Brazilian Superman escrita por Goldfield


Capítulo 7
Epílogo e Glossário




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Epílogo

Na manhã seguinte, Lais Lima chegou animada à redação do País Diário para mais um dia de trabalho. Ao dobrar um corredor, deu de cara com Cláudio Gusmão, que possuía tamanha expressão de cansaço na face que a repórter até indagou em sua mente se ele não teria corrido uma maratona no dia anterior. Todavia, não era apenas cansaço. Lais sentiu que algo atordoava o colega ao extremo.

–         O que foi, “Casa Branca”?

–         Preciso falar com você a sós! – respondeu o rapaz de forma ríspida.

Cláudio puxou a jovem bruscamente por um dos braços até um escritório desativado, onde ninguém os ouviria. A jornalista, assustada com a súbita mudança no comportamento do parceiro, perguntou sem demora:

–         Que houve? Você está diferente!

–         Preciso te revelar uma coisa!

Sem hesitar, Gusmão retirou os óculos do rosto, fitando Lais fixamente. Seguiram-se alguns segundos de silêncio, nos quais a repórter arregalou os olhos e abriu a boca em sinal de espanto, dizendo logo depois:

–         Puxa, “Casa Branca”, você é a cara do Super-Homem! Sabe, conheço um programa de sósias de famosos na TV no qual você poderia ganhar um bom dinheiro...

–         Acontece que eu sou o Super-Homem, sua sonsa! – quase exclamou o kriptoniano, irritado. – Cláudio Gusmão é minha identidade secreta, entendeu?

–         Ah, identidade secreta... – sorriu Lais. – É algo parecido com amigo secreto, você tem que dar um presente para ele? Mas ainda estamos longe do Natal!

Cláudio deu um tapa na própria testa, percebendo que levaria algum tempo até que a jornalista compreendesse tudo...

Alguns minutos depois...

–         Entendeu agora, Lais? Eu sou Cláudio Gusmão e também o Super-Homem! Sou as duas pessoas! Entendeu agora?

–         Ah, sim... Agora entendi! E, convenhamos, você é bom de cama, hem?

Leve rubor tomou o rosto do repórter, que em seguida disse:

–         Estou apaixonado por você, e sei muito bem que você também sente algo por mim. Em breve tomarei parte em um negócio que me gerará muito dinheiro, e gostaria de saber se você não quer ir morar comigo para ter uma vida de princesa. O que me diz?

Lais simplesmente não podia recusar. Seu maior sonho era abandonar a carreira no jornalismo e tornar-se milionária da noite para o dia. E, além disso, teria o Super-Homem ao seu lado... Mesmo não o amando de verdade, ela sempre teria um homem forte e másculo para satisfazer seus desejos. Por esses dois motivos, a repórter aceitou prontamente.

–         Era tudo que eu precisava ouvir! – sorriu o herói disfarçado, porém sem perder ainda o ar estranho notado pela parceira.

Quem olhasse para o céu por volta do meio-dia poderia ver Super-Homem voando com Lais Lima alojada confortavelmente em seus braços, enquanto trocavam beijos cinematográficos. Kal-El dirigia-se com a amada até Brasília, onde teria novo encontro com o deputado Leo Líbero. Desta vez, entretanto, o congressista não receberia palavras hostis e desconfiadas por parte do visitante. Os pensamentos de ambos haviam entrado em sintonia, fosse isso bom ou ruim.

Logo o Homem de Aço chegou ao apartamento do político, pousando junto com Lais na sacada. O casal caminhou para dentro de mãos dadas, encontrando Líbero ensaiando um discurso que faria em sua defesa no Congresso aquela tarde. Notando a presença dos dois, Leo imediatamente abandonou a tarefa, recepcionando-os calorosamente:

–         Super-Homem, é muito bom revê-lo! E vejo que agora não veio sozinho!

Num ato de genuíno cavalheirismo, o deputado beijou a mão direita da jornalista, dizendo num sorriso:

–         Encantado!

Logo depois, o super-herói foi direto ao assunto:

–         Voltei aqui porque pensei melhor na sua proposta, Líbero. Após certo acontecimento que abriu meus olhos, estou realmente decidido a aceitá-la.

–         Ótima atitude, Super-Homem. E fique tranqüilo, pois não exigirei muito de você. Quero apenas que faça alguns pequenos serviços para mim de vez em quando. Aliás, vou lhe adiantar parte do pagamento mensal agora mesmo!

Leo estendeu um maço de dólares para Super-Homem, que o apanhou sem pestanejar. Por mais incrível que pareça, ele não fez isso como parte de um plano para mais tarde botar Líbero atrás das grades. Tampouco aceitou o dinheiro devido às notas estarem impregnadas de kriptonita vermelha, a qual alterava drasticamente seu comportamento. Kal-El aceitou ser comprado por um corrupto devido à sua total desilusão com o povo brasileiro. Deixaria de ser um “Policarpo Quaresma” com superpoderes, cultuando uma nação existente apenas em seus sonhos. Chegara a hora de ser realista, de botar os pés no chão. O Brasil não precisava dele. Aliás, o Brasil no fundo não o queria. Uma figura justa e honesta como a que Cláudio costumava ser com certeza contrastaria imensamente com a política do “levar vantagem” reinante nesta porção oriental da América do Sul.

Seus pais adotivos ficariam orgulhosos? E seus pais biológicos? Talvez não, mas Kal-El não mais se importava. Não poderia levar a sério uma vida num país que não levava a si próprio a sério, e por isso faria qualquer coisa, inclusive algo ilícito, para garantir uma vida confortável a si e a Lais. Era a lei da sobrevivência em terras tupiniquins.

Assim, logo que começou a trabalhar para Líbero, Super-Homem desapareceu da imprensa e do meio público tão rápido quanto surgiu. Aparecia apenas de vez em quando para proteger alguma propriedade do patrão de alguma catástrofe natural, dar um susto em algum adversário político deste ou testemunhar a seu favor em CPI’s. Uma revista de fofocas logo descobriu que o herói estava vivendo secretamente com Lais Lima numa ilha paradisíaca do Caribe (coincidentemente numa propriedade vizinha à pertencente ao mesmo esquimó que resolvera se mudar do Pólo Norte) e vinha regularmente visitar a mãe adotiva no Rio Verdinho.

Pode-se dizer que o desaparecimento do Super-Homem mal foi sentido pela sociedade brasileira. A poderosa figura do herói que lutava pelo bem-estar coletivo foi logo substituída por esportistas mercenários, músicos medíocres, vencedores de reality shows e outros falsos salvadores da pátria que surgem quase todos os dias aos montes na tela da TV e nas conversas de bar. O determinismo, apoiado no acaso pessimista proporcionado pela Lei de Murphy, mais uma vez se mostrava válido e real, no tocante ao Homem de Aço.

Concluída a narrativa, resta a pertinente questão: haverá salvação para nosso país? Existirá um meio de tornar digna uma nação dominada pela corrupção, impunidade, injustiça social, violência, miséria e incompetência política? Haverá esperança para as crianças que nascem e jovens que crescem? Que Brasil estamos erguendo para nossos filhos?

Isso talvez nem Freud (ou seria “Fraude”, no contexto brasileiro?) fosse capaz de responder...

FIM

Luiz Fabrício de Oliveira Mendes – “Goldfield”.

Glossário

Superman – Brazilian Superman

EUA – Brasil

Smallville – Casa Branca

Metropolis – São Paulo

Rancho Kent – Rio Verdinho

Jonathan Kent – Jonas Gusmão

Martha Kent – Mariana Gusmão

Clark Kent – Cláudio Gusmão

Pete Ross – Pedro Rossi

Chloe Sullivan – Clara Silveira

Lana Lang – Lena Lins

Brad – Biro

Lori Lemaris – Lora Lamaris

Planeta Diário – País Diário

Perry White – Paulo Branco

Lois Lane – Lais Lima

Jimmy Olsen – Zezinho Onofre

Lex Luthor – Leo Líbero

Senhorita Teschmacher – Cássia

“Pelo fantasma de César!” – “Pelos decretos de Vargas!”

“Verdade, justiça e o modo de vida americano” – ‘Verdade, justiça e o jeitinho brasileiro”


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