante deve ser discutido, para que medidas rápidas possam ser tomadas. Adianto que Priston pode entrar em uma segunda guerra muito brevemente. Compareçam no castelo de Richarten assim que o sol surgir. Atenciosamente, Conselheiro Verkan."

 

         Aquelas palavras não saíam de minha mente, assombrosamente. "Priston pode entrar em uma segunda guerra". O que era aquilo tão repentinamente? O que estava se passando no continente? Aquilo era crucial. Rapidamente enrolei o pergaminho e o coloquei sobre a pequena mesa no centro da sala. Sem hesitar, mas ainda receoso, corri até a porta da cozinha, onde meu fôlego agitado fez com que eu demorasse alguns instantes para dar a notícia à minha amada. Ela congelou o movimento do braço, que segurava um copo de cristal transparente e vazio. Certamente, percebera instantaneamente minha feição pasma.

 

- O que houve? - ela indagou curiosa e aflita; machucava-me vê-la tão preocupada, mas eu precisava revelar o acontecido

 

- Podemos estar entrando em guerra. - disse em um único fôlego, pronto para amparar o corpo frágil de Hakuna

 

         O copo de cristal se foi ao chão, partindo-se em vários estilhaços.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Priston Tale" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.