Passam-se alguns meses após a última aventura de Lúcia e Edmundo em Nárnia, juntamente com Eustáquio. Nesse meio tempo os pais retornam dos Estados Unidos para Londres, os dois irmãos voltam para casa, e logo recebem a notícia de que Susana encontrara um bom pretendente nos Estados Unidos e por isso ficaria lá com uma tia até o dia do casamento, que já estava marcado. Já Pedro começava a cursar a universidade.

– É Lu, pelo visto somos apenas nós dois agora. – Edmundo disse a irmã após receberem as novidades.

Lúcia suspirou pesadamente, sabia que agora os irmãos começavam a viver vidas de adultos, e como adultos teriam pouco tempo para tudo, até para vê-la. Isso a entristecia, pois sabia que logo Edmundo também a deixaria.

– Ainda não me conformo com isso, Ed. – Ela respondeu ao irmão.

– Um dia isso teria que acontecer mesmo. – Edmundo já estava conformado.

– Você também vai me dizer isso quando for para longe, como os outros? – Lúcia indagou com uma ponta de mágoa.

– Qual é o problema Lu? Desde que voltamos você está estranha. – O irmão observou.

– Desculpe, não é nada, eu só... Estou com um pouco de dor de cabeça hoje. – Ela mentiu.

Edmundo notou a mentira, mas não disse nada, não queria insistir no assunto para não chatear a irmã. Lúcia deu a ele boa noite e se retirou para o seu quarto, queria apenas dormir e quem sabe sonhar com Nárnia.

Após se trocar ela deitou-se em sua cama e fechou os olhos na esperança de dormir logo, levou algum tempo, mas ela finalmente dormiu após uma hora. Logo no dia seguinte começariam as suas aulas e a nova rotina sem Pedro e Susana.

Seu sono foi inquieto, um pesadelo a atormentou...

Lúcia se encontrava em um lugar desconhecido, estava escuro, mas dela parecia irradiar luz, o que a permitia ver o que estava um pouco à frente. Ela vislumbrou três silhuetas, meio receosa deu alguns passos na direção, as silhuetas eram humanas e quando pôde se aproximar mais percebeu que eram Pedro, Susana e Edmundo.

– Pedro? Susana? Edmundo? – Ela chamou os irmãos.

Havia algo de errado com eles, pareciam estátuas de olhos petrificados, sem expressão ou qualquer reação em resposta ao chamado da irmã. Não a encaravam, não pareciam encarar nada.

– Lúcia. – De repente uma voz soou, era distante, rouca, assustadora.

– Quem está ai? – Ela se virou rapidamente.

Encarou todos os lados, mas não podia ver nada claramente, as trevas a rodeavam e dificultavam uma visão melhor. Os irmãos continuavam congelados da mesma forma.

– Lúcia. – A voz voltou a repetir, parecia caçoar dela.

– Quem está ai? Saía de onde estiver. – Ela não conseguiu controlar sua voz, que saiu trêmula.

– Ah, você não vai querer me ver. – A voz disse em tom sombrio.

– Quem é você? – Ela perguntou encarando as trevas.

– Anda muito curiosa. – A voz disse e algo se moveu na escuridão que a cercava.

– O que você quer? – Ela perguntou assustada.

– Você logo saberá. – A voz disse mais próxima.

Lúcia acordou sobressaltada, puxando o ar em arfadas, sentia-se como se tivesse ficado um longo tempo submersa e só agora voltasse para a superfície. Sua camisola de dormir estava grudada ao corpo devido ao suor frio que cobria sua pele. Ela olhou para todos os lados, ainda era madrugada, o quarto estava em penumbras, o que apenas a fazia lembrar-se do pesadelo. Encolheu-se na cama desejando simplesmente esquecê-lo.

Lúcia nunca sentiu tanto medo quanto o que sentiu ao ouvir aquela voz, o sentimento a fez sentir-se sozinha, lembrava-se da imagem dos irmãos congelados, sem expressão, era como se estivessem enfeitiçados ou algo assim.

Devido a exaustão, ela logo voltou a dormir, dessa vez sem mais pesadelos.