A Caçadora - A Supremacia escrita por jduarte


Capítulo 22
Presenças Desagradáveis - £


Notas iniciais do capítulo

Oiii galera, já disse que sou apaixonada pelos meus personagens? E, confie em mim, eu ouvi todas as vezes que vcs disseram estar com saudades do Fitch, então nesse capítulo ele tem uma participação especial!
Espero que gostem!
Beijooos,
Ju!



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O carro foi estacionado na frente da casa da Ordem e eu corri para dentro, me trancando dentro de meu quarto. Sentei em minha cama, e senti meu estômago dar voltar. Tudo o que eu queria no memento era gritar.

Abri a janela que dava para a rua, coloquei a cabeça para fora e gritei todos os palavrões que pudessem vir em minha mente, mesmo sendo quase onze e meia da noite.

Ouvi uma senhora gritar:

– Menina boca suja!

E a ignorei, gritando mais profanações.

E quando tudo parecia ter finalmente se liberado, um par de olhos azuis e eletrizantes de um lobo gigante e preto se focaram em mim com certa curiosidade. Ele estava sentado do outro lado da rua, com a cabeça pendendo para um lado, como se estivesse curioso e confuso ao mesmo tempo.

Meu lobo estava ali, me olhando como se eu fosse completamente louca, e de uma maneira bem sádica, isso fez com que um sorriso se plantasse em minha boca.

– Vai ficar me olhando surtar daí, ou prefere entrar para assistir de camarote? – fui completamente irônica.

Meu coração quase parou quando, em menos de um segundo, o vi em minha frente, passando com o corpo pela janela, conforme eu ia para trás, mais assustada do que nunca.

– Você me assustou. – murmurei com a voz vacilando entre medo e o mais completo e puro pavor.

Coloquei as mãos no peito para dar ênfase e o lobo roçou o focinho em meu pescoço, fazendo com que eu me arrepiasse inteiramente. Ele percebeu e deu o que parecia ser uma risada de lobo e se deitou em minha cama, ocupando a maior parte dela. Passei as mãos na parte de seu pescoço e ele guinchou de dor, se afastando milimetricamente. Olhei para meus dedos e vi um rastro de sangue.

Arfei e abri seu pelo completamente escuro até encontrar uma ferida grande, parecendo profunda.

– Mas que droga, cachorro estúpido! – sussurrei e ele rosnou parecendo não apreciar o apelido e eu engoli seco. – Vamos cuidar desse machucado e depois você briga comigo por causa do apelido, ok? – rebati, tentada a dar um peteleco em seu nariz para ver se ele deixava de ser arisco.

Fui até o banheiro, peguei um kit de primeiros socorros e conforme ia trabalhando no machucado, ele ia sarando na minha frente, até ficar uma linha rosada como marca do horrível machucado que estava ali mais cedo. Joguei tudo no lixo e coloquei a caixinha com os medicamentos em cima da escrivaninha, apoiando as mãos na cintura, olhando para o lobo estirado em minha cama de uma forma bem inusitada. Ele estava confortável demais para mim.

– Pode mudar para humano e começar a abrir a boca sobre o que aconteceu. – exigi com receio de que o Guiador gigante fosse abrir a boca e me morder.

Ele só olhou para mim por cima dos ombros, revirou os olhos e deitou a cabeça nas patas dianteiras, parecendo mais com um cachorro do que qualquer outra coisa.

– Olhe, não me leve a mal, mas tive um dia estressante. Seria muito bom dormir um pouco. – disse esperando que o Guiador levantasse o corpo pesado de minha cama e saísse pelo mesmo lugar de onde veio.

Quando ele não fez nem ao menos menção de levantar a cabeça das patas, fui até a janela, a fechei, colocando um moletom grande de Fitch e que tinha trazido comigo para ter pelo menos uma lembrança dele, tirando a calça jeans, substituindo por shorts de flanela. Agradeci mentalmente pelo moletom ser grande o suficiente para cobrir até a metade de minhas coxas, já que o Guiador me olhava de uma maneira intensa.

– O que você está olhando? – perguntei verdadeiramente interessada. Quando ele não me respondeu, como esperado, sentei no chão e apoiei a cabeça na cama. O Guiador pareceu impaciente e empurrou meu ombro com o nariz. – Você está ocupando toda a cama, garoto. Não consigo deitar. – respondi sorrindo.

O lobo se levantou de minha cama e ficou me olhando, como se esperasse que eu me deitasse na cama. E foi o que eu fiz. Quando senti a maciez e suavidade de meu colchão e camadas de edredons fiquei feliz o suficiente.

Dei algumas batidinhas no espaço que sobrava do meu lado na cama e o lobo subiu parecendo imensamente grato.

– Boa noite, garoto.

Ele pareceu suspirar e deitou a cabeça pesada demais em meu peito, parecendo não querer fazer peso em cima de mim, e fechou os olhos. Eu sabia que o Guiador não estava dormindo, pois quando fiz carinho rápido e temeroso atrás de suas orelhas, pouco antes de cair no sono mais profundo que tive em todos os meses, ele abriu os olhos.

E pode parecer loucura agora, mas quando estava prestes a me entregar a inconsciência, senti braços me envolvendo e lábios pressionados contra os meus, como se para que eu não acordasse.

A casa estava cheia. Música animada, pessoas zanzando de um lado para outro, a ceia já estava posta e só estávamos esperando que todos se acalmassem para podermos comer e então abrir os presentes.

Depois de vários minutos correndo atrás de David que parecia animado demais, chamei todos para se sentarem.

A comida era farta,- à parte da torta de abóboras de que Sierra havia levado- obviamente comprada já que eu não sabia fazer nem ao menos um purê de batatas, ou até mesmo a “famosa torta da família Melborne” que Lilian fazia, de maçã.

De repente tudo pareceu quieto demais, enquanto eu colocava um pedaço de carne na boca, me derretendo ao sentir o gosto salgadinho e temperado na medida certa.

– Isso tá uma delícia. – murmurei depois de engolir e todos explodiram em gargalhadas.

O silêncio agora era outro. Frequentemente preenchido por “hmm...” “uau” e outras onomatopeias que denunciavam o prazer deles em comer uma comida bem feita.

Em questão de minutos, muitas repetições, taças de vinhos e sobremesas já servidas, todos se reclinaram na cadeira, e suspiraram aliviados.

– Melhor natal de todos os tempos. – ouvi Edward comentar enquanto acariciava a barriga dramaticamente.

Mais risadas explodiram e eu me levantei para fazer questão de levar a louça para a lava-louças. Cocei a cabeça quando vi a pilha enorme de pratos e copos.

Não tinha pensado em como iria lavar tudo isso.

E então uma ideia brotou em minha cabeça.

Voltei para a sala de jantar e olhei para os metamorfos.

– Vocês podem lavar a louça para mim, hoje? Estou tão cansada. Fiquei cozinhando a manhã inteira! Não, não estou cansada, – deixei meu corpo cair na cadeira de maneira dramática. – estou exausta.

Sullivan levantou, mas cruzou os braços e revirou os olhos.

– Você não muda, não é mesmo, preguiçosa?!

Abri a boca para fingir estar chocada e quando ele passou por mim para ir até a cozinha, fiz questão de bater de leve em seu braço, sorrindo logo após. Eu me sentia energizada tamanha a felicidade que se acumulava em meu corpo. Era como se tudo que fosse de ruim desse espaço finalmente para que a felicidade reinasse, pelo menos por algumas horas.

Beberiquei mais um gole de minha taça de vinho, agradecendo por, mesmo não ser maior de idade, poder beber algo alcóolico que me aquecesse por dentro.

A campainha tocou e Jason foi prontamente atender. Claire havia saído para comprar mais alguns biscoitos da pequena padaria no final da rua, talvez fosse ela na porta.

Meu irmão voltou para a sala de jantar com uma cara de poucos amigos e então fez um sinal para que eu fosse até a porta. Apontei o dedo para mim, como se indagasse que tinha entendido direito e ele assentiu.

Revirei os olhos e fui até a porta com a taça de vinho nas mãos.

O vestido subia conforme eu ia andando, e estar de salto não fazia minha caminhada menos difícil.

Apoiei minhas mãos na porta e disse:

– Claire, eu já disse que você pode entrar sem bater! – meu tom de voz era animado e despreocupado, mas logo quando vi que não era Claire na escada da frente de minha casa, ela se tornou levemente azeda. – O que essa puta está fazendo aqui? – perguntei sem nem ao menos medir minhas palavras.

Cali me olhava como se tivesse acabado de ganhar um prêmio na loteria. Os curativos ainda estavam em seu rosto e eu duvidava que ela conseguiria sorrir por muito tempo antes de eu socá-la na boca.

– Olhe, Helena, viemos em paz, ok? – Fitch disse e suas palavras me machucaram. Não por elas, em si, mas pela maneira que elas foram pronunciadas, dolorosas e quase machucadas.

Revirando os olhos, balancei a cabeça.

– Não sei por que vieram até aqui, mas não tem nada aqui dentro que seja para a sua laia. – rebati, apontando os dedos para Cali.

– Ora, Helena, seu irmão certamente deve estar morrendo de saudades de mim! – ela disse e eu fechei a mão em punho, mirando em seu rosto, pronta para arrebentá-la, e fui impedida por Jeremiah que segurou minhas mãos e me puxou para trás, apoiando as mãos protetoramente em minha cintura. Essa proximidade me deixava mais irritada ainda.

Merda de força de metamorfo!, praguejei mentalmente.

– Queime no inferno, vadia! – gritei tentando inutilmente avançar nela.

Cali pareceu assustada por um momento e depois se recompôs.

– Espere no carro, Cali. – a ordem de Fitch foi bruta o suficiente para eu tremer, assim como ela. Era visível a maneira que ela o obedecia como - literalmente – um cachorro.

Bastou uma olhada de Fitch para que o aperto de Jeremiah em minha cintura diminuísse consideravelmente.

– Como você pôde trazê-la até aqui, Fitch? Depois de tudo o que ela fez para mim, para Jason. Para nós! – minha voz era baixa, mas eu tinha certeza de que ele conseguia escutar perfeitamente.

Meu coração doía de uma maneira jamais sentida. Ele palpitava forte, como se quisesse sair de meu peito, deixando uma sensação de vazio, mas ao mesmo tempo de preenchimento.

Toquei meu peito, onde doía, quando uma palpitação deixou-me com falta de ar.

– Cali fez meu irmão se tornar uma coisa que ele não queria. –minha voz era dura.

Olhei no fundo dos olhos brilhantes de Fitch, esperando ver a rudez e acidez que normalmente o faria ficar quieto daquela maneira, mas só consegui ver a mágoa que conseguia vir à superfície, quase fazendo seus olhos transbordarem.

Jeremiah já tinha ido embora a muito tempo, deixando-me com o frio, tão sozinha quanto antes, com a dor crescente. Fitch parecia firme e rígido como antes, mas algo em sua postura me deixava crer que ele parecia tão arrependido quanto eu de tudo o que havíamos dito, e até mesmo feito.

– Merda, Fitch... Você ferrou comigo de verdade desta vez. - praticamente gritei em sua cara, tentando espantar a vontade louca de chorar em seus braços.

Eu podia sentir o tanto de vontade que fosse de matá-lo de vez em quando, mas isso não conseguia suprir o fato de que meu coração ainda assim era dele, apesar de tudo e todos.

Suspirei e me virei para me abrigar do frio dentro da casa, quando ouvi sua voz calma e baixa. Tão baixa que a princípio pensei ser somente um suspiro.

– Me desculpe, Helena. Eu vou compensar tudo isso.

Não me virei para olhá-lo.

Eu sabia que se virasse, poderia ser o começo de um problema maior do que eu conseguiria acompanhar. Ele estava comprometido com Cali, e mesmo que eu não aceitasse, não poderia fazer nada para que mudasse isso.

Respirei fundo e fechei as mãos em punhos, subindo os degraus mais devagar, acendendo uma fagulha de esperança em mim que, talvez, só por alguns segundos, ele pudesse esquecer-se de Cali, puxar meu braço, me enlaçar em seus braços e me abraçar até que a solidão passasse. Queria que ele pegasse minhas mãos delicadamente e ficasse comigo.

Queria ser dele.

Queria Fitch.

Meu coração ficou murcho quando entrei em casa. Fitch não tinha me puxado para seu corpo, não tinha nem ao menos tocado em mim.

Uma lágrima escorreu por minha bochecha, e eu forcei um sorriso para os convidados. Todos olharam para mim e eu me senti como o centro das atenções. A única diferença é que não era de um modo bom.

Jason me olhou tristemente e quando foi abrir a boca para falar alguma coisa, a voz de Claire encheu meus ouvidos.

– Perdi alguma coisa? – ela gritou da entrada. O cheiro de biscoitos encheu minhas narinas, assim como os sentidos das outras pessoas à mesa, e quase agradeci mentalmente.

– Só um pequeno barraco lá fora. – disse Nolan, rindo e eu lhe joguei um pedaço de torta não comida por Sally, que riu incontrolavelmente.

Claire olhou em minha direção disfarçadamente e eu fiz um sinal com as mãos indicando que depois contaria o que tinha acontecido, e ela não se deu por satisfeita, quase jogando os biscoitos em cima da mesa.

– Ele é um idiota. Não preciso saber quem é. Mas se te deixou assim, é porque realmente é um idiota. – ela sussurrou enquanto me abraçava.

Eu gostava desta nova Claire. A antiga fazia perguntas demais.

A noite passou rápido depois de todo o ocorrido e eu quis sumir por uns tempos. Por isso quando os últimos caçadores foram embora, Sally, Sierra e David também, quando já tínhamos aberto todos os presentes e toda esta baboseira, corri para o banheiro, fazendo questão de tomar um banho calmo de banheira, esperando que todos já fossem dormir para poder sair.

Quando saí, finalmente da banheira, lá pelo horário que a água começou a esfriar e enrugar demais meus dedos, enrolei meus cabelos com a toalha. Vi as escovas de Jason e de Edward jogadas em cima da bancada e revirei os olhos.

Morar com homens era uma droga. Ainda mais morar com bagunceiros de primeira.

Coloquei um pijama de flanela mais curto e me enfiei debaixo das cobertas, sem me importar em secar o cabelo. Não iria tão cedo trabalhar e meu dia amanhã consistiria em ficar em casa lendo.

E quando menos pude esperar, as lágrimas vieram como cachoeiras. Desciam dolorosas e grossas, salgadas demais e manchavam meu cobertor.

Um barulho do lado de fora de minha janela me fez ficar mais atenta. Meu coração palpitou mais rápido. Meu lobo me olhava de fora da janela.

Livrando-me dos cobertores para somente deixá-lo entrar, afaguei suas orelhas pontudas e escuras quando ele passou por mim.

Ele foi para baixo de meu cobertor junto comigo e eu virei para acariciar seu pescoço. Meus dedos esbarravam em cicatrizes que não eram para estar ali, como marcas de dentes. Seu coração era audível.

E com ele soube que poderia chorar. Mesmo que não soubesse quem este Guiador era, sabia que poderia confiar nele.

– Eu sinto falta dele, garoto. Sinto tanta falta que precisei me controlar hoje.

Sorri com lágrimas beirando meus olhos, escorrendo pelos cantos de meu rosto.

– Não é como você realmente entendesse sobre quem estou falando, mas mesmo assim é bom desabafar com alguém. – disse, suspirando. As batidas ritmadas e doloridas de meu coração faziam com que eu quisesse chorar.

Ele pousou a cabeça de leve no travesseiro, mas ainda assim os olhos atentos em mim. Eu encarava o teto, tentando descobrir uma maneira de não chorar mais ainda. Mas parecia impossível.

– Sabe o que é mais difícil de admitir? Ele parece tão menos o Fitch que eu conhecia e amava. Eu ainda o amo, garoto. Queria dizer que meu amor por ele morreu no segundo que o vi segurando a mão de Cali, mas isso seria mentira, é claro.

O encarei e seus olhos pareciam transbordar. Balancei a cabeça.

– Não sei por que estou falando isso pra você se nem ao menos sei quem você é. – sussurrei.

Senti seu corpo se encolher e sorri.

– Não se preocupe. Não vou pedir para você virar humano e nem me contar quem é.

Não agora, pelo menos.


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Notas finais do capítulo

Continua?



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