P.O.V Matilde

Acampamento feminino – 07h00min

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Acordei com o som de um trompete. Provavelmente Minerva com suas ideias antiquadas. Argh! Não acredito nisso! Em que século eles estão? XVII? Por que precisam nos acordar tão cedo? Achei que nós tivéssemos vindo para esse acampamento com o intuito de descansar!

Me levantei e olhei em volta: Kath, Lyn e Lucy estavam dormindo profundamente. Como elas conseguem dormir depois de alguém passar tocando um trompete?

Peguei minha mala, me vesti e fiz minha higiene matinal, o que não é fácil quando se está no meio da floresta. Lembrei do que havia acontecido ontem a noite. Espero que ninguém tenha nos visto. Não quero ir para as masmorras!

Cambaleei para fora da barraca e me deparei com grandes mesas, iguais as do Salão Principal, cheias de comida. Ei, isso é estranho! Eu tenho certeza de que elas não estavam ali ontem.

Não perdi meu tempo e logo peguei um pão com manteiga enquanto sentava-me. Olhei as outras mesas: apenas eu e mais duas meninas estávamos acordadas. As outras pessoas, provavelmente, ainda estavam no décimo primeiro sono.

Eu detesto meu hábito de acordar cedo.

Tirei um livro da mochila e comecei a lê-lo. Tudo bem, eu estava apenas passando os olhos pela escrita, não estava lendo de verdade. Eu estava pensando em muitas coisas para me concentrar.

– Bom dia! – Lucy saiu de nossa barraca e espreguiçou-se

Eu sorri e fiz um gesto para que ele sentasse-se a meu lado.

– Bom dia – eu disse enquanto devolvia meu livro a minha mochila

– Lyn e Kath já acordaram? – ela sentou-se e pegou uma tigela com algumas frutas

– Não – dei de ombros – Elas tem um sono pesado, considerando que a Minerva passou aqui tocando um trompete.

Ela arregalou os olhos e eu me segurei para não rir.

Continuei comendo meu pão com manteiga, até perceber uma movimentação no meio das árvores, exatamente onde estávamos ontem a noite.

– O que foi isso? – Lucy disse intrigada a meu lado

– Você também percebeu? – eu olhei-a

– Não pode ser nenhuma menina – ela assentiu com a cabeça – Todas estão dormindo.

– Deve ser algum menino idiota querendo nos espionar – revirei os olhos – Deixa quieto.

– Deixar quieto?! – ela quase berrou – Eles estão nos espionando!

Não demorou nada para que Lucy levantasse em um pulo e me arrastasse para dentro da floresta.

– Lucy! – eu reclamei – Se descobrirem que viemos aqui vão nos mandar novamente para Hogwarts e iremos parar nas masmorras.

– Por quê? – ela cruzou os braços – Estamos fazendo um favor para as meninas, estamos fazendo com que elas não sejam espionadas por garotos pervertidos. Além do mais, já está de manha.

– Você não ouviu o discurso de Dumbledore? – eu insisti – Ninguém saí da área das barracas sem a autorização da professora Minerva, mesmo na parte da manha.

Ela riu.

– Eu nunca presto atenção em nada do que aquele velho fala.

Achei uma falta de respeito com o nosso diretor, mas parei de falar e segui-a, afinal nada que eu pudesse dizer ia fazê-la mudar de ideia.

Eu só tenho amigas teimosas, meu deus.

Nós duas ouvimos algumas vozes e paramos atrás de uma rocha, tentando ouvir o que diziam.

– Nós não devíamos estar aqui – um garoto disse – É arriscado, vão nos pegar. Além de não estarmos fazendo “coisas corretas”, eu estou no território feminino. Vão achar que eu vim aqui te espionar!

– Errado? – dessa vez, uma voz feminina disse – Então o amor é errado?

– É a Corallyn! – Lucy pulou e eu precisei tapar sua boca – Ela está falando com o...

Ela parou de repente. Aquelas duas estavam escondendo alguma coisa e acham que eu sou besta de não perceber.

– Pode me falar o que você está escondendo – arquei uma sobrancelha – Agora.

– Esconder? – ela forçou uma risada – Eu não estou escondendo nada.

Semicerrei os olhos em sua direção.

– Tudo bem – ela cochichou – Ontem, quando nós viemos nadar na cachoeira, encontrei os dois, bem...

– Os dois quem?! – me controlei para não espancar minha amiga, que por sinal não sabia enrolar nada bem

– Lyn e Leo! – ela quase berrou e, novamente, precisei tapar sua boca – Eu encontrei os dois, bem, hmm... Você sabe. Putarias.

Eu comecei a rir feito uma retardada, e Lucy me beliscou.

– Aí! – eu reclamei de dor – Se você fizer isso novamente, pego meu arco e flecha e atiro uma flecha no seu olho.

– Desculpe, senhorita elfa – ela rolou os olhos e concentrou-se novamente no casal de pombinhos – Mas uma coisa eu não entendo: Lyn não estava na barraca quando acordamos?

– Algum feitiço de duplicação – dei de ombros – Já vi ela fazendo isso, e realmente é muito boa.

– Espere – Leo cochichou, e eu e Lucy gelamos – Acho que tem alguém nos espionando.

– Você só está inventando isso para ir embora! – Corallyn gritou – Pode ir! Não vai fazer falta.

– Mas eles não eram o casalzinho morrendo de amores a alguns segundos atrás? – cochichei para Lucy

– Shhh – ela me beliscou, novamente, e eu dei um tapa em suas costas – Cale a boca e escute o que eles vão dizer.

– Lyn, espere – Leo suspirou e segurou em seus ombros – Me desculpe. Fique aqui, por favor.

– Não podem saber que estamos fazendo isso - Lyn ajeitou o cabelo– Não podem saber que eu tenho sentimentos e que estou apaixonada por você. Por favor, não conte para ninguém.

– Eu não vou contar - Leo sorriu - Não vou contar porque eu te amo.

Ela sorriu, tímida. SORRIR? ESPERE, NÃO PODE SER. A LYN NUNCA SORRI! NUNCA!

Corallyn segurou em sua cintura e puxou-o para perto. Os dois começaram a se beijar, e Leo entrelaçou as mãos em seu pescoço.

Fiz um gesto para Lucy, e saímos dali. Com toda certeza não precisávamos ver mais do que havíamos visto.

*

Chegamos arfando na área das barracas, onde Kath nos esperava enquanto comia uma tigela de mingau.

– Achei que vocês haviam morrido! – ela cruzou os braços assim que sentamos a seu lado – Onde estavam?

Nós duas nos entreolhamos, e acabamos decidindo por contar o que havíamos visto.

– A Lyn e o Leo – Lucy começou

– Estavam se pegando no meio da floresta – continuei

– E Corallyn sorriu e depois disse a palavra amor – Lucy terminou tentando controlar a emoção

Kath mexeu-se desconfortável em seu banco.

– Tem certeza de que era a Lyn? Ela nunca sorri.

– Pensamos a mesma coisa – dissemos em uníssono – Mas temos certeza de que era ela.

– Não pode ser - Kath tentou assimilar tudo - A Lyn, sorrindo, palavra amor...

– ENTÃO VOCÊS FICAM ME ESPIONANDO AGORA? - uma voz berrou atrás de nós - ACHEI QUE ERAM MINHAS AMIGAS!

Rezamos para que não fosse quem estávamos pensando. Mas quem mais seria? É claro que era ela. Ninguém mais conseguiria berrar daquele jeito.

– Lyn... - Lucy virou-se e fechou os olhos, com medo que Corallyn resolvesse soca-la ou algo assim - Nos desculpe, mas...

– NOS DESCULPE NADA! - ela já estava vermelha, e deu um chute na canela de cada uma de nós - EU NÃO TENHO DOIS ANOS PARA FICAR SENDO VIGIADA!

– LYN! - perdi a paciência e acabei gritando também - Nos desculpe, mesmo. Mas agora, queremos saber o que está passando entre você e o Leo.

– EU NÃO PRECISO DAR SATISFAÇÃO PRA NENHUMA DE VOCÊS! - ela chutou uma pedra - NÃO FALEM COMIGO NUNCA MAIS!

– Lyn... - Kath tentou

– NUNCA MAIS! - ela gritou pela última vez e correu para dentro da floresta

Ficamos olhando ela se afastar.

– Ela realmente não vai falar mais com a gente - Kath suspirou - Droga vocês duas! Por que precisavam ir para a floresta?

– Nos desculpe! - Lucy levantou as mãos, começando a se irritar, assim como todas nós - Não foi nossa intenção.

– NOSSA INTENÇÃO UMA OVA! - gritei - VOCÊ QUEM QUIS IR PARA LÁ. NÃO VENHA JOGAR A CULPA EM MIM!

– QUER SABER - Kath estava gritando. Meu Deus. Lyn nunca sorri, mas Kath também nunca grita, está sempre calma. Ela devia estar realmente atacada - EU NÃO QUERO SABER DE QUEM É A CULPA. SÓ SEI QUE VOCÊS DESTRUÍRAM NOSSA AMIZADE! PREFIRO QUE VOCÊS TAMBÉM NÃO FALEM MAIS COMIGO!

– Kath! - Lucy bufou - Já pedimos desculpas! Pare de ser criança e venha aqui agora!

– NÃO ATÉ A LYN VOLTAR! - ela gritou e nos deu a língua. Não muito adulto, mas útil.

Ela foi até nossa barraca batendo os pés e fechou o zíper.

– Nós destruímos tudo - olhei para Lucy

– Sim - ela suspirou - Precisamos voltar a ser amigas, somente isso. Elas duas são legais, e precisamos delas para sobreviver a essa escola idiota.

Eu assenti. Levantamos e fomos em direção a nossa barraca, para tentar conversar com Kath.

Um grito ecoou na floresta. Um grito agudo e fino. Em seguida tudo parou e o tempo pareceu desacelerar.

Não. Não pode ser. Não! Com toda certeza era Corallyn.

Corremos até a floresta, em uma velocidade que nunca haviamos corrido antes. Até Kath pulou de dentro da barraca e juntou-se a nós.

Quando chegamos perto do riacho, quase tivemos um surto:

Lyn estava deitada a suas margens, de olhos fechados, com sangue saindo de sua cabeça.

– N-Não - Lucy gaguejou

– O que aconteceu com ela? - Kath gritou e ajoelhou-se a seu lado

– Não sei - eu disse, enquanto eu e Lucy ajoelhávamos também - Mas seja lá o que a atacou, o negócio foi feio.

Ouvimos um barulho, de alguém se mexendo entre os arbustos. Consegui ver um vulto, e seja lá o que fosse, o negócio era grande. Muito grande.

– Vamos sair daqui - Kath cochichou

– Não dá - Lucy cochichou de volta - Não podemos deixar Lyn aqui, mas também não vamos conseguir leva-la a tempo de fugir desse bicho.

Outro barulho. Mais um vulto, gigante como o outro. Nos entreolhamos assustadas.

Que ótimo. Estávamos presas na floresta, com uma amiga praticamente morta e um bicho psicótico nos cercando.

O dia não podia ficar melhor.