Por um momento me senti calma. Aquele cheiro tão agradável inundou minhas vias respiratórias. Eu me senti tão... protegida, tão aconchegante. Poderia ficar ali para sempre, para sempre.

Mais do que depressa abri os olhos para ter certeza de que meus sentidos não estavam me traindo e para a minha alegria e ódio não estavam. Maxon estava me abraçando. Quando a ficha caiu não me dei ao luxo de ficar surpresa ou comovida, e sim o empurrei para longe na tentativa de me desfazer do seu abraço deixando em seu rosto uma expressão surpresa e envergonhada.

“O que você pensa que está fazendo??” Eu praticamente gritei. Quem ele pensava que era para simplesmente chegar após tanto tempo e se aproveitar enquanto eu estava frágil? Ok, ele era o Rei, mas não importa, eu não queria ele me abraçando. O olhar que ele me deu foi de decepção, mas ele esperava o que? Ele então suspirou e adotou uma postura cansada.

“Perdoe-me Americ-”

“Senhorita Singer” O corrigi recebendo um olhar incrédulo da parte dele. Ele não se manifestou contra, apenas concordou.

“Perdoe-me senhorita Singer, eu apenas não queria que a senhorita chorasse e eu penso que dar uns tapinhas nas suas costas e dizer que 'tudo vai ficar bem' não vai ajudar muito”

O meu estado de espírito se aliviou mais com a lembrança de quando eu o aconselhei a fazer isso quando uma mulher chorava. Lembrar disso me fez sorrir, por dentro, por fora eu estava impassível, transpirando ódio, pronta para enforcar alguém.

Fiquei observando com alguns segundos, e ele tinha mudado. Parecia mais forte e seus olhos e rosto traziam um cansaço que eu não conhecia, ser Rei era tão cansativo assim? Claro que era.

“Eu não me importo que você seja o Rei, isso não te dá o direito de se aproveitar da fragilidade das pessoas”

Ele parecia desesperado para provar algo quando falou um pouco mais alto.

“America me desculpa, eu-”

“Senhorita Singer!!” Eu gritei dessa vez e lágrimas voltaram a escapar dos meus olhos. Vir para esse encontro não foi uma boa ideia, foi uma péssima ideia. Ele ficou apenas me encarando e quando eu já estava para me virar e ir embora ele fez algo totalmente improvável. O Rei Maxon Schreave simplesmente se ajoelhou na minha frente e disse:

“Senhorita Singer peço que por favor me perdoe, não apenas pela minha conduta indevida mas por tudo que eu fiz a senhorita passar, eu nunca quis isso, nunca quis ser o motivo da sua tristeza ou fazer você chorar. Eu pedi para que você viesse na esperança de que você não me perdoasse, uma última tentativa, mas se não foi possível eu vou entender e não irei mais procurá-la. Pensar que você está sofrendo me destrói mais do que estar longe de você, e eu não sei o que fazer para acabar com o seu sofrimento, se você souber de algo por favor me diga já que agora tudo o que eu posso fazer é pedir para que a senhorita me perdoe”

Eu fiquei totalmente sem fala. Senti-me completamente vazia e destruída ao ouvir isso, mas por mais que parecesse horrível para eu escutar isso, apenas pelo tom de voz dele já dava para perceber que para ele foi pior. Tudo o que eu tive vontade de responder para ele como solução foi “apenas me ame” mas eu não podia dizer aquilo, o Maxon já não era mais meu, ele era de Kriss. Ele levantou os olhos castanhos (N/A: eu sempre gosto de imaginá-lo com olhos cinza) e me encarou da forma mais profunda que eu já pude imaginar. A verdade é que eu nunca deixei de amá-lo, eu tentei odiá-lo mas não consegui, em nenhum momento. Pensei que se eu conseguisse vê-lo como um monstro sem coração a dor que estava em meu coração me abandonaria, mas eu já não conseguia, tudo o que eu fazia de alguma forma me lembrava dele. Cada parte do meu corpo o desejava. Não vim para esse encontro para dar um fim a nossa história e sim na esperança de que conseguíssemos dar uma continuação a ela. Comecei a soluçar baixinho quando eu tentei articular as palavras.

“Mesmo... mesmo após tudo... eu... eu... eu não consigo odiar você... você continua...” A minha voz estava falha e estava mais difícil falar “Você continua sendo parte de mim...”

Resolvi não tentar mais segurar as lágrimas. Se elas queriam sair que saíssem. Ele se levantou lentamente e se aproximou como se estivesse pedindo permissão. Lentamente ele me puxou e me rodeou com os seus braços. Após alguns segundos molhando a camisa dele, eu o abracei também. Ficamos um bom tempo lá, ele até mesmo acariciou minha cabeça na tentativa de me acalmar e quando finalmente consegui nós nos sentamos em um banco em frente a fonte, ainda bem que não tinham muitos postes com luzes pois meu rosto devia estar horrível. Ele segurou minha mão e ficou novamente observando o luar. Aproveitei para observá-lo. Ele nem parecia estar com vinte e um anos, era como se ele tivesse envelhecido uns cinco anos, mas continuava de tirar o fôlego. Ele me olhou nos olhos e deu um sorriso cansado.

“Tocar-lhe novamente me deixa feliz” Ele ergueu nossas mãos como se estivesse confirmando “Eu pensei que ia ser mais... complicado. Pensei que a senhorita fosse gritar bastante comigo, depois iria me ameaçar e dizer para eu nunca mais procurá-la”

Ele disse de uma maneira divertida. Mal sabia ele.

“Eu pretendia fazer isso” Eu disse logo em seguida dirigindo o meu primeiro sorriso a ele. A expressão dele foi indecifrável e ele logo correspondeu o meu sorriso em seguida passando o braço esquerdo ao meu redor e me aproximando ao seu peito.

“Eu senti tanta a sua falta”

“Eu senti mais” Incrível como ele conseguiu me persuadir tão rápido. Ele devia ter me procurado antes.

“Ainda bem que eu não a encontrei casada, esse era o meu maior medo” Levantei a cabeça para encará-lo incrédula.

“E quem lhe garante que eu não estou casada Sua Majestade?”

Ele riu daquela maneira engraçada, mas para minha infelicidade não foi tão longa. Ele ergueu a minha mão esquerda e disse:

“Sem aliança, foi a primeira coisa que eu notei”

Droga eu deveria ter colocado uma ao menos para fazer um drama e me vingar.

“É, fui descoberta. Mas não foi por falta de tentativa da minha mãe” Admiti na tentativa de chateá-lo um pouco e deu certo pela expressão que se formou no seu rosto. Sorri com a minha vitória.

“Muitos pretendentes?”

“Alguns”

“Posso até imaginar. Do jeito que você é linda devem aparecer uns dez todos os dias”

“Maxon não exagera” Eu disse mostrando a língua.

“Olha mostrar a língua para um Rei é um crime gravíssimo, você deveria ser presa”

“Não me importo” Disse mostrando a língua novamente. Ele apenas riu.

Ele perguntou se eu estava trabalhando e eu logo o enchi de informações sobre a escola de música que eu estava dando aula. Falei que aos finais de semana eu ensina um grupo de velhinhos também, e que alguns deles eram muito talentosos e ele até perguntou se eu recomendava algum deles para tocar no palácio. Tentei não pensar que nós estaríamos assim apenas por essa noite, que logo ele voltaria para o palácio e para Kriss. Continuamos a conversar por um longo tempo, como se estivéssemos conversando sobre tudo o que perdemos da vida do outro em todo esse tempo, ele foi muito esperto em não falar da vida dele com a Kriss, apenas falou sobre administrar o país e alguns projetos que ele pretendia aplicar. Por fim o cansaço começou a me atingir, o dia tinha sido muito pesado mesmo, então parei de falar, ficamos no silêncio apenas curtindo a presença um do outro e quando eu já estava perto de adormecer ele sussurrou em meu ouvido.

“Eu te amo tanto”

O meu estômago se encheu de borboletas e eu me senti tão bem como eu não sentia em anos.

“O que nós faremos?” Eu disse em uma voz muito cansada e quase não escutei a sua resposta antes de cair no sono.

“Veremos. Vai dar tudo certo”