Red Ice Klaroline escrita por Jenniffer, Pedro Crows Nest


Capítulo 6
Capítulo 6 - Do you believe in Santa Claus?


Notas iniciais do capítulo

Oi Galera.
Em primeiro lugar quero avisar que o capitulo está enorme de imenso, expressão do latim, grande pra caraleo e espero que vocês não desistam no meio da leitura.

Em segundo quero dizer que, como não podia deixar de ser, esse capitulo é um especial de Natal, e esperamos que gostem já que todos estivemos no clima até dois dias atrás.

Em terceiro queria agradecer todos os comentários de vocês.

Boa leitura! :))



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Capitulo 6 Do you believe in Santa Claus?

– Niklaus.

Calim conhecia Klaus? Bom. Ele sabia o nome dele. Será que ele também era um vampiro? Não. Ele não era. Eu podia sentir o cheiro dele. O cheiro do sangue correndo nas veias. Agora eu estava confusa. Contra todas as expectativas eu fiquei calada vendo a conversa deles se desenvolver como se eu não existisse.

– Calim. – Klaus apertou a mão dele como se fossem amigos de longa data. Ou pelo menos como se Calim fosse alguém que ele respeitasse. Calim tinha que ser um bruxo. Klaus não tem propriamente muito respeito pela raça humana.

– Vejo que você conseguiu se desenvencilhar dos seus planos particulares para essa noite e se juntar a nós para esse show maravilhoso. – Ele percorreu meu corpo com olhar, o que fez com que Klaus ficasse tenso e desse um passo na minha direcção. Calim estranhou o gesto, mas não fez nenhum comentário. Ficamos os tres em silencio, eu s sustentando o olhar de desconfiança de Calim, e aguardando que Klaus esclarece se porque ele estava me tapando como se fosse uma parede.

– Você não pode te la Calim. Lamento. – Klaus segurou no meu braço e começou a me empurrar pra fora com força, deixando Calim ainda mais confuso. Eu estava dificultando, e ele estava me chacoalhando para que eu parasse de agir como uma criança me debatendo e me recusando a ser arrastada.

– Rebekah, eu suponho, disse Calim na direcção de Klaus, como que adivinhando. Alex me falou dela. Agora eu entendo o que ela quis dizer com “uma espécie de adolescente milenar problemática”. Eu lamento ter feito uma proposta pela sua irmã Niklaus, claramente eu não sabia que ela era uma das suas mulheres.

– Ela é.

E nisso Klaus saiu me levando nos ombros como um troglodita, e sendo socado e arranhado em todos os lugares que eu conseguia alcançar. Que absurdo me tratar como uma criança. E dizer que eu era a irmã dele? Que desplante. E ainda estragar uma das melhores propostas de férias que eu teria em séculos? Que ódio. Ele saiu comigo ainda no colo ainda chamando atenção dos que passavam e me jogou dentro do carro como se eu fosse um saco. Eu ameacei sair e ele ameaçou me compelir. Filho da puta.

Eu vi uma mulher se aproximar. Vestida para matar. Ouvi o final da conversa rápida entre eles:

– Trate dela. Eu não quero nenhum escândalo com meu grupo. Eu falarei com Calim.

– Nós já estamos de saída.

– De paris?

– Sim Alex. Eu vou leva la embora.

– Nos vemos na sua cidade então.

– Claro love.

Ela deu um selinho nele e eu me contorci no banco do carro. Em 3 segundos eu estava sendo jogada para dentro do carro de novo, Klaus foi mais rápido e me bloqueou assim que eu abri a porta e fiquei de pé. Ele arrancou a toda a velocidade. E o meu silêncio foi mortal. Aquilo tinha sido a gota dágua. Além dele estar com Alex, ele ainda tinha me escondido dela inventando que eu era a irmã dele. Ele não faria isso se ela não fosse importante. Afinal, Klaus não deve nada a ninguém. Mais uma vez eu tinha a prova de que eu não era tão especial como eu pensava pra ele, eu era apenas mais uma. E aquilo acabava ali.

Chegamos ao hotel, eu permanecia sem dizer uma palavra. Ele já estava menos tenso. Provavelmente a raiva de eu ter acabado estragando os planos dele estava se desvanecendo no silencio e no abismo que eu criei entre nós dois no caminho até ali. Eu fui tomar banho e me vestir e demorei tanto tempo quanto foi possível. Eu desisti de brigar. Eu não queria mais falar sobre a gente, eu não queria ter que explicar como eu estava me sentindo, como ele me fazia sentir. Eu queria que Paris acabasse de uma vez e eu voltasse pra casa, onde tudo é familiar e cómodo. Eu queria tirar de mim aquela sensação de eu estava ligada a um fio solto, e caindo a toda velocidade. Klaus é uma fonte interminável de insegurança e garantia de uma personalidade insuportável e um temperamento difícil. Ele acha que as pessoas deveriam se sentir agradecidas por continuarem existindo depois de passar pela presença dele. Ele acha que ele tem o poder de decidir quem vive e quem morre. Quem luta e quem cai. Quem é útil e quem descartável. Klaus se considera uma espécie de Deus, mas de um jeito ruim. E ele não é assim apenas com pessoas que ele considera inferiores, ele é assim com todo mundo, como se existisse ele, num patamar, e o resto do mundo no outro, e todos devessem se curvar a soberania de sua excelência. Só uma pessoa muito magoada pela vida pode conseguir desenvolver uma personalidade narcisista daquele nível. Eu fico imaginando como foi para ele estar completamente sozinho. O meu pai me abandonou com a minha mãe para viver outra vida ao lado de outro alguém, e eu nunca superei isso devidamente. Ainda hoje eu me pego lembrando de quando eu era pequena e ficava pensando o que eu teria feito de errado para que o meu pai fosse embora. Eu sempre achava que tinha sido culpa minha, que eu não tinha sido uma boa criança. E eu cresci tentando compensar isso, e ser a filha perfeita para a minha mãe, para que ela nunca me abandonasse também. E esse sentimento foi o que definiu minha personalidade, foi com ele que eu cresci, e nada mudará isso. É quem eu sou. Eu sempre dou o meu melhor em tudo, não importa se é algo vital ou dispensável, se eu não fizer tudo que eu puder para que de certo, é como se eu tivesse falhando para com o universo ou algo assim. E eu tenho noção que isso é irracional da minha parte. Ninguém é perfeito e eu nunca serei mas é isso que eu busco internamente. Perfeição. Eu tento provar todos os dias a mim mesma que eu mereço todas as pessoas da minha vida. Eu mereço que elas fiquem, que permaneçam do meu lado, porque eu dou tudo de mim. E se o inconsciente do Klaus funcionar de forma similar… ele é tao danificado que ninguém jamais conseguirá consertar. Eu vejo o que ele faz, ele afasta todos que ele ama, para evitar ser abandonado de novo. Ele abomina a proximidade porque isso o torna vulnerável, e a vulnerabilidade é fraqueza, e fraqueza é garantia de que você vai sofrer. No fundo ele quer o que todos nós queremos, ser feliz. Mas a definição de felicidade dele é ausência de dor. Então ele bane tudo que possa causar isso. E eu não posso dizer que ele esteja errado, no fundo eu entendo. Eu só não posso aceitar. Eu não posso desejar ficar com ele, por mais que eu queira. E eu quero. Eu sinto que nós somos certos um pro outro. O meu corpo sabe, os meus sentidos indicam. É como se as coisas fizessem mais sentido quando eu estou com ele, mesmo isso sendo uma loucura nos meus padroes habituais de vida. Mas por mais que nós sejamos certos, nós somos ruins um pro outro. Eu me estilhaçaria tentando muda lo, tentando fazer com que ele confiasse em mim, tentando quebrar cada tijolo dos muros que ele levanta pro mundo, e eu nunca seria feliz, porque ele é mais forte do que eu. A vivencia dele é mais forte do que a minha. As experiencias dele são mais brutais do que as minhas. A vida dele é mais longa que a minha. E por muito que nós dois quiséssemos e colocássemos todo nosso esforço nisso, estaríamos sempre remando para lados diferentes de um mesmo caminho, sem nunca nos alçarmos realmente. Nós somos as pessoas certas, na época errada. A gente se destruiria aos poucos tentando se acertar. E eu não posso fazer isso comigo mesma. Nem com ele. O que quer que fosse que nós tínhamos, não ia continuar. E no fundo, eu acho que ele também sabia disso. Ele mesmo já tinha mencionado que era a hora errada para eu resolver cobrar as promessas que ele fez. Ele sabia do que estava falando na época, e eu sei do que que ele estava falando agora. Como em tudo. Ele sempre chega primeiro, ele sempre sabe antes, ele sempre se antecipa, afinal ele viveu mil anos e eu só vivi 18. Eu sai do banheiro sorrindo mas de um jeito triste, meu banho interminável tinha chegado ao fim, junto com a conclusão de que eu e Klaus também. Eu não odiava ele, nem queria bani lo da minha vida num estalar de dedos como mágica. Eu só não queria investir. Eu não queria apostar. No fundo eu não queria jogar pra perder. Era mais fácil esperar que o sentimento que me preenchia se desvanecesse com o tempo, do que apostar tudo em algo que não tinha a mínima chance de dar certo. E foi com essa decisão covarde em mente que eu abri a porta do banheiro e encontrei Klaus dormindo.

Eu coloquei meu celular para despertar e deitei na cama. Aquela seria a minha ultima noite em Paris, a minha ultima noite com ele. E eu estava me sentindo carente, mesmo sabendo que eu não tinha esse direito eu deitei bem perto dele, e instintivamente ele me abraçou, como eu calculei que ele ia fazer. Eu me mexi bem pouquinho pra ficar confortável e fiquei viajando nas histórias da minha cabeça, pensando em chegar em Mystic Falls, e voltar pra minha vida normal e fazer de Paris apenas uma memória, uma experiencia, um aprendizado, em algum momento ele me apertou forte, e cheirou meu cabelo, e eu senti ele sorrir e sorri junto. Era tão bom te lo assim, inocente, do meu lado. Sonhando. Comigo provavelmente. Eu vi pela primeira vez o cartão que ele tinha deixado pra mim, e estiquei a minha mão para ler sem me mexer muito. Era um cartão me convidando para pular da torre Eiffel com ele. Presente da “sua última noite” era o que estava escrito. Pelos vistos ele tinha planos pra minha ultima noite, não com a Alex, mas comigo. Eu era os planos pessoais que Calim tinha mencionado. Era comigo que ele ia estar, mesmo tendo ido pra lá para bajular e seduzir a Alex. Era comigo que ele queria ficar, e pular da Torre Eiffel. Nem perdi meu tempo imaginando o que ele teria programado pra esse noite. Seria mais uma coisa a lamentar, e eu não queria lamentar mais nada. Eu queria so ficar ali, quietinha, memorizando aquela sensação boa, de estar no lugar certo, na hora certa, mesmo que não fosse durar até a manhã seguinte. Eu dormi com o pensamento de que não importava quantas vezes ele estivesse dentro de mim me fazendo esquecer do mundo la fora, intimidade era mais que isso, e quando isso acabasse o mundo la fora iria continuar existindo… e eu ia continuar me sentindo avulsa na vida dele.

23 de dezembro. Uma manhã nublada em Paris. Quando ele acordou eu já tinha feito as malas que poderia levar comigo no avião e dado ordens no hotel para que despachassem por navio as outras. Ele me olhou meio que surpreso por eu parecer assim determinada tão cedo do dia. Olhei da janela e lá fora uma tempestade parecia lavar a cidade. Mas eu estava feliz porque em algumas horas eu poderia estar de volta a Mystic Falls e mergulhar outra vez no meu mundo. Todo aquele frenesi do natal parecia me chamar de longe, me oferecendo refúgio. Era tudo o que eu queria: voltar para o meu mundo, onde definitivamente Klaus não pertencia.

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Eu dificilmente vou esquecer o desespero no olhar de Caroline quando chegamos no aeroporto e o nosso vôo tinha sido cancelado por causa do mau tempo.

–Isso não pode acontecer! Pode compelir todo mundo e mudar isso por favor?

–Não, Caroline. Eu, quer dizer, você já passou dos limites da cidade alheia. Dei minha palavra e não quero correr mais riscos.

–Mas nós não podemos ficar presos aqui!

–Eu achei que você estava gostando de Paris.

–Eu gosto. Mas amanhã é 24 de dezembro!

–Sim, claro que é. Você tem algum compromisso pra amanhã?

–Klaus, por favor...é véspera de natal!

Ela disse isso alto o suficiente para que uma senhora que estava do nosso lado olhasse pra mim discretamente e depois pra ela.

–Ah, ok. É natal. Respondi. Eu iria dizer "sim e daí?" mas eu não queria começar uma discussão ali. Ela estava definitivamente estranha desde a noite de ontem. Desde que voltamos para o hotel. Ela ostentava desde então uma espécie de sorriso triste que me gelava por dentro.

–Você realmente entende o que eu quero dizer? É natal! Eu não posso estar longe da minha mãe, da minha casa, da minha cidade, meus amigos! Não posso ficar sem enfeitar nossa árvore de natal e sem comer a ceia deliciosa que minha mãe prepara, sem abrir os presentes. E Elena me mandou uma mensagem perguntando se podiamos comemorar juntos. Entenda, eu não posso passar um natal sem todo esse ritual.

–Nós não temos o que fazer. Veja o painel: todos os vôos cancelados, vamos voltar pra o hotel e esperar, talvez amanhã a gente possa ir...

–Amanhã não chegaremos a tempo pra nada. Se voce não vai resolver, eu vou...

Ela caminhou com a mesma determinação que vi durante toda a manhã enquanto ela empilhava nossas malas no corredor e desviava de mim como se evitasse contato físico ou visual a qualquer custo.

–Não, você não vai...

Peguei ela pelo braço. A senhora que estava do nosso lado me olhou um pouco assustada.

–Você realmente não sabe o quanto essa data é importante? Não sabe nada sobre o espírito natalino? Nunca comemorou o natal? Sua familia não enfeitava a árvore e você nunca esperou o papai noel trazer os presentes? Nunca fizeram uma ceia e ficaram felizes e trocaram presentes e esqueceram por uma noite dos problemas e viveram um mundo mais bonito?

–Não, Caroline. Você sabe que minha família nunca foi tão amorosa quanto a sua.

A senhora do meu lado me olhou com um pouco de pena. Caroline parecia prestes a chorar com o telefone na mão:

–Como vou dizer a minha mãe que não estarei lá no natal?

–Caroline, vamos voltar pra o hotel.

–Eu não quero ir pra porcaria de hotel, eu quero minha casa!

A senhora que estava do meu lado disse:

–Talvez eu possa ajudar. Eu estava esperando jovens recém casados que viriam passar o feriado em um dos chalés que eu alugo. Mas com o aeroporto fechado eles acabaram de adiar a viagem para a próxima primavera. É nos arredores de Paris, é um lugar romantico, nada impessoal como esses hoteis da cidade. Eu acho que a moça poderia se sentir mais em casa. Mesmo que não seja a mesma coisa.

Ela nos entregou um panfleto com fotos do tal chalé, pareciam casas antigas em algum lugar perdido no tempo.

–O que você acha, Caroline? É isso ou a "porcaria" do hotel 5 estrelas. Não temos como ir a Mystic Falls antes do dia 26/12.

–Bem, se isso ajudar em alguma coisa, eu morava nesse chalé até meus filhos ficarem adultos e sairem pelo mundo. Nossas decoração natalina ainda está lá no porão, enfeites, luzes. Nós costumávamos fazer um natal parecido com o da sua familia, pelo que eu ouvi.

Os olhos de Caroline brilharam por um momento. Mas depois ela apenas me olhou e assumiu uma expressão séria.

–Eu gosto da idéia do chalé...mas eu não sei se eu consigo preparar uma festa de natal sozinha...

–Bem, prepare junto com o seu marido. O meu sempre me ajudava muito mesmo que não levasse o menor jeito. Ele também foi criado em uma familia que não comemorava o natal, mas com o tempo ele passou a gostar muito.

Caroline me olhou com uma expressão estranha. Não sei se porque a mulher tinha usado a expressão "seu marido" ou se porque ela achasse que eu e festa de natal em uma mesma frase seria uma combinação impossível.

–Ok, querido, feche o negócio. Nós ficamos com o chalé.

Ela parecia realmente nessa hora uma doce, dedicada e deliciosa esposa....Havia algo no tom da voz dela que mostrava entusiasmo, mas ao mesmo tempo nos olhos dela eu podia ler a expressão de desânimo: "ok, já que sou obrigada a isso vou fazer do meu jeito".

Seis horas depois eu estava em um supermrecado lotado, empurrando um carrinho de compras que estava tão cheio que eu tinha a sensação de que precisaria empurrar mais um.

–Porque não compeli você pra encomendar comida, mesmo?

–Porque não é a mesma coisa. Ela disse jogando algo que parecia uma ave congelada em minha direção.

Duas longas horas depois eu havia pedido lenha aos vizinhos, sem compeli-los ou mata-los porque segundo ela isso me ajudaria a viver o espírito natalino. Estava acendendo a lareira e a ouvi conversando com sua mãe. Caroline parecia entender de culinária tanto quanto eu. A conversa girava em torno de como temperar um frango que estava congelado. Ela conversava com a mãe e fazia gestos pra que eu trocasse de lugar pela décima vez uma fileira de lampadas coloridas cuja função era piscar e me deixar com vontade de estraçalhar cada uma delas. E eu não poderia falar enquanto ela estava com a mãe ao telefone.

Quando fui pedir lenha ao nosso vizinho eu pude ter um vislumbre de como deve ter sido o natal para os Forbes. A mulher parecia meio louca correndo de um lado ao outro da casa pendurando coisas ou carregando coisas como a Caroline estava agora. Havia também uma garotinha loira que me lembrou a Rebekah quando era criança. Eu acho que o homem percebeu que eu estava sem jeito de pedir algo. Claro que ele não sabia que eu estava sem jeito porque nunca pedia algo a alguém, eu pegava sem permissão ou obrigava as pessoas a me darem algo.

–Sua esposa também deve sofrer com essa síndrome do natal perfeito, não é? A minha não para um segundo...e hoje ainda é dia 23!

–Bem, eu não tenho muita experiência com isso. Respondi. Na verdade eu queria dizer: estou quase compelindo a minha para ela só acordar no próximo ano, se quiser posso fazer o mesmo com a sua.

–Recém casados, logo vi. Rapaz, você ainda não viu nada!

Havia muita lenha acumulada na garagem dele. Ele me mandou ter cuidado com algumas toras que segundo ele eram muito pesadas e eu não conseguiria ergue-las. Lógico que ele se espantou quando eu as movi fingindo um pouco de dificuldade. Embaixo de uma delas havia algo que parecia uma criança muito pequena...eu havia descoberto um corpo?

–Olha só! É a baby Anne! Hanna venha aqui, venha ver o que nosso vizinho encontrou!

Ele ergueu a coisa e percebi que era uma boneca. Tinha cabelos loiros e usava um vestido azul meio sujo.

Uma sombra pequena passou pelas minhas pernas e arrebatou a boneca das mãos do pai.

–Baby Anne! Baby Anne! Eu a perdi aqui no natal passado, lembra pai?

–Claro que lembro! Sua boneca favorita! Estava embaixo daquelas toras pesadas de madeira, se não fosse nosso vizinho, o senhor Niklaus,não teríamos encontrado.

A sombra loira correu em minha direção pulando no meu pescoço de maneira que me abixei involuntariamente.

– Muito obrigado senhor Niklaus! Eu tinha pedido minha boneca de volta na minha carta pra o Papai Noel. E seu nome é Niklaus...parece o nome do Papai Noel.

Ela me deu um beijo no rosto e saiu pulando feliz com a boneca e gritando "mamãe" "mamãe". Aquilo foi tão estranho. Meu último contato com uma criança havia sido com o meu irmão que foi assassinado pelos lobos. E havia uma criança na barriga de Hayley que eu tinha gerado involuntariamente, mas da qual Elijah parecia ser mais pai que eu.

A mulher também apareceu para agradecer. Eu olhei de relance para eles enquanto saía dali. Sim, aquilo era uma familia na quase véspera de natal. Foi assim que Caroline tinha crescido. Aquele era o mundo dela. Ela um dia foi uma garotinha que apreciava aquela inquietação toda que envolve esse ritual de preparação para a festa. Ela havia crescido vivenciando esse ritual todos os anos. E hoje estava longe de casa, em um país estranho e comigo que só tinha a ver com o natal o nome.

Saí dos meus devaneios e caminhei até a cozinha, eram 02:00 da manhã e Caroline tinha o rosto e os cabelos sujos de algo que parecia uma farinha branca. Um cheiro estranho vinha de uma panela sobre o fogão.

–É pra temperar o peru, mas na embalagem diz que ele precisa de 48 horas pra descongelar e não tenho 48 horas e nem micro ondas. Estou deixando ela na água quente, náo sei se é uma boa idéia...

–Você parece cansada, vamos dormir....amanhã você pode continuar tudo isso, ainda temos algum tempo.

–Amanhâ você tem que conseguir uma árvore. E sem compelir ninguém! E quero só ver como vai dar conta disso, era pra ter feito isso hoje.

–Você me proibiu de usar meus "superpoderes" incluindo velocidade, lembra?

–Bem, a arvore tem que estar pronta até amanhã a noite porque antes da Ceia colocamos nela os presentes.

"Presentes". Eu me lembrei. Preciso comprar um presente pra ela. Claro que preciso. Amanha meu dia seria cheio procurando um pinheiro "não muito grande, não muito pequeno e muito frondoso, mas sem parecer selvagem"-exigências de Caroline- e ainda pensar em algo pra comprar pra ela. Então, isso era o natal...

Ela lançou um olhar desesperado para o que seria o nosso jantar no dia seguinte. Na cozinha haviam varios recipientes com os mais diversos ingredientes. Em algo que parecia uma forma redonda uma massa com cheiro de chocolate, era a única coisa ali que cheirava realmente bem.

–Esse será o nosso bolo de natal. Bem, eu fiz tudo como minha mãe disse que era pra fazer, mas eu não sei. Eu nunca conseguirei ser igual a ela. Digo, minha mãe é boa em tantas coisas e sempre foi tão forte. Sabe, nenhuma familia é perfeita, a minha não era, mas ela sempre tentou...

Eu abracei Caroline. Ela pareceu afundar a cabeça no meu peito, como alguém que não tinha outra alternativa no momento. Foi o mais perto de mim que ela chegou o dia todo.

–Eu acho que ela fez um bom trabalho com você. Você não teve a familia perfeita, eu acho que dificilmente alguém tem. Mas você foi amada e você sabe disso.

Ela me abraçou mais forte. E por um instante eu senti que isso era ela de novo. O corpo inteiro encostado no meu, algo feito porque ela queria, precisava. E então, ela desceu as mãos do meu pescoço e se afastou um pouco, como se estivesse despertado para algo.

–Você tem razão, eu estou exausta. Vamos dormir.

Eu deitei na cama e fiquei olhando para o teto, lembrando da familia que eu tinha visitado e pensando na familia de Caroline e depois na minha familia. Talvez seja por isso que as pessoas gostam de comemorar coisas. Eu ja tinha visto ao longo de séculos pessoas correndo de um lado para outro. Eu conheci um vampiro que todos os anos ia "visitar" sua familia no natal, evidentemente ficava escondido para ver a movimentação da festa. Eu fiquei me perguntando se minha familia poderia realmente ter sido um dia como as outras familias, ter algo pra comemorar que pareça com isso. E se caso eles tivessem, eu poderia fazer parte e meu pai me deixaria ser um deles de verdade.

Caroline saiu do banho, inundando o quarto com o seu cheiro doce, como flores do campo e ervas e deitou do meu lado. Eu a puxei mais perto e acariciei o rosto dela. Ela estremeceu

–Não foi culpa sua você não ter sido amado Klaus. Você passou a sua inteira ouvindo que é um monstro e tentando se convencer disso. Mas os monstros foram os seus pais. Você é digno de amor, eles é que não foram digos de amar você. Então, nunca ache que a falta de amor deles foi culpa sua.

Eu me perguntei se ela tinha o poder de ler meu pensamento.

–Os nossos vizinhos do chalé ao lado tem uma garotinha loira que escreve cartas para o Papai Noel. Você também fazia isso?

–Claro. Eu tinha uma lista enorme todos os anos com bonecas e um pônei. Nunca ganhei um pônei. Meus pais explicavam que seria dificil para o Papai Noel transportar um pônei do pólo norte até a nossa casa em um trenó.

Eu ri imaginando a cena. Ela pos as maos na minha boca como se quisesse me impedir de rir e eu beijei os dedos dela. Ela perguntou:

–O que você teria pedido ao Papai Noel se sua familia tivesse comemorado o natal?

–Eu...bem...quando eu era criança eu queria ganhar uma espada. Uma de verdade, grande como a que o meu..."pai"...usava.

–Porque meninos querem sempre presentes tão sem graça?

Ela virou de lado e puxou minha mão de maneira que eu também me virei e estávamos perfeitamente encaixados. Eu afastei o cabelo dela do meu rosto e beijei o seu pescoço, a orelha. E então percebi que ela estava dormindo exausta, porque aquele havia sido um dia realmente cheio e meu corpo tinha que simplesmente relaxar e guardar todas as minhas intenções para o dia seguinte.

Eu acordei com o grito dela da cozinha e abri a porta do quarto pra ser inundado com cheiros estranhos e não muito agradáveis. Ela estava cozinhando. Eu afastei o pensamento de que teria que comer aquilo no jantar. Ela gritou:

–Você está autorizado a usar a sua supervelocidade pra chegar aqui pronto em 120 segundos 1,2,3,4....

–Eu ja estou pronto Caroline.

–Ótimo aqui está a lista.

–Lista? Eu tinha hoje que comprar uma árvore....

–Algumas coisas aqui não deram certo e eu preciso substituir os ingredientes.

–Oh...ok.

–Agora vá porque nós já estamos muito atrasados. Ela disse enquanto andava de um lado pra o outro e não me olhava nos olhos como na manhã de ontem.

Andando pelo centro de compras e tentando encontrar a árvore ideal de Caroline eu entendi porque as pessoas precisavam nessa época do espírito de natal. Realmente você se sente tentado a empurrar, nocautear e no meu caso compelir e arrancar a cabeça das pessoas que esbarram em você cheias de pacote a cada cinco minutos. Eu consegui finalmente depois de muito procurar encontrar a árvore ideal e praticamente tive que fazer parte de um leilão para leva-la porque na mesma hora em que a encontrei, duas outras familias também a queriam. Eu a coloquei no carro torcendo para que os galhos não quebrassem. Eu já ia dar partida quando um cara carregando um enorme urso de pelúcia tropecou quase caindo em cima do meu carro.

–Desculpe! Ele disse e saiu atravessando a rua ainda as cegas, tentando desviar dos outros carros que buzinavam. Eu então lembrei que eu precisava comprar um presente de Natal para Caroline. Do outro lado da rua havia uma loja enorme onde provavelmente eu encontraria algo especial, mesmo que eu ainda não tivesse idéia do que isso seria.

Ela gostou da árvore. O sorriso dela mostrava isso. "É perfeita! Vamos enfeitar". E de repente eu me vi alí segurando uma caixa de bolas coloridas sem ter idéia do que fazer com elas. Mas eu gostei do resultado final. E então nós percebemos a fumaça vindo da cozinha. Ela correu, abrimos as janelas e eu acho que qualquer um que olhasse de longe achava que alí estava acontecendo um incêndio. Já era noite. O desespero de Caroline era evidente. Abri o forno e algo que deveria ter sido a ave congelada da véspera estava parecendo carvão. Enquanto eu passava com aquela coisa pela sala a fumaça acompanhava inundando o ambiente, eu precisava colocar aquilo no lixo e me livrar da fumaça e do cheiro e não pude fazer isso usando a supervelocidade porque o nosso vizinho estava na frente de sua casa conversando com um cara que estava em uma moto.

–Vizinho! Teve problemas aí também? Eu tive vontade de dizer que não era da conta dele,mas então percebi que o cara da moto trabalhava para uma pizzaria e me aproximei.

–Desde o início eu queria encomendar comida, mas ela não me ouviu.

–Isso é erro de principiante-disse o vizinho falando baixo- nunca proponha encomendar comida em datas comemorativas. Isso fica pra os dias normais em que elas estão esgotadas do trabalho e com TPM.

–Eu preciso me lembrar disso. Eu posso encomendar pizza direto com você ou preciso ligar pra lá? Perguntei ao cara que estava na moto.

–Eu não sei se eles pegam mais entregas pra hoje. O chefe disse que a do senhor Newman seria a última.

–Bem, eu acho que com uma boa gorjeta você pode fazer o seu chefe mudar de ideia.

O rapaz arregalou os olhos quando puxei a nota do bolso.

–Senhor, isso é muito pra uma gorjeta.

–Então aceite como um presente de natal. Você deve ter familia, alguém esperando em casa, se se apressar pode trazer nossa pizza e ainda comprar um presente pra eles.

Eu não pude deixar de notar que ele tremia anotando o pedido de pizza. O senhor Newman me olhava também meio sem acreditar. Quando o rapaz foi embora prometendo voltar em no máximo meia hora com a encomenda, o vizinho falou:

– Bem, eu creio que vamos ter o mesmo prato principal na nossa ceia de natal, porque não comemos juntos então? Tenho certeza que vai ser bom pra nossas esposas não se sentirem as únicas no mundo a passar por isso. E a Isabelle está triste porque com o fechamento dos aeroportos por causa do mal tempo, a familia dela não vem. Então seremos só nós mesmo.

–É o primeiro natal de Caroline longe da mãe. Ela não está bem com isso, por mais que tenha se esforçado. Eu acho que seria mesmo uma boa idéia.

–Então em meia hora quando as pizzas chegarem, esperamos vocês em nosso chalé.

–Tudo bem, nós iremos.

Eu havia decidido algo por Caroline de novo, mas acho que seria algo do qual ela gostaria. Quando entrei no chalé ela estava chorando no sofá agarrada com uma almofada.

– Caroline...

–Eu não consegui. Eu falhei. Eu falhei em algo que minha mãe, mesmo sendo humana fazia e faz de olhos vendados. Eu lembro quando ela chegava da delegacia na véspera de natal e as vezes só tinha algumas horas e preparava tudo, depois de um dia de trabalho, cansada e tudo dava certo e você viu agora o completo desastre que me sai?

–Caroline...Caroline, olhe pra mim. Eu segurei o rosto dela gentilmente porque eu percebi durante todo o dia que ela estava evitando me encarar, mas eu precisava que ela olhasse pra mim antes de prosseguir- Caroline, nós temos uma linda árvore, nosso chalé é o mais iluminado de toda a rua. Você simplesmente não conseguiu assar o peru e vamos ser realistas, isso nem é o elemento mais importante da nossa "dieta".

–Klaus, eu consegui arruinar a ceia! A ceia é o ponto mais importante de uma festa de natal. É o ápice!

–Se isso te serve de consolo, a nossa vizinha do lado também arruinou a ceia deles. Eles encomendaram pizza e eu fiz o mesmo.

–Pizza? Na ceia natalina?

–Sim, é a única coisa que entregam aqui. E eles nos convidaram pra jantar com eles...eu disse que nós iríamos. Tudo bem pra você?

–Klaus, desde quando você é tão simpático com as pessoas?

–Desde que você me fez prometer não compelir ninguém e todo aquele seu discurso sobre espírito natalino...

–Nós não podemos chegar lá assim sem mais nem menos, sem levar nada...

–Bem, nós temos vinho e o bolo que você fez. Olhe só o bolo deu certo.

Eu disse isso olhando para o bolo que estava sobre a mesa. Ele tinha uma aparencia meio disforme, mas ainda assim ainda cheirava como um bolo.

–Vamos lá, Caroline. Os Newmans devem ser o mais parecido que podemos encontrar aqui de uma familia com espírito natalino...ou podemos ficar aqui se você quiser e comemorar a nossa maneira mesmo....

Ela me olhou de lado...

–Ok, eu vou me vestir. Vista-se também, use algo elegante, as pessoas se vestem bem para a ceia natalina.

–Caroline, nós só vamos atravessar a rua e comer pizza....

Ele me lançou um olhar que não precisou ser acompanhado de palavras. Meia hora depois nós, as pizzas, o vinho e o bolo estávamos na casa dos Newmans. A pequena Hanna correu e me beijou outra vez:

– O ajudante do Papai Noel!

Caroline olhava sem entender nada. Alíás quando a garotinha estava em meus braços eu acho que ela se sentiu impelida e tira-la de lá e me nocautear para que eu não machucasse a pequena criatura. Era realmente uma familia acolhedora, apesar de serem criaturas tão simplórias. Charles Newman não tinha ambições, trabalhava numa multinacional e contava os anos que faltava pra se aposentar, mesmo que faltasse ainda muito tempo. Isabelle Newman sentia falta da vida na cidade pequena onde ela vivia antes de casar com ele. Odiava morar em Chicago e tinha sido dela a idéia deles comprarem aquele chalé na França para passarem os feriados. Hanna era uma garotinha típica. Lembrava Rebekah e lembrava Caroline. Tinha todos aqueles truques que garotas já nascem com eles e só fazem aperfeiçoar enquanto crescem. Ela e Caroline brincaram de tudo o que a enorme caixa de brinquedos podia proporcionar. Caroline fez inclusive algo no cabelo de "Baby Anne" a boneca que eu havia encontrado. Isso deixou Hanna maravilhada.

Charles aproximou-se de mim enchendo meu copo de vinho.

–Eu sei que é uma pergunta meio pessoal, mas estou vendo como sua esposa está animada brincando com a Hanna...vocês pretendem ter filhos?

Eu respirei fundo diante da pergunta inesperada, mas tentei responder normalmente.

–Nós ainda não temos uma posição sobre isso.

–É, precisa mesmo ser bem pensado. Aqui pra nós -ele falou baixo- a Hanna não foi planejada. Depois que ela chegou minha mulher teve que abrir mão do mestrado na faculdade e eu mudei para um emprego onde recebo um pouco menos, mas passo mais tempo em casa.

–Bem, eu lamento. Eu disse, mas já com a sensação de que não deveria ter dito aquilo. Não é o que as pessoas querem ouvir.

–Não, não precisa lamentar. Sabe não foi ruim, foi o melhor a ser feito. Ela não pediu pra vir ao mundo, ela é nossa responsabilidade e nós temos que garantir que ela cresca da melhor maneira possível. A mãe da Isabelle era alcóolatra e meu pai...bem meu pai nunca esteve quando eu precisava dele. Nossa infância foi muito complicada, mas nós não queremos isso para nossa filha.

Eu fiquei olhando a pequena Hanna brincar com Caroline. Elas penteavam os cabelos uma da outra e colocavam coroas de princesa. Eu pensei em Hayley e naquele bebê...o meu filho. Não importa que tenha sido fruto de uma noite de alcool e diversão. Nunca pensei na vida que poderia gerar filhos, mas se tivesse pensado jamais seria com alguém como a Hayley. Mas isso não deveria importar, nem mesmo o fato de que ela e Elijah estavam visivelmente apaixonados, isso era com eles. Eu era o pai daquela criança. Eu precisava ser responsável por ele ou ela. Eu já sabia os danos que um mau pai poderia causar em alguém, assim como os Newmans sabiam. Por isso eles davam aquela garotinha o que eles nunca tiveram. Eu teria que fazer isso pelo meu filho também. Família é poder. Era a frase favorita de Elijah.Quanto mais poder eu tivesse, mas o meu filho poderia crescer invulnerável as ameaças do mundo, sem precisar fugir de nada e nem temer ninguém.

Eu olhei pra Caroline no meio daquela familia, naquele cenário tão humanamente simples e a vi feliz. Completamente feliz. Eu senti inveja de um humano pela primeira vez na vida desde que me transformei. Charles tinha uma vida simples e uma familia, uma filha com a mulher que ele amava. Isso jamais seria possivel para mim ou Caroline. Nada na minha vida podia ser simples, porque eu tinha muito a perder...sempre.

Durante a ceia Isabelle contou como ela e Charles se conheceram. Caroline mentiu inventando que nos conhecemos no colégio, que eu era um aluno veterano que tinha repetido de ano muitas vezes e ela a garota nerd que me fez ser aprovado. Depois ela narrou o nosso casamento-para 300 convidados- na pequena capela de nossa cidade e descreveu nosso apartamento em Nova York. Tudo parecia tão perfeito nos devaneios dela. Os Newmans tinha uma historia bem parecida, mas o apartamento era em Chicago. Ela e Isabelle fizeram uma espécie de jogo onde elencavam as habilidades e os defeitos dos maridos e eu ri quando ela disse que a unica coisa de uma casa que eu seria capaz de fazer, era pinta-la.

Já era tarde e a pequena Hanna ja havia dormido há muito tempo quando agradecemos a acolhida e fomos para o nosso chalé. Ela foi na cozinha pegar uma bolsa de sangue e eu aproveitei a deixa para colocar o presente dela sob a nossa árvore, havia uma caixa lá com o meu nome.

–Presentes! Ela disse quando me viu ali.- Eu quase esqueci os presentes!

–Bem, parece que eu tenho mais espirito natalino do que você.

Ela riu e pegou a caixa que tinha o meu nome.

–É pra você. Feliz Natal! Eu segurei a caixa, esperava um beijo, mas ela não deu.

–É o meu primeiro presente de natal...

–Bem, abra...

Eu abri a caixa, lá dentro havia o que parecia ser um kit de pintura: tintas, pincéis, as mais variadas cores dispostas em forma liquida, em bastão, em pó.

–Bem, não é uma espada. Mas eu imagino que esse também seria uma segunda opção de presente da sua lista de Papai Noel se você tivesse feito uma. E o dono da loja disse que é de uma marca antiga que os bons pintores gostam.

Eu realmente não sabia o que dizer.

–Obrigado, Caroline. Essa seria realmente a minha outra opção de presente. Você me conhece mesmo muito bem....e aqui está o seu, mas eu quero fazer a entrega no estilo dos Newman. Eu entreguei e caixa a ela e lhe dei um selinho, da maneira que vimos o Charles fazer quando entregou o presente da Isabelle. Ela ficou ligeiramente corada. Segurou a caixa e abriu rapidamente. Ela pareceu não entender muito bem quando dentro da caixa de papelão encontrou uma caixa de madeira pintada em cores delicadas e com desenhos que lembravam peças antigas. Ela levantou a tampa da caixa e a música delicada inundou a sala. Ela ficou olhando a bonequinha loira montada no ponei de cristal que girava no pequeno carrossel.

–Meu Deus, Klaus...isso é....isso é lindo!

Ela estava com os olhos cheios de lágrimas.

–Eu escolhi esse por causa do pônei.

–Eu acho que esse é o presente de natal mais bonito que eu já recebi.

–Você está com a mesma cara da pequena Hanna quando eu achei a boneca dela.

–Ela é uma menina adorável, não é? Aliás, a familia Newman é tão bonita...eu acho que nós estávamos errados quando falamos mais cedo que não existem familias perfeitas. Algumas pessoas realmente se empenham mesmo e de uma forma simples conseguem ser- se não perfeitos- felizes juntos.

–Você também desejou essa noite por alguns segundos ter uma vida mais simples? Marido, filhos, uma casa e uma vida sem tanta morte, maldições e sombras?

–Sim, eu acho que pela primeira vez me dei conta de que jamais terei uma garotinha para brincar de bonecas comigo como minha mãe fazia. Digo, eu acredito em adoção, mas nem mesmo pra isso haveria espaço. Como criar uma criança no nosso universo? Escondendo que a mamãe bebe sangue de pessoas para continuar viva? Vendo-o crescer, se tornar adulto e chegar a um ponto em que ele é que parecerá meu pai ou meu avô...Dizem que a vida é feita de escolhas...eu não escolhi ser vampira. Mas eu sou e tenho que arcar com as consequencias disso.

–Eu vou ser pai.

Ela me olhou sem entender.

–O que? Você sabia que eu estava falando sério esse tempo todo? Porque a piada agora?

–Eu vou ser pai Caroline. Isso não é uma piada. Uma noite de alccol e diversão com a Hayley e meu gene lobisomem me pregou essa peça...

–Hayley? Aquela vadia? Você tem um caso também com a Hayley? Quem mais você come Niklaus, pode me fazer uma lista só pra eu tentar ter alguns nomes de memória?

–Eu não tenho um caso com a Hayley. Nós transamos uma noite e ela engravidou. Na verdade ela e Elijah nitidamente se amam, mas ainda assim, a criança no ventre dela é meu fruto.

–Elijah e Hayley....os homens da sua familia parecem peritos em colecionar mulheres...

–Na verdade Finn amou Sage e apenas ela durante toda sua vida.

–Quando você pretendia me dizer isso? Quando enviasse o convite para o batismo do bebê? O que mais sobre a sua vida eu não sei? O que mais você esconde de mim? Quantos muros escondem os seus reais propósitos? E porque caralho você me fez sentir como se eu fosse especial e não mais uma peça do seu jogo neurótico que você chama de vida imortal?

–Eu amo você, Caroline. Não importa o que você pense sobre isso agora. E tudo o que tenho visto, desde que nos aproximamos é que de alguma maneira fomos feitos um para o outro e ainda assim uma maldição parece pairar e determinar que não podemos ficar juntos.

–Não precisa continuar com o seu discurso. Eu já disse isso pra mim mesmo naquela noite após o episódio do Moulin Rouge. Nós não funcionamos juntos definitivamente. Não de verdade. Nós podemos transar um com o outro noites a fio e nunca enjoar disso, mas não podemos fazer parte do mesmo mundo no dia seguinte. Eu queria realmente voltar pra casa, retomar minha vida como ela tem que ser, sem você nela.

–Eu não posso abrir mão do "meu mundo", como você chama. Muito menos agora que uma criança depende de mim. Eu não quero que a palavra pai tenha pra meu filho a mesma conotação que tem pra mim. Eu não quero ser igual ao meu pai. Eu não sei com que tipos de vulnerabilidades essa criança virá ao mundo. Mas quanto mais poder eu tiver, mas eu poderei torna-lo de certa forma invulnerável. "Meu mundo" poderia ser o seu, se você pelo menos entendesse meus objetivos e meus métodos.

–Existe uma grande diferença entre simplesmente não ser como seu pai foi e ser um bom pai. Boa Noite Klaus. Eu tenho apenas mais um pedido...amanhã eu irei ao aeroporto, tentarei de todas as formas voltar pra casa....

–Ok, poderemos sair cedo.

–Você não entendeu. Eu quero voltar sozinha. Esse é o meu pedido. Pode me fazer esse favor? Eu não vou importunar mais você, então se você pudesse ser razoável...

–Como você quiser, Caroline.

Não havia mais nada a dizer. Ela entrou no quarto, eu fiquei no sofá da sala observando o fogo da lareira se extinguir, poucos minutos depois eu ouvi outra vez a melodia da caixinha de musica abafada pela porta fechada no quarto.


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Notas finais do capítulo

E aí?
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