Priston Tale escrita por Yokichan


Capítulo 7
Capítulo 6




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Electro POV On.

 

 

         Eu precisava ver aquele casamento. Hakuna estaria mesmo se casando com um Mago, como Mystic havia dito? Eu ainda lembrava dos olhos afáveis dela em minha mente, da cor rosada e suave das ondas sutis de seus cabelos caindo sobre os ombros. Eu ainda tinha as visões daquele anjo quando fechava os olhos, todas as vezes. E repentinamente eu descobrira que ela se casaria, que seria inteiramente de um homem senão eu. Era como se o sonho estivesse sendo arrancado de mim, de meu coração.

 

 

Obs: Se quiserem, leiam o resto do cap. ouvindo essa música: http://www.youtube.com/watch?v=d1BgYTZ4Mxc       

 

 

         Corri desesperadamente, como um insano, até o portal de Richarten e desejei que meu corpo chegasse o mais rápido possível no portal de Pillai. Felizmente, não senti que aquilo tivesse durado mais que um segundo. O tempo poderia ser letal para mim, e se eu não chegasse a tempo de vê-la dizendo "sim", aquele sonho platônico resistiria para sempre em meu coração, agarrando-se às mais fantasiosas e impossíveis idéias. Eu acreditaria no utópico, e aquilo me machucaria até a morte.

         Pillai estava especialmente encantadora naquele meio de manhã. Tudo parecia brilhar diante de meus olhos, como se eu estivesse sendo enfeitiçado. Senti meu coração palpitar, e algo me disse terrivelmente que meus olhos deviam lacrimejar. Meu corpo tremeu, recusando-se a avançar além daquele portal. Ainda havia dentro de mim algo que se negava a sofrer naquele ato sádico, mas eu precisava vê-la partindo de uma vida que poderia ser minha. Desci apressadamente a rampa do portal, indo para qualquer lugar daquela bela cidade. Sinos pareciam badalar, tão suavemente como o canto de pássaros brancos. Pessoas passavam por mim, incrivelmente sorridentes, como se zombassem da expressão atormentada que eu tinha no rosto. Meu coração estava me traindo.

         E foi então que eu percebi, que tudo estava perdido. Em frente à uma grande casa bonita, onde geralmente ficava a Wherehouse - lugar onde os guerreiros guardam seus itens e dinheiro, como em um baú privado - estava a prova que meu coração queria, mas meu corpo negava. Algumas pessoas deixavam o local, satisfeitas com a cerimônia recém finalizada, e sobre a varanda de madeira clara, os anfitriões. Ela, minha doce musa, vestida do mais puro branco, sorria de mãos unidas à um Mago de longos cabelos azuis e trajes elegantes. Trajes de um casamento. Meu corpo vacilou, e recuei instintivamente alguns passos. Meus olhos vidrados naquela cena, aterrorizados, chocados. A Sacerdotisa se aproximou de seu, infeliz, marido. Seu sorriso era como um raio de sol abençoado, como a suave brisa da primavera. Delicadas flores brancas pintavam o chão da varanda, lindamente. O Mago abriu seus braços protetores pra ela, para sua esposa, e a acolheu em um ato tão terno que eu mesmo pude sentir o calor daquele sentimento. Eles se amavam, e para mim não havia mais dúvidas. Eu havia ficado em um caminho distante, proibido de partilhar daquela cena. Eu havia sido esquecido. Hakuna ergueu o rosto meigo para seu amado, e daquele sorriso eu percebi palavras que terminaram de destruir o que restara de minha estrutura. "Eu te amo." Ele tocou os lábios dela com carinho, enquanto seus braços serviam confortavelmente como um abrigo amoroso. Aquilo bastava para mim, e eu não desejava mais sofrer por vontade própria. Fechei os olhos forçadamente, mas era tarde demais, as lágrimas já rolavam por meu rosto, desaparecendo na beira de minha máscara.

 

 

Electro POV Off. Mystic POV On.

 

 

- Chega, Electro. - eu praticamente ordenei, e foi neste momento que o corpo dele se virou para o meu

 

         Eu que havia permanecido a observar aquela cena, desde o começo, já não suportava a tristeza que aquele homem sentia. Imaginei então como ele próprio poderia suportar, ele que tivera seu frágil amor destruído em segundos. Nostalgicamente, notei que os olhos dele lacrimejavam, extremamente dolorosos. Lágrimas do fundo do coração, eu podia entender. Não soube o que fazer, ou como amenizar aquela dor, aquela decepção melancólica, mas eu sabia que apenas estar ali já era o suficiente.

         Ele não reagiu às minhas palavras, apenas deixou que o silêncio mortal tomasse conta de seu corpo. Naquele momento, foi como se ele pudesse transmitir sua dor para mim, e eu senti o quão triste Electro estava, o quão destruído seu coração se encontrava. Mesmo não sabendo se seria certo, eu o abracei. Que o fato de sermos meros conhecidos fosse para o inferno, eu apenas queria o ajudar. O pranto de um homem era o que de mais triste havia naquele mundo, especialmente para mim. E inesperadamente, ele aceitou o meu abraço. Envolveu os braços fortes ao redor de minha cintura, deixando a cabeça tombar sobre o meu ombro. O corpo firme de antes se curvou sobre o meu, devido à sua altura ser superior à minha. Senti como se uma criança precisasse de meu carinho, de um afago para se sentir amada. Electro era tão solitário ao ponto de precisar de carinho daquela forma? A resposta era óbvia, mas minha mente se recusava a acreditar. Durante todo aquele tempo, ele esteve frágil por dentro, mesmo que seu corpo demonstrasse força e resistência.

 

- Vamos sair daqui. - eu disse prontamente no momento em que meus olhos notaram a cena romântica dos recém casados

 

         Novamente, Electro não reagiu. Passei o braço ao redor do corpo másculo daquele homem vulnerável e o conduzi para longe daquele lugar, daquele altar que ficaria para sempre na memória de Electro. Logo, estávamos no ponto mais afastado de Pillai, onde só havíamos nós dois. Passamos por trás de uma casa, e ao caminharmos um pouco por entre as folhagens e árvores floridas do recluso e pequeno bosque, chegamos em um lugar calmo. Ali, no limite de Pillai, repousava um pacífico e reluzente rio, tão vasto que os olhos mal podiam determinar em que ponto ele acabava. Sentamo-nos no chão, e eu escorei-me no tronco de uma grande árvore. O sol iluminava as águas calmas, tão azuis quanto os céus. O som dos pássaros era suave, assim como o perfume das flores daquela cidade. Uma doçura impecável, tal como uma ilusão do paraíso. Electro continuava quieto, encurvado sobre o próprio corpo inerte, encarando o chão com tristeza. Longos instantes se passaram, até que ele resolveu falar.

 

- Acabou. - ele murmurou, erguendo o olhar longínquo para o rio iluminado

 

- O que está falando? - perguntei, sentada ao lado dele

 

- Ela nunca poderia ser minha, não é? - ele simulou um sorriso doloroso, quase imperceptível

 

- É assim que as coisas são. Não se pode ganhar todas. - desejei que aquilo lhe servisse de conforto

 

- Você está certa, eu não poderia mudar décadas em um dia. - ele murmurou, deixando que o tronco caísse deitado no chão

 

- No que está pensando? Pretende persistir nisso? - sondei preocupada, encarando-o

 

- Sabe o que acontece quando se sonha além da noite? - ele moveu o rosto para o lado, olhando-me; parecia mais conformado

 

- Hum? - tentei descobrir onde ele queria chegar com aquela pergunta

 

- Não se consegue dormir. - ele sorriu, mas eu sabia que seu coração sangrava

 

- ... - repentinamente minha voz foi embora; meus olhos aflitos invadiam os dele

 

- Obrigado por estar aqui. - ele fitou a copa sombreada da árvore acima de nós, colocando os braços abaixo da nuca

 

- Tudo bem. - assenti, sentindo-me totalmente intrusa na companhia de Electro

 

- Então, quer fazer alguma coisa? - ele tentou quebrar o silêncio entre nós

 

- Hum, não. E você? - disse, tolamente pensativa

 

- Também. - ele respondeu, olhando-me

 

         E subitamente, nós rimos. Não sabíamos onde estava a graça naquele riso, mas apenas ríamos. Era divertido estar com Electro, mesmo quando ele tinha problemas, e eu estava envolvida naquela confusão. Quando a tormenta passava, nós estávamos bem novamente. Ficamos ali por um bom tempo, apenas olhando para o céu, caçando nuvens com formas de animais ou coisas, como dois inúteis que voltaram ao tempo de crianças. Estranhamente, o silêncio nos agradava. Como se tudo estivesse ali, tudo o que precisávamos, e nada mais importava. Estávamos contentes, não sentíamos carência de nada, não precisávamos fazer nada para obter satisfação. Electro era alguém estranho, mas talvez eu fosse ainda mais estranha.

 

- Você tem alguém? - ele perguntou subitamente, em meio à um assunto tolo, mas que não tinha nenhuma ligação com a pergunta; imaginei se ele pensara naquilo durante o tempo todo, e só então perguntara

 

- Alguém, como? - indaguei, olhando-o com uma curiosidade estúpida; oras, eu sabia exatamente que tipo de pergunta era aquela

 

- Hum, você sabe. - ele sorriu com o canto dos lábios, desviando o olhar para as nuvens, novamente

 

- Ah! - não pude controlar o silvo que saiu por meus lábios, eu estava então surpresa - Não. - respondi, prendendo um suspiro

 

         Ele ficou quieto novamente, como se pensasse. Naquele momento, o silêncio me incomodou. Quis desesperadamente saber o rumo que aquela conversa levaria, e no que exatamente Electro estava pensando. O que ele queria? Já entardecia, e o sol avermelhado caía no horizonte, iluminando nossos rostos debaixo daquela árvore. Electro então ergueu o tronco, sentando-se ao meu lado. O olhar estranhamente sereno que ele me enviou naquele momento foi assustador. Imaginei se meu rosto estaria corado.

 

- Então, quer fazer alguma coisa hoje à noite? - ele perguntou, como se fosse a coisa mais natural do mundo

 

- Ahn, pode ser. - concordei; quis me flagelar naquele momento por minha resposta tão rápida; eu nem ao menos havia pensado?

 

- Beleza. - ele sorriu animado, iluminando-me - Nos encontramos às 9:00hs no portal de Richarten, certo? - propôs ele

 

- Certo. - concordei novamente, desta vez sorriso tolamente; eu era uma estúpida

 

- Não se atrase, hum? - ele sorriu irônico, levantando-se - Até mais tarde. - e deu-me as costas, afastando-se em uma sutil corrida

 

         O que era aquilo?! Deus, eu quis gritar insanamente quando Electro se afastou. Que sentimento eufórico era aquele? Eu era tão influenciável a ponto de ficar tão animada com apenas alguns sorrisos bem dados de um Pike convidativo? Oh, como eu era uma tola. Uma tola sorridente. E como era agradável me sentir daquela maneira. Não contei quanto tempo mais fiquei sentada debaixo daquela árvore, pensando longamente, perdidamente, até que o completo entardecer escureceu meus olhos, e eu soube que precisava sair dali. Algo misterioso estava a minha espera. Electro, meu bizarro Electro.


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