Sob o Brilho da Lua escrita por Bia Kishi


Capítulo 8
Capítulo 8 - Outros Segredos


Notas iniciais do capítulo

Eu me sentia imprestável, não havia nada que eu pudesse fazer para que meu vampiro se sentisse um pouco menos monstro. Ela não conseguia separar o monstro do garoto maravilhoso que ele era, e eu não conseguia entender.
Sentimentos de dor e raiva inundavam meu coração, um misto de tristeza e indignação. Eu queria ir até lá e socar a cara dela, mas entendia que ela também estava triste.



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A garota mexeu-se entre os corpos, quebrando o encanto. Eu não poderia deixá-la lá, largada a própria sorte. Caminhei até ela, Damon ao meu lado.

            - Não acredito! É a irmã de Matt!

            - Ótimo, eu matei a irmã do seu humanozinho!

            - Damon ela não está morta.

            - Vai estar em breve!

            - Damon. Não podemos deixá-la aí sozinha, para morrer. Temos que salvá-la.

            - O que quer que eu faça, leva-a para casa conosco?

            - É claro!

            Damon me olhou com incredulidade, mesmo assim, jogou Vicki nos ombros levou-a para a pensão. Eu os deixei na porta e sai para procurar por Stefan. Ele estava próximo a casa de Elena, vigiando-a dormir. Confesso que senti uma pontinha de inveja de Elena, Stefan era tão dedicado. Sentei-me ao seu lado.

            - Damon se alimentou.

            - Eu sei, ele ligou para mim.

            - Ele mordeu a irmã do Matt.

            - Ayllin, você deve se afastar dele, Damon nunca vai mudar, ele é terrível, não te merece.

            - Estou cuidando disso.

            Ficamos ali, até o dia começar a nascer, sem o anel, Damon era inofensivo durante o dia. Quando voltamos para a pensão, eu evitei procurar por Damon, entrei pela janela, direto para o quarto de Stefan – evitá-lo naquele momento era o mais sensato.

            Quando Elena ligou para Stefan, eu fiquei sozinha novamente. Não queria atrapalhar uma possível reconciliação, mas também não estava em condições de ficar sozinha.

            Desci as escadas e encontrei Vicki no sofá, sugando o sangue do braço de Damon. Aquilo me enojava. Tentei passar despercebida pela sala e evitar aquela cena patética, mas não consegui.

            - Onde está o meu anel?

            - Bom dia para você também, patético ser das trevas!

            Damon deixou a garota no sofá e parou em minha frente.

            - Não estou muito bem humorado e preciso do meu anel!

- Por mim, pode se tostar tentando sair lá fora, eu não me importo. Pensando bem, me faria um favor!

- Se me deixar aqui e sair, eu vou ficar com a garota.

- Faça o que quiser, eu não me importo. Tenho coisas mais importantes para resolver.

Ignorei a presença dele e saí pela porta, Damon ainda esbravejou um pouco através das janelas. Enquanto o sol brilhasse, o mundo estaria seguro, pelo menos por um tempo.

            Pela ligação que eu tinha com Stefan, senti a tristeza e a dor em seu coração. Eu queria estar perto dele, eu sempre queria estar perto dele. Transformei-me em anjo e fui até os escombros da antiga propriedade dos Salvatore – Stefan estava lá. Continuei invisível, apenas ao lado dele, enquanto ele contava sua triste história para Elena.

Não sei se ele demorou para me perceber, ou se apenas não quis dividir minha presença com Elena, mas ele continuou conversando com ela, como se eu não estivesse lá – eu permaneci invisível. Em um momento da conversa, Elena perguntou sobre mim, perguntou quem eu era, e Stefan me chamou:

- Ayllin?

Eu hesitei por um momento. Não sabia se era mesmo uma boa idéia eu aparecer assim. Ele insistiu:

- Por favor Ayllin. Deixe que Elena a veja.

Ele pediu tão docemente, tão sinceramente, que eu não consegui recusar. Embora fosse errado deixar que um mortal me visse como eu era, eu já havia cometido mesmo tantos erros, mais um não iria matar!

- Oi!

Eu apareci para Elena, exatamente como eu era. A garota ficou ainda mais assustada do que quando soube que Stefan era um vampiro. Acho que as asas foram o golpe de misericórdia. A verdade é que ninguém está preparado para a verdade, ninguém quer saber o que é real e o que é fantasia. As pessoas querem apenas o que podem controlar.

- Vo... você é um... um...

- Anjo?

Eu a ajudei. As palavras pareciam não querer sair de sua boca. Ela olhava para mim com as mãos sobre a boca e os olhos arregalados. Eu me aproximei e toquei suas mãos com as minhas. Ela não recuou, mas tremeu.

- Tudo bem, eu sou mesmo um anjo. Não vou te machucar, pode ficar tranqüila.

Elena relaxou um pouco, o que mostrava que estava acreditando em mim.

- Porque está aqui?

- Eu sou um meio anjo, Elena. Meu pai era um vampiro. Eu vim por isso, queria entendê-lo melhor – eu menti um pouco, mas esconder o motivo real de minha vinda a terra era necessário para preservar Stefan.

- Quem é o seu pai?

- Eu não sei. Não o conheci. Quando minha mãe se foi, Miguel, um anjo maior, me levou para ser criada ao lado dele. Eu nunca soube nada a respeito do meu pai.

- E porque está aqui? Quero dizer, porque está com Stefan?

- Porque Stefan tem uma alma pura.

Elena abaixou a cabeça. No fundo, ela sabia disso também.

Eu deixei que os dois conversassem mais um pouco, á sós desta vez. Existiam coisas na vida de Stefan, segredos sobre Katherine que ele não queria dividir comigo. Embora eu soubesse bem mais da história dela do que ele imaginava, eu não queria pressioná-lo, não agora, ele não merecia.

Voltei para a pensão, algumas horas mais tarde e encontrei Vicki no chão – Damon a havia matado. E morrer na situação da garota, significava bem mais do que perder a vida, significava ganhar a eternidade. Ele havia transformado Vicki em vampira. Olhei para os olhos dele, escuros e sem sentimentos, e me senti ainda pior.

- Porque você fez isso, Damon?

- Eu avisei a você. Eu disse que se me deixasse sozinho eu ficaria com ela. Você disse que era problema meu.

- Não coloque a culpa de seus erros nos outros, Damon Salvatore!

Ele veio para perto e tentou me tocar, eu não permiti. Eu não permitiria mais, eu não o queria mais perto.

- Chega! Chega dos seus joguinhos, ouviu? Chega!

- Onde está o meu anel?

- Criatura patética!

Eu dei as costas para ele e subi. Mesmo estando no quarto, eu ouvi quando Vicki acordou e saiu. Ela estava transtornada.

Eu sabia exatamente para onde ela iria, e fui também. Desci as escadas e encontrei Damon no corredor.

- Onde está indo?

- Mais uma vez, garoto, mais uma vez, alguém terá que resolver seus problemas! Olhe para você, Damon, veja o que se tornou. Pelo menos uma vez, tente agir como o irmão mais velho.

 Damon tentou argumentar, eu não fiquei para ouvir. Eu não queria nenhuma explicação. Quando cheguei à casa de Elena, encontrei Matt descendo do mustang. Ele correu até mim e me abraçou.

- Não sei mais o que fazer.

- Apenas a ame, como você tem feito.

Matt deixou escapar um pequeno sorriso, um que iluminou seus olhos azuis.

Eu o acompanhei até a cozinha, onde Vicki estava. Ela não quis escutar, não quis que ninguém a ajudasse, nem mesmo o irmão. Saiu correndo para a floresta e desapareceu. Stefan foi atrás dela, e eu fiquei com Matt. Ele estava triste e eu o queria confortar.

            Matt e eu saímos para procurá-la também, embora eu tivesse certeza de que Stefan tinha muito mais chances de sucesso.

            Enquanto caminhávamos, fui tentando acalmar Matt. Nós andamos por mais ou menos quatro quarteirões, quando a dor me atingiu. Forte, era como se eu mesma tivesse sido ferida no lugar dele. Levei a mão ao meu peito e senti uma tontura grande e poderosa. Matt me apoiou.

            - Stefan!

            Eu deixei escapar o nome dele.

            - O que foi? Aconteceu algo?

            - Eu preciso vê-lo, eu preciso.

            Recuperei-me do susto e saí correndo, Matt tentou me alcançar, mas eu não deixei. Eu sabia que algo havia ferido Stefan, e não sabia direito o quando. Eu precisava encontrá-lo, precisava ajudá-lo.

            Eu corri desesperada em meio á floresta do antigo cemitério, guiada apenas pela sensação que fluía de Stefan para mim. Não foi difícil encontrá-lo, quando a dor se tornou insuportável, eu o achei.

            Ele estava no chão, caído, a camisa suja de sangue na altura do peito. Ele não conseguia se levantar, não conseguia nem ao menos se mexer. O homem que havia atirado estava ao seu lado, com a arma ainda apontada para ele. Fiquei parada, olhando para ele. Eu também não conseguia me mexer, eu estava em choque. Foi quando senti as mãos de Damon em meus ombros. Ele passou por mim e sorriu, eu não sabia o que sentir.

            Damon foi até o homem e o mordeu, drenando seu sangue e o matando. Eu não concordava com isso, e sem dúvida era errado matar alguém, mas naquela situação, eu não senti pena. Algo em mim estava feliz por Damon estar lá, algo em mim não permitiria que aquele homem machucasse Stefan. E ainda existia uma parte que estava mais que feliz, estava orgulhosa. Damon havia me escutado, e agido finalmente, como o irmão mais velho.

Ele enfiou o dedo na ferida do peito de Stefan e retirou a bala, uma bala de madeira. Isto significava algo terrível – a cidade de Fell Church sabia da verdade.

            Depois que Damon retirou a bala, nós três voltamos os olhos para Vicki, ela estava debruçada sobre o homem, sugando o que lhe restava de sangue. Não havia mais o que fazer, Vicki se tornaria uma vampira.

            Stefan devolveu o anel de Damon e nos ajudou a levar Vicki para a pensão. Damon ficou com ela, enquanto Stefan foi falar com Elena. Eu caminhei pela cidade, o pensamento em Stefan. Ele estava triste e eu sentia a mesma tristeza.

            Elena não conseguiu perdoá-lo. Ela ainda não conseguia entender muitas coisas. Ele estava sofrendo, muito. E eu também.

            Voltei para a pensão e me sentei no peitoral da janela. Aquele era o lugar onde eu ficava, quando queria pensar. Eu me sentia imprestável, não havia nada que eu pudesse fazer para que meu vampiro se sentisse um pouco menos monstro. Ela não conseguia separar o monstro do garoto maravilhoso que ele era, e eu não conseguia entender.

            Sentimentos de dor e raiva inundavam meu coração, um misto de tristeza e indignação. Eu queria ir até lá e socar a cara dela, mas entendia que ela também estava triste.

            Fechei os olhos e senti uma lágrima quente descer pelo meu rosto, mas ela não chegou até o queixo, alguém a secou antes. Duas mãos grandes e gentis, mãos quentes e delicadas seguraram meu rosto entre elas. Era ele, meu monstro, meu Damon.

            Ele se sentou ao meu lado, e eu deixei minha cabeça cair em seu peito. Damon afagou os meus cabelos delicadamente e beijou o topo de minha cabeça.

            - Você está chorando por ele, não é?

            Levantei meus olhos molhados e encarei aqueles lindos e profundos olhos cor de esmeralda. Dentro deles, não havia nenhum vestígio do monstro que morava lá. Era só Damon, apenas ele, meu doce Damon.

            - Eu não consigo vê-lo triste assim – Eu disse mais para mim mesma, do que para ele.

            - Eu sei.

            Damon beijou meu rosto delicadamente, secando o que ainda havia de lágrimas com sua boca suave. Em seguida deixou que seus lábios encontrassem os meus, num delicado toque. Eu não disse nada, ele também não. Eu apenas o abracei, aconchegando meu corpo contra o dele. Damon sussurrou no meu ouvido:

            - Também não poso vê-lo assim, vamos dar um jeito.

            E eu acreditei. Tudo sempre fazia sentido, quando meus olhos se perdiam nos seus.


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