“Finlândia, 31 de Outubro de 2004

Depois de dez anos trabalhando no corpo da Margot finalmente terminamos o trabalho.

Durante esse tempo Margot evoluiu muito, hoje em dia sua mente é equivalente a o de uma garota de dezesseis anos, seu corpo equivale a dezoito anos.

Esse tempo todo notei o modo como Margot se tornou uma pessoa mais fria em relação a outras pessoas e até mesmo com Ariele, que sempre cuidou dela como se fosse filha.

Ensinamos arte, literatura, música, ciências, tudo que uma pessoa precisa aprender. As habilidades dela são surpreendentes, tanto que ela até deu opiniões sobre como gostaria que seu novo corpo fosse.

Tudo estaria finalmente perfeito se não fosse pelo fato de eu ter descoberto que estou com uma doença cardíaca. O tratamento não fará mais efeito pois descobri muito tarde, achei melhor esconder isso de todos, pretendo esconder o máximo de tempo possível, ainda tenho muitas coisas para fazer por aqui.

Dr. Edgard

Terminei de fazer meus relatos e desci para o laboratório para checar os batimentos cardíacos de Margot. Dei os últimos retoques no que faltava, examinei seu corpo para ver se estava tudo certo e pronto.

Ligamos as maquinas para a energia vir e o corpo de Margot acordar. Fiquei observando as correntes elétricas passarem por cada pedacinho de seu novo corpo, um corpo de mulher.

Margot se sentou e ficou encarando nós três.

Seu cabelo ainda é ruivo natural mas desta vez vai até a cintura e cheio de ondas e volume. Os olhos continuam de cores diferente, vibrantes e marcantes. Seu rosto ainda é igual porcelana e as marcas de costuras ainda estão ali, não consegui criar algo que tape isso, seu corpo todo tem marcas nas partes em que eu juntei. Seus dedos são longos e finos com unhas grandes, como ela havia pedido.

–Como se sente? – Perguntei.

–Estou bem. Quero ver como fiquei. – Ela iria ficar brava quando visse o rosto.

–Aqui está o espelho. – Ariele entregou o espelho a Margot que ficou se observando.

Ela passou os dedos por todo o corpo, em cada marca de costura Margot fazia questão de colocar o dedo indicador e depois olhar pra mim.

–Obrigada pelo novo corpo. – Ela disse de modo serio.

Enquanto terminávamos de examinar o corpo de Margot ouvimos a campainha tocar.

–São as crianças!!! – Ariele disse enquanto saltitava com um saco de doces na mão.

Hoje é halloween então Ariele fez questão de comprar vários doces para entregar ás crianças. Margot pegou o vestido azul escuro vestiu e seguiu Ariele até a porta. Ela ainda se veste como uma boneca, só que me lembra mais um estilo vitoriano.

–Nossa que fantasia muito loca! – Ouvi alguém dizer quando Margot abriu mais a porta para ver as pessoas.

–Obrigada. – Ela disse.

–Aqui os doces crianças! – Ariele encheu o potinho de cada uma e então fechou a porta.

–Do que aquela menina estava vestida? – Margot perguntou para Ariele.

–Acho que de caveira mexicana, bonita né?

–Muito. – Margot falou enquanto tocava o próprio rosto.

–Boa noite a todos. – Falei enquanto ia para o meu quarto.

O dia tinha sido longo e trabalhoso então eu precisava dormir e descansar.

Mesmo na hora do café nenhum de nós havia visto Margot, provavelmente ela estaria no laboratório então não me preocupei.

Depois de comermos fomos todos examinar mais uma vez o corpo dela e ver se tudo estava de acordo com o planejado.

–Bom dia Margot. – Falei.

Margot não nos respondeu, ela estava virada encarando a janela.

–Margot? – Ariele perguntou.

Então a menina se virou. Seu rosto não tinha mais as cicatrizes, elas haviam sido substituídas por o desenho de uma caveira mexicana.

–Meu Deus! – Paolo falou. – O que você fez?

–Agora estou perfeita. – Ela disse.

Meu coração começou a bater mais forte, sentia uma dor enorme no peito. Minha cabeça começou a dar inúmeras pontadas de dor e eu comecei a perder o equilíbrio.

–Doutor? – Ariele perguntou enquanto me segurava e depois disso tudo apagou.