Capítulo 11 - Confissões na chuva

– Eu mesmo. - Apolo respondeu sorridente e piscou convencido e divertido ao mesmo tempo. - Vão querer a carona sim ou não?

Nico e Jason se entreolharam e conversaram silenciosamente, até que Jason resolveu perguntar desconfiado:

– Por que está nos ajudando?

O deus novamente sorriu, porém dessa vez mais largamente antes de responder calmamente:

– Sou contra a guerra e vocês estão moles demais para impedi-la. Os deuses estão aflitos no Olimpo, pois suas formas gregas e romanas brigam entre si mesmos.

– Mas como podemos impedir a guerra? Nem ao menos sabemos o que buscamos direito. - Claire que havia se aproximado com Leo, se intrometeu na conversa.

– Oh, garotas bonitas conseguem tudo que querem, meu bem. - o deus disse de modo galanteador.

Para demonstrar posse e proteção, Leo abraçou a filha de Netuno de lado e encarou o deus de maneira decidida, antes de dizer:

– Aceitamos a sua carona. Em quanto tempo chegamos a São Francisco?

– Se tudo der certo, até o anoitecer. - Apolo ainda sorria, até se virar repentinamente para Jason e falar em tom raivoso. - Mude o corte de cabelo, minha filha é uma menina direita!

– Ahn? - ele perguntou confuso, mas não recebeu uma resposta.

– Melhor ir chamar sua irmã. - Apolo ignorou o loiro e se dirigiu a Claire.

Claire saiu rapidamente e voltou com Charlie menos de um minuto depois.

– O que é isso?! - Apolo brincou, vendo a expressão tristonha da menina. - Meninas bonitas não podem fazer bico!

Charlie não pode evitar um riso baixo. - Meninas que fazem bico não são paqueradas por deuses bonitos!

Nico bufou indignado, mas nada disse. Não queria se intrometer no joguinho de Charlie, mesmo que sentindo seu coração se apertar.

– Você uma exceção, minha linda! - Apolo disse, passando os braços ao redor do ombro das gêmeas. - Algumas das meninas lindas aqui querem se aventurar a dirigir?!

– Melhor não. - Claire respondeu, olhando receosa para o conversível.

– Ainda não tirei minha carteira. - respondeu Charlie, com uma voz sedutora. - Quem sabe da próxima vez?!

Jason, percebendo o quanto o humor de Nico e Leo se alterou com as gracinhas de Apolo, quase não conseguiu segurar a risada. Ao invés disso, resolveu perguntar algo de útil.

– Como vai caber todos nós aí dentro?! - perguntou ele ao deus.

– Assim. - Apolo tirou a mão rapidamente dos ombros de Claire apenas para apertar um botão no controle do carro que tiha.

E então, diante de seus olhos, o conversível se transformou em uma pequena picape de quatro portas vermelha e laranja.

– Uau! - as garotas exclamaram em uníssono.

– As lindas damas vão na frente comigo! - Apolo disse rapidamente, levando-as até o veículo, com os os garotos os seguindo atrás; Nico e Leo meio emburrados e Jason segurando a risada.

Segundos depois estavam voando, voando de verdade, e os únicos que se sentiam confortáveis com isso eram Jason e Leo. Charlotte, apesar dos flertes com Apolo, ainda estava mal pelo que acontecera com Nico, mas não conseguia deixar de encarar o belo sorriso do deus a seu lado.

– Não acredito que isso está acontecendo! Preciso contar a Percy quando voltarmos. - Claire gritou feliz. Às vezes agia como uma criança e sua irmã admirava isso nela.

– Receio que isso não será possível. - Apolo disse baixo como se realmente lamentasse algo.

– C-como assim? - Leo perguntou.

O deus apenas olhou para ele com pena e voltou a dirigir como se nada tivesse acontecido, o que deixou o garoto apreensivo.

– Tem rádio nesse carro? - Charlie perguntou interessada.

– Na verdade não, mas se você quiser te levo pra dançar em Londres um dia desses. - Apolo continuava jogando seu charme.

– Seria legal! - Charlie exclamou animada. Sempre quis conhecer Londres.

Nico apenas observava a cena calado e ressentido. Não seria feito de idiota pela Hastings.

~*~

Como previsto, chegaram a São Francisco antes do amanhecer e Apolo os deixou na porta de um hotel. Estavam cansados demais para procurar o cara da profecia.

O esquema de divisão de quartos foi o mesmo, mas dessa vez se reuniram no quarto que Nico e Jason dividiam e começaram a planejar como agiriam na busca.

– Ok, agora me digam como vamos nos comunicar caso achemos o cara? - Claire perguntou em tom preguiçoso e deitou a cabeça no ombro de Leo.

– Podemos combinar um sinal ou algo do tipo... - Jason falava, quando foi interrompido por três batidas na porta.

Nico se levantou de onde estava sentado e quando abriu a porta deu de cara com uma garota extremamente bonita. Tinha cabelos cacheados na ponta e loiros, olhos verdes e estava vestida com um minissaia e uma blusa caída nos ombros.

– Hm, posso ajudá-la? - perguntou simpático.

– Claro, eu e minhas amigas estamos dando uma festa no andar de cima e gostaria de saber se vocês querem ir. - o tom de voz da garota era doce e sedutor. Estava claramente dando em cima do filho de Hades.

Charlie observava a cena, tentando mostrar indiferença, mas sentia como se estivesse levando um soco toda vez que Nico sorria para aquela garota.

– Vamos a festa? - ouviu Leo perguntando a Claire e sentiu inveja por um momento.

– Não, aqui está bom. - a resposta de Claire veio um pouco enciumada, mas esta sorriu ao ver o sorriso que Leo lhe lançava.

Assim que Jason e Nico saíram, Charlotte não teve escolha se não sair também. Não ficaria segurando vela, Leo e sua irmã estavam vendo um filme bobo sobre contos da Disney e isso ela não queria presenciar.

~*~

Nico não gostava de festa, mas aquela garota tinha grande poder de persuasão e o convenceu; Liz era seu nome. Ela dançava de modo provocante enquanto conversavam e o resto das pessoas da festa pareciam se divertir de verdade.

– Que foi? Não está gostando da minha companhia? - Liz perguntou fazendo biquinho e foi se aproximando dele aos poucos.

Quando a garota ia beijá-lo, Nico virou para o lado a tempo de ver uma Charlie deixando o local em passos largos. Então como se não pudesse ser mais idiota, saiu correndo atrás dela. Viu ela sair do hotel. A noite estava fria e garoava. Charlie estava sentada na calçada com a cabeça encostada nos joelhos.

– E aí? - disse ao se sentar ao lado de Charlotte, que levantou o rosto cheio de lágrimas e saiu da calçada, agora de frente pra ele.

Charlie não chorava pela cena que viu, chorava porque se sentia idiota. Não sentia vergonha por Nico vê-la chorando, pois não chorava por ele, chorava por ela.

– O que você fez comigo? - perguntou acusadoramente para Nico. - Eu não sou assim! Eu não choro, eu não sou melosa! Você não tem esse direito. - gritou. Lá de baixo podia escutar a música que tocava na tão horrível festa.

– O que você fez comigo? - o garoto rebateu, dando ênfase no você. - Me trata mal, me faz sentir um lixo e eu não consigo tirar você da minha cabeça. As coisas não são mais a mesma sem você.

– Isso não é certo, eu não posso gostar de você! - Charlie não controla as lágrimas. - Eu te odeio!

– Não, você não me odeia. Se odiasse já teria me matado ou me deixado morrer.

Então ambos ficaram em silencio e a chuva havia aumentado. Confusos demais para saber o que fazer, quando prestaram atenção na música que tocava no fundo e por mais estranho que fossem, ambos sabiam o que fazer naquele momento.

Settle down with me
Cover me up
Cuddle me in

Lie down with me
And hold me in your arms

Se aproximaram calmamente um do outro. Nico colocou suas mãos na cintura de Charlie a olhando nos olhos e ela colocou as mãos em seus ombros e juntos começaram uma dança sem jeito, timidamente e não se importavam se depois se arrependeriam.

And your heart's against my chest, your lips pressed in my neck
I'm falling for your eyes, but they don't know me yet
And with a feeling I'll forget, I'm in love now

Kiss me like you wanna be loved
You wanna be loved
You wanna be loved
This feels like falling in love
Falling in love
We're falling in love

Charlotte encarava o garoto a sua frente enquanto dançavam calmamente. E então o abraçou. Ela precisava dele, precisava de seu “talvez”, precisava de sua ironia, precisava de sua bipolaridade. Talvez porque fosse doida ou somente por saber que o que nos faz bem, nem sempre é fácil.

Settle down with me
And I'll be your safety
You'll be my lady

I was made to keep your body warm
But I'm cold as the wind blows so hold me in your arms

Nico se aproximou mais da filha de Poseidon e a olhou nos olhos antes de colar seus lábios em um beijo intenso e cheio de significados. Não ficaria mais sem ela, não a deixaria fugir como sempre. Seria forte e corajoso o suficiente pra ela.

Oh no
My heart's against your chest, your lips pressed in my neck
I'm falling for your eyes, but they don't know me yet
And with this feeling I'll forget, I'm in love now

Kiss me like you wanna be loved
You wanna be loved
You wanna be loved
This feels like falling in love
Falling in love
We're falling in love

Yeah I've been feeling everything from hate to love from love to lust
From lust to truth I guess that's how I know you
So I hold you close to help you give it up

So kiss me like you wanna be loved
You wanna be loved
You wanna be loved
This feels like falling in love
Falling in love
We're falling in love

Kiss me like you wanna be loved
You wanna be loved
You wanna be loved
This feels like falling in love
Falling in love
We're falling in love

Por mais irônico que seja, Charlie e Nico assumiram que se gostam ao som de Kiss Me e não se sentiam envergonhados por isso.

– Me diz que essa música não é de quem eu penso que é. - ela pediu, com a testa colada à de Nico.

Nico sorriu sobre os lábios de Charlie, sentindo as gotas de chuvas encharcando-os cada vez mais.

– Infelizmente é, sim. - ele disse, antes de colar seus lábios novamente nos de Charlie.

Ela entrelaçou seus dedos nos fios negros e molhados de Nico e se inclinou nas pontas dos pés para tentar se igualar em altura com ele. Nico a segurou fortemente pela cintura e a sustentou no lugar contra seu corpo. Senti-la finalmente assim tão perto de si o deixava em completo êxtase. Mas Charlie cortou o beijo mais rápido do que ele queria.

– Bem, se fosse Pearl Jam ou Bon Jovi até ia... - ela começou a reclamar, mas Nico a interrompeu.

– Por mim tanto faz, contanto que eu esteja com você. - ele disse sorrindo e viu-a abrir um sorriso antes de grudar novamente seus lábios aos delas.

E isso realmente não importava, pois se sentiam felizes, completos e nada poderia estragar a felicidade deles. Nada, a não ser que seja um baque vindo de dentro do hotel onde estavam Jason, Claire e Leo.