E Se? escrita por WaalPomps


Capítulo 29
If that’s what you want


Notas iniciais do capítulo

Heeeey
Bom, que bom que gostaram do capítulo anterior. Foi um capítulo muito intenso de se escrever, e eu gostei do resultado final.
Espero que gostem desse capítulo.



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Samara faleceu durante a madrugada, com as filhas, os genros e o marido a sua volta. O primeiro a se dar conta foi Fabinho, assim que acordou. Ele percebeu a palidez da sogra, sua imobilidade e suspirou.

_ Giane... – ele beijou a testa da namorada, fazendo-a piscar – Amor... A sua mãe, ela...

_ Não fala, por favor. – a garota se agarrou mais a ele, forçando os olhos para ficarem fechados.

_ Sinto muito, amor. – ele a abraçou apertado, tentando conter os soluços dela. Mas foi inevitável que o barulho acordasse os demais, avisando-os que a matriarca da família se fora.

~*~

O pequeno velório estava apinhado de gente. O caixão estava forrado de girassóis e margaridas, acomodando o corpo da falecida. Os visitantes se alternavam em prantear o corpo e consolar a família de Samara. Apenas de não estarem abraçados, Giane não aceitou que Fabinho ficasse a mais que um metro dela.

_ Giane. – Maurício e Malu se aproximaram. A corintiana os encarou – Posso?

Ela assentiu, deixando que o ex-namorado a abraçasse. Malu e Fabinho desviaram o olhar, não querendo incomodar. Apesar de tudo, os dois tiveram uma longa história e Maurício conhecia muito bem Giane.

_ Eu sinto muito pela sua perda. – ele beijou a cabeça dela.

_ Obrigada. – foi só o que ela conseguiu responder.

_ Se você precisar sabe que pode me procurar. – ele a encarou – Posso não ser mais teu namorado, mas sou teu cunhado. E espero que possamos ficar em paz.

_ Você tem um bom coração Maurício, eu sei disso. – ela sorriu – Minha mãe sempre dizia que...

_ Não importa o que tivéssemos feito, as coisas seriam assim. Ela me disse isso. – a morena riu de leve – Sinto muito ter te magoado. Mas fico feliz de ver que está feliz com o Fabinho.

_ Digo o mesmo sobre você e a Malu. – encerraram a conversa ali. A jovem abraçou a cunhada, mas não trocaram nenhuma palavra. Logo, o casal foi para o lado de fora, esperar pelo enterro com os demais.

_ Pivete... – Fabinho se aproximou, acariciando o ombro da namorada – Você não comeu nada o dia inteiro. Eu sei que você vai falar que tá sem fome, mas eu não quero você desmaiando no sol. Nem você, seu Silvério.

_ Eu comi um sanduíche. – o mais velho avisou – Mas você não comeu nada minha filha. Vai com o Fabinho até a lanchonete e come alguma coisa, por favor.

_ Tudo bem. – ela concordou, dando a mão para o namorado – Quer alguma coisa?

_ Não, eu estou bem. – o pai garantiu, e os dois se afastaram.

Receberam alguns cumprimentos no caminho, mas não pararam para conversar. Na lanchonete, Fabinho sentou a namorada, enquanto ia comprar algo que ela gostasse.

_ Enche teu bucho, que saco vazio não para em pé. – ele avisou, colocando duas coxinhas em frente a ela – E eu sei que cê curte coxinha gordurenta.

_ Eu não to com fome fraldinha. – ela mordiscou a comida.

_ Amor, você precisa comer alguma coisa. – ele acariciou o rosto dela – Daqui a pouco é o enterro, e você não pode desmaiar lá no meio. Seu pai precisa de você.

Ela suspirou, mordendo a coxinha novamente. Ficaram em silêncio, até que ela pegou a mão dele.

_ Vai ficar comigo?

_ Enquanto você me quiser por perto.

~*~

_ Como você está? – perguntou Bento, quando Maya... Amora (ele tinha que se lembrar) se aproximou.

_ Um pouco tonta por causa do calor. Os sintomas da gravidez estão começando a aparecer. – ela explicou, pegando a garrafinha de água que ele oferecia – Eu fico preocupada de tudo isso afetar o nosso filho.

_ Amanhã nós vamos ao hospital. – ele prometeu, a abraçando. O casamento deles ainda era estritamente pelo bebê, mas para a maioria eles eram um casal feliz. E era isso que precisam mostrar ser.

_ Mayar... Digo, Amora. – Wilson se aproximou – Hã, eu trouxe algo para você comer. Algo leve, para não te fazer mal.

_ Obrigada Wilson. – ela sequer tinha ânimo para caras e bocas, apenas a expressão de pesar em seu rosto – É muito atencioso da sua parte.

_ Quem trouxe foi a Charlene, ela ficou preocupada. – o homem apontou a mulher, que conversava com os irmãos de Bento – Nem todos sabem dessa...

_ Pai. – Bento o repreendeu – De onde o senhor conhece a Charlene? – o rapaz perguntou, curioso.

_ Nós nos conhecemos há algum tempo, quando eu visitava seus tios. Ficamos amigos e bom... Estamos saindo tem algumas semanas. – o casal se surpreendeu – Eu sei, eu sei... To meio velho para ela. Mas ela não liga. E nem o filho dela.

_ O Pedro? – Bento caçou o menino com os olhos, e o viu conversando com Lucindo – Achei que eles tinham adotado o menino juntos.

_ Ela adotou o Pedrinho, o Lucindo era o “pai”, porque eles namoravam. Agora, com certo esforço, ele tá aceitando. – explicou o dono do Kim Park.

_ Mas porque a Charlene e o Lucindo romperam? – Amora perguntou – Eles estavam juntos há anos.

_ Pelo mesmo motivo que a Giane e o Maurício... Tem homem que não se contenta com uma só. – Wilson alfinetou, fazendo Bento bufar – O Lucindo tem um caso com a minha ex-mulher. Ele é motorista dela e, aparentemente, brinquedinho sexual também.

_ Droga... – Amora soltou o sanduíche que comia, com uma careta – Eu preciso vomitar.

_ Vem, vamos ao banheiro. – Bento pegou o pratinho, jogando fora, e guiou a esposa na direção dos banheiros. Wilson suspirou, sentindo um par de mãos em seus ombros.

_ Tudo bem com a Mayara? – perguntou Charlene, preocupada.

_ Tudo sim minha querida... Infelizmente.

~*~

O cortejo fúnebre começou às 15h em ponto. Giane e Mayara abraçaram o pai, uma de cada lado, enquanto Bento e Fabinho ajudavam a levar o caixão da sogra, acompanhados de Maurício, Lucindo, Douglas (irmão de Charlene e morador da Casa Verde) e Jonas (que havia voltado especialmente para o velório).

Havia cerca de sessenta pessoas presentes, a maioria ex-moradores do lar de Salma e Gilson, e suas famílias. Samara e Silvério sempre haviam sido muito carinhosos com as crianças acolhidas, o que fez com que o carinho pelos donos do lar fosse o mesmo que pelos “tios”.

Fabinho havia providenciado o que houvesse de melhor para o enterro da sogra, e se negado a deixar Bento partilhar as despesas. Claro que em poucas horas o espaço não estava pronto, com o anjo de cerâmica que ele encomendara, mas isso seria providenciado com o tempo.

Baixaram o caixão diante do silêncio. Giane abraçava o pai, mas mantinha a mão de Fabinho presa a sua. Bento apenas segurava o ombro de Mayara, que estava com os óculos escuros tampando os olhos, em silêncio.

Quando fecharam o túmulo, as pessoas começaram a se afastar uma a uma. Por fim restou a família de Samara, os pais de Fabinho, Malu, Maurício, Wilson e Charlene.

_ Amor, você se importa se nós ficarmos na casa do meu pai hoje? – perguntou Giane, enquanto o pai conversava com seus sogros.

_ Claro que não pivete. Se você quiser, eu fico no apartamento. Eu sei que você deve estar querendo um tempo com o seu pai. – ela negou.

_ Você me disse que, enquanto que te quisesse por perto, você ficaria. – ela disse, com a voz trêmula – A minha cama é uma beliche, mas nós dois podemos nos apertar.

_ Com você, eu durmo até num sofazinho velho. – ele sorriu, a abraçando – Nós podemos ficar no seu pai o quanto você quiser.

_ Você vai conosco Mayara? – perguntou Silvério, que se recusava a tratar a filha adotiva por Amora.

_ Eu vou para a casa com o Bento, pai. – ela avisou – Eu não to bem, to bem enjoada... Vamos precisar ir ao hospital amanhã bem cedo.

_ Sem problemas. – o homem não parecia decepcionado – Giane, vamos minha filha?

~*~

Fabinho deixou a namorada e o sogro na casa, indo ao apartamento buscar algumas coisas dele e de Giane. Ao entrarem, o homem mais velho caiu no sofá, começando a chorar.

_ Ô pai... – Giane correu até o sofá, sentando ao lado dele e o abraçando, ela também chorando – Tá tudo bem, vai ficar tudo bem.

_ Foi nessa sala que sua mãe me contou que você iria nascer. – ele soluçou, observando o lugar – Tinha bem menos coisas, mas ainda era esse mesmo local. Ela chegou toda eufórica, os olhos brilhando. Disse que tinha ido ao médico e ele havia confirmado que ela estava grávida. Nós dois tentávamos há anos, você sabe disso. Eu fiquei tão preocupado na hora, com medo que eu não conseguisse cuidar de vocês duas com o pouco que eu recebia. Sua mãe me abraçou e disse para eu parar de ser idiota, que nós conseguiríamos, se ficássemos juntos. E então você chegou, e nós estávamos tão felizes, por você ter sobrevivido, por ela ter sobrevivido... Eu me sentia tão abençoado. E todas as noites, nessa mesma sala, eu te fazia dormir, e agradecia a Deus pela vida de vocês duas. E sua mãe falava que Deus já devia estar cansado dos meus agradecimentos. E agora... Ela se foi. Ela...

O homem não conseguia mais falar, soluçando cada vez mais alto. Giane o abraçou o mais apertado que pôde, ela mesma chorando muito forte. A realidade de que nunca mais teria a mãe por perto, para brigar ou para amar, era muito dolorosa.

_ E-eu, eu tenho um presente para você. – seu pai se soltou com delicadeza, indo até o móvel da TV. Ele pegou algo de uma gaveta, se aproximando dela – Ela pediu para que eu te entregasse quando fosse a hora. Mas isso quem deve saber é você.

_ O que é isso? – ela perguntou, revirando a caixinha nos dedos. Abriu a tampa, encontrando o par de anéis dourados – As alianças de vocês?

_ Eu sei que talvez você e o Fabinho queiram algo mais trabalhado. – o homem se desculpou – Mas pelo menos é ouro, que vocês podem derreter. É de vocês, para o que vocês quiserem.

_ Eu não posso aceitar pai. – ela tentava não soluçar.

_ Pode e deve Giane. – ele acariciou o rosto dela – Essas alianças marcaram uma linda história de amor, que eu e sua mãe vivemos. E você é o fruto desse amor, do nosso amor. Isso é seu, você merece. – ele beijou a testa dela – Eu vou me deitar, realmente preciso de um tempo a sós e em silêncio. Boa noite minha filha.

_ Boa noite pai. – ela desejou, vendo o homem rumar para o quarto. Suspirou, se levantando e indo para o próprio quarto. O local estava vazio, a exceção da beliche e dos armários. Caminhou até a janela, encostando-se a ela.

_ Tranqueira, já tranquei a porta e apaguei as luzes. – Fabinho entrou no quarto, levando uma bolsa – E trouxe algumas coisas nossas.

_ Fabinho, vem aqui, por favor... – ela pediu, o chamando com a mão. Ele se aproximou, vendo o rosto dela brilhar a luz da lua – Me dá sua mão, por favor.

Ele estendeu a mão, e ela segurou. Ela foi até a fita, a soltando com cuidado. O publicitário arregalou os olhos.

_ Você tá terminando comigo?

_ Fraldinha, cala a boca e espera, por favor. – ela resmungou. Abriu a caixinha que o pai havia lhe dado, retirando a aliança maior e colocando no dedo dele – Serve.

_ O que é isso? – ele perguntou, confuso.

_ As alianças dos meus pais... – ela suspirou – Ele me deu, disse que foi um pedido da minha mãe. É bem simples, mas...

_ É perfeito. – ele garantiu, pegando a mão dela. Soltou a fita, pegando a outra aliança e deslizando pelo dedo dela – Serviu. – eles sorriram – E agora eu posso beijar a noiva.

_ Sempre que você quiser. – ele deu um selinho nela – Você liga se formos dormir? Eu to exausta.

Ele negou, os dois caminhando até a cama. Colocaram roupas confortáveis para dormir e ele subiu no beliche, com ela logo atrás. Ajeitou-a em seus braços, ambos ficando encaixados e confortáveis.

_ Só espero que você nunca vá embora. – ela murmurou, caindo na inconsciência. Ele observou o anel reluzente em seu dedo, sorrindo.

_ Os dedos anelares nunca podem se separar. Eu vou estar aqui para sempre. Até que a morte nos separe.


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Notas finais do capítulo

Bom, é isso.
Beijos