Passei horas deitada abraçando meu travesseiro com a cabeça pensando a todo vapor. Meu rosto estava vermelho e quente, parecia que eu estava com febre, e usei isso como desculpa para não descer e me encontrar com o Jin pela manhã. E pelo o que fiquei sabendo, Jin também não desceu.

A sensação daquele beijo ainda me invadia como uma tempestade, sentia como se ainda estivesse ao pé da árvore ao lado dele, olhando naqueles olhos brilhantes e calmos, cheios de ansiedade e determinação. Um momento que, tão desapercebido, terminou como um voo rápido e inesquecível.

Não percebi quanto tempo havia se passado desde que acordei e fiquei martelando tudo o que aconteceu na minha cabeça, mas de repente, em um súbito devaneio, joguei o travesseiro pro outro lado do quarto e me sentei imediatamente. Havia um detalhe importante que eu havia esquecido com essa história toda.

Lin.

Como eu tinha me esquecido dela? Ela estava ao lado da minha casa, à espreita, pronta pra causar problemas quando eu menos esperasse. Ela e aqueles malditos cabelos lisos brilhosos. Precisava pensar, tinha que bolar um plano incrível para mantê-la fora do alcance de Jin e mostrar que ele nunca iria ficar com ela. E não podia ser uma ideia qualquer, tinha que ser A ideia.

Prendi meu cabelo e joguei o cobertor de lado, corri até o meu guarda-roupas e o abri. E lá estavam elas, as mais belas e incríveis coleções de roupas de grife que eu tinha guardado e cuidado por anos. O guarda-roupas chegou até a brilhar quando eu o abri. Essa era minha hora, se eu queria bater de frente com uma garota maravilhosa, eu me tornaria uma maior ainda, alguém que ela abaixaria a cabeça e falaria: É, eu realmente não tenho chances contra ela.

Tudo bem, uma ideia utópica e fantasiosa que podia ter tudo pra não dar certo, mas eu já havia sido uma it girl no colégio, e sabia muito bem como fazer isso de um jeito que faria Lin ficar de joelhos.

Peguei meu conjunto preferido e o coloquei em cima da cama. Sentei ao lado e contemplei aquela peça que tinha dado largada ao início do meu reino no colégio, uma época estranha, maravilhosa e complicada da minha vida. Suspirei e peguei aquele vestidinho cor de rosa que trazia inúmeras lembranças, andei até o espelho e o coloquei em frente ao meu corpo enquanto inclinava a cabeça. Abri um sorriso largo e senti aquela eletricidade percorrendo todo o meu corpo, me vi andando de novo naqueles corredores cheios de olhares voltados para mim, chocolates surpresas no meu armário, bilhetinhos de admiradores e bilhetinhos de garotas não admiradoras. Comecei a dar risada, como eu sentia falta disso tudo.

Não me importava que não existissem mais corredores ou um colégio pra reinar. Entraria na personagem de novo, uma personagem entrando em um novo nível. O nível da esposa fabulosa. E essa, seria a melhor performance de todas.

Desci as escadas com aquele modelo que eu amava, com o cabelo solto jogado de lado e os lábios cheios de gloss. Era empolgante voltar a ter esse estilo de novo, tinha abandonado totalmente esse hábito quando mudei de cidade, a responsabilidade era bem mais importante do que me preocupar com esse tipo de coisa, além de que era eu quem me bancava agora, não meus pais. Não que eu não andasse arrumada, apenas não era meu propósito agora.

Cheguei até a sala e senti aquele ar fresco vindo da porta. Na verdade, não era nada fresco, era congelante, ainda estávamos naquele inverno maldito e o vestido não era muito quente. Esfreguei minhas mãos nos meus braços tremendo de frio e me virei para voltar para o quarto afim de pegar uma blusa, mas então, ouvi uma voz que fez meu coração parar.

– Amy? É você?

Virei para o lado e vi Jin, com os olhos arregalados e boca aberta, segurando um copo de café quente.

– O que... Como você... Uau – ele fechou a boca e depois olhou para mim – Tinha me esquecido como era a antiga Amy.

Aquele olhar me fitando me incomodava, fazia meu estomago embrulhar e fazer com que quisesse entrar ainda mais dentro da minha barriga. Desviei o olhar enquanto ainda tremia de frio.

– Senti saudades – olhei para o outro lado – Ficou muito ruim?

– Claro que não! – ele chacoalhou o copo - Você tá linda Amy, como você sempre foi – ele riu um pouco – Eu adorava te ver assim no colégio.

Meu coração acelerou e minha bochecha ficou vermelha, por que essa sensação não ia embora nunca?

– Era engraçado, porque nenhum garoto nunca teve chances com você;

– Nenhum nunca me despertou o interesse – dei um sorrisinho

– Eu percebi que não – sorriu de canto e se encostou na parede.

O vento soprou mais forte e eu tremi, como um despertador às 6h da manhã. Jin riu baixo e foi andando para a sala.

– Vem, vou acender a lareira, você ta tremendo de frio

Assenti com a cabeça e o segui até me sentar no sofá. Estávamos apenas nós dois na casa, e a única coisa que fazia barulho eram as madeiras que ele jogava dentro pra acender o fogo.

– Escuta Amy, sobre aquilo...

Ele jogou mais uma madeira lá dentro e se agachou, olhando o fogo subir.

– Eu queria pedir desculpas por ter feito aquilo com você, eu não sei o que deu em mim, simplesmente aconteceu sabe? – ele jogou mais um pedaço de madeira – Acho que voltar àquele lugar trouxe à tona várias coisas na minha cabeça que me perseguiram por anos. E eu não consegui resistir.

Fiquei olhando as costas de Jin, que permaneciam estáticas enquanto fitava o fogo agindo descontroladamente. Eu não sabia bem o que responder, nem o que sentir. Havia sido apenas um beijo, um beijo incrível e confuso. Nenhum de nós dois tinha entendido direito o que havia acontecido, talvez fosse melhor deixar isso de lado.

Levantei-me, andei até em frente à lareira e me agachei ao seu lado, encarando a fumaça.

– Eu fui sua melhor amiga desde o jardim da infância, passamos por muitas coisas juntos, coisas estranhas e divertidas. Não te julgo pelas coisas que você faz, tampouco te elogio por elas. Não podemos mudar o que já aconteceu, mas sempre seguimos em frente – dei um soquinho em seu ombro – Esquece isso, ta?

Não foi fácil dizer isso, mas era a coisa certa a se fazer. Jin olhou para mim e riu, de um jeito aliviado e simpático que eu conhecia. O jeito Jin de ser.

– Vai ficar tudo bem.

Nós nos sentamos de pernas de índio em frente ao fogo e começamos a aquecer as mãos.

– Ei Amy

– Oi Jin?

Ele se virou pra mim e apoiou as mãos no chão

– Por que você voltou com esse visual?

Mordi os lábios e apertei os olhos com aquela expressão sofrida. Os abri de novo e ele estava rindo.

– Tenho que fazer uma garota sofrer.

Ele começou a gargalhar e balançar a cabeça, incrédulo.

– Quem vai ser a garota da vez?

Esfreguei as mãos ansiosas, com um sorriso diabólico e animado.

– Adivinha.

– Hmmmmm – ele fez uma cara pensativa – Faz muito tempo que você não odeia alguém, a última foi a Elesis, que acabou se tornando sua melhor amiga.

Comecei a rir. Bons tempos.

– Não tenho ideia, Amy – ele deu de ombros – alguém da sua faculdade? Do trabalho?

Balancei a cabeça negativamente.

– Tenta de novo.

Ele franziu o cenho com uma cara pensativa. Dava para sentir seus neurônios queimando. Ou era só o cheiro das madeiras queimando na lareira mesmo.

– Eu não... – de repente, surgiu um estalo e ele arregalou os olhos – A Lin?

– Temos um vencedooooor

– Amy, deixa disso, ela não ta afim de mim mais – ele começou a rir – Isso é uma grande besteira.

– Uh, então quem é a garota de longos cabelos brancos que ta hospedada ao lado da nossa casa?

– Espera, espera – balançou a cabeça, confuso – Que?

Suspirei, e me encostei no sofá, girando o dedo no ar.

– A Lin ta aqui, ela te quer de volta meu querido.

– Sério? – ele abriu um sorriso de canto, inconscientemente. O que me deu mais raiva dela ainda.

– Aham, e é por isso que vou dar um upgrade na Amy diva.

Ele me olhou de forma travessa e cruzou os braços.

–O que você vai aprontar?

Peguei meu celular, abri na página das mulheres mais incríveis e bem vestidas de Nova York e coloquei na frente de Jin.

– Bem-vindo a nova fase da Amy – abri um sorriso malicioso – A esposa mais fabulosa que você vai ter.