Em Lugar do Frio escrita por LunaLótus


Capítulo 11
Que o tempo volte


Notas iniciais do capítulo

Gente, peço desculpas pelo capítulo um pouco grande, mas vale a ler!! Beijos
"Ele sorri. Como eu quis ver aquele sorriso hoje... É como um carinho em meu coração. Mesmo sabendo que aquele sorriso não é para mim, não é por minha causa. Eu ainda fico feliz. Porque ele está feliz. E é isso que importa. Já não ligo mais se ele ama outra, eu só quero vê-lo contente. E amar é isso. É permitir a felicidade do outro, mesmo que não seja ao nosso lado."



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Acordo do meu pequeno transe e percebo que estava quase caindo. Sinto os braços de Joseph a minha volta e quando viro-me para encará-lo, deparo-me com seu olhar preocupado.

– Liv, você está bem? – pergunta.

Balanço a cabeça, tentando organizar os pensamentos. Eu preciso entender o que está havendo, o porquê de eu estar tendo essas visões. Eu não quero ser nenhuma paranormal, que pode ver ou falar com espíritos. Tudo bem que Joseph é... um espírito. Mas, para mim, só basta ele.

Tento me recompor, mas Joseph ainda está próximo de mim, cercando-me, para o caso de eu cair.

– Estou... estou bem, obrigada – digo, afastando-me um pouco.

Quero me sentar, mas as imagens da minha visão ainda estão muito nítidas em minha mente. Olho para a minha cama e é como se eu ainda visse o corpo de Antônia ali.

Puxo Joseph para fora do quarto. Preciso de água. Vamos para a cozinha e recosto-me numa bancada, enquanto brinco com o copo. Percebo que minhas mãos estão tremendo e posso sentir o olhar receoso de Joseph.

– O que você viu, Liv?

Encaro-o. Aqueles olhos tão azuis. Eu poderia admirá-los durante todo o dia.

– Eu vi Antônia. – Paro, enquanto ele me observa. Joseph me conhece tão bem, que sabe quando estou escondendo algo. Levanta uma sobrancelha esperando que eu continue. – Tudo bem . Eu vi Antônia e... Estrela.

Ele se aproxima de mim em menos de um segundo e segura os meus braços.

– Você viu Estrela?! – Seus olhos estão arregalados e ele aperta meus braços, com força. Sei que não é a intenção dele, mas está me assustando e me machucando.

– Vi! Eu vi! – respondo, apressada. – Joseph, você está me machucando!

Ele olha para as próprias mãos e parece finalmente perceber o que estava fazendo. Então me solta devagar, enquanto pede desculpas.

– Tudo bem – respondo, massageando meus braços. – Eu vi o parto. Ela é linda, Joseph. Estrela é linda.

Ele sorri. Como eu quis ver aquele sorriso hoje... É como um carinho em meu coração. Mesmo sabendo que aquele sorriso não é para mim, não é por minha causa. Eu ainda fico feliz. Porque ele está feliz. E é isso que importa. Já não ligo mais se ele ama outra, eu só quero vê-lo contente. E amar é isso. É permitir a felicidade do outro, mesmo que não seja ao nosso lado.

– E Antônia? Você a viu? – pergunta, ainda com o sorriso nos lábios.

– Sim, eu a vi. Mas, Joseph...

– Diga, pode dizer.

– Antônia morreu ao dar à luz à Estrela. A última palavra dela foi o nome da menina.

O sorriso se apaga do seu rosto. Aquilo parte meu coração, mas eu precisava dizer.

– Joseph, você já sabia que Antônia havia morrido – falo.

– Sim, eu sei, desculpe-me.

Aproximo-me dele, deixando o copo na bancada, e o abraço. Por um instante, pareceu ilusão, mas eu percebi que seus olhos se concentraram em minha boca. Retiro esse pensamento da mente e aprecio os seus braços em torno da minha cintura. Joseph enterra seu rosto em meu ombro e, não sei porque, mas a sensação de que tudo aquilo já havia acontecido me domina.

Separo-me um pouco dele, e toco em seu rosto, encarando seus olhos. Joseph me olha fixamente. Outra sensação se apodera de mim: o de conhecer aquele olhar, conhecê-lo mais do que conheço a mim mesma.

– Joseph... – murmuro.

– Liv... muito obrigado... por tudo – diz.

Afasto-me definitivamente dele. Dói, é claro que dói. Mas precisa ser feito. Então sorrio.

– Sou sua amiga, Joseph. É para isso que amigos servem.

– E então, para onde iremos agora?

– O que mais acho estranho, Joseph, é que você é o pai de Estrela, e a família de Antônia não te entregou a carta dizendo que ela estava grávida. Algo deve ter acontecido.

– Você tem razão.

Paro por uns segundos. Preciso me concentrar. Somente uma coisa me vem à mente. E neste caso, eu preciso seguir meus instintos. Por isso, dou a ideia a Joseph:

– Joseph, temos que ir à casa de seu irmão.

***

Chegamos a uma casa abandonada, no final de um rua quase deserta. Os portões estão enferrujados, a pintura desgastada. Se a polícia me visse andando por ali, com certeza me faria perguntas. Viro para Joseph.

– Por que está abandonada? – pergunto.

– Não temos herdeiros.

– Seu irmão não tinha família?

– Eu era a família dele.

Calo-me. Não posso imaginar o vazio que foi a vida da irmão de Joseph sem o seu caçula.

Joseph passa à frente e abre os portões, fazendo o mínimo de barulho possível. Eu o observo, e surpreendo-me ao notar a culpa em seu rosto.

– Qual era o nome dele? – indago, baixinho.

– Marcus – diz, baixando a cabeça. – O nome dele era Marcus.

Então ele entra na casa e eu o sigo. Apesar de ser quase três horas da tarde, não há ninguém na rua além de nós dois. A estrutura do imóvel está acabada por fora, mas conservada por dentro. Joseph empurra a porta e logo estamos na sala.

Tudo é poeira e teias de aranha. Não quero mexer em nada e peço para que Joseph fique quieto. Fecho os olhos e tento me concentrar naquele espaço, em algo crucial sobre Joseph, Antônia, Estrela...

Uma visão rápida. Uma pequena bancada de madeira, uma gaveta. Há três papéis. Vejo o nome de Joseph em um. Sei que é o que estou procurando.

Abro os olhos e me viro para Joseph:

– Onde fica uma pequena mesa de madeira, com uma gaveta? – pergunto.

Ele aponta para um canto da sala. E ali está a mesa, a mesma da minha visão, só que um pouco mais velha e mais suja. Aproximo-me, apressada e abro a gaveta.

Os três papéis.

Pego-os e tomo um susto. Joseph está atrás de mim.

O que tem seu nome é seu obituário de morte, com a data de 8 de junho de 1990. O segundo é o obituário de Antônia, com a data de...

– Joseph, olha só isso! Você e Antônia... morreram no mesmo dia – digo, e Joseph arranca os dois primeiros papéis da minha mão.

E quando eu abaixo o olhar para o terceiro papel, desejo que Joseph nunca tivesse puxado os obituários da minha mão.

Porque aquele também era um obituário de morte.

Mas pertencia a Estrela.


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Notas finais do capítulo

Amo reviews tá?!
Obrigada a todos que estão comentando!!
Obrigada a Effy moon, Juliana Everdeen, Queen Bee, Waffles, Princess Miaka e RenataVettor por comentarem!!
O que acharam? Gostaram?! Me digam! :D



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