Sim. Eu estava nervoso.
Por qual motivo? Nem eu mesmo sei. Afinal, é somente um baile...

Por algum motivo, tudo que envolva Alicia Dawson me dá algum tipo de medo. Afinal, eu nunca sei qual será sua reação, ou seus atos naquele momento.

Como eu nunca gostei de ternos ou algo do tipo, eu usava um simples paletó preto com uma camiseta branca e calças jeans escuras. Recusava-me a colocar aquela roupa quente e apertada que todos vão usar. E óbvio, meu All-Star.

Eu estava na casa de Dez, esperando-o. Acho incrível como ele demora mais uma noiva para se arrumar.

Sinto meu celular vibrar em meu bolso e olho a mensagem que havia chegado.

“Vou com a Trish. Não se preocupe em me buscar. Nos vemos lá.
Ally – 19:58 – just now”

Sentia-me mais calmo com isso.

Quando – finalmente – Dez desce as escadas, ela trajava um terno tão alaranjado quanto seus cabelos, e sapatos sociais escuros que contrastavam com sua roupa. Sorrio para sua originalidade.

— Vai demorar mais, senhorita? – ironizo e Dez vira os olhos. – Vamos logo.

— E as meninas? – ele questiona, pegando as chaves de Blue da minha mão. – É minha vez de dirigir, maninho.

— Mas você dirigiu da última vez! – falo de modo infantil. – Ally acabou de me mandar uma mensagem dizendo que ela vai com Trish, e nos encontraremos todos lá.

— Tudo bem então. E é mentira! Você dirigiu para virmos aqui para casa.

É minha vez de revirar os olhos.

Apresso-me para ir logo ao carro. Em torno de meia hora estaríamos no Marino High School. E quanto mais rápido chegarmos lá, mais cedo vamos embora.

Entro no banco do carona, e Dez logo em seguida vai para a direção.

— Ah! Só um minuto! Esqueci uma coisa! – ele exclama, saindo do carro e voltando para dentro de casa.

Logo ela volta com dois buquês de flores vermelhas nas mãos.

— Sabia que você iria se esquecer de dar algo para Ally, então já estou salvando sua vida, amigo. – ele anuncia entrando no carro e jogando as flores no meu colo. – Aproveita e segura isso aí. Eu paguei você leva.

Reviro os olhos – novamente – e vejo o quanto essa ação é ridícula. Agora entendo o motivo de Ally fazer isso o tempo todo.

Dez dá a partida, saindo de sua casa e indo em direção ao colégio.

Aproveito o tempo que temos até lá, e observo os buquês. Um de rosas vermelhas bem cuidadas, e o outro de tulipas igualmente vermelhas.

— Qual desses é para Ally? – pergunto.

— Tulipas. Ela ama tulipas. – Dezmond olha para mim, num breve segundo. – Lembre-se disso, bro.

Balanço a cabeça, concordando.

Bom saber que eu tinha um informante sobre tudo o que Ally gosta aqui comigo. Caso eu não soubesse de algo, poderia perguntar a Dez (ou até a Trish) e tudo ficaria bem.

É estranho pensar que eu precisaria de alguém para agradar Ally. Como eu sou idiota.
Austin, seu imbecil. É tão ridículo ao ponto de ter que perguntar para alguém as coisas favoritas da sua própria namorada?

Namorada...? Eu pensei isso mesmo?

Eu e Ally não temos nenhum tipo de relacionamento sério. Não tem nem um mês que eu a conheço, e já estou tão... Apaixonado por ela.

Como que em pouco tempo eu consegui me apegar tanto a essa garota?

Passam-se mais alguns minutos (e eu continuo com o mesmo pensamento) até chegarmos á escola.

Dez estaciona, descemos da picape com os dois buques e vamos em direção à porta principal. Assim que entro, sinto alguém me abraçar por trás. Imagino ser Ally e sorrio com isso, mas ao ver as unhas pintadas de rosa que apertavam meu abdome, me viro rapidamente dando de cara com Alexia dentro de um curtíssimo vestido rosa brilhante.

— Obrigada pelas tulipas, amor! Mas eu prefiro margaridas. – ela tenta pegar as flores de minha mão, porém eu a impeço.

— O que você quer Alexia? – pergunto me afastando o máximo que posso dela.

— Eu é que pergunto, Austi-Poo. – Esse apelido de novo? – Posso saber o motivo de você não ter me buscado?

Franzo a testa.

— E por qual motivo eu te buscaria? – falo, já virando para ir ao ginásio, onde tudo se encontrava.

— Por que você é o meu acompanhante! Que tipo de acompanhante não busca sua amada para o baile?

Paro de andar, e logo penso numa resposta.

— Minha “amada” – faço aspas no ar – já está aqui na festa.

Ela levanta as sobrancelhas, com um sorriso vitorioso no rosto.

— E eu vou me encontrar com ela agora. – Sua expressão muda para confusa. – Você viu a Ally por aí?

Novamente, a mesma reação. Ela me olhou perplexa, depois com raiva, fingiu uma cara de choro.

— Só não vou chorar se não estrago minha maquiagem. – ela aponta seu dedo indicador para mim. – Eu nunca vou esquecer isto, Austin Moon.

E ela sai pisando forte para dentro do ginásio. Bufo e reviro os olhos.

Essa garota não tem solução.

Procuro Dez a minha volta, porém ele já havia entrado. Caminho até lá, já vendo luzes vermelhas, verdes e azuis piscando de um lado para o outro. Uma música eletrônica alta tocava e eu reconheci algo como David Guetta ou Calvin Harris. Procuro meus amigos em algum lugar, e avisto Trish e Dez em pé discutindo.

— O que aconteceu? – pergunto, colocando as flores na mesa ao lado dos dois.

— Ally desapareceu. Ela não veio para cá. Não atende o celular e não está em casa.

Meu coração parou. Meu sangue congelou. Minha mente embaçou, e eu só via as coisas passarem pelos meus olhos. Eu nada ouvia nem emitia nenhum som.

Tento me equilibrar para não deixar meu corpo cair, afinal, minha alma já estava em pedaços.

Minha visão se foca na mesa que era o mais perto de mim, e vejo as chaves de Blue. Pego-as rapidamente já me encaminhando para a rua.

— Austin! – ignoro os gritos de Trish atrás de mim, mas uma mão me puxa antes que eu saia do corredor principal do Marino High School.

— Se controle Austin! – o ruivo falou para mim.

— Eu não posso deixar minha única chance de sobrevivência desaparecer! Eu tenho que achar Ally!

— Chance de sobrevivência? Do está falando? Eu sei que você a ama, mas...

— Sem mas! – grito, atraindo a atenção de mais pessoas que já olhavam para o que acontecia. – Ela é o único motivo de eu ainda estar vivo!

Saio correndo sem esperar resposta. Logo já estou dentro de Blue, correndo para o primeiro lugar em que eu tenho que procura-la. Sua casa.

Eu teria que ver com meus próprios olhos se Ally não estava lá.

Chego á casa dos Dawsons. Paro o carro e desço correndo. Bato na porta, chamo minha garota. Nada. O sol já estava para se pôr, e nada da garota. Resolvo dar a volta na casa, indo para o quintal dos fundos. Nada também. Volto para frente da casa e olho para a janela que dava ao quarto da garota. A luz de seu quarto estava acesa.

Uma pequena luz de esperança se acende em meu peito.

Começo a procurar alguma chave reserva. Tento buscar em minha memória algum momento, alguma fala de Ally sobre chaves.

“Estou dentro do carro de Dez. A menina que jogou suco em Alexia está aqui também. Estamos esperando uma amiga dela. Vamos para a LIV. A menina que estamos esperando abre a porta. Tranca-a. Põe as chaves na caixa do correio. Questiono-me se isso é uma boa ideia. Qualquer um pode chegar ali e entrar na casa dela, sem mais, nem menos.”

Vou até o objeto, abrindo-o e revelando um molho de algumas chaves. Pego-o logo e corro até a porta, tentando chave por chave.

Como a sorte nunca está ao meu favor e universo me odeia (por algum motivo que eu ainda vou descobrir), a última chave que eu testei era a certa. Abro a porta rapidamente e subo as escadas ate o quarto da menina.

Sim, a luz realmente estava acesa, mas ela não estava ali.

Entro no cômodo, procurando algo que diga sua localização.

Onde estaria minha amada?

Sua câmera Polaroid é a primeira coisa que vejo, e algumas fotos estão espalhadas perto da câmera.

Fotos que – para mim – não fazem sentido algum.

São objetos aleatórios e em suas legendas estava escrita a mesma coisa sempre.

“Primeira letra.”

Não estavam assinadas por Ally, mas eu conhecia sua caligrafia. Comecei a observar com mais atenção às imagens. Primeira letra. Eram cinco imagens.

Pego as cinco e as distribuo pela colcha floral da cama de Ally. A primeira imagem era uma mancha.

Procurei entre suas coisas uma caneta e uma folha de papel.

Escrevi.

“Blur”

A segunda parecia algo apagado em uma folha de papel.

“Out”

Risco a palavra recém-escrita ao perceber que havia pequenos pedaços de borracha ao lado da folha. E – bem apagado mesmo – estava a palavra ‘borracha’ na folha. Pelo ângulo que a foto foi tirada, eu conseguia ver em relevo na folha.

“Eraser”

A terceira era algo mais complexo e estranho. Tinha um tom azulado. Parecia água.

“Water”

Porém algo colorido estava na água.

Deixo as fotos na cama, mas pego esta em específico e desço as escadas à procura de algo que lembrasse a figura.

Procuro pela sala, pela cozinha. Vou até o banheiro e nada é encontrado. Volto para o segundo andar e dou mais uma olhada no quarto da garota. Olho no banheiro da menina e nada.

Saio até o corredor e há duas portas além do quarto de Ally.

Um provavelmente é o quarto de Dallas, com um grande D azul na porta (igual ao quarto de Ally, que havia um A branco). Porém, a outra porta, no final do corredor, estava sem nada. Intocada.

Apesar da minha pressa, algo me fez caminhar calmamente até a porta.

O que podia me esperar do outro lado?