Prólogo

A viagem de trem não poderia ter sido mais calma. Alastor e Minerva conversavam sobre a juventude e trocavam informações sobre o tempo em que o ex-auror fora substituído por um Comensal.

Snape, por sua vez, dedicou-se a ler um de seus melhores livros, enquanto Violet apenas observava a paisagem pela janela, embora seus olhos ameaçassem fecharem-se várias vezes. Em determinado momento, a garota acabou cedendo e adormeceu profundamente. Com o movimento do trem, sua cabeça acabou por pousar-se nos ombros do pai, que sentava-se logo ao lado. Snape, finalmente percebendo a filha adormecida, agiu como qualquer pai agiria. Fechou seu livro e deitou a garota delicadamente em seu colo, passando a acariciar seus negros cabelos sem que percebesse.

Seus amigos, é claro, perceberam o gesto súbito, mas não comentaram. Moody o conhecia tanto quanto Dumbledore, talvez até mais, e sabia o quão difícil deveria ter sido descobrir uma filha já crescida. Snape nunca fora um homem sensível e muito menos dado à afetividades. O mais próximo disto que Moody viu foi na época da escola, em que certa grifinória fisgou o coração do distante sonserino.

Olho-Tonto, mesmo estando anos à frente, passou um grande sufoco aqueles tempos. Severo dedicava-se exclusivamente à ruiva, mas era visível a todos que ela nunca gostara dele verdadeiramente.

Amor não correspondido, um dos piores males do ser humano.

Moody presenciou todo esse sofrimento, e mesmo depois que formou-se, permaneceu em Hogwarts como aprendiz de DCAT, o que os aproximou ainda mais. Mesmo que ninguém soubesse, Moody e Snape foram grandes amigos na adolescência, e Minerva ajudava a compor o trio. Eram tão diferentes, mas ao mesmo tempo, tão iguais.

Quando Severo formou-se, Moody dedicou-se a carreira de auror. Minerva, por sua vez, especializou-se em Transfiguração, a matéria lhe fascinava! Snape era um caso complicado. A mãe acabara de falecer, o pai era um “imprestável” bêbado, seu coração estava partido pela desilusão amorosa e o Lord das Trevas batia em sua porta.

Não demorou muito para que Dumbledore chamasse McGonagall para lecionar sua melhor matéria em Hogwarts, e logo em seguida, tornou-se diretora da casa em que pertenceu.

Moody treinava exaustivamente todos os dias e, assim que o Ministério o chamou para um “teste”, passou com louvor. Não demorou muito para que se tornasse conhecido e recebesse a glória de “melhor auror que o Ministério já teve”. Infelizmente, Snape deixou-se levar pela mágoa e a Marca Negra foi finalmente gravada em seu braço. Àquele ponto, os três amigos inseparáveis foram definitivamente separados e, por mais difícil que tenha sido, cada um seguiu um rumo diferente na vida.

Moody tinha que admitir que, vê-lo ali, à sua frente, admirando a única filha que teve, era no mínimo emocionante. Snape merecia ser feliz, merecia uma redenção. E a garota estava inconscientemente conseguindo isso.

Assim que o trem parou, Olho-Tonto e Minerva pegaram as bagagens e encarregaram Snape de levar apenas a menina. Severo não queria acordar a filha, então, num impulso, carregou-a no colo como faria com uma criança de 10 anos. Seu cabelo negro perfumado caia sobre o ombro do professor enquanto seus braços envolviam o corpo da filha.

E assim, Severo levou a garota nos braços até sua casa, escoltado por Moody e Minerva que não se importaram em lançar-lhe um sorriso de aprovação e até mesmo admiração.

Chegando a casa, Snape indicou os quartos de seus novos “hóspedes” e, após ser deixado sozinho, levou a garota para o andar superior. Infelizmente para ele, o quarto em que a filha ficaria estava trancado, e a chave guardada. Então resolveu deixá-la em seu próprio quarto até que acordasse.

Assim que a deitou e cobriu-a, cansado, resolveu sentar-se um pouco na poltrona de couro em um dos cantos do quarto, porém, acabou adormecendo ali mesmo.

Minerva percebeu o silêncio e sabia que, com Violet dentro de casa, o silêncio seria algo impossível. Quando resolveu descer, parou em frente ao quarto do professor e, assim que viu pai e filha dormindo, fechou a porta cuidadosamente.

Aquele realmente seria um ótimo verão.