Paixão na Ilha escrita por Sandy Lili Schroeder, rosy silva
Notas iniciais do capítulo
olha eu aqui de novo fui rápida não espero que gostem :)
boa leitura
.
Leon Hale levava a carga com facilidade. Subiu a estreita
escada de dois em dois degraus e avançou pelo convés até onde meia
dúzia de homens vigiava aos passageiros e à tripulação do Anna Creer. A
moça era um peso morto sobre o ombro do capitão e parecia, finalmente,
submissa. Jon riu para si, amargurado. Desejava-a mais do que queria
admitir, até para si mesmo. Se as circunstâncias fossem diferentes, teria
gostado de domesticá-la. Mas fazia oito anos que evitava que o
capturassem e navegava sob a bandeira negra guiando-se por um
princípio fundamental, “nunca fazer prisioneiros”. Eram mais problemas
que benefícios. Possivelmente pudesse fazer uma exceção com esta
jovem.
Leon se deteve com brutalidade, levantou o corpo do ombro e o
jogou sem cerimônias sobre as tábuas duras do convés. Villu se sentou
e levantou os olhos cheios de lágrimas para ele, com expressão
desafiante. Tinha o cabelo desgrenhado pelo tratamento duro que
recebeu, os fios cor de cobre estavam soltos nas costas. As lágrimas
deixaram marcas de sujeira que escorria pelas laterais do seu rosto.
Apertou com força os lábios para que não lhe tremessem. O deslumbrante
inchaço dos peitos era visível embora ela apertasse com força as partes
do vestido estraçalhadas com ambas às mãos. Leon pensou que nunca
tinha visto uma mulher tão desejável.
— Vigia-a - disse com tom seco a um marinheiro que estava
perto, depois atravessou o convés para fiscalizar o andamento da carga
do Anna Creer na adega do Margarida.
A carga consistia em mineral de prata avaliado em milhares de
dólares, pagamento parcial do governo de Portugal a Inglaterra por seis
fragatas de construção inglesa. Jon soube do embarque através de um
informante pago que estava empregado na embaixada portuguesa na
Inglaterra. O mais interessante da informação consistia em que a prata
viajava quase sem custódia. Embora fosse um navio militar, o navio
viajava sozinho. O custo de uma frota de navios era muito caro e a ideia
foi descartada.
Leon não acreditou na notícia quando a deram. Não podia
acreditar que um governo fosse tão negligente para enviar essa
quantidade de prata desprotegida. Mas averiguou a história e não
encontrou nenhuma contradição. Como foi compreendendo pouco a
pouco, o raciocínio do governo português era que, quanto menos se
atraísse a atenção, mais a salvo de um ataque estaria o navio. No
começo, a ideia era transportar o valioso mineral em um navio de
passageiros sem canhões, mas descartaram a ideia porque era muito
arriscada e depois chegaram a um acordo, a prata seria embarcada em
um único navio militar, sem escolta, como se estivesse fazendo uma
viagem de rotina, escolheu-se o navio Anna creer com instruções de levar
uns poucos passageiros, para dar à viagem a aparência mais inocente
possível.
Saquear o navio Anna Creer tinha sido perigoso. O navio
Margarida seguiu durante dias, a espera de algo fora do comum, embora
não observaram nada. Aparentemente a informação era correta, mas
mesmo assim Jon estava intranquilo. Algo na situação lhe parecia
estranho. Foi somente essa manhã que tinha tomado uma decisão,
tomariam o navio Anna Creer. O melhor momento seriam as últimas
horas do entardecer, quando o efeito do sol poente sobre a água tivessem
cegado os sentidos da tripulação. Toda a operação levaria menos de uma
hora e o navio Margarida teria que afastar-se. Com sorte, nenhum dos
passageiros do Anna Creer, e só uns poucos da tripulação, sofreriam
algum mal, até o momento, a operação tinha funcionado sem
dificuldades. Claro que, por desgraça, o navio Anna Creer não se rendeu
logo no começo e não era isso o que ele esperava. As perdas do
Margarida foram mínimas e nesse momento as maiorias dos homens do
capitão Leon se dedicavam alegremente a recolher tudo o que podiam
conduzir. Assim que chegassem a um porto seguro, iriam dividir entre
todos os membros da tripulação por partes iguais. Como capitão, Leon
tinha direito a um quinto do total e a captura do Anna Creer foi muito
proveitosa para ele. — Depressa, Harley, Thomson! - Gritou, irritado pela
lentidão com que trabalhavam.
Os dois homens, que levavam uma carga de prata através da
ponte improvisada entre os navios, estiveram muito perto de cair pela
amurada na pressa de obedecer à ordem, Jon observou um momento a
tarefa da tripulação e virou-se para olhar para os passageiros que tinham
sido separados do grupo e eram vigiados por dois de seus homens.
Exceto pela moça, constituíam um grupo pouco atrativo. Havia
um homem de meia idade e sua esposa, gorda e chorosa, que sem dúvida
eram comerciantes ricos, um lorde inglês e seu mordomo de rosto
impassível, a robusta senhora, que observava ansiosa a sua pupila, e uma
mulher mais velha com um feio vestido na cor lavanda que esteve na
moda vinte anos atrás.
"Por certo, não há muito que olhar", refletiu Leon, "exceto a
moça, mas todos eles devem ter dinheiro ou estar relacionados com ele”.
"Pediremos um bom resgate por eles", pensou, lamentando sua
regra de ferro de não fazer prisioneiros. Pensativo, moveu a cabeça,
provocavam muitos problemas, em especial as mulheres, que podiam
causar brigas entre a tripulação. "Entretanto, é uma vergonha. Eu
gostaria de passar uns momentos com a moça."
— Capitão, por Deus, olhe a estibordo! - Exclamou, ofegando o
marinheiro. — Há um exercito inteiro!
Leon girou bruscamente e observou o mar, no horizonte aparecia
um navio atrás do outro e todos se dirigiam, ameaçadores, para o navio
Anna Creer. Mentalmente, Jon se amaldiçoou por ter sido tão tonto para
não fazer caso da voz interior que tratou inutilmente de lhe advertir e por
isso caiu em uma armadilha. Sem dúvida o navio Anna Creer era uma
isca de peixe muito bem preparada.
"Para pegar a um tonto que não soube resistir à tentação!",
pensou, zangado e se voltou para disparar ordens à tripulação.
— Terminem de carregar a prata, rápido! Por sua vida! - Deu as
ordens com voz severa e decidida, e os homens se precipitaram a lhe
obedecer. Leon se voltou para o Harry, que havia se aproximado dele e o
olhava, ansioso. — Procura o capitão do Anna Creer e traga-o aqui!
Enquanto esperava o capitão do navio sequestrado, a mente de
Leon trabalhava rapidamente. Se o navio Margarida começasse a navegar,
podia deixar para trás às fragatas, mas estavam a menos de uma hora de
distância e se aproximavam a toda velocidade. E bastava um só desses
navios poderosos para afundar totalmente o navio pirata. Para salvar-se,
teriam que recorrer à astúcia. No mesmo instante em que Harry se
aproximava com o capitão do Anna Creer, Jon tomou uma decisão.
— Harry, traz aqui essas duas, a senhora e a jovem. Coloque a
bordo do Margarida. Serão nossos reféns para assegurar o bom
comportamento das fragatas!
— Sim, sim, capitão! - Respondeu Harry com prontidão e riu
entre dentes. Leon os salvaria, até então, nunca lhes tinha falhado!
— Senhor - disse Leon amavelmente ao furioso capitão. -
Lamento muito ver-me obrigado a pegar alguns de seus passageiros
como reféns, mas não sofrerão nem um dano se as fragatas mantiverem
a distância e não utilizarem os canhões. Do contrário, se fizerem um só
disparo... asseguro-lhe que os reféns serão executados imediatamente.
Um só disparo. Confio em você para que leve esta mensagem ao capitão
das fragatas.
O semblante do capitão do Anna Creer expressou sua
indignação.
— Senhor, não esperará escapar com os reféns! A senhora mais
idosa é a duquesa de Kent e a jovem é a filha do embaixador em
Portugal! Imploro-lhe que não as leve! Em lugar delas, leve a mim e a
minha tripulação!
Leon riu e se virou.
— Capitão, transmita minha mensagem!
Calmamente deu ordens a outro membro da tripulação e,
minutos depois, o indignado capitão do Anna Creer viu descendo a uma
embarcação que seria conduzida por seis remadores.
— Remem! Remem para as fragatas! - Gritou Leon, sobre a
amurada. — Malditos, depressa se não quiser que vos mate ai mesmo, na
água!
Mediante semelhante ameaça, os remadores puseram todo seu
empenho e a pequena embarcação quase voava pela água, para as
fragatas.
Leon pulou para dentro do Margarida quando o último dos reféns
estava passando pela ponte improvisada.
— Soltem as amarras!
Cortaram a machadadas as cordas que uniam as duas
embarcações e começaram a separar lentamente.
— Arrumar as velas!
A enorme vela principal foi içada no mastro e bateu as asas
com força um momento antes de inflar com o vento. — Virar a favor do
vento!
O navio Margarida parecia que criava asas quando o vento a
empurrou, cortando as ondas a toda velocidade.
No convés, Violetta conteve suas lágrimas aterrorizadas,
enquanto o navio Margarida ganhava velocidade. Sentia na garganta um
nó formado por todas as lágrimas não derramadas, nunca se sentiu tão
sozinha, nem tão desamparada.
Os reféns foram agrupados sob o mastro principal e amarrados
frouxamente com uma corda que lhes passava pela cintura e as pernas,
para que não se movessem do lugar.
— Assim poderemos desfazer de vocês rapidamente - disse o
homem que os amarrou, com um sorriso macabro que deixou pouca
dúvida a respeito das intenções dos piratas.
Se a fragata não se mantivesse a distância, suas vidas seriam
descartadas iguais peças de roupas.
— Não nos farão mal. As fragatas não abrirão fogo conosco a
bordo - disse a duquesa, com voz forte e clara.
O medo evidente de Villu lhe provocava compaixão e lhe
afagou a mão para acalmá-la. O comerciante estava muito atarefado em
lutar com a histeria da esposa para discutir, como aparentemente era a
sua intenção.
O convés do navio pirata fervia de atividade. Ocupados, os
marinheiros corriam de um lado a outro cumprindo suas tarefas. Diante
dos próprios olhos dos reféns, o bando de piratas se converteu em um
grupo experiente e disciplinados homens do mar.
Villu lançava olhares ocasionais de soslaio ao capitão, que
parecia estar em todos os lugares, gritando ordens e ajudando quando
fazia falta. Aparentemente, os homens tinham-lhe um considerável
respeito. Villu ouvia murmúrios pelos quatro cantos, "O capitão nos
tirará disto, até agora nunca nos decepcionou!”.
O navio Margarida foi construído para ser um navio veloz e,
literalmente voava sobre a água. Depois dele, as fragatas perdiam
distância, mas sempre seguiam à vista. E o pôr do sol chegou e começou
a soprar vento. Villu tremia de frio sob o mastro e os lábios da senhora
duquesa estavam roxos. Aparentemente, o casal de comerciantes tinha
suficiente camada de gordura que os protegiam do frio.
A lua era um fantasma pálido que flutuava sobre as cabeças de
todos quando o capitão se aproximou dos reféns. Os observava em
silêncio, com expressão sombria. O coração de Villu começou a palpitar,
alarmado.
— Deem graças a seu Deus, seja lá qual for, de que as fragatas
não tenham aberto fogo. Parece que valorizam suas vidas mais que a
prata. Se eu estivesse em seu lugar, rogaria que não mudassem de ideia.
Em voz alta, para que o ouvisse do outro lado do convés,
chamou o Harry, quem se apressou a aproximar-se.
— Separa um par de homens para levar os prisioneiros lá
embaixo e prendê-los. Acredito que o lugar adequado é a adega, lhes diga
que tenham certeza de que este homem fique bem preso... já temos
problemas suficientes sem que ele fique pensando em se fazer de herói.
Os olhos duros e cinzas posaram um instante em Villu, que se apressou
a desviar o olhar e se ruborizou intensamente. Com certa vacilação, o
homem a contemplou como se tivesse algo em mente e logo disse ao
Harry.
— Leva a moça ao meu camarote.
— Senhor! - Exclamou Harry com voz aguda, sem poder conter
a surpresa. Leon lhe respondeu em tom áspero.
— Você já me ouviu. Leve ela para o meu camarote e a prenda
ali.
— Sim, senhor! - Respondeu Harry, com rigidez, avermelhado
por sua própria falta de controle. O capitão lhe jogou um olhar carrancudo
antes de girar sobre os calcanhares e afastar-se.
Harry se apressou a obedecer às ordens, incapaz de deixar de
perguntar-se o que era que Leon tinha em mente, pois embora gostasse
das mulheres não era inclinado a estupro. E sem dúvida teria que ser um
estupro, porque era evidente que a moça era a personificação da
inocência. Embora tivesse um rosto encantador e um corpo sedutor, era
pouco mais que uma menina e, além disso, estava aterrorizada. E, além
disso, era uma dama! Não era a classe de mulher a que Leon pudesse
deitar despreocupadamente e descartar quando se cansasse... pois a
família reclamaria a honra!
Harry tremeu ao pensar no que poderia acontecer ao Leon se
capturassem o navio Margarida, resgatassem os reféns e descobrissem
que a jovenzinha tinha sido deflorada! Tinha certeza de que lhe
enforcariam imediatamente, mais ainda, talvez o matassem no ato.
Incrédulo, Harry meneou a cabeça, pois embora a moça fosse de uma
beleza incomum, nenhuma mulher valia tanto para morrer por ela! Vinte
e quatro horas antes, o mesmo Leon teria estado de acordo! Mas, como
Harry sabia por experiência, uma vez que Leon colocava algo na cabeça,
não havia quem o detivesse. E por certo que não seria ele, um simples
membro da tripulação, quem tentaria dizer ao capitão o que tinha que
fazer!
Ainda inquieto, ocupou-se de transportar com segurança os
outros prisioneiros, para logo voltar a desamarrar à garota. Encontrou-a
fria e imóvel como uma estátua de mármore branca e ela voltou à
consciência quando teve que arrastá-la, quase, até o camarote do
capitão, sob o tombadilho. A moça se deteve petrificada na entrada e
Harry sentiu que lhe tremia o braço.
— Não o faça - disse Villu, em um suspiro, olhando-o com
olhos arregalados.
— É ordem do capitão, senhora. - Disse Harry, desconfortável,
lamentando que o convés não se abrisse e o tragasse.
A moça lhe apoiou uma de suas pequenas mãos no braço e
Harry se assustou.
— Por favor, me coloque junto com os outros, eu lhe imploro.
Meu pai é um homem rico e pagará bem por me recuperar... sã e salva.
Ou talvez pudesse descer em um desses botes...
A voz estava embargada e Harry tragou saliva, incapaz de
enfrentar esse olhar de feiticeira.
— Não posso fazer nada, senhora. Sinto muito. Se eu o
desobedeço, o capitão poderia me colocar no calabouço ou algo pior. -
Apoiou-lhe uma mão debaixo da cintura e insistiu a entrar. Relutante,
Villu entrou e virou-se para ele. O temor que viu nesses olhos imensos
comoveu a Harry.
— Olhe senhora - disse desesperado. — O capitão Hale não é
nenhum santo, mas tampouco é um miserável. Faz oito anos que estou
com ele e nunca vi que lhe fizesse mal a uma mulher. Não lhe acontecerá
nada.
— Não será graças a você - replicou a moça em tom amargo e
lhe deu as costas, em uma clara indicação de que esperava que se fosse.
Harry a olhou, impotente, retrocedeu e saiu, fechando o
ferrolho da porta.
Villu ouviu que o ferrolho a trancava naquele lugar. Não podia
acreditar que estivesse lhe acontecendo semelhante pesadelo. Chorou
com um som rouco e seco. "Mas as lágrimas não me servirão aqui, onde
não há ninguém que possa me ajudar", disse-se. Ergueu os ombros e
examinou o lugar em busca de possíveis possibilidades de fuga. Na
escuridão, logo pôde distinguir a forma de uma caixa de fósforos sobre a
mesa. Raspou um com mãos trementes e acendeu com ele uma vela.
O camarote era pequeno para deixar espaço para a carga. As
paredes estavam cobertas de madeira de pinheiro escura e tinha
prateleiras embutidas, fechadas com portas de vidro, para evitar que os
livros caíssem quando o mar estivesse agitado, deduziu Villu, junto à
parede havia uma cama belamente arrumada, além da cama havia uma
mesa redonda e duas cadeiras, um guarda-roupas, um aquecedor a
carvão e um par de armários de parede.
A única saída possível era uma pequena janela envidraçada.
Villu correu para ela, mexeu no fecho e a abriu. Bateu em seu o rosto a
água gelada e salgada, para sua decepção viu que estava virada
diretamente para o mar escuro. O vento formava altas ondas e agitadas,
que golpeavam com crueldade contra o casco. Villu estremeceu e
retrocedeu um pouco, ainda não estava tão desesperada.
Viu a distância umas doze luzinhas que se moviam de cima para
abaixo. As fragatas! Ainda estavam ali, embora não se atreviam a
aproximar-se. Soltou um suspiro de alívio. Se pudesse aguentar até que a
resgatassem... O navio pirata não podia evitar eternamente aos
perseguidores! O orvalho lhe umedeceu o vestido; Villu saiu da janela,
gelada até os ossos pelo vento úmido e frio. Ansiava despir-se e
descansar seu corpo maltratado em uma banheira quente, colocar uma
camisola seca e meter-se na cama, mas não havia perspectivas de banho
nem de camisola. E embora pudesse vestir, Villu hesitava em usá-las.
Não duvidava de quais eram as intenções do capitão ao prendê-la no
camarote e queria mantê-lo à distância até que as fragatas fossem
resgatá-la. Se o homem chegasse e a encontrasse com banho tomado
recentemente e deitada na cama, por certo que seu destino estava
selado. Apesar de ser inocente, ele não se importaria em saber disso,
arriscou-se a tirar o vestido úmido e o pendurou para secar sobre uma
cadeira. Deixaria-o ali durante a noite e o poria assim que chegasse a
manhã, prendeu o corpete rasgado com uns alfinetes que tinha visto em
uma terrina, junto à caixa de fósforos. Coberta só com a camisa rasgada,
tremeu e se apressou em cruzar o camarote até a cama, tirou a pesada
manta e se envolveu nela para conservar o calor. Observou o quarto com
a vista em busca de um lugar para dormir e viu um canto fofo, debaixo da
janela. Pegou um travesseiro da cama e se instalou o mais confortável
que pôde nesse espaço reduzido. Não tinha intenção de estar adormecida
quando o capitão retornasse ao camarote.
Villu virava e se revirava no seu pequeno espaço, esforçando- se por não dormir. Repassou mentalmente os sucessos do dia até chegar
ao homem aterrorizante que a deixava prisioneira. Involuntariamente
pensou em seu belo rosto, os ombros largos e o modo em que havia lhe
beijado. Claro que era um pirata, um criminoso, inadequado para uma
dama como ela... mas... esse beijo tinha lhe despertado algo muito
profundo, algo que a fez imaginar com um horror tremendo o que
aconteceria quando esse homem retornasse e voltasse a pegá-la em seus
braços e beijá-la, ou até mais. Embora ela não soubesse exatamente o
que era esse "mais", sabia que tinha relação com a maneira em que o
capitão lhe tinha acariciado os peitos. A lembrança dessa carícia íntima a
excitou e a envergonhou ao mesmo tempo. Não entendia a si mesmo,
nem tão pouco esse anseio reprimido por algo que não conhecia,
apressou-se a afastar esses pensamentos tão perturbadores e se
concentrar em pensar num plano para escapar, por mais que se
esforçasse não conseguia pensar em nada que tivesse a menor
possibilidade de sucesso. Finalmente, desanimada, deixou cair à cabeça
sobre o travesseiro, balançou a cabeça e dormiu.
Despertou assustada, a ponto de cair do leito improvisado por
uma violenta sacudida do navio. Adormecida, olhou em volta e, por um
momento, não soube onde estava. A vela brilhava e lançava um fraco
resplendor pelo camarote. Atraiu a atenção de Villu um movimento em
um canto do quarto. Uma figura alta, masculina, ajoelhada e de costas,
remexia em uma das arcas. O capitão! Tinha o cabelo molhado grudado
ao crânio e as roupas molhadas, com toda a aparência de ter se jogado
no mar. Outra violenta sacudida do navio seguida pelo barulho abafado de
um trovão fez que Villu compreendesse a situação, tinha desencadeado
um temporal e o capitão estava ao ar livre. Villu rezou uma prece de
gratidão para si mesma, se ele tinha que lutar contra o temporal, não
teria tempo para ocupar-se dela.
Leon encontrou o que procurava na arca e a fechou de um golpe,
ficou de lado para a prisioneira e começou a tirar a roupa molhada, sem
olhar em sua direção. Era como se tivesse esquecido que existia. Villu o
observou entre os cílios, fingindo que dormia.
No peito de Leon resplandecia a luz da vela e o pelo brilhava com
as gotas de água. O contorno dos músculos dos braços e do peito
ressaltou a frágil luz quando tirou a camisa e deu meia volta enquanto
começava a tirar as calças molhadas.
Villu sentiu um forte calor nas bochechas ao observá-lo
despir-se, pegou uma toalha áspera da cama e começou a secar-se
energicamente. De costas parecia um magnífico animal macho, com seus
ombros largos, seus quadris estreitos, as pernas largas e musculosas. As
costas e os ombros estavam muito bronzeados e o contraste com a pele
mais clara era surpreendente. Um furioso rubor cobriu o rosto de Villu,
enquanto seus olhos passeavam fascinados pelas nádegas de Leon. Era
musculosa e escura, a diferença das suas, mais arredondadas. Imaginou
que seriam duras ao tato... apressou-se a fechar os olhos, profundamente
envergonhada de seus próprios pensamentos. Era a primeira vez que via
um homem nu, deixou-a perplexa o fato de que pudesse contemplá-lo
sem ficar desconcertada por ter essa visão. Sem dúvida, devia haver algo
errado com ela, uma verdadeira dama teria desmaiado.
Leon vestiu uma calça seca, fechou-a e se virou para colocar a
camisa. Olhou na direção da silhueta imóvel da moça, enrolada no
assento debaixo a janela. Riu entre dentes e se aproximou sem pressa. A
garota tentava lhe fazer acreditar que dormia!
Villu viu que se aproximava e se apressou a fechar os olhos.
Ao perceber que o homem se inclinava para ela, tratou de fingir uma
respiração regular. E o seu coração lhe golpeava com tanta força que
estava segura de que ele devia ouvi-lo e adivinhar que não dormia,
concentrou-se na respiração, mas ficou muita assustada ao sentir que os
braços do homem a rodeavam. Pegou-a nos braços, o que a obrigou a
afrouxar-se, num desespero para que ele acreditasse que estava
dormindo.
Leon riu entre dentes e a levou nos braços até a cama. Apoiou-a
com delicadeza sobre o colchão, ergueu-se e a olhou. Parecia tão jovem e
indefesa, com os olhos fechados com força para não vê-lo e o cabelo
acobreados caídos pelo travesseiro...! Tinha os lábios entreabertos,
apenas úmidos, e as curvas provocadoras de seu corpo se viam com toda
claridade através da camisa rasgada, que era a única peça que vestia. Ao
contemplá-la, sentiu que percorria em todo seu corpo o desejo mais
intenso que ele sentia em muito tempo, secou-lhe a boca ao imaginar-se
na cama com ela, estando livre para saciar seus desejos sexuais sobre a
carne suave da moça. Um estalo de trovões o acalmou e, a contra gosto,
lembrou-se da tempestade e que todos dependiam de sua experiência,
inclinou-se, cobriu-a com as mantas e se endireitou.
— Ficará para outra vez, minha senhora - disse com suavidade
e para Villu arderam às orelhas.
Então, ele sabia que estava acordada? Se assim era, por que a
tinha deixado em paz, sem incomodá-la, em sua própria cama? Villu
refletiu um momento nestas questões e no homem que as provocava.
Quando finalmente adormeceu o amanhecer já despontava no céu. Ao
despertar, muitas horas depois, o camarote ainda estava totalmente
escuro, como durante a noite, perguntou-se rapidamente por que e logo
se lembrou da tempestade. Deve ter sido bastante intensa. O navio se
agitava e se balançava muito e tinha que fazer muito esforço para ficar de
pé. Teve que segurar-se na cabeceira da cama para conservar o
equilíbrio. Sem dúvida alguém já esteve no camarote, porque havia água
fresca em uma jarra tampada, um cesto com rosquinhas e mel, e um bule
com chá. O vestido estava dobrado com cuidado, apoiado aos pés da
cama. Villu o vestiu com pressa e continuou com o estúpido corpete
rasgado cheio de alfinetes, sentou-se à mesa, assustada por sua falta de
apetite. Afinal, já fazia muitas horas que não comia e a noite anterior não
tinha jantado.
O aroma doce das rosquinhas subiu até seu nariz, virou a
cabeça, repentinamente enjoada. O navio balançou novamente e sentiu- se mal do estômago, contraindo-se, levantou da mesa e correu para a
janela, chegou bem a tempo. Montanhas de ondas furiosas a ameaçavam
enquanto se inclinava e esvaziava o estômago no mar.
Passou os três dias seguintes na cama, alternando entre um
sono inquieto e os vômitos que suas vísceras descarregavam em um
recipiente de barro que lhe deixaram para seu uso. Acreditou que
morreria e por volta do final do primeiro dia orou com ardor que assim
fosse. Qualquer coisa para escapar dessa desgraça! Capitão Hale riu
insensível. Quando ficou sabendo do estado da prisioneira deu instruções
para que Petersham a ajudasse pessoalmente, para que atendesse as
necessidades de Villu.
Petersham era um homenzinho magro e robusto, de idade
média, que conhecia o capitão desde que era menino. Contou a Villu que
tinha sido servente do pai do capitão no Woodham, a propriedade da
família Hale na Carolina do Sul. Quando jovem Leon tinha brigado com o
pai e fugido para o mar; o pai furioso enviou o Petersham para buscá-lo,
mas uma coisa levou a outra e Petersham terminou junto nas viagens de
navio com seu jovem amo. Esteve sempre com o amo Leon... e as coisas
que viu teriam sido suficientes para pôr os cabelos em pé a qualquer um!
Entretanto, levando em conta as circunstâncias, gostava dessa vida e não
pensava afastar-se dela e nem do capitão.
Villu estava muito interessada no que lhe contou Petersham.
Então Hale era americano? Isso explicava muitas coisas. Villu tinha
ouvido dizer que os habitantes das colônias eram selvagens sem conserto
e sem dúvida Leon Hale respondia a essa descrição. Não era melhor que
um selvagem: saqueava, assassinava e roubava mulheres a seu desejo.
O capitão não entrava com frequência no camarote e sempre
era para devorar uma comida rápida ou umas poucas horas de descanso
que tanto necessitava. A primeira noite, Villu estava adormecida quando
ele chegou; ao despertar, encontrou-o deitado junto a ela como um leão
exausto. Estava completamente nu e a moça sentiu que a pele do homem
lhe queimava onde entrava em contato com a sua inclusive através do
tecido do vestido. Com cautela, tentou afastar-se, mas o braço de Leon
estava apoiado sobre seu cabelo e não podia soltar-se sem despertá-lo.
Inquieta, permaneceu deitada sobre o travesseiro, observando-o com
olhos aflitos. Como o homem seguiu dormindo, pouco a pouco se
tranquilizou e por fim, dormiu junto a ele.
Quando despertou, o capitão ainda dormia; uma de suas mãos
rodeava, casualmente, um dos seios de Villu, e tinha o joelho entre as
coxas dela. O íntimo da posição fez ofegar a Villu, que tratou,
desesperadamente, de separa-se, sacudindo-o com movimentos fortes.
— Fica quieta! - Grunhiu o homem, olhando-a com testa
franzida e as pálpebras avermelhadas.
Villu se submeteu temerosa do que poderia lhe fazer se o
desobedecesse, ele voltou a fechar os olhos, mas poucos minutos depois,
se levantou e se esticou, exibindo casualmente a sua nudez viril. Na
verdade horrorizada, desta vez Villu fechou os olhos. A aparência do
homem de frente era muito mais assustadora do que por trás.
Ressonou um trovão e o navio se balançou. O capitão
amaldiçoou e se vestiu depressa. Tinha os ombros caídos e os olhos
vermelhos pela preocupação. Para sua própria surpresa, Villu descobriu
que sentia pena por ele, mas as palavras que disse a seguir dissiparam
todo sentimento de compaixão.
— Da próxima vez que me deitar com você não quero que
esteja vestida com essa roupa. Se isso ofender seu pudor, peça para que
Petersham dê a você uma das minhas roupas de dormir. É como dormir
com uma maldita almofada cheia de alfinetes! Estou te avisando, se ainda
estiver com esse vestido, eu mesmo vou te despir. E acredite que me
agradará e muito fazer isso! - Olhou-a, zombador; Villu subiu as mantas
até o pescoço, sem atrever-se a olhá-lo por temor de provocar sua
violência, o capitão saiu fechando a porta com um estrondo bastante mal- humorado, e Villu sorriu para si. Então o arrogante e poderoso capitão
tinha sofrido as espetadas dos alfinetes de seu vestido? Era uma pequena
vingança por tudo o que a tinha feito sofrer! Apesar de sua alegria, não se
atreveria a lhe desobedecer, não tinha sentido provocar um confronto
quando podia evitá-lo. Procurou nas arcas, encontrou uma pilha de belas
camisas de noite e ficou com uma. Eram muito grandes para ela, as
mangas ficavam penduradas quase até os joelhos e em baixo arrastava
uns vinte e cinco centímetros pelo chão. Mas devia admitir que ela era
muito mais confortável que seu próprio vestido rasgado e todo imundo,
enquanto tivesse o cuidado de cobrir-se até o queixo com as mantas cada
vez que entrasse alguém no camarote, não se queixaria. Por certo, era
muito menos revelador que sua própria camisola de tecido fino.
O capitão não voltou para o camarote até bem tarde da noite e
Villu já tinha se acostumado ao seu vestiário diferente. Estava sentada
na cama, apoiada em uma montanha de travesseiros e bebia com cuidado
uma xícara de chá. O estômago se acalmou um pouco, mas ainda se
rebelava violentamente se o navio balançava muito. Quando o capitão
entrou, atordoado de cansaço, Villu o olhou com olhos muito
arregalados e assustados e fez um movimento para sair da cama.
— Minha elegante senhora, se puser um pé fora dessa cama,
lamentará ter nascido - espetou-lhe. — Você acredita que poderá adiar
esse momento para outra ocasião.
Villu ficou onde estava e observou, preocupada, como o
homem apagava a vela e se despia. Logo distinguia a figura na
penumbra, e quando se deitou, ela se assustou e tratou de afastar-se
porque lhe rodeou a cintura com um de seus braços fortes. Logo o sentiu
estremecer-se, como se tivesse frio. Talvez houvesse dito a verdade e ele
só a queria para poder se esquentar, era uma possibilidade que não podia
desprezar. Deixou que se aproximasse dela em meio à escuridão e que a
rodeasse com braços e pernas quentes e seu corpo ficou rígido. Como não
fez mais que abraçá-la, pouco a pouco Villu relaxou. A proximidade
desse corpo ainda a assustava... e a perturbava de um modo estranho,
mas enquanto durasse a tormenta, pensou, não teria nada que temer
dele.
O capitão dormiu quase imediatamente, com uma respiração
profunda e regular. Villu se apoiou em um cotovelo e olhou o rosto
bronzeado tão próximo a ela, sobre o travesseiro. Para um homem tão
masculino tinha umas pestanas demasiadamente longas, em forma de
escura meia lua sobre as bochechas. A boca era sensível, o queixo esbelto
e duro. Ao vê-lo dormindo, sentiu uma estranha atração por ele e se
perguntou o que sentiria ao deslizar os lábios pela bochecha áspera...
Zangada pelo rumo de seus próprios pensamentos, apoiou-se outra vez
nos travesseiros e fechou os olhos. Um momento depois estava
adormecida.
Quando despertou, comprovou que finalmente brilhava o sol e
que estava sozinha na cama, ela levantou-se, correu para a janela e
olhou para fora. O mar brilhava como um cristal de diamante polido. O sol
morno lhe banhou o rosto voltado para cima e o ar era doce e perfumado.
Villu ansiou sair e aproveitar um pouco desse ar tão puro e decidiu pedir
ao Petersham para lhe conseguir permissão para sair ao convés.
"Inclusive aos criminosos lhes permitia fazer um pouco de exercício",
pensou rebelde.
"Mas como poderia?", perguntou-se, enquanto salpicava a cara
com água fria. O vestido, que um dia foi lindo, estava reduzido a um
trapo sujo e, aparentemente, a única alternativa era usar uma das
camisas de dormir do capitão. Estavam inteiras e a cobriam, mas isso era
tudo. Não cabia dúvida de que não eram apropriadas para um passeio
pelo convés.
Chateada, sentou-se na cadeira com um livro de peças de
teatro na mão. "Propriedade de Leon Creighton Hale", ler a escrita
em letra decidida na primeira folha em branco, Villu estava admirando a
assinatura quando o próprio Leon Creighton Hale entrou. Ao vê-lo
nesse momento, Villu não compreendeu o que a tinha comovido
enquanto ele dormia. Acordado, era o mesmo monstro arrogante e
desagradável que a tinha capturado e abusado dela. Lançou-lhe um olhar
carrancudo.
— Hoje está pálida, milady - disse Leon, com esse tom de
zombaria horrível em sua voz.
— Não é de admirar, se você me deixa aqui trancada. Você
pretende me matar por asfixia ou tédio? - Perguntou, em tom venenoso.
— Eu em seu lugar, cuidaria dessa língua, doçura! Como logo
descobrirá, há destinos piores - aproximou-se até a cama, enquanto isso
ia tirando a jaqueta e a camisa. Villu, humilhada, mordeu-se o lábio,
contemplando a flexão dos músculos nas largas costas. A tempestade
havia terminado e estava outra vez a mercê do capitão. Fez um esforço
por controlar a irritação e provou com um tom mais doce.
— Capitão, eu gostaria muito de sair ao convés.
— O que lhe impede isso? Os últimos dois dias a porta esteve
sem chave. Além disso, estamos em alto mar e, embora quisesse, não
terias para onde fugir. Claro, a menos que prefira aos cuidados um tanto
rudes de meus homens aos de minha própria pessoa encantadora.
Olhou-a rindo com expressão de lobo e Villu quase se afogou
de fúria.
— Ante sua desagradável presença, eu preferiria as atenções de
qualquer um!
— É verdade isso, milady? Então, por favor, saia ao convés, e
use sua técnica de sedução. Pergunto-me quanto tempo você duraria,
com meus homens brincando e dividindo você uns com o outros. Tenho
certeza que estaria morta muito antes que o navio Margarida chegasse a
algum porto.
A ira escureceu os olhos de Leon e suas palavras feriram a Villu
como pedras. A moça guardou um prudente silêncio, deixando cair outra
vez na cadeira e olhando-o com fervente ressentimento. Leon se virou,
deixou-se cair de corpo inteiro sobre a cama e ficou quieto um minuto e
quando finalmente falou, parte do aborrecimento se dissipou.
— Não tenho nada contra que suba e tome um pouco de ar,
desde que fique no tombadilho e permaneça afastada de meus homens.
Faz muito tempo que estão no mar e se virem uma mulher como você por
perto... bom, não há por que procurar problemas. Necessito a todos meus
homens, não quero ter que matar a nenhum deles, porque você o tenha
tentado até a loucura.
— Que o céu não o permita! - Replicou a moça, com tom
sarcástico. — E isso nos leva a outro pequeno problema. O que é que
usarei o resto desta viagem encantadora? Como você pode se recordar,
seus preciosos homens me rasgaram o vestido!
Como não respondeu, Villu se atreveu há ir um pouco mais à
diante.
— Capitão, o que é que fizeram seus piratas com meus baús?
Jogaram-lhes pela amurada? Ou os usam como trapos para esfregar o
convés?
— Seus baús estão a bordo, milady, e se fez inventário com
eles, igual com o resto da carga do Anna Creer. Eu não sei se você sabe
ou não, mas você tem um magnífico guarda-roupa, os seus vestidos
custam o suficiente para alimentar uma família por um ano, roupa interior
de seda e até lingerie de autêntica renda irlandesa. E um par de botas de
cano longo valioso minha senhora - continuou deitado de costas sobre a
cama, aparentemente indiferente à irritação crescente da moça.
— Você poderia me dar minhas roupas? - A voz lhe tremeu de
ira e lhe custou um grande esforço não lhe lançar as palavras de ódio que
tinha guardadas, sentiu seu sangue ferver por imaginar eles remexendo
nos seus pertences.
— Como eu disse minha senhora, valem bastante. E não só me
pertencem, mas também a meus homens. Sinceramente, não poderia as
dar de presente. Se tivesse a intenção de comprar...
Deixou que a voz se perdesse e se sentou na borda da cama,
olhando-a zombador.
— Você sabe que não tenho dinheiro. - Disse Villu, cortante.
— Quem falou de dinheiro? Possivelmente você e eu possamos
chegar a algum acordo. Digamos, por exemplo, um vestido... por um
beijo.
Villu o olhou, perplexa, e começou a enfurecer-se. Então
queria chegar a um acordo, verdade? Devia imaginar que ela era tola, um
beijo foi a coisa mais distante de sua mente.
— Bem, Villu? - disse com suavidade, observando-a. — Um
vestido por um beijo, acredito que é um acordo justo.
Villu o observou, tratando de adivinhar que pensamentos
havia atrás desse sorriso zombador, embora a expressão do capitão era
indecifrável, uma pequena chama faiscava no fundo desses olhos. Villu
começou a assustar-se. Ali, sentado, o homem parecia tão forte, tão
masculino, que lhe recordava um felino faminto contemplando um
camundongo muito apetitoso. A moça tragou saliva e logo o olhou de
frente, com um gesto orgulhoso no queixo.
— Preferiria beijar a um porco!
Leon não pareceu zangar-se por essa resposta tão grosseira, pelo
contrário, soltou uma gargalhada de deleite.
— Claro que preferiria beijar a um porco, não é mesmo, lady
Violetta? Está segura? Duvido muito de que durante a sua vida tão
protegida tenha tido oportunidade de beijar a alguém e muito menos a
um porco. Portanto, não pode comparar. Teria que me beijar primeiro e
logo a um porco, e então poderia comparar e decidir qual dos dois beijos
prefere.
Zombava dela, ria dela, e Villu sentiu que um impulso
assassino lhe corria pelas veias. Ninguém, até esse momento, tinha tido a
audácia de rir dela e agora esse sujeito arrogante se atrevia a fazê-la alvo
de suas brincadeiras! Os olhos lhe brilharam de fúria e abriu os lábios em
uma careta que parecia um grunhido.
— Te odeio! - Disse-lhe entre dentes, com os olhos azuis
lançando faíscas.
A via muito formosa respirando fogo, desafiante e Leon percebeu
que a desejava tanto que lhe doía. Recordava-lhe uma raposa vermelha
com ódio encurralada... levantou-se e se encaminhou para ela com
grande lentidão, ruidosamente.
Villu se assustou e deixou de lado o lençol que segurava para
preservar o pudor. A camisola de linho delineava com nitidez os peitos.
Leon esboçou um amplo sorriso e Villu começou a retroceder, ficando
atrás da mesa. O homem a seguiu, sem deixar de sorrir, com plena
confiança no resultado do jogo.
Villu retrocedeu tudo o que pôde, até ficar com as costas
contra a parede. O capitão avançou, colocando os braços com rapidez de
cada lado da moça, para imobilizá-la. Villu o olhou e arregalou muito os
olhos ao compreender, de repente, o que pretendia, então essa seria a
confrontação decisiva! Sentiu a onda de medo lhe percorrendo as
vísceras. Leon estava tão perto que Villu sentia o aroma morno e
almiscarado de seu corpo. Os olhos mostravam um brilho perigoso e a
boca se curvava em um sorriso malicioso.
Villu nunca precisou de coragem; agora se encheu de coragem
esticou as costas e o olhou severo.
— Deixe-me em paz, animal! - Espetou-lhe, desafiando-o com o
olhar que a tocasse.
— Então sou um animal? - Disse Leon marcando as palavras e
olhando-a com olhos resplandecentes. — Somente teria que te atrair
milady afinal das contas, admitiu uma assombrosa inclinação para os
porcos. Agora verá se você gosta da classe de animal que sou - inclinou- se amorosamente. Villu fechou os olhos e virou o rosto, tentando afastá-
lo, lhe empurrando o peito com as mãos, mas foi em vão. A boca ardente
de Leon roçou a bochecha de Villu que tratava de separar e logo, com a
mão sobre seu queixo, Leon torceu-lhe a cabeça até que pôde lhe cobrir a
boca com seus lábios. Ela os manteve apertados, rejeitando o beijo,
porque ainda recordava muito bem a última vez. Não voltaria a
envergonhá-la desse modo.
Os braços do Leon a rodearam, puxando-a da parede e lhe
atraindo para ele. Villu tratou de lhe cravar as unhas na cara, mas lhe
apanhou a mão antes que pudesse lhe machucar e a segurou. A boca do
homem se abateu outra vez sobre a da moça e conseguiu lhe abrir os
lábios trêmulos com a língua. Villu se arqueou para trás esperando
livrar-se, mas o movimento não fez mais que acentuar a pressão ardente
do duro corpo masculino contra o seu suave e feminino. Sentiu que a
língua de Leon tocava a dela e também que um tremor sacudia esses
braços que a rodeavam. Um estranho calor começou a pulsar em sua
virilha enquanto as mãos do homem acariciavam suas costas e suas
nádegas de maneira quente e sedutora, de repente amoleceram-lhe os
joelhos e se viu obrigada a apoiar nos ombros dele para não cair. Leon
inclinou para trás segurando-a, com a sua mão elevou o seu pescoço e
beijou o colo do seio, depois voltou a devorar a sua boca. De repente
Villu soube que estava perdida. Por sua própria vontade, seus braços
rodearam o pescoço do homem e entrelaçou os dedos no cabelo espesso
e escuro.
Ao perceber a reação da moça, ele gemeu, levantou-a e a levou
para a cama, com passos vacilantes. Villu se enrolou contra o peito nu
do capitão como um abrigo confiável, com os braços enlaçados em volta
de seu pescoço. Assim como ele não podia deter-se, ela foi incapaz de
resistir.
Depositou-a com suavidade sobre a cama, deitou-se junto a ela
e a estreitou contra si, beijando-a desse modo animal que a enlouquecia.
Quando a boca do capitão se apertou contra a dela, ela estremeceu e lhe
devolveu o beijo.
"Isto não está bem", disse uma voz dentro dela, mas já não
podia prestar atenção a nenhuma advertência.
As mãos de Leon exploraram as curvas de Villu através da
camisola fina, apreciando a feminilidade que despertava da moça. Sob as
mãos do capitão, os mamilos de Villu se ergueram. Impaciente, ele
rasgou o tecido que a cobria e, diante do espetáculo dos peitos tão
brancos coroados por mamilos rosados, lhe cortou a respiração quase até
lhe provocar dor física, estendeu um dedo e tocou os suaves bicos com
adoração, maravilhado com o calor da pela aveludada.
Inclinou a cabeça e beijou com delicadeza um mamilo, logo
outro, que tomou na boca mordiscando-o, provocador. A intensa sensação
que sentiu a fez ofegar e abriu os olhos. Ao ver a cabeça escura que se
fartava dela com tanta intimidade, essa visão devolveu-lhe a sanidade. A
vergonha foi abrasadora e apoiando as mãos sobre os ombros o empurrou
para separá-lo.
— Não! Por favor, Leon, pare! - Ofegou, lhe cravando as unhas.
— Fique calma, Villu! - Murmurou ele com voz rouca e os
olhos nublados de paixão. — Tranquila, Villu, meu amor.
Com delicadeza separou as mãos de Villu de sua própria carne
e as levantou sobre a cabeça segurando-as com firmeza. Voltou a
depositar beijos quentes sobre os peitos da jovem. Assustada, Villu se
contorceu e tratou inutilmente de separar-se.
— Fica quieta, tesouro - disse-lhe ao ouvido. — Não vou te
machucar, fica tranquila. Fica quieta.
Segurou-lhe as mãos contra o colchão com uma das suas e com
a outra lhe arrancou o que ficava da camisola. Em um instante o corpo de
Villu ficou nu diante dos olhos de Leon. Com olhar lento e possessivo, Leon
a percorreu, lhe queimando a pele. Villu chorou assustada e
envergonhada, enquanto o homem a examinava da cabeça aos pés, e
quando levou a mão aos botões da calça Villu começou outra vez a
debater-se com desespero.
Nu, Leon a segurou com as pernas e parou os agudos soluços
com sua boca. Beijou-a demoradamente e retomou as mãos ousadas a
passear por seu corpo. Passaram como ao acaso pelos seios sensíveis e
logo desceram para acariciar o ventre macio. Villu gemeu e sacudiu a
cabeça de um lado a outro, enquanto lhe cravava as unhas nos ombros. O
capitão seguiu com a suave carícia no ventre, sem emprestar atenção aos
esforços de Villu por liberar-se. A mão de Leon desceu ainda mais e
começou a acariciar a carne sedosa do interior das coxas.
— Não! - Exclamou Villu, ofegando, quando a palma calosa se
deslizou pela união das pernas. Horrorizada, Villu juntou com força as
pernas e as cruzou, desesperadamente por resistir aos intentos de Leon
por separar-lhe com as mãos.
— Relaxe, Villu, relaxe, meu amor - murmurou Leon, com tom
rouco. — Villu abre as pernas, amor. Não te machucarei.
Essas últimas palavras a afligiram, ficou rígida, se contorceu e
deslizou como uma contorcionista, tratando de escapar das mãos de Leon.
Mas ele era muito forte e finalmente, com um soluço estremecido,
rendeu-se e ficou parada. Já não podia fazer nada.
Leon se apoiou sobre um joelho e colocou o outro entre as
pernas cruzadas de Villu. Finalmente, conseguiu lhe separar as coxas.
Ela lançou um último suspiro convulsivo quando lhe separou bem as
pernas e logo permaneceu parada, chorando em silêncio, sem fazer mais
esforços por resistir. Ao sentir a dureza de Leon entre as coxas, ela
estremeceu.
Percorreu-a uma labareda de fogo quando Leon encontrou a
entrada e há penetrou um pouco. Então, com um poderoso impulso
estava profundamente enterrado nela. A dor, como uma navalhada, foi
tão intensa que a fez gritar. Os lábios de Leon se fecharam sobre os de
Villu, sossegando-a, e ficou imóvel sobre ela, com sua carne na carne
macia da moça. O fôlego do homem saía em explosões entrecortadas,
como se tivesse corrido uma grande distância. Villu voltou à cabeça,
com desagrado pelo calor desse fôlego. Por fim, como se já não pudesse
conter-se, o homem começou a mover-se, com lentidão no começo, como
para não machucá-la, depois cada vez com mais força e rapidez.
Villu ficou debaixo dele, sem resistir, deixando que fizesse o
que quisesse com seu corpo, entorpecida pelo choque. Não podia
acreditar que algo tão horrível estivesse lhe acontecendo, um pirata
estava estuprando-a e ela não podia fazer nada. Já era tarde, estava
arruinada, perdida. Nunca mais poderia levantar a cabeça. E tudo por
esse animal trêmulo e ofegante que resfolegava e a atacava... como o
odiava!
Tentou pensar em qualquer outra coisa, mas essa carne dura,
quente, unida a ela de maneira tão íntima, era impossível, moveu-se um
pouco, ajeitando-se, com a esperança de aliviar ao menos a pressão do
peito de Leon sobre o seu, mas o movimento incitou ao homem, lhe
provocando uma excitação ainda maior. Inconsciente, Villu se viu
apanhada nessa paixão. Com um movimento instintivo, elevou o corpo
para sair ao encontro da investida do homem. Leon conteve o fôlego,
estremeceu-se e se afrouxou sobre ela. Villu sentiu uma absurda
decepção quando o grande corpo do homem caiu sobre ela.
Um momento depois, Leon rodou afastando-se e deitou de
costas, olhando o teto. Villu se deslizou para o extremo oposto da cama
e lhe voltou às costas, sentindo-se acalorada, pegajosa e profundamente
humilhada. Lembrou-se o modo em que seu corpo a traiu no último
instante, quando não pôde parar esse movimento instintivo, e os olhos
lhe transbordaram de lágrimas quentes de fúria e vergonha. Afogou um
soluço, mas Leon a ouviu e a atraiu com rudeza para ele. Distraído,
acariciou-lhe o cabelo e, diante do gesto de ternura, Villu esqueceu o
orgulho e o ódio que tinha por ele e chorou como uma criança. Leon seguiu
abraçando-a, lhe acariciando o cabelo e lhe murmurando frases de
consolo ao ouvido. Quando finalmente os soluços se reduziram a suspiros
e soluços, separou-se, levantou-se e se vestiu. Ficou um momento de pé,
olhando-a, enquanto prendia a fivela do cinturão, com um leve sorriso
nos lábios. Villu fechou os olhos, recusando-se a olhá-lo.
— Não se preocupe por isso, carinho. A próxima vez será
melhor, prometo-lhe isso - disse com tom suave e riu ao ver a expressão
enfurecida de Villu quando compreendeu o que ele dizia.
De verdade esperava que se submetesse outra vez a essa
desagradável situação? Furiosa, saltou da cama arrastando o lençol com
ela para ocultar seu corpo do olhar do homem, com uma expressão
assassina no olhar. Olhou ao redor procurando uma arma, mas sem lhe
dar tempo a encontrar algo o bastante duro e afiado, Leon a levantou e a
segurou outra vez no meio da cama. Indefesa, Villu caiu feita um fio de
cabelo, provocando as fortes gargalhadas de Leon. Quando conseguiu
livrar-se, o capitão já se foi e a única coisa que pôde fazer foi lançar um
olhar furioso à porta fechada do camarote. Ninguém podia tratá-la como
uma mulher qualquer e ficar impunemente! Nesse mesmo momento
decidiu que o capitão Leon Hale receberia uma lição que necessitava
muito. Logo descobriria que tinha encontrado a fôrma de seu sapato!
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nada a declarar
cometem minhas lindas