A Caçadora - A Supremacia escrita por jduarte


Capítulo 20
Mente Obstruída - £


Notas iniciais do capítulo

Hey,
Espero que gostem deste capítulo!!!
Beijoooos,
Ju!



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O apartamento não tinha praticamente mobília alguma a não ser por um jogo de sofás escuros e uma televisão presa na parede, assim como um grande acervo literário que me lembrou de Sally instantaneamente.

O que me lembrou de Emma e dos símbolos, e do motivo de minha vinda.

– Preciso de sua ajuda. – disse por fim, quando nenhum dos dois arriscou a proferir uma palavra sequer.

Kaus foi até a cozinha e voltou com uma taça de vinho grande o suficiente para derrubar um leão.

– Tentando me derrubar sem antes mesmo começar uma conversa civilizada? – ironizei, porém peguei a taça sem pestanejar.

A conotação sexual eminente em minha frase fez com que eu tomasse um gole longo do vinho, para impedir que outra merda saísse de minha boca.

– Helena... – Kaus sussurrou e eu o olhei com receio. – Precisamos conversar.

Tomei mais um gole, sentindo o vinho descer por minha garganta suavemente.

– Seu irmão está em perigo. Têm bruxas voltando para New York.

Quase engasguei.

– Não. Isso não é possível.

Kaus quase sorriu com meu desespero.

– Você acha que é a única com poderes? Elas estão voltando para terminar o que começaram, Helena. Elas querem vingança e vingar sua mãe.

Engoli seco e baixei a taça quase vazia no chão, já que a mesinha de centro parecia lotada demais para um canto.

– Eu não entendo... Elas não podem voltar... Não agora! Não é como se fizéssemos a porcaria de uma convenção anual de bruxas!

Ele mordeu os lábios para não falar mais nada.

– Kaus, por favor... Preciso de mais coisa do que isso. Você me avisar parte de uma coisa é tortura. Preciso de mais para saber se posso confiar nelas ou não.

Desta vez seus olhos me analisaram mais do que o necessário e eu senti a necessidade de me esconder de seus olhos ágeis.

– Elas querem vingança, Helena. Drake machucou muita gente, e sua mãe era uma pessoa com uma reputação muito boa no seu mundinho de bruxas.

A maneira que ele disse “mundinho de bruxas” fez com que o colar ardesse. Kaus levantou as mãos em rendição.

– Não tive a intenção de magoá-la. Desculpe. – ele pareceu sincero, assim como suas palavras. – Eu estou em contato com uma bruxa chamada Maia, há um tempo... Ela sabe o porquê desta volta das bruxas e vai nos ajudar.

Eu recuei amuada e assustada.

– Como assim nos ajudar, Kaus? – perguntei. – Eu não a conheço. – sussurrei. – Como posso confiar em alguém que nem ao menos conheço?

Ele hesitou em responder, e veio mais para perto.

– Ela pode me ajudar a recuperar a memória. – ele disse sorrindo de canto. – Não se preocupe. Se ela tentar qualquer coisa, serei o primeiro a arrancar a cabeça dela do pescoço.

Tranquei a mandíbula.

– Isso não parece certo.

Kaus rabiscou um número de telefone numa folha de papel e me entregou. Eu guardei no bolso da calça, não querendo me preocupar com números de telefone no momento.

– Acho que é melhor ir direto à fonte. – ele suspirou como se me explicar as coisas fosse muito complicado e drenasse suas energias.

Algo o estava incomodando. Eu podia sentir isso pairando no ar. Por isso quando perguntei o porquê dele estar transtornado e o que lhe estava deixando apreensivo, ele não hesitou em responder.

– Não vejo Polux faz um tempo e isso me preocupa. – algo no tom de sua voz me fez crer que ele estava baixando as guardas para mim. Seu olhar de repente me parecia dolorido. – Eu... Eu fiz alguma coisa errada para ele não querer falar comigo? – quando seus olhos se voltaram para mim, refletindo como duas esmeraldas brilhantes. Era possível ver sua pupila dilatada, o que fazia crer que seu olho era muito mais escuro.

Meu coração palpitou dolorosamente.

Eu tinha que contá-lo eu mesma, ou então ele saberia pela boca de outra pessoa. E eu definitivamente preferiria que ele ficasse bravo comigo por ter contado para ele, do que bravo por eu não ter dito nada.

– Polux se foi, Kaus. – minhas palavras pareceram lhe tirar o chão.

E para meu total desespero e também surpresa, Kaus abaixou a cabeça em direção ao joelho, ainda com o vinho bem seguro nas mãos. Ele segurava a taça com força, deixando-me pensar que a qualquer momento poderia estilhaçá-la em vários pedaços.

– O que aconteceu? – ele perguntou depois de um tempo em silêncio. Sua voz foi tão baixa que se não estivéssemos em completo silêncio, eu não teria ouvido.

Respirei fundo.

– Olhe, pode não ser a melhor coisa saber disso... – respondi, mas Kaus levou os dedos até meus lábios entorpecentes pelo vinho, silenciando-me. O toque de seus dedos em minha boca fez com que um arrepio provasse que mais um toque e eu não seria capaz de responder em minha melhor consciência.

– Eu preciso saber, Helena... – ele sussurrou, suas mãos passando de minha boca para minha bochecha, e então finalmente meu pescoço. Ele abaixou a cabeça e plantou um beijo perto de minha clavícula.

Meu corpo ardia.

– O que aconteceu? – ele voltou a perguntar.

Suspirei e olhei para Kaus, suplicando mentalmente para que ele se afastasse alguns bons metros, para que eu pudesse me concentrar.

Tentei controlar minha voz o máximo para que ela não saísse entrecortada ou ofegante e comecei.

– Você e seu irmão são o terror da Hunters, - disse fazendo menção a empresa. – e fomos destinados a acabar com a raça de vocês, literalmente. Fomos treinados para isso. E então, quando eu fui atacada na igreja, num trabalho de campo em que estava sozinha, Polux me salvou. – sorri com a lembrança de Polux me levando no colo até em casa, deixando-me um bilhete no dia seguinte, e até mesmo aspirinas.

Ele ouvia com atenção, mas seus olhos pareciam focados demais nos meus. Desviei meu olhar para minhas mãos que recostavam em meu colo, e continuei:

– Quando fui atacada no estacionamento da empresa por um demônio, você me salvou.

Algo em seus olhos me disse que ele se lembrava disso.

– Shirra. – ele sussurrou.

– Não sabia o nome dela. – respondi rapidamente, voltando à história. – E então me vi tomada por vocês. De repente eu parecia o centro das atenções. Quem diria, disputada pelos dois irmãos que eu deveria matar... - sussurrei esta última parte, sabendo que ele ouvira.

O sorriso que Kaus deu foi quase audível e me derreteu por dentro.

– Então quer dizer que eu tive coragem o suficiente para disputar você contra meu irmão caçula? – ele perguntou rindo e se inclinou para trás.

Assenti sorrindo leve, mas o sorriso não alcançou meus olhos.

– Polux me pediu em casamento, eu aceitei e quando vi já estávamos mudando de vida. Algumas coisas aconteceram para que nós quiséssemos mudar, mas principalmente porque vocês agora eram humanos, e tudo o que eu menos precisava era que os Caçadores viessem atrás dele. Que viesse atrás de você, Kaus. – quis completar, para dar ênfase de que mesmo estando noiva de seu irmão, eu ainda tinha sentimentos por ele.

Meus dedos se enroscavam de nervosismo e minhas batidas descompassadas ficavam cada vez mais evidentes. A cosquinha atrás do nariz me fez parar para recomeçar com a voz mais estabilizada.

– Meu irmão ficou para trás com um dos Caçadores para ir ao nosso encontro depois, e Polux e eu seguimos viagem. A única coisa que lembro é do carro vindo ao nosso encontro e a sua voz sussurrando: “Eu ainda não esqueci de você.” E quando te encontrei, quis que parte dessa frase fosse verdade, Kaus.

– Eu lembro de ter pensado nessa frase, mas quando me alimentava. Eu estava faminto e lembro-me de ter visto um casal, e tê-lo atacado. Parte de mim queria morrer por estar matando um ser humano e eu não entendia por quê. Uma sensação esquisita em meu estômago. A menina caiu desmaiada no chão, e o garoto perdeu muito sangue para ao menos sobreviver e eu tentei ajudar.

Suas sobrancelhas quase se uniram em confusão, como se se lembrar dos acontecimentos fosse algo muito complicado e implicasse a dor em sua cabeça.

– Eu dei um pouco de meu sangue para ele, e fui embora.

– Kaus, fui ver Meena quando o acidente aconteceu, ela era noiva dele e está grávida de William, o homem que você matou. – minhas palavras eram rudes, mas eu queria que elas perfurassem seu corpo e se alojassem em seu coração. – Algo aconteceu com você, que o fez se esquecer de mim, de tudo o que aconteceu, de não ter remorso algum. Kaus, você quase me mordeu na boate. Foi aí que eu soube que tinha algo de errado com você.

– E o que você acha que aconteceu? – sua voz era baixa e triste, e isso partiu meu coração.

Respirei fundo mais de uma vez.

– Existe uma bruxa, um demônio, uma pessoa chamada Maia, a mesma que você está em contato, e ela controla a maioria das coisas. Ela fez diversas ameaças a vocês, em relação a mim. – minha voz ficou presa na garganta. – Eu acho que ela forçou você a virar um demônio, Kaus, e isso, de certa forma fez com que você se esquecesse de tudo.

– Você não vai entrar em contato com Maia. Se ela é realmente tudo o que você me disse, então não quero que ela fique a menos de 70 mil metros de você. – Kaus grunhiu irritado e tomou minhas mãos na sua. Eu as liberei para colocar mais vinho e me levantei.

A taça acabou cedo demais para meu gosto. Mesmo cheia, parecia que não era o suficiente. Eu ainda não estava cambaleando.

– Eu esperei que você se lembrasse de mim. – sussurrei indo em direção à janela, vendo que a noite parecia muito mais mágica quando a neve caía, tingindo as ruas, calçadas e gramados de branco.

Seus passos acompanharam o caminho que eu tinha feito, e ele colocou as mãos em minha cintura, me virando para encará-lo. Eu não consegui olhá-lo. Espalmei seu peito esperando sentir as batidas de seu coração, e o meu próprio morreu um pouco por dentro. Eu ainda esperava que ele se lembrasse, que seu coração batesse por mim, como tinha feito poucos meses antes.

Eu queria que tudo voltasse a ser como era, e não queria.

– E eu lembro. Lembro de como seu cabelo fica muito mais brilhante no sol, ou de como seu vestido azul, aquele que você usava quando era mais nova, estava todo enlameado. Eu lembro como seu rosto fica torcido de ciúmes ou quando você sonha com algo bom e agarra o travesseiro. Eu lembro do seu primeiro urso de pelúcia, e da primeira vez que você viu a praia.

Era possível sentir a confusão estampada em meu rosto.

– Não é que eu não me lembre de você, Helena. Faz muito tempo desde que o meu “eu” a viu pela última vez. Eu posso não recordar das coisas que aconteceram enquanto eu estava apaixonado por você, mas reconheço muito bem que a menininha de olhos grandes e cabelos escuros foi a única que roubou meu coração, mesmo que nem soubesse quem eu era.

A sala ficou tomada pelo silêncio.

– Você é que não lembra de mim, Helena. Tinha que ser assim...

Meus olhos se encheram de lágrimas.

Tinha que ser assim...

– Você roubou meu coração, Helena, e mesmo que não me amasse de volta, eu sempre amarei você, me lembrando das coisas que fizemos ou deixamos de fazer.

Ele levantou meu queixo com os dedos, deixando minha boca muito perto da sua, e se inclinou.

– Finalmente, depois de todos esses anos, você é minha por alguns minutos.

E antes que eu pudesse ao menos raciocinar, sua boca cobriu a minha em um beijo sem urgência e com um carinho que eu não sabia de onde vinha.

Agarrei-me como pude à Kaus e um pensamento me ocorreu:

Eu o queria tanto quanto ele, há tempos...

Apesar de tudo, o empurrei sutilmente para longe de mim, apoiando a testa em seu peito.

– Eu não posso, Kaus. Não posso. – sussurrei e o ouvir suspirar como se estivesse frustrado.

– Eu sei. Me desculpe, Helena... Eu não sei o que passou por minha cabeça.

Suas palavras me pareciam sinceras, e tive que olhar dentro de seus olhos para confirmar. E realmente eram. Kaus sorriu para mim, mas seu sorriso não alcançou seus olhos, o que fez meu coração se torcer dentro de mim.

– Preciso saber o que aconteceu com Polux antes de começar a pensar em viver outra coisa com alguém. – murmurei enquanto desenhava círculos invisíveis em seu peitoral, tentando me distrair o suficiente para não cair na tentação de seus lábios novamente.

Ele apoiou o queixo em minha testa, e beijou-a logo em seguida.

– Vamos, vou te levar para casa. – Kaus disse pegando minha mão, enlaçando seus dedos nos meus de uma maneira tão firme que não pensei que ele fosse soltar.

Acabei adormecendo no caminho para casa.


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Notas finais do capítulo

Continua?