A Areia Vermelha escrita por Phantom Lord


Capítulo 6
Capítulo 6, O Veredicto




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O sorriso já está moldado em meu rosto. Restam apenas dois. Peeta Mellark e Katniss Everdeen se olham enquanto a voz de Templesmith troveja dentro da arena, anunciando que as regras foram mudadas novamente. Aquilo significa o fim da menina ou do rapaz. Mas significa também o fim de um ridículo relacionamento ensaiado que atrai a atenção de tantas pessoas. Se Peeta matar Katniss, ela será silenciada e o nosso controle sobre a situação é retomado. Mas se Katniss matar Peeta, todos verão o quanto ela é egoísta a ponto de matar o "amor de sua vida". Assim, os revolucionários descobririam que ela não é diferente de nós e a odiariam tanto que seus corações clamariam mais pela morte dela do que pelo fim do meu governo.

"Ha, ha, ha!" sou obrigado a rir quando vejo a cara dela torcida na expressão mais desgostosa que já vi. Me pergunto como ela se sente, agora que sabe que seus planos desmoronaram. Estou orgulhoso de Seneca, mas principalmente de mim. A rosa branca floresce outra vez e arruína a flor Everdeen.

Segundos se passam até que me dou conta. As mãos de Katniss e de Peeta Mellark se tornam conchas que abrigam algo que ela despeja rapidamente. A câmera dá um close na cena e vejo minúsculas frutinhas brilhando como pérolas negras. Meu pulmão se enche de ar lentamente enquanto eu percebo a intenção dela.

_ Ela quer que eles se matem!_ berro para Seneca pelo projetor holográfico. Ele está na sala de regência eletrônica da arena._ Impeça! Impeça agora!

Mas Seneca Crane está boquiaberto, me encarando com a cara mais indignada do mundo. Ele não tem ideia do que fazer e eu simplesmente o odeio, estou esmurrando a mesa do meu gabinete furiosamente, jogando objetos no ar e berrando palavrões. Eu anseio ardentemente por uma decisão, um movimento de Seneca que impeça Katniss e Peeta de comerem as amoras cadeado, mas eles já a levam à boca.

Finalmente, o gamemaker se move rapidamente na direção de Claudius Templesmith e sussurra algo para ele. A imagem dos dois estremece na holografia, mas a voz de Claudius ecoa tão claramente como se ele estivesse diante de mim.

_ PAREM! PAREEM! Damas e cavalheiros, tenho o prazer de apresentar os vencedores do septuagésimo quarto Jogos Vorazes, Katniss Everdeen e Peeta Mellark!Os tributos do Distrito doze!

Ele fez isso. Ele simplesmente fez isso, talvez pensando que fosse a coisa mais inteligente a fazer. Eu desligo o projetor holográfico, me levanto depois de meu acesso de fúria e abandono meu gabinete, deixando o televisor ligado enquanto o hino de Panem ruge gloriosamente.

No dia seguinte, recebo uma massa de notícias que pela primeira vez me deixa confuso. Os tributos do distrito doze, campeões desta edição dos Jogos Vorazes, se recuperam bem. Mas a atitude de Katniss Everdeen despertou uma revolução em alguns distritos que agora enviam ameaças à Capital. E por fim, Seneca foi pego tentando fugir da cidade, por trilhas paralelas à Estrada Principal e agora está sendo trazido de volta para mim.

Ainda estou contaminado por um ódio que queima minhas entranhas ao pensar no estúpido Crane. Começo a pensar na forma mais cruel de arrancar a vida de seu corpo inútil, mas pela primeira vez em tempos, tenho um pouco de misericórdia e decido matá-lo da forma tradicional. Envenenamento.

Penso em dar a ele um pouco do meu veneno de rosas, mas afinal de contas, Seneca não é meu inimigo. Ele só é patético demais e não merece o que dei a ele, aqui na Capital. Então eu me lembro do punhado de bagas nas mãos de Everdeen e Mellark.

O relógio do gabinete estala na parede, enquanto eu lentamente sou devorado por uma crise silenciosa. Penso no que está por vir. Como darei segmento aos meus planos. Eu sei que preciso desviar a atenção de todos, principalmente da Capital, que parece sentir que algo sombrio está acontecendo. Decido que devo espichar as pernas e caminhar até o meu jardim, pois o cheiro das flores clareia minha mente.

Meus maus pensamentos são imediatamente afastados quando eu sinto o perfume do jardim. Me surpreendo com o efeito que este lugar tem sobre mim, mas que desta vez dura pouquíssimo porque um soldado da Capital o invade para dizer que Seneca Crane está pronto para o julgamento.

Não é uma cerimônia muito longa. Obviamente, todos já sabiam que Seneca morreria, mas os costumes mandam que a leitura do veredicto seja feita. Um homem é designado para ler a condenação e eu imediatamente me lembro dele.

Este homem é grande e veste roupas comuns, porque preferiu não aderir a excentricidade da Capital aos seus costumes. Me lembro que certa vez, na festa que sucedeu o minha vitória sobre o suposto conspirador que me envenenou, eu suspeitei deste homem enquanto ele comentava comigo sobre a rosa em minha lapela e lembrei a mim mesmo de investigá-lo. O que descobri é que apesar de ser um homem da Capital, ele é estudado e muito inteligente, conhecedor da história que antecede a formação de Panem. Seu nome é Plutarco Heavensbee.

Plutarco lê o veredicto com seu costumeiro tom de ponderação. Eu começo a apreciá-lo desde então. Conheço algo a respeito dele, desde que o considerei como um possível conspirador. Como não descobri nada de que eu pudesse desconfiar, deixei-o no esquecimento. Mas ele parece ser mais do que eu poderia imaginar. Agora ele é um importante auxiliar da Capital e me parece alguém digno de um pouco da minha confiança.

Depois do exaustivo tempo ouvindo a sentença, o direito de última palavra é concedido à Seneca. Ele olha para mim, abre a boca para dizer qualquer coisa mais não consigo tolerar sua voz.

_ Cale-se, Seneca, e aceite a morte com o pouco de coragem que lhe restou.

Ele consente com um aceno e depois é conduzido para a Sala de Execuções por dois soldados. O telão da Sala de Julgamento estala e nos dá a visão de uma sala ampla com uma pequena mesa no centro, onde está uma tigela de cristal com frutinhas negras. Vemos Seneca passar pela porta, andando vagarosamente. Ele espia a tigela com certa relutância, olha para a frente, direto para a lente da câmera que o filma e é como se ele me encarasse. Seus olhos estão faiscando.

Ele pega as amoras cadeado, fazendo uma concha com as mãos, exatamente como Katniss Everdeen fez. Ele as leva à boca e fecha os olhos. O pomo de adão em sua garganta se move quando ele as engole. E por alguns poucos segundos, ele está imóvel e calado, com os olhos ainda fechados.

E então desliza para o chão com um baque alto. Morto.


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Notas finais do capítulo

Nota: A morte de Seneca Crane não foi descrita ou revelada no livro. Na adaptação para os cinemas, Seneca come amoras cadeado. Eu decidi fazer, nesta fanfic, como aconteceu no filme, embora Katniss tenha sugerido, no segundo livro, que Seneca possa ter morrido enforcado ao pendurar um boneco dele no dia de sua avaliação pelos patrocinadores.



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