POVBella

As horas pareciam não passar no escritório. Todos os dias eram assim, parados e tristes. Mas voltar para casa era consideravelmente pior. Moro sozinha a um ano e meio, e morar sozinha não é a melhor coisa do mundo. Pelo menos não para mim. Renée vivia lá para me fazer companhia e cozinhar um pouco. Segundo ela, ela não quer que eu esqueça os costumes e sabores de casa. Lembro-me com clareza da conversa que tivemos ontem, um tanto quanto perturbadora.

"- Bella meu amor e os namorados? - Respirei pesado ao ouvir a palavra "Namorados". Não sabia o que era isso a uns 4 anos. Nunca me preocupei em namorar e ter alguém ao meu lado, mas digamos que com a idade a falta de alguém começara a incomodar.

– Tranquila.

– A quanto tempo não namora meu amor? - Mais que merda. O que ela queria ouvir? que eu estava sem beijar a vários meses? e que a falta de sexo já me consumia ao ponto de qualquer homem me despertar sensações estranhas? Renée achava necessário um homem em minha vida. Achava que a vida que levava me levaria a depressão ou as drogas.

– Mãe.. Por favor. - Dizia em piedade para que ela calasse a boca e ficasse quieta.

– Meu amor isso irá lhe fazer mal. - Revirei os olhos esperando um discurso de autoajuda. - Você não pode viver para sempre sozinha, fechada pro mundo. Você precisa viver, se divertir, fazer coisas que jovens da sua idade faz. Mas você se prende em um escritório que suga todo o seu tempo e paciência. Bella meu amor você só tem 22 anos, é jovem e cheia de vida. Vamos, experimente coisas novas, amores por exemplo. Isso te fará bem. - Ela dizia tranquila enquanto eu encarava uma revista velha em cima de mesa."

Odiava quando Renée decidia me dizer o que fazer com a minha vida. Já era de maior e sabia bem o que é ou não bom para mim. Respirei fundo passando as mãos pelos cabelos oleosos que não tive tempo de lavar ainda. Logo deu 18:00. Fui até o banheiro da empresa e lá troquei de roupa. Tirei a calça e blusa social e substitui por um short desfiado e uma blusa branca meio frouxa pois sabia que fora do Ar Condicionado estaria quente e roupa social me faria cozinhar. Calcei meu All Star um tanto quanto velho pois os rasgas nos lados já eram expostos demais. Joguei a roupa social na mochila e sai em direção ao estacionamento onde havia parado minha Picape. Minha querida Picape. A ganhei quando tinha 18 anos desde então ela sempre esteve comigo me deixo na mão algumas vezes mais nada que me faça abrir mão da sua lataria velha.

O trânsito estava um caos. Respirei fundo e liguei o rádio do carro encostando minhas costas no banco duro respirando fundo enquanto o trânsito não se movimentava.

Depois de quase meia hora consegui chegar em casa. Meus pés doíam como se tivesse andado o dia inteiro. Minha cabeça latejava e desejava mais que tudo minha cama e um sono de descanso. Graças que amanhã era Sábado e poderia dormir até tarde para compensar a semana turbulenta de trabalho e noites em claro. Abri a porta e encontrei Renée sentada no sofá vendo um programa de culinária. Ao me ver ela dá o seu sorriso acolhedor e vindo em minha direção.

– Oi meu amor. - Seus braços se abriram me envolvendo em um abraço apertado.

– Mãe.. Ta apertado.

– Desculpa filha. - Seu sorriso tímido me fez suspirar e sorrir de lado. - Como foi o trabalho?

– Como sempre, cansativo e sem graça. - Sorri indo até a geladeira me servindo de um copo gigante de suco de laranja.

– Imagino meu amor. Você precisa de férias Bella.

– Só daqui a dois meses.

– Você trabalho todos os dias por horas, se esforça e passa noites em claro fazendo relatórios e ligações. Filha você precisa respirar tranquila, peça férias.

– Mãe não começa. - Revirei os olhos indo em direção ao sofá e me jogando no mesmo. Senti o peso do meu corpo ir para as minhas pernas que agora doíam mais que antes. Queria um pouco de paz e silêncio. Será que isso é demais?