JHONY POV

"Ding dong", ouvi a campainha tocar. Já sabia quem era, com certeza o maldito do Pitter. Esse bastardo estava desde ás 6:00 da manhã me perturbando com SMS sobre uma garota diferente que ele conheceu ontem a noite. Nunca em nossos cinco anos de amizade Pitter me mandava mensagens - principalmente de manhã - dizendo que conheceu alguma garota. E o que mais me deixou surpreso de tudo isso foi o fato de que ele não levou ela pra cama. Isso com certeza era inacreditável.

– Fala ai, loiro apaixonado. - Disse para meu amigo após abrir a porta e gesticular para ele entrar.

– Nossa, que apelido mais horrível. - Ele se jogou no sofá, aproveitando que meus avós estavam fora.

– O que faz em minha humilde casa, meu amigo?

– Eu sempre passo aqui de tarde e sua casa não é humilde, principalmente quando seu avô é dono do residencial. - Ele balançou a cabeça e eu ri. Vovô era dono de todo condomínio. Até insisti ano passado, quando completei vinte, para ele me dar um apartamento e dividir com Pitt, contudo teria que pagar igual a todos os moradores. Desistimos da ideia.

– Então loiro apaixonado, me diga sobre a garota diferente que você conheceu ontem. - Fui para o meio da sala montar o videogame, uma das razões para Pitt vir aqui todos os dias.

– Na verdade, foi aquela garota que eu disse 'Olá' ontem a noite. - Respondeu Pitter com os olhos iluminados. Joguei um controle para ele.

– Aquela garota loira, com o vestido rosa e o sotaque malditamente exitante? - Provoquei meu amigo que apenas me deu um rápido olhar furioso.

– Ela é americana. - Pitt exalou com um tom de satisfação.

– Americana? - Levantei uma sobrancelha. Era difícil encontrar meninas americanas no condomínio.

– Uhum, mas ela fala Português. - Ele assentiu com a cabeça.

– Que bom, pois seu Inglês é vergonhoso. - Sentei no tapete, me concentrando no videogame.

– Não tanto quanto o seu. Tem como ligar logo essa porra? - Ele disse inclinando seu corpo para frente na posição de um verdadeiro gamer.

– Hanna está aqui para estudar com sua amiga.

– Eu sei, você já me disse isso umas três vezes na mensagem e no bate-papo.

– Mas eu não te disse para qual faculdade ela vai. - Pitter falava ansioso. Parei novamente para olhar ele, que estava com um sorriso completamente idiota no rosto.

– Não me diga que ela vai para... - Pausei, pois já sabia a resposta.

– Sim, meu irmão. Hanna vai estudar na Aldenlir, a mesma faculdade que a nossa. - Pitt estava demasiadamente animado, esperava que a qualquer momento ele pulasse do sofá e fosse fazer piruetas, mas felizmente ele se conteve.

– Você tem uma maldita sorte. - Terminei de arrumar o videogame e me sentei ao lado de Pitter batendo em seu ombro. - Vamos ver quanto tempo essa sorte vai durar.

– Você está se referindo à Hanna ou o jogo? - Ele perguntou confuso.

– Ambos.

***

Já era tarde quando paramos de jogar, iria dar 22:00. Vovô, que já tinha chegado em casa, queria assistir seus programas de leilões de gado - que a propósito, nunca tinha comprado nenhum - e nos expulsou da sala.

– Já sei o que podemos fazer. - Pitter exclamou depois que fomos para meu quarto.

– Diga, loiro inteligente. - Pitt apenas mostrou o dedo do meio enquanto me joguei na cama.

– Vamos fazer uma visita as garotas. - Ele disse como se aquela fosse a melhor ideia que ele teve em sua vida. Eu não duvidei muito, já que ele nunca tinha uma.

– Garotas? Que garotas? - Perguntei um pouco confuso.

– Hanna e Melannie... Acho que é esse o nome de sua amiga.

– Você nem sabe se elas estão em casa.

– Hum... - Pitt colocou sua cabeça para fora da janela, na qual dava para ver a casa da garota perfeitamente. - As luzes estão acesas.

– Você tem uma grande informação. - Respondi entediado.

– Ah, foda-se. Eu vou ir lá. Quer ir? - Ele olhou para mim.

– Sério? Ela é sua garota, a não ser que você quer um menage a...

– Não. Eu não quero fazer uma suruba com você. - Ele balançou a cabeça seriamente. - Hey, Ela tem uma amiga e já está na hora de você parar de bancar o nerd e correr atrás de umas garotas.

– Sério Pitter, eu não estou afim de ficar de abajur hoje e muito menos conhecer garotas. Você sabe muito bem como eu odeio quando as garotas me olham só pela minha aparência e não como sou por dentro e além do mais quero algo sério. - Me sentei na cama olhando fixamente para a janela me lembrando de como me sentia usado, me lembrando dela, me lembrando de todas as palavras que ela me disse: " Sua inteligência não vale nada! Seu amor por mim não serve para nada, Jhony! Você pensa que eu amo você só por que você é bonito? Você pensa que TODAS amam você por causa da sua beleza? Não Jhony, elas não amam você, eles só te querem por que você é o garoto popular e tem um físico bonito! Você acha que você seria alguém sem esse rostinho bonito? Você apenas seria mais um nerd! As meninas só querem saber de você para fazer ciumes em garotos que elas amam de verdade e não porque elas querem estar com você! Você só serve para ser usado, Jhony! Nenhuma garota quer estar com você de verdade! Você é um babaca!"

Aquilo doeu mais do que um soco nas bolas. Becca foi a primeira e única menina que eu gostei de verdade até três anos atrás, no ensino médio, quando peguei ela com seu ex-namorado no banheiro masculino. De garoto "popular" e menino mais bonito da escola eu passei a me dedicar nos estudos e acabei ganhando uma bolsa de estudos da Faculdade Brasileira Aldenlir, assim como Pitter. As meninas nunca me deixaram em paz, mas sempre quando mostrava interesse em alguma, a voz de Becca vinha na minha mente com todas aquelas palavras.

– Eu sei o que você está pensando, Jhony. Como você vai saber se as garotas estão interessadas pelo que você é se você não dá uma chance a elas?

– Elas nem dão chance, elas já vem para cima pedindo para serem levadas para cama! - Argumentei.

– Eu também penso sobre isso... - Ele coçou o queixo. - Será que alguma menina vai me rejeitar um dia? Com certeza não.

– Se eu fosse garota eu não só te rejeitaria como te daria um tapa na cara por ser tão auto-confiante.

– E se eu fosse garota você estaria apaixonado por mim, pois eu não vejo nenhum tipo de atração em você. - Ele me encarou fazendo uma careta. Eu ri, me esquecendo de Becca.

– Ainda bem que você não é garota então. - Disse tentando parecer sério engolindo a risada.

– Ei, olha lá! Elas estão saindo! - Pitter correu para a janela me chamando para ver também.

Eu me levantei da cama e fui. Lá estavam as garotas, uma loira baixinha com o vestido azul bebê rodado que batia acima dos joelhos e sapatilhas da mesma cor. Agora sabia o porquê de Pitt ficar tão encantado com a garota, ela andava delicadamente como uma bailarina. Pitter amava meninas delicadas. A outra tinha cabelo preto, um liso encaracolado que caia até a cintura, tinha um vestido azul escuro que batia em suas bonitas coxas e usava botas de cano baixo com saltos. Seu andar não era tão delicado quanto a loira - Hanna, eu acho -, mas ela era realmente atraente.

– Cara, você está babando. - Pitter estava me encarando.

– O que? - Passei a barra da camiseta em minha boca. Pitter riu.

– Vamos lá falar com elas. - Pitter disse já na porta.

– Vamos.

– O que? - Pitt pareceu confuso. - Mas você disse que...

– Vamos logo, caralho! - Interrompi Pitt, que apenas deu risada.

– Espero que você não esteja babando pela Hanna. - Ele disse agora sério.

– Com certeza não. - Murmurei.