Priston Tale escrita por Yokichan


Capítulo 14
Capítulo 13




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Lady Die POV On.

 

 

         Não me caía bem a idéia de passar dois dias na companhia de Murdoc. Por mais que meu senso prático estivesse em alerta, tentando convencer-me de que aquilo era essencial para a segurança de Priston, eu não conseguia aceitar. Eu praticamente não suportava. Murdoc era tudo o que eu mais odiava, e infelizmente o que eu mais invejava. Sua brutal força e seu poder inigualável, sendo comparados com sua vitória sobre as minhas habilidades, sobre a minha vergonhosa derrota. Embora eu entendesse que o Fighter que me acompanhava era um companheiro de guerra, o qual eu deveria ajudar se fosse o caso - algo que eu duvidei cruelmente - definitivamente eu não suportava perder, principalmente para ele. Havia nele algo que me incomodava.

         Corríamos por uma planície terrosa, semelhante à um deserto, o qual eu imaginei ser Land Of Dusk, um lugar que ficava no caminho para Greedy Lake. Levaríamos o restante do dia para chegar ao nosso destino, e o silêncio mortal era a melhor saída para nosso impasse. Eu apenas corria, momentaneamente saltando sobre meus obstáculos e retornando ao chão. Murdoc corria ao meu lado, equivalendo-se à minha velocidade e potencial. Algumas vezes eu sentia vontade de olhá-lo, mas não o fazia, escondendo minha curiosidade para saber que tipo de expressão Murdoc tinha no rosto. Apenas ouvia os passos dele, pesados, fortes, me acompanhando. O sol se movia rapidamente para o centro do céu azulado, aquecendo-nos substancialmente com seus raios dourados.

 

- "No que aquele bastardo está pensando?" - eu me perguntava, controlando meu olhar unicamente para o horizonte à minha frente

 

         Não entendia ao certo, mas eu sabia que aquele sentimento competitivo que agitava-se em meu coração ia além de minha ganância costumeira, de meu senso provocativo. "Raiva?", refleti. Algo bem semelhante, certamente. Mas por que eu sentiria raiva de Murdoc? Por que ele me irritava tanto, mexendo daquela maneira com minhas emoções? Toda vez que eu o olhava, sentia uma imensa vontade de lhe espancar até a morte, mas depois, perdida em minha solidão, eu arrependia-me daquela violência sem sentido. Afinal, ele era apenas um guerreiro, talvez mais forte que eu - o que me causava náuseas.

 

- "Sou tão incontestável assim? Mas por que eu preciso ser mais forte do que ele? Por que eu preciso estar acima dele?" - interroguei-me, mas apenas o que encontrei foi um silêncio perturbador

 

         Quando perdi o controle de meus olhos, descuidando-me por um momento, minha visão alcançou a imagem máscula do rosto de Murdoc correndo ao meu lado. Por que eu precisava ter feito aquilo? Ao notar que ele mantinha um sorriso provocante no rosto, quase como um insulto, senti aquelas borbulhas fervendo dentro de mim outra vez, como se eu fosse explodir. Afinal, do que diabos ele estava rindo?

 

 

Lady Die Off. Murdoc POV On.

 

 

         Verkan não podia ter formado uma dupla melhor do que aquela. Eu e Lady Die certamente nos divertiríamos, peculiarmente. Instintivamente, o riso sempre fluía por meus lábios quando eu a via tão irritada e tensa por minha causa, e a graça que eu achava daquele olhar tempestuoso era enorme. Eu jamais poderia conter o escárnio diante de uma raiva tão fútil e tacanha. Porém, a graça maior eu encontrava quando ela me falara que era eu que tinha o cérebro minúsculo.

         Na metade da tarde, sem cessar aquela corrida silenciosa, avistei um pequeno oasis enquanto passávamos por alguma daquelas cidades horrendas e desérticas perto de Land Of Dusk. Naquele ritmo, pela tardinha estaríamos em Greedy Lake, como nos fora ordenado.

 

- Vamos parar ali um pouco. - disse, desviando-me da rota que seguíamos ao promover uma curva na direção do oasis

 

- O quê? - ela rosnou, olhando-me - Não podemos ficar de conversinha numa hora dessas! - reclamou ela, hesitando

 

- Se você quer chegar em Greedy Lake como uma múmia, vá em frente. - sorri, afastando-me - Caso contrário, vamos parar alguns minutos naquele oasis.

 

- Aff, eu sabia que você daria problemas. - bufou inconformada, mas seguiu-me até o oasis com relutância

 

         Sorri, divertindo-me novamente. O sol ainda estava quente demais, de modo que meu corpo suava por completo. Ao aproximar-me da orla da água, retirei a capa e a armadura, largando-as sobre a areia. Não hesitei um único segundo ao atirar-me na água, sentindo o conforto refrescante e agradável acolher-me naquele profundo mergulho. Nada poderia ser mais conveniente naquele momento do que um oasis.

         Quando voltei à superfície, percebi que Lady Die permanecia agachada na beira da água a encher um cântaro. A expressão franzida em sua testa era muito evidente, de modo que senti que a qualquer momento ela entraria num estado de fúria descontrolada. Aquele foi o primeiro instante em que parei seriamente para pensar qual seria o verdadeiro motivo daquela ira medonha. Obviamente, ela estava enfurecida por eu ter a derrotado no Battle Castle, porém seria possível que eu a tivesse humilhado tanto? Não sabia ao certo até que ponto chegava o orgulho daquela Atalanta, mas de fato eu não me importava. Eu apenas completaria aquela missão com alguns risos extras. Mal sabia ela a maneira como me divertia.

 

- Não fique aí tomando banho, seu cretino. - ralhou ela, jogando-me um punhado de areia com a mão

 

- Não quer entrar também? - provoquei com sarcasmo, sorrindo zombeteiro ao erguer uma sobrancelha para ela

 

- Ora, não me tire do sério. - disse ela, virando-se e afastando-se aos passos largos

 

- Ei, espere. - pedi risonho ao sair da água e vestir minha armadura e a capa que trazia sobre os ombros

 

- Cale essa boca. - rosnou, retomando o caminho que seguíamos antes daquele desvio

 

- Ainda lhe ensinarei a dobrar a língua, Lady. - avisei com escárnio, seguindo-a

 

- O dia que eu dobrar minha língua pra você, Priston explodirá. - afirmou ela, abrindo seu sorriso mais cruel na minha direção

 

         No final das contas, aquela mulher era muito mais orgulhosa do que eu imaginara. Apenas uma motivação para que eu a quisesse ainda por mais tempo ao meu lado, divertindo-me. Com qualquer outra pessoa, as coisas seriam extremamente diferentes, o que me fazia pensar o que de tão distinto tinha aquela Atalanta. A verdade era que ela me agradava, e sua presença por mais rude que fosse, trazia uma certa graciosidade, que imaginei apenas eu poder ver.

        

         Ao crepúsculo daquele dia, avistamos a paisagem mórbida de Greedy Lake. Oh, como era tristemente fria aquela paisagem coberta por nevasca e montanhas de altos picos. Não me espantava que não houvesse povoado algum naquela cidade, afinal, quem em sã consciência moraria num lugar daquele? A imensidão solitária se estendia diante de nossos olhos, e um gélido vento fino assombrava nossos rostos. Era realmente triste estar ali, até mesmo para um quase insensível Fighter como eu.

         Lady Die caminhava ao meu lado, afundando seus pés sobre a neve, assim como eu. Seus olhos estavam tão ou mais vagos que os meus, melancólicos sob o efeito daquela fria nostalgia. Se não fossemos guerreiros de elite treinados desde pequenos, nossos corpos estariam tremendo feito varas de bambu sendo sacudidas por um tufo de vento. Passávamos pelo topo de uma cordilheira coberta de neve, tão tortuosa que por um mínimo deslize poderíamos estar em sérios problemas. A cortina branca de flocos caía sobre nossas cabeças, congelando nosso espírito competitivo, de modo que milagrosamente Lady Die esqueceu-se de me encarar com sua costumeira fúria. Então era aquilo que o frio intenso de Greedy Lake era capaz de fazer? Interessante.

         O crepúsculo sumia no horizonte, trazendo a noite para muito perto. Felizmente, foi o momento exato em que nos deparamos com uma pequena caverna, mas que nos pareceu extremamente confortável em comparação à exposição em que estávamos. Quando paramos em frente à entrada escura da caverna, me perguntei no que diabos Lady Die estaria pensando para permanecer ao meu lado com uma expressão tão tolamente atônita. Precisei lhe chamar mais de duas vezes para que ela então retornasse ao nosso mundo.

 

- O que foi? - perguntou ela espantada quando se deu conta de sua breve viagem à dimensão de sua própria mente

 

- Será que pode dar uma mãozinha aqui? - perguntei-lhe ao erguer as sobrancelhas ironicamente, apontando a mão na direção da caverna

 

- O que você quer, afinal? - ela cruzou os braços, bufando e fechando os olhos; controlei minha vontade de agarrá-la em meus brutos braços

 

- Ilumine a caverna com sua Javelin Of Fire, se não for pedir muito. - revirei os olhos em um sutil sorriso no canto dos lábios

 

- Só porque não estou a fim de ficar no escuro com você. - ela deu de ombros mostrando descaso comigo, então tirou a lança das costas e cutucou a haste dourada da mesma no chão, fazendo com que na ponta da lança surgisse uma forte chama

 

- Não se preocupe, não farei nada que você não queira. - assenti zombeteiro, entrando na caverna agora iluminada

 

- Aff, não conseguiria mesmo se quisesse. - ela avisou, retorcendo os lábios em uma careta repugnante enquanto me seguia

 

         A cavidade rochosa era realmente pequena, mas suficiente para que nos abrigássemos durante a fria noite. O silêncio era mortal, de modo que até eu ficara receoso certas vezes ao quebrá-lo com uma palavra qualquer. Ao lado da entrada da caverna, havia uma árvore morta e caída, com suas raízes no ar, arrancadas à força daquele gélido solo. Enquanto Lady Die ficara em nosso improvisado abrigo, eu fora quebrar a árvore em pedaços sutis com meus fortes punhos, para que tivéssemos lenha a nos aquecer ao longo da noite. A escuridão já pairava sombriamente em Greedy Lake quando adentrei a caverna, com meus braços ocupados por várias lascas de madeira. A Atalanta encontrava-se sentada no fundo da cavidade, com suas costas amparadas pela parede lateral. Com as pernas flexionadas, entre os joelhos ela prendia a haste da lança, mantendo-a verticalmente ereta enquanto a parte superior da lâmina ardia na calorosa chama que não se apagava, nem se quer vacilava. Seu rosto corado refletia a luz do fogo, dourando-o.

         Ao organizar parte da madeira em um amontoado no centro da caverna, afastei-me para que Lady Die acendesse a fogueira. Ela o fez com apenas com um suave toque de sua lança incandescente sobre as lascas de lenha. A chama de sua lança se apagou, deixando que o fogo que queimava a lenha iluminar por si só todo aquele local. O silêncio reinou, triunfante.

 

- Então, como faremos amanhã? - perguntei, sabendo que a iniciativa não viria de Lady Die

 

- Como faremos com o quê? - ela ergueu os olhos para mim, antes fechados em um silencioso pensamento recluso

 

- Com a procura por Greedy Lake. O que mais viemos fazer aqui? - ironizei, recostando-me na parede oposta a da Atalanta

 

- Você procura pela floresta ao sul, e eu irei dar uma olhada nas montanhas depois do desfiladeiro. - disse ela, autoritária

 

- Isso é uma ordem? - sorri com escárnio, encarando-a

 

- E se fosse? - ela provocou, refinando seu olhar mortal contra o meu

 

- Você acha que sou seu subordinado? - eu ri pela graça que aquilo me proporcionou - Não seja estúpida. - disse, divertindo-me

 

- Um subordinado como você não prestaria para nada, oras. - disse ela, grosseira e petulante

 

- Hum, isso me parece um desafio. - ri, extremamente cheio de escárnio

 

- Ah, cale essa boca, ok? - ela elevou o tom de voz, cruzando os braços e virando-se para o lado, ignorando completamente a minha presença

 

         Eu jamais ficara tão incitado diante de um desafio como naquele momento. Ela dissera que eu não prestaria para nada, mas ela nem se quer conhecia do que eu era capaz. Seria aquela a oportunidade perfeita para provar a uma arrogante e orgulhosa Atalanta que eu servia sim, para ao menos fazê-la engolir aquelas palavras.

         Totalmente movido por minhas vontades, ergui-me e praticamente em dois largos passos eu a tinha alcançado. Segurei-a pelos braços, fortemente, e a levantei do chão, batendo suas costas contra a parede da caverna. Agradavelmente, meu corpo serviu como barreira sobre o seu para que ela não escapasse daquela pressão entre meu peito e a parede rochosa. Lady Die não teve tempo para nada, inclusive para interceptar minha repentina ação. A parede abriu uma pequena rachadura por trás das costas da Atalanta que eu pressionava dominantemente. Ela ofegou, profundamente surpresa e corada. O modo como eu pressionava meu viril ventre sobre o dela, era provocante tanto para mim quanto para ela, embora eu tivesse certeza que ela negaria aquela sensação.

 

- O que... - ela sibilou, recuperando o fôlego que fora expulso de seus pulmões com o impacto de meu peito, momentaneamente sem forças para debater-se

 

- Deixe-me lhe mostrar uma de minhas serventias, Lady. - propus com a boca em seu pescoço, deslizando meu hálito quente por sua pele vibrante - Deixe-me lhe mostrar como você desesperadamente desejará por isso. - sorri cruel, atingindo meus lábios no lóbulo de sua orelha

 

- Ora, seu... - ela fraquejou novamente, desfazendo-se sobre meu corpo forte - Pare com isso. - sua voz saiu arrastada

 

- Agora é minha vez de lhe calar. - anunciei com a voz macia e provocante, sorrindo internamente

 

         Ela não teve mais o que falar, não teve mais como resistir. Então era aquele o verdadeiro sentimento que ela tentava de toda maneira esconder debaixo de sua raiva incontestável? Ela me odiava para não me querer? Oras, apenas ela poderia pensar em um modo tão estranho de esconder as verdadeiras intenções. Oh, Lady Die, como fora meticulosa ao articular uma estratégia tão cruel para comigo, seu fiel companheiro. Imaginei que amante seria uma palavra melhor para a relação que eu escolhera para se desenvolver entre nós, a partir daquele momento, daquela noite.

         Pressionei minhas mãos em seu quadril, por baixo da armadura dourada, e ela simplesmente se desintegrou ao meu toque. Suas pernas envolveram a minha cintura, e seus braços incrivelmente formaram um elo ao redor de meu pescoço. Mesmo antes que meus lábios chegassem aos dela, Lady Die já procurava ansiosamente por aquele beijo insano e profundo. Se o momento não fosse tão agradável, eu certamente cairia em gargalhadas. Finalmente a verdadeira Lady Die se revelava, de uma forma tão carnal. Nossas bocas se moviam quase que freneticamente, prazerosamente naquele beijo que parecia arrancar-nos uma parte do corpo. Fomos ao chão, emaranhando braços e pernas, olhos e bocas, cabelos e mãos. Não se sabia mais quem era quem, e do que aquilo importava? Apenas sabíamos que nossos corações estavam tão acelerados como se quisessem tomar conta de nossos corpos, de nossas almas, como se quisessem explodir em frenesi a qualquer momento.

         A fogueira dançava com suas chamas douradas, gentilmente, enquanto a sombra de nossos corpos unidos se desenhava na parede. Imaginei que do lado de fora daquela caverna, nenhum frio e nenhuma neve poderia vencer o calor humano que ardia dentro daquela cavidade rochosa. Éramos perfeitos um para o outro, e seu corpo macio trazia as curvas na qual o meu se encaixava, movido pelo prazer do ápice que aqueles murmúrios sussurrados provocavam ao pé de minha orelha.

        

- Meu nome é Lady Die. - disse-me ela, naquela primeira apresentação desde que sua máscara fora jogada na escuridão da noite; e ineditamente seu sorriso planou diante de meus olhos

 

- Meu nome é Murdoc. - repeti seu gesto amistoso, como se tivéssemos nos conhecido naquele exato momento

 

         Sobre nossas roupas esparramadas pelo chão, acolhi seu corpo quente entre meus braços enquanto meus lábios provavam o doce suor no alto de seu ombro. Puxei minha capa descomposta, antes jogada ao lado da parede, para cima de nossos corpos abraçados naquele chão escuro, cobrindo-nos gentilmente. Não importava se aquela fogueira que nos iluminava acabasse ao longo da noite, enquanto nossos olhos descansassem em sonhos que ao amanhecer seriam esquecidos. Estaríamos tão aquecidos quanto nenhuma fogueira poderia aquecer, pois a brasa em nossos corações não viraria poeira negra como os restos daquela madeira.

         Então Priston explodiria? Lembrei de suas peculiares palavras.   


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