As Fitas da Retaliação escrita por Radioactive


Capítulo 2
Capítulo 2 - Comportamento




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"She's an endless war

She's a hero for the lost cause

Like a hurricane

In the heart of devastation

She's a natural disaster

She's the last of the American Girls"

— Last Of The American Girls, Green Day

Havia dois extremos muito claros quando se falava sobre Fawn Roth Jensen: Ou você a ama. Ou a considera a coisa mais irritante do universo. Fácil assim.

E ela sabia disso. Era impossível não saber. Por isso relutava um pouco em conhecer as pessoas. Ou em deixar que as pessoas a conhecessem.

Blake Diggory falou pouco, e falou menos ainda com ela. Antes da aula começar, ele beijou a namorada e acenou para Fawn antes de se dirigir à primeira aula da turma do último ano.

Ele e Cody eram um ano mais velhos do que Fawn, Cassidy e Jenny, coisa que atormentava bastante as duas últimas garotas, já que isso tirava qualquer possibilidade de terem uma aula juntos.

— O que queria falar? — Fawn se aproximou de Jenny.

— Meu pai está traindo a minha mãe. Tenho certeza agora.

O olhar de Fawn se abrandou.

— Jenny...

— Não contei à Laura, é claro. Mas... Ai, meu Deus, Fawn. Eu não sei mais o que fazer.

Fawn não fez perguntas. Jenny gostava disso nela. Ela era uma ótima ouvinte, e não ficava fazendo perguntas sobre tudo. Apenas abraçou a amiga.

Depois de um período de aulas tediosas, chegou a hora do intervalo. Fawn foi uma das últimas a deixar a sala de aula. Não tinha pressa.

— Fawn! — a srta. Berry, professora de Português, chamou a garota, sorrindo. — Você terminou o primeiro livro?

— O primeiro e o segundo! — a garota sorriu. — Já vou devolver. Estão no fundo da minha bolsa...

A srta. Berry era a professora favorita de Fawn. Como sabia do apreço da garota pela leitura, sempre lhe recomendava novos livros, e até emprestava alguns.

— Ah! Aqui estão — Fawn entregou os dois livros à professora. — Eu os devorei! Meu Deus, como são bons! Principalmente aquela parte onde...

* * *

— Alguém sabe da Jensen? — perguntou Jenny, olhando em volta.

Fawn sumindo na hora do intervalo não era novidade. As pessoas geralmente não a procuravam. Mas tudo voltaria ao normal quando a vissem novamente, porque era assim que as coisas funcionavam.

Jenny, que estava no colégio St. James há apenas dois anos, enquanto os outros praticamente nasceram ali, procurava sempre entender quem era Fawn. Ela era gentil com todos — ou quase —, e sempre incluída. Mas não costumava falar sobre si mesma. Não era melhor amiga de ninguém.

Porém, Fawn Roth Jensen era a prova de que algumas garotas simplesmente não podiam ser derrubadas. Ninguém entendia direito por quê.

A verdade — uma verdade singela que Fawn notara há algum tempo — era que ela derrubava a si mesma. Diferentemente de Cassidy e Jenny, não se entregava totalmente à ideia de ser cool (o que, de algum modo, a tornava muito cool), e não era tão ligada às pessoas cool.

Fawn dizia que não existiam panelinhas em St. James. Claro, era o que as pessoas populares diziam. Mas ela gostava de tomar isso como verdade.

Ela não conhecia a todos, mas todos a conheciam. Diziam que ela era misteriosa. Pura balela! Jenny se irritava com o quanto as pessoas pareciam achar isso normal. Como podiam confiar em alguém que não conheciam de verdade?

Fawn era peculiar, isso era certo. Mas ninguém se importava. Porque ela era Fawn Roth Jensen.

Desaparecer da vista de todo mundo era muito simples, exceto por uma pessoa: Cassidy Stanford. Fawn chegou ao colégio no dia seguinte com muito cuidado para não ser vista por Cassidy e Blake.

É claro que não deu certo.

— JEEEEEENSEN!

Fawn tratou de sorrir e se aproximar do casal.

Cassidy começou um discurso animado sobre algo relacionado a pandas. Fawn não estava realmente prestando atenção. Blake a fitava às vezes. Não, ele a encarava às vezes. Meu Deus, qual era o problema dele? Eles não se conheciam. O que ela poderia ter feito para gerar tal antipatia?

Fawn o encarou de volta, gesto que pareceu surpreendê-lo levemente.

Quando Blake — muito calado, por sinal — foi para a aula, ela se virou para a melhor amiga:

— O Blake não vai muito com a minha cara, né?

— Bobagem — ela deu de ombros. — De onde você tirou isso?

— Hum... Esquece.

— Esquecido. Ei, o que você vai usar na Festa de Halloween?

A escola promovia uma Festa de Halloween todos os anos, numa sexta-feira à noite.

Teoricamente, havia uma regra que proibia qualquer "tipo indevido de contato físico", mas não havia muita gente que respeitava essa regra, se é que havia alguém.

— Hoje é sexta! — Fawn se lembrou, enrubescendo. — Eu tinha esquecido.

— Mas você vai, né?

— Não sei...

— Ah, qual é!

— Hoje... não é um bom dia, Cass.

— Por isso mesmo! Precisamos salvar esse dia de ser um saco!

— Cass. Não.

— Eu sei que você vai pensar de novo nisso e concordar.

— Seu otimismo é contagiante.

— O suficiente para você ir?

— Não.

* * *

Não ir à Festa de Halloween era suicídio social? Sim. Fawn ligava? Não.

Mas isso foi até ter outra briga com a mãe. Tinha que sair dali. Tinha que sair dali.

Mandou uma mensagem para Mark. Ele não respondeu.

Então ela apenas colocou uma saia, blusa e botas de cano baixo — a saia com uma estampa meio florida e a bota bem folk, do jeito que ela geralmente usava — e ligou para Jenny, que veio buscá-la.

Com o Cody. Blé.

— Awn, você está tão linda! — Jenny sorriu. — Não está, Cody?

Cody soltou algum resmungo que soou como "Nhé".

— Eu também amo você, Yakissoba — Fawn sorriu e sentou-se no banco de trás.

— Cultura errada de novo.

— Nossa, amigo, você deveria cursar Turismo, já que é tão entendido das culturas alheias.

— E você deveria cursar Comunicação, porque não consegue calar a boca.

Ele acelerou. Logo estavam de volta ao colégio. Passaram por uma multidão de pessoas — veteranos cheios de sangue falso tentando assustar novatos e piranhas com calcinhas jeans —, enquanto Fawn procurava por Cass e Jenny fingia estar apreciando a presença de Fawn.

— Ei, Peter — Fawn viu um garoto do terceiro ano que ela conhecia. Peter Randall era um garoto alto, de cabelos pretos cacheados e olhos escuros. Vestia uma camiseta do Avenged Sevenfold (e ficava muito bem naquela camiseta).

— Jensen! — Peter sorriu e beijou a bochecha dela. — Disseram que você não vinha.

— Resolvi surpreender. Você viu a Stanford?

Peter fez que não com a cabeça.

Foi quando alguém envolveu Fawn pela cintura.

— Olá — Blake beijou a bochecha dela, sorrindo.

Eita. Blake percebeu que Fawn estava surpresa com a súbita mudança de comportamento, e riu um pouco.

— Tudo bem aí? Você está meio pálida.

Fawn fez que sim com a cabeça e Blake foi falar com Peter. Eles eram bem amigos.

Ela passou algum tempo com Jenny e Danielle Parkinson, outra garota do segundo ano que Fawn conhecia desde que tinham sete anos.

Danielle era uma garota um pouco baixa, bem magra, com cabelos dourados até quase a cintura e lindos olhos azuis que se cravavam em Peter, cujo olhar correspondia.

Fawn deixou-as conversando e caminhou até Blake.

— Sabe da Cass? — perguntou.

Blake fez que não com a cabeça.

— Ela disse que está vindo, mas isso já faz algum tempo. Ela parou de me responder.

— Somos dois.

Eles se sentaram na arquibancada da quadra e ficaram tentando falar com a namorada dele/melhor amiga dela.

Por fim, desistiram. Fawn queria falar com Peter, mas ele estava ocupado beijando Danielle, então desistiu. Ficou andando sem rumo por um tempo.

Meia hora depois, encontrou Blake sentado na arquibancada, com Cassidy ao seu lado.

Maldita.

— STANFOOOOORD! — berrou, imitando-a.

Cassidy levantou-se e pulou em Fawn.

— Eu sabia que você não ia me largar sozinha!

Blake pigarreou. Fawn riu.

Bitches before boys, queridinho — Cassidy sorriu para o namorado e beijou seus lábios.

— SENHORITA STANFORD! — a coordenadora berrou, se aproximando.

Cass mostrou o dedo do meio para ela e continuou beijando Blake.

Fawn saiu dali, pressentindo um ataque vindo da mulher.

* * *

Beijar Peter Randall estava ficando muito divertido, pensou Danielle Parkinson.

Peter lançou-lhe um sorriso um pouco malicioso e disse:

— Está a fim de dar o fora daqui?

Ela assentiu.


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