A Areia Vermelha escrita por Phantom Lord


Capítulo 7
Capítulo 7, O que dizem os olhos?


Notas iniciais do capítulo

O Capítulo 7 é o último capítulo da primeira parte da fanfic A Areia Vermelha.



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Um coro de vozes entoa o hino quando eu subo as escadas para o palco, seguido por minha neta, que traz entre os braços uma almofada de veludo vermelho encimada por um diadema brilhante de campeão. E por um segundo, eu abandono tudo o que está a minha volta para dar uma boa olhada nela. Está bonita de novo e parece totalmente recuperada. Katniss Everdeen sorri e se levanta. O rapaz loiro ao seu lado faz o mesmo e também cada um dos cidadãos que me encaram. Mas ninguém mais importa a não ser aquela garota.

O sorriso se abre em meu rosto sem dificuldades. É claro que com muitos anos de ensaio, já estou acostumado a fingir satisfação em coroar os campeões dos Jogos Vorazes. Mas especialmente naquela hora sinto algo diferente. Algo como um fogo alimentado por ódio e medo, sentimentos corriqueiros agora que tenho como minha pior rival o tributo mais adorado pelos cidadãos de Panem.

Fecho meus dedos em torno da coroa e pela primeira vez em dias, sinto o interior da minha boca formigar. Uma pequena poça de sangue se forma sob minha língua e eu sou obrigado a continuar sorrindo, indiferente a isso. Eu forço o meio do diadema e ele se parte em dois. Vou até Peeta Mellark e ele sorri gentilmente. Retribuo pensando no quão idiota ele poderia ser. Um alienado por Everdeen. Manipulável. O boneco dela. Coroo o topo da cabeça loira e dou um passo adiante, direto para a fronte de Katniss.

Ela continua sorrindo, mas noto algo em seus olhos. Ela parece temer encarar os meus. Continuo fitando-a enquanto coloco o pedaço de diadema em sua cabeça. Chega o momento em que nossos olhares devem se separar e eu caminho novamente para fora do palco com uma marcha imperiosa.

O que se segue é o de sempre. Pessoas importantes invadem o palco para dar o cumprimento aos campeões enquanto as luzes são apagadas e a multidão de espectadores da Capital se deforma em um aglomerado de pessoas estranhamente caracterizadas.

A Mansão está exuberante. Frésias amarelas e vermelhas foram colocadas em arranjos enormes. Holografias de Katniss e Peeta foram colocadas aqui e ali. O número doze brilha projetado por uma explosão de luz controlada que dá a ilusão de chamas. Me irrito com essa decoração e mando que tudo aquilo seja removido e o decorador, degolado.

Apressadamente assistentes e empregados da mansão começam a remover as flores, holografias e luzes até que os convidados comecem a chegar. E então dezenas de pessoas invadem o meu salão. Música alta é posta e um banquete exuberante é servido. Mas os campeões ainda não chegaram.

Eu fico no topo das escadas, segurando uma taça com licor vermelho aguardando pelo momento em que a verei de novo. Vejo os dois, então, de mãos dadas, entrando como um feliz casal de jovens namorados em minha casa e desejo intensamente que o lustre de cristal se desparafuse do teto e esmague o corpo de Katniss Everdeen e...

_ Senhor presidente! Ah, como é bom, como é bom!_ explode alguém no meu ouvido. É uma mulher estranha com peruca vermelha que comenta emocionada sobre o romance fajuto dos campeões do doze.

Eu sorrio e respondo qualquer coisa que me vem a cabeça, mas meus pensamentos ainda estão voltados para ela. Katniss desconhece o que a aguarda em casa. Eu estarei vigiando. O programa de vigilância já foi iniciado e meus olhos estão postos em sua família e amigos.

Gale Hawthorne é um nome que fiz questão de decorar. Ele parece próximo demais à família Everdeen e visita a mãe e a pequena Primrose costumadoramente. Procuro nos arquivos da Capital por qualquer parentesco ou laço sanguíneo entre as duas famílias, mas me sinto mais empolgado em descobrir que não existe nada disso. Há algo mais que devo descobrir, me apossar da vida dos distritais do número 12 e chegar ao fundo de tudo para acabar logo com isso. Estou exausto de noites de sono perdidas com pesadelos em que Katniss Erverdeen é a nova presidente de Panem. Parece ridículo pensar isso, mas é exatamente o que ela deseja. Eu vejo em seus olhos falsamente inocentes.

Por diversas vezes, o olhar de Katniss passa rapidamente por mim e se vai na mesma velocidade. Ela sorri quando o faz, mas parece um pouco preocupada demais, o que me faz pensar na possibilidade de que ela não tenha se tornado uma inimiga tão preparada o quanto imaginei. Bem, se ela tem medo, poderei usar isso em meu favor.

A noite deixa a Capital e os raios de sol clareiam o horizonte. A festa para os vitoriosos termina e sinto o ar pesar bem menos agora que minha mansão está vazia. Durante a madrugada, eu me tranquei em um dos quartos de hóspedes e passei muito tempo cuspindo sangue na pia de mármore negro do banheiro. Agora é cada vez mais frequente desde que Katniss Everdeen entrou em meu caminho.

Mas sinto um ponto positivo nisso tudo. Quando eu vencer e eu irei vencer, minha rosa branca se garantirá como o meu triunfo inabalável. E é pensando nisso e em seus olhares de evidente temor na minha direção que começo a gargalhar enquanto algumas gotas de sangue respingam no chão impecável do banheiro. Ainda assim não paro. Na verdade, nada me fará parar agora que Everdeen finalmente voltou para casa e pensa se sentir segura lá. Mas meu programa de vigilância ainda está ligado e eu tenho meus olhos sobre a vida dela sempre que eu desejar.

A garota em chamas é apenas um pássaro, preso em uma gaiola. Cercado pelo próprio incêndio que ela própria iniciou. Ela representa um risco. Ela precisa ser eliminada. Talvez não da maneira que eu queira, mas de modo que ela seja silenciada e todo esse sentimento de revolução que despertou se dissipe.

Olho-me no espelho e desengancho a rosa branca da minha lapela. Depois de suspirar e ver uma gota vermelha escorrer dos meus lábios e pingar sobre ela, digo como se pudesse me compreender.

_ Que acha de tomarmos chá com a Srta. Everdeen?


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