Priston Tale escrita por Yokichan


Capítulo 15
Capítulo 14




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Mizu POV On.

(Flashback)

 

 

         Enquanto o Mech se despedia daquela estranha mulher, que eu nunca havia visto fora do Battle Castle, decidi dar um pouco de tempo aos dois. De alguma maneira, aquela despedida me fez sentir nostálgico com a lembrança de minha delicada amada. Recostado em uma árvore um pouco distante de Alec, pensei em Hakuna. Certamente, eu não duvidaria do potencial dela como uma guerreira, e não temia que ela falhasse. Eu confiava naquele doce poder de minha Sacerdotisa, e sabia que talvez ela fosse ainda mais forte que eu, porém, o fato de ela estar grávida me incomodava diante daquela situação. Hakuna tinha um filho no ventre, e era por isso que eu me preocupava. Desejei que meu filho ficasse bem, que minha mulher ficasse bem, para que todos pudéssemos estar juntos o mais breve possível.

         Uma mão pequena tocou o meu braço, vindo pelas minhas costas. Em alerta, rapidamente me virei para trás. Como eu ficara tão descuidado ao ponto de não perceber a calorosa energia de Hakuna se aproximando? Eu realmente estava aflito. Ela sorriu, graciosamente delicada enquanto sua mão subia para o alto de meu ombro, assim como a sua outra. Abracei-a, soltando um suspiro preocupado por entre meus lábios. Embora estar ao lado de Hakuna fosse como uma terapia para minha mente, eu insistia em me preocupar com o bem de minha esposa. Se fosse possível, eu protestaria veementemente para que ela ficasse fora daquela missão pelo simples fato de estar grávida, mas eu tinha certeza de que Verkan negaria minha contestação.

 

- Hakuna, o que faz aqui? - perguntei com o rosto mergulhado nas ondas de seus cabelos, na curva daquele pequeno pescoço

 

- Não poderíamos partir sem lhe desejar boa sorte, amor. - ela disse gentilmente, segurando minha mão e a conduzindo até a superfície de seu ventre por baixo de seu belo robe de batalhas

 

- Ah... - sorri naquele suspiro emocionado, afagando delicadamente sua barriga - Quero que não se canse muito, certo? - pedi

 

- Não se preocupe, Mizu. Estaremos de volta em breve. - ela assentiu com seu doce sorriso, fazendo-me palpitar a cada momento que falava de si no plural, mencionando a presença de nosso filho

 

- Também voltarei o mais depressa que puder. Eu prometo. - afirmei com todo o meu coração, acariciando os cabelos rosados de Hakuna enquanto meu rosto se aproximava do seu, desferindo-lhe um caloroso beijo nos lábios finos

 

- Eu te amo. - ela disse, ocupando meus lábios com uma série de rápidos beijos; suas pequenas mãos seguravam com certa força o tecido de meu robe azulado

 

- Eu também a amo, querida. - declarei em um sussurro entre seus beijos, segurando-a pelos ombros - Agora vá, Alec está vindo e preciso partir. - disse, lançando um olhar para o Mech que se aproximava em passos melancólicos

 

- Não demore. - pediu ela, tocando meus olhos delicadamente com as pontas dos dedos de modo que minhas pálpebras se fecharam com aquele caloroso toque

 

- Sim. - assenti, e quando voltei a abrir os olhos, ela já não estava mais comigo

 

         (Flashback Off)

 

 

         A viagem até Eura foi calma e mais rápida do que planejamos. Um pouco depois de termos nos afastado de Richarten, usei uma magia de invocamento que apenas eu tinha sabedoria. Em todo o continente, eu era o único Mago com controle sobre aquele feitiço devido às minhas habilidades avançadas. Um falcão de dimensões descomunais, se comparado à qualquer outro falcão normal, surgiu pelo efeito de minha magia. Salazarius, era como eu o chamava. A grande ave obedecia aos meus comandos, e por auxílio da mesma, eu e Alec pudemos alcançar rapidamente nosso destino.

         Na metade da tarde, o falcão entrou nos limites aéreos de Eura Village, um local completamente coberto por neve, altos pinheiros e derradeiros penhascos montanhosos. Alec parecia observar a paisagem minimizada abaixo de nós, cauteloso como sempre, enquanto eu planejava uma rota para seguirmos. Ainda era dia, o que nos proporcionava tempo para investigarmos o território antes de preparar o acampamento para permanecer durante a noite.

 

- Mizu, eu tenho uma idéia. - Alec se pronunciou, depois de algum tempo em silêncio

 

- Hum? - olhei-o, sentado sobre o pescoço do falcão de penas acastanhadas

 

- Eu irei descer e observar o território enquanto caminho pelas florestas, assim você pode continuar o reconhecimento do território com o falcão. Creio que seja mais vantajoso para nós, ao invés de continuarmos os dois aqui. - explicou o Mech, meticuloso

 

- Certo. Nos encontramos ao anoitecer naquelas ruínas. - propus, apontando para um templo em ruínas sobre o qual voávamos

 

- Entendido. - afirmou Alec com um sinal positivo de mão, direcionando-se para as costas do falcão

 

- Salazarius, para baixo. - comandei, e imediatamente o falcão limitou-se à um vôo muito raso sobre o chão

 

- Até mais. - e então o Mech saltou para o chão coberto de neve, correndo em direção à floresta de altos pinheiros

 

- Nos vemos depois. - despedi-me - Salazarius, vamos lá. - o falcão obedeceu a minha ordem, retomando o vôo alto sobre Eura

 

         Toda aquela pálida vila parecia estranhamente quieta. Há tempos, os pequenos povoados de Eura haviam abandonado o local em busca de lugares mais produtivos e quentes, afinal não havia nada que se pudesse plantar naquelas terras congeladas. Agora, Eura não passava de uma vila solitária, um belo refúgio para as sombras, imaginei eu. Obviamente pelo mesmo pensamento fora que Verkan havia nos ordenado para investigar aquele lugar.

 

 

Mizu POV Off. Alec POV On.

 

 

         Eu acabara de embrenhar-me na floresta fechada. Os altos pinheiros eram tão próximos que as sombras ficavam presas ali, mesmo durante a tênue claridade do dia. O sol jamais brilhava totalmente em Eura, meramente surgia fraco por trás de grandes nuvens brancas. O frio era intenso, mais do que em todos os lugares em que nevava no continente, mas devido à minha resistente armadura o calor era preservado em meu corpo.

 

- "Espere, Shellby. Terminarei logo com isso para que possamos ficar juntos." - pensei animado, deixando que um sorriso entusiasmado surgisse em meus lábios enquanto meu corpo se movia habilidosamente entre os pinheiros

 

         Na medida em que minha corrida se intensificava, a garra metálica em minha mão riscava suavemente os troncos das árvores ao lado de meu corpo, deixando a marca perfeita dos três dentes dourados da Claw Of Justice (Garra da Justiça) na madeira escura. Eu só pensava em encontrar meu alvo para que aquela missão acabasse logo, e eu pudesse voltar rapidamente para os braços de minha Shellby, para a mulher que eu amava.

         Algumas milhas para o interior da floresta encontrei um sinal de que eu estava no caminho certo. Recluso atrás de um pinheiro, permaneci a observar a sombria movimentação em uma entrada subterrânea na parede de um morro que parecia um túnel de mineração. Haviam trilhos de metal que desembocavam na cavidade escura, e repentinamente um gigantesco Ice Golem (Golem de Gelo) surgiu das sombras empurrando um carrinho de metal que deslizava pelos trilhos. Ao contrário de um carrinho de mineração, este estava repleto de armas pesadas que certamente seriam usadas por monstros e zumbis. Seria ali uma das bases do exército do Fury? Eu precisava verificar.

         Quando o Ice Golem entrou no túnel e desapareceu nas sombras, eu sorrateiramente corri até a entrada dos trilhos e adentrei a escuridão. Saltando para o teto do túnel, cravei minha garra de metal em uma das vigas de madeira que seguravam a terra e lancei-me para cima, fixando-me nas demais vigas. O teto era alto o bastante para que eu passasse despercebido pelos monstros que por ali passassem, então como uma aranha segui o percurso do túnel segurando-me nas vigas do teto. Ao adentrar uma certa distância, percebi o início de uma claridade, a qual segui cuidadosamente. No interior principal do subsolo, eu constatei o que jamais imaginaria que monstros sem alma pudessem fazer. As criaturas trabalhavam em fornalhas, forjando armas de todos os tipos e tamanhos, organizando-as para que um exército pudesse as manusear. Aquilo era preocupante, ainda mais do que eu imaginava. Incrivelmente, o tal Fury havia ensinado aqueles monstros a criar suas próprias armas. Que tipo de inimigo era aquele?

 

 

Alec POV Off. Mizu POV On.

 

 

          Sobrevoando as montanhas geladas sobre Salazarius, observei que havia uma esquisita clareira em um desfiladeiro, entre dois penhascos que a qualquer momento aparentavam desmoronar em avalanches de neve. No desfiladeiro, uma movimentação anormal de vários pontos negros. Não eram humanos, pois o que eu sentia era uma imensa aura negra vindo daquele lugar. O falcão acastanhado moveu suas grandes asas em uma curva delicada no ar, levando-nos para o alto de um pinheiro de onde se podia ver melhor aquele tumulto. Salazarius fechou suas asas, e eu então abismei-me com o que vi.

         Monstros grotescos trabalhavam carregando armas e ferramentas de um lado para o outro, estocando os equipamentos produzidos em uma caverna do outro lado do desfiladeiro. Criaturas incapazes de raciocinar por si mesmas trabalhando organizadas? Aquilo era realmente inédito em Priston? Desde os primórdios, criaturas como aquelas tinham sido criadas unicamente para lutar, sem alma, sem coração, feitas apenas de sombras e ganância, controlados por um único mestre. Quando o mestre morre, como aconteceu com todos os criadores de monstros, as criaturas sombrias não tem a quem seguir, e ficam a perambular por terras remotas, desvirtuados, vivendo apenas para lutar com qualquer pessoa que as encontre. Por tal motivo que atualmente há tantos monstros em Priston, embora eles sirvam geralmente para treinamento de guerreiros. Eu jamais havia visto aquilo, aquela organização de monstros em um trabalho qualquer.

         Permaneci durante o restante da tarde no alto daquele pinheiro a observar a rotina das criaturas no desfiladeiro. Quando finalmente a claridade se foi do céu pálido, eu abandonei meu posto de vigia, planando pelos ares nas costas de Salazarius, que deslizava silenciosamente com a corrente de vento.

 

 

Mizu POV Off.

 

 

         Ao anoitecer, quando a escuridão começava a tomar conta daquela solitária vila, Alec e Mizu encontraram-se no local marcado. Entre aquelas ruínas de casas destruídas havia um ponto perfeito para que montassem acampamento. Abrigados do vento frio da madrugada e da visão indesejada de monstros que pudessem aparecer, aqueles restos de paredes rochosas serviam perfeitamente para que passassem a noite. Sem muita demora, os guerreiros montaram uma grande barraca que trouxeram dentro de uma mochila e adentraram a mesma. Com o auxílio da claridade tênue de um lampião dentro da barraca, eles podiam ver o rosto um do outro. Alec bebia longos goles de água em um cântaro de couro escuro, sentado em um dos cantos da barraca, enquanto Mizu parecia meditar silenciosamente na outra extremidade. O vento gélido uivava do lado de fora, mas dentro daquela barraca os guerreiros desfrutavam de uma agradável comodidade.

 

- Eu vi uma coisa intrigante hoje. - comentou Alec reflexivo ao encarar o Mago

 

- Eu também. - completou Mizu, abrindo seus olhos após aquela breve meditação

 

- Fale você primeiro. - permitiu Alec, curioso

 

- Há monstros trabalhando em um desfiladeiro entre as montanhas. Parece estranho, mas eu vi com meus próprios olhos, e garanto que não são poucos. Estão guardando armas em uma caverna perto dali. - anunciou Mizu, preocupado

 

- Também os vi trabalhando, mas estavam dentro de uma caverna que tem acesso através de um túnel subterrâneo na floresta dos pinheiros. É lá que eles forjam as armas, então deve ser através do desfiladeiro que eles as transportam. - concluiu Alec

 

- Isso é preocupante. - murmurou Mizu, pensativo

 

- Mais do que imaginávamos. - disse Alec, encarando o companheiro - Então, o que sugere que façamos? - perguntou ele

 

- Podemos emboscá-los no desfiladeiro e exterminá-los facilmente, afinal, ainda são criaturas incapazes de pensar por si mesmas. Ou voltamos e simplesmente reportamos o que vimos ao conselheiro. - propôs Mizu, refletindo sobre as duas alternativas

 

- Mesmo que não sejam poucos, podemos derrotá-los se conseguirmos os encurralar no desfiladeiro. - lembrou Alec

 

- Hum, eu poderia usar o Meteoro. - concluiu o Mago, referindo-se à sua magia de invocar uma chuva de meteoros incandescentes

 

- Isso! - Alec apoiou, batendo uma mão na outra - Faremos isso e então podemos voltar logo para Navisko. - festejou ansioso

 

- Calma, Alec. Temos que pensar melhor nisso. - Mizu amenizou aquela euforia - Estive observando a rotina das criaturas durante a tarde toda, e por volta das 17hs me pareceu que a maioria deles estava reunida no desfiladeiro no trabalho de transporte das armas. Se pudermos ter certeza que eles farão o mesmo amanhã, podemos atacá-los juntos. Mas você sabe que precisamos fazer isso sem deixar testemunhas, com eficácia e rapidez. Não podemos correr o risco de agravar a situação com ações chamativas. - lembrou o Mago, cauteloso em seu planejamento

 

- Faremos o seguinte. - argumentou Alec - Eu entrarei no túnel subterrâneo e os atrairei para a saída do desfiladeiro, assim quando você lançar o Meteoro do lado de fora, todos serão atingidos. - afirmou com segurança

 

- Hum, faz sentido. - assentiu Mizu, pensando silenciosamente - Mas que fique bem claro que se eles não repetirem a rotina de hoje, abortamos com o plano, certo? - encarou o Mech

 

- Certo, certo. - assentiu Alec, sorrindo confiante

 

         Terminado o planejamento do que fariam exatamente no próximo dia, os guerreiros recolheram-se para dormir. Afinal, para usar o Meteoro com toda força, Mizu deveria estar com toda a sua energia reposta. A chuva de meteoros em chamas era uma magia que apenas os magos mais experientes podiam aplicar, e sendo Mizu o Mago que compunha a elite de Priston, era evidente que nenhum humano ou criatura poderia resistir àquele poderoso ataque. Tudo estava pronto para ser executado, e apenas o tempo os impedia de colocar aquele plano em prática. O que ambos mais queriam era poder retornar às suas cidades, reencontrar as pessoas que lhes eram queridas e continuar a viver confortavelmente suas vidas. Aquela era a felicidade para eles, aquela era a visão do paraíso.


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