Sob o Brilho da Lua escrita por Bia Kishi


Capítulo 7
Capítulo 7 - Segredos Revelados


Notas iniciais do capítulo

Damon beijou minha testa e afagou meus cabelos, talvez aquela fosse a maneira dele de pedir desculpas. Eu nem sempre entendia as atitudes dele, mas nem sempre entendia as minhas também.



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            Quando parei na porta da lanchonete do centro, onde meus amigos provavelmente estariam todos reunidos; dei uma endireitada no corpo, ajustando minha postura. Passei as mãos pelos cabelos, deixando-os cair sobre meus ombros nus. Naquele momento, depois de quase perder a cabeça com Damon, a última coisa que eu conseguia, era me sentir um anjo.

            Matt estava na mesa de sinuca, jogando com alguns amigos. Meus olhos o focalizaram, ele estava especialmente bonito, de calça jeans e camiseta azul. Os braços fortes, as costas largas. Seus olhos ainda mais azuis, refletidos pela camiseta, seu sorriso puro nos lábios. Eu gostava da presença dele, e sabia que ele gostava de mim, por um momento, deixei que meus instintos – que eu sempre reprimi – me guiassem até ele, eu precisava caçar. Passei por entre as mesas, ignorando as pessoas sentadas, eu não via nada além de meu alvo.

            Aproximei-me dele e sorri, Matt retribuiu. Antes que ele pudesse dizer alguma coisa, joguei meus braços em volta de seu pescoço e o puxei para mim. Matt cedeu, encontrando minha boca, então, ele me beijou. Um beijo de verdade, um beijo molhado. Ele explorava minha boca com a língua, enquanto suas mãos tocavam minha pele.

            Depois de quase perder a cabeça – e a respiração – eu separei minha boca da dele, e ele olhos em meus olhos, assustado.

-          Puxa! Ayllin, eu não sei o que dizer.

-          Então não diga nada.

Eu o abracei, e deixei meu rosto cair em seu ombro. Eu me sentia culpada. Matt havia sido minha válvula de escape, e isto não era algo justo. Por outro lado, beijá-lo havia sido interessante; não porque eu pude esquecer Damon por alguns minutos – e eu o havia esquecido, sem dúvida – mas porque eu gostava de Matt.

Matt me despertou de minha discussão interna, quando beijou minha testa. Ele era um bom garoto e me fez sentir ainda mais estranha e culpada.

Eu me sentei em uma cadeira numa mesa vazia, enquanto ele terminava o jogo. Stefan veio e sentou-se comigo.

-          Por favor, não me pergunte nada!

Stefan tentou parecer sério, mas um sorriso escapou do canto de seus lábios.

-          E principalmente, não ria de mim!

-          Desculpe.

-          E não me olhe com esse ar de “eu entendo” que isto é ainda mais irritante!

-          Bom, para um anjo, seu dia foi bem interessante.

Eu estreitei os olhos e o encarei com sarcasmo.

-          Você nem imagina!

Stefan se levantou e antes de voltar para sua própria mesa, me encarou bem de perto.

-          Eu não imagino, eu sei.

Aquela afirmação ficou martelando meus pensamentos até que Matt sentou-se ao meu lado. Ele estava sorrindo.

-          Será que o fato de eu ter ganhado o jogo, me dá o direito de ganhar mais um beijo?

Fiquei pensando por um minuto se Miguel aprovaria a idéia de eu beijar um humano – será que era isso que ele queria dizer quando me pediu que parasse de fugir de mim mesma? Bem, eu queria beijar o garoto, eu havia gostado da experiência – Ah, que se dane!

Puxei o rosto de Matt para o meu e o beijei. Seu gosto era bom, ele era suave e delicado. Beija-lo me acalmava, mesmo sem as fagulhas, era bom.

Eu e Matt ficamos na mesa por alguns minutos, de repente todos começaram a olhar o “novo casal” e então, nós saímos.

Eu estava dirigindo, portanto, Matt não poderia me oferecer uma canora, o que fez a despedida acontecer ali mesmo no estacionamento.

Entrei em meu carro e antes que pudesse virar a chave, Stefan entrou pela porta do carona.

-          Prometo que não vou perguntar nada.

-          Ótimo, porque eu não pretendo responder.

-          Gostei do seu estilo mais, como poderia dizer? agressivo.

-          Stefan Salvatore, você prometeu!

-          Ok desculpe, é que foi irresistível.

-          Engraçadinho!

Chegamos rápido o suficiente na pensão, para que Stefan não tivesse mesmo tempo para puxar mais nenhum tipo de assunto.

Subi para o quarto o mais rápido que pude. Eu queria deitar na cama e esquecer o dia que tive.

Entrei no quarto e fechei a porta. Tirei a roupa e entrei no chuveiro. Desta vez, um banho rápido bastou. Coloquei meu pijama de carneirinhos e tentei apenas fechar os olhos e deixar o sono me dominar.

Mais ou menos as três da madrugada, percebi que não daria certo e me levantei. As luzes do quarto de Stefan ainda estavam acesas, então bati na porta.

            - Sem sono?

            - Total.

            - Entra.

            Eu me sentei na cama e Stefan se deitou ao meu lado, cruzando as pernas.

            - Não sei bem o que fiz hoje, Stefan, acho que me precipitei.

            Stefan me abraçou, puxando meu corpo para perto do seu.

            - Somos dois, então. Acho que perdi Elena.

            - Como assim?

- Tentei conversar com ela, mas é difícil quando se tem algo tão grande a esconder. Nós brigamos novamente.

- Stefan, se ela o amar de verdade, vai entender.

Stefan encostou a cabeça em meu colo e eu afaguei seu cabelo delicadamente. Eu odiava vê-lo triste. Ele a amava tanto que nada que eu fizesse melhoraria sua dor.

            - O que você fez de tão ruim? Porque sinceramente, beijar o Matt não é nada demais.

            - Eu e o Damon, bem... eu... eu...

            Respirei fundo mais uma vez, Stefan com os olhos grudados em mim.

            - Eu fiquei com Damon, Stefan.

            - Ficou? Como assim?

            - Por favor, não me peça detalhes, estou tentando deletar tudo da minha mente!

            Stefan sorriu e balançou a cabeça, se ele não podia acreditar na bobagem que eu havia feito, menos ainda eu. Fiquei pensando o que meu protetor pensaria de uma cena como a que tive com Damon dentro daquela cela, minhas bochechas se ruborizaram no mesmo instante.

            Acabei cochilando na cama de Stefan e quando acordei sai sem que ele percebesse. Juro que tentei ir direto para o meu quarto, mas não pude, a voz de Damon me chamava de uma maneira que eu não conseguia ignorar.

            Desci as escadas até o subsolo, e olhei dentro da cela. Damon estava sentado no chão. Quando me viu, levantou-se rapidamente e encostou o rosto na grade.

            - Se divertiu com seu humanozinho estúpido?

            Assim que as palavras entraram, a raiva se manifestou. Raiva e um pouco de dúvida – como ele sabia?

            - O suficiente.

            Damon colocou a mão para fora, tocando em meu rosto. Ele estava quente, como sempre.

            - Duvido que tenha sido melhor do que comigo.

            Seus olhos profundos me encaravam, impedindo que eu mentisse.

            - Foi diferente.

            - Diferente não quer dizer melhor.

            - Não quer dizer pior também, Damon!

- ok, divirta-se como mortal, eu não me importo! No fundo você sabe que será sempre minha.

- Seu ridículo!

Subi as escadas correndo, mesmo assim, ainda consegui ouvir aquela risadinha estúpida dele.

Quando amanheceu Stefan apareceu em meu quarto com cara de sono. Eu estava sentada na beirada da janela, com os olhos fechados e a cabeça baixa.

- Noite difícil?

- Você nem imagina.

- Eu vou dar uma volta, preciso esconder o anel de Damon.

- Importa-se se eu ficar? Tenho alguns assuntos pessoais para resolver.

- Tudo bem, já sei onde ir.

Stefan saiu logo em seguida. Eu fiquei lá por amais alguns minutos, sentindo o calor do sol em minha pele. Percebi que o calor já não me irritava tanto e isto me deixou pensativa. Será que eu estava me deixando levar pela metade ruim? E se eu estava, porque ninguém vinha me socorrer?

Como fiquei sozinha, aproveitei para dar uma saída e conversar com Matt. Eu precisava entender melhor o que havia acontecido para poder explicar ao garoto também. Então dirigi até o velho cemitério e sentei-me na ponte de sempre. Deixei que os pensamentos se acertassem em minha mente e percebi o quanto estava confusa. Eu gostava do que sentia com Matt, ele me fazia sentir normal, nada de céu ou inferno, apenas uma garota. Quando estava com Matt, eu me sentia menos culpada e esta era sem dúvida uma sensação maravilhosa. Fiquei ali até o entardecer, quando a noite começou a cair, resolvi encarar o problema.

Entrei no carro e dirigi até a casa dos Donavan. Matt estava recolhendo folhas secas do jardim, e tenho que confessar que estava simplesmente maravilhoso.

Eu desci e caminhei até ele. Matt me beijou, com suavidade, um beijo quase de amigo.

            - Matt – eu disse com os olhos baixos – acho que precisamos conversar.

            Ele segurou em minha mão e me levou até um banco na varanda da casa branca, em que ele morava com Vich.

- Ayllin, não se preocupe, eu estou ótimo. Foi muito legal o que aconteceu ontem, mas eu não sou bobo, sei que você é uma garota, digamos, diferente.

            Eu fiquei com cara de boba, olhando o garoto louro falar comigo como se eu fosse uma colegial.

            - Matt eu, não vou ficar muito tempo por aqui.

            - Eu sei. E sei também que você não pretende me namorar ou coisa do tipo.

            Nossa ele estava tirando um peso imenso das minhas costas. Eu não tinha idéia de como ia falar tudo aquilo para ele. Eu tinha razão, Matt era mesmo especial.

            Eu o abracei com todo o carinho. Ele retribuiu tocando seus lábios nos meus.

            - Você sabe que é muito especial para mim, não sabe? Eu disse.

            - Sei! Matt respondeu com um sorriso.

            - Amigos?

            - Sempre.

            Eu me levantei do banco e caminhei pelo passeio, de volta ao carro. Parei encostada no capô e olhei para Matt novamente. Senti um aperto egoísta no peito, eu gostava de estar com ele – acho que Híade sempre teve razão quanto a relacionamentos – eu sentia falta de ter alguém. Não alguém que me tirasse do eixo, como Damon, mas alguém com quem compartilhar momentos. Alguém com quem eu não perdesse o controle de minhas ações.

            Matt sorriu para mim e se aproximou. Seus olhos claros sob a luz do sol, o sorriso doce e cintilante nos lábios. Ele parou, colocando as mãos sobre meu carro e tocando meu nariz com a ponta do seu – senti minha respiração acelerar.

- Mesmo sendo amigos, eu vou adorar ganhar outro beijo como aquele de ontem. Quando quiser repetir a dose, eu estou aqui.

            Eu sorri, meio sem jeito e tentei entrar no carro, Matt segurou minha mão e encostou seu corpo no meu.

- É serio! Se quiser, um amigo um pouco mais especial, eu estou aqui. Sem cobranças, nem explicações e principalmente, sem depois.

Sabia que era egoísmo da minha parte e que isso era péssimo em se tratando de um anjo, mas eu gostei. Gostei de saber que Matt entendeu muito mais do que eu pensava, gostei de saber que não precisaria abrir mão de nada. Matt funcionava para mim como uma âncora com o mundo humano, com minha humanidade. Enquanto Damon significava os laços que eu queria romper.  

Voltei para a pensão disposta a conversar com Stefan sobre o acontecido na casa de Matt, eu gostava dos conselhos de meu amigo vampiro. Quando passei pela porta, percebi que tudo que eu pensava a respeito de Damon era pouco – ele era, sem dúvida um monstro manipulador terrível.

Stefan estava com o corpo de Zach nas mãos, Damon o havia matado. Olhei para a cela vazia e percebi que nada poderia deter Damon – ele havia fugido.

- Stefan, como aconteceu?

- Caroline.

Fechei os olhos - ele a havia usado novamente. Eu não sabia se tinha mais raiva ou ciúme. Raiva em saber que ele havia usado a pobre garota para mais um de seus joguinhos, e ciúme porque ela havia aceitado.

Toquei minhas mãos no corpo sem vida de Zach, ele merecia ter descanso e eu o mandaria para o lugar merecido – o paraíso.

Olhei para Stefan, ele estava preocupado com Damon a solta novamente.

- Vamos dar um jeito em tudo. Eu vou te ajudar.

Stefan cravou os olhos em mim, ele queria acreditar em mim, mas meus olhos não davam segurança a ele – eu estava com medo de fracassar e ele sentia isso.

Antes que pudéssemos fixar os pensamentos, a campainha tocou. Nós dois corremos para a porta – Elena estava lá.

Ela encarou Stefan, ignorado minha presença e fez a pergunta fatal:

            - O que é você?

            Stefan tentou se esquivar, ela não permitiu. Ele era impulsiva e determinada, e para estar ali, daquela maneira, ela já tinha a resposta. Stefan apenas confirmou suas suspeitas.

            - Sou um vampiro!

            Naquele momento eu percebi que estava sobrando e tentei voltar para dentro da pensão. Quando me virei para a porta, Elena falou comigo:

            - Você é uma vampira também?

            Eu olhei para Stefan, não sabia o que dizer. Eu não sabia se devia ser sincera ou se devia inventar alguma coisa. Meus olhos pediam “por favor me salve” e Stefan entendeu.

            - Não Ayllin não é um vampiro.

            - Então ela sabia da verdade?

            - Elena, ela é...

            Antes que ele pudesse explicar, a garota entrou no carro e saiu furiosa. Ele obviamente saiu depois dela. E eu é claro, fiquei com cara de boba sem saber o que dizer.

            Sai pela cidade – eu precisava encontrar Damon antes que ele pudesse ferir alguém.

            Quando encontrei finalmente seu cheiro enjoativo, já era tarde. Damon estava ao lado de cinco corpos drenados e com uma garota nos braços. Eu não pude evitar.

            - Seu monstro!

            Damon limpou a boca suja de sangue e sorriu para mim.

- A culpa é sua também! Vocês me deixaram trancado naquele buraco com fome. Eu precisava dar um jeito.

            - Eu não acredito Damon, não acredito que fez isso.

            Uma lágrima quente desceu dos meus olhos. Eu sentia um peso imenso em meu peito. Dei as costas para ele e entrei novamente no mato, a cabeça baixa e os olhos semi cerrados, até que alguma coisa me segurou. Duas mãos grandes e quentes envolveram meus braços, paralisando o meu corpo. Ele não disse nada, eu também não. Apenas deixei que meu rosto caísse em seu peito e fiquei ali, sentindo aquele cheiro terrivelmente perturbador e irresistível, enquanto as lágrimas desciam por meu rosto, molhando a camisa de Damon.

            Ele era um monstro, mas era o que eu mais desejava perto. Ficar em seus braços era quente e confortável, eu me sentia amparada e segura quando estava com meu monstro. Damon beijou minha testa e afagou meus cabelos, talvez aquela fosse a maneira dele de pedir desculpas. Eu nem sempre entendia as atitudes dele, mas nem sempre entendia as minhas também.


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