As Fitas da Retaliação escrita por Radioactive


Capítulo 11
Capítulo 11 - Fugir não é uma opção


Notas iniciais do capítulo

Fawn é a grande vencedora o/



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"When you're standing at the crossroads

Don't know which path to choose

Let me come along

'cause even if you're wrong

I'll stand by you"

— I'll Stand By You, The Pretenders

Blake ficou ligeiramente assustado com a expressão no rosto de Fawn quando ela correu até ele um pouco antes do primeiro período.

— Blake Diggory!

— Bom dia, Fawn — ele se inclinou para beijar a bochecha dela, mas a cara de poucos amigos o fez recuar.

— Você terminou com a Cassidy.

Não sei como soube disso, mas... Bem, sim.

— Eu realmente espero que você não tenha feito isso por mim.

— Não fiz isso por você. Eu e a Cassidy mal nos falávamos, e eu não sabia se algum dia poderíamos voltar a ter alguma coisa real. E, na moral, eu não estava a fim de tentar. Então apenas fui justo com ela e terminei.

— E você disse por quê?

— Relacionamentos à distância são um porre.

Fawn bufou.

— Você é um babaca — ela estava se virando para ir para a classe quando ele disse:

— Eu tenho todo o direito de não estar apaixonado pela sua melhor amiga, obrigado. Além do mais, você deveria estar feliz. Não precisa mais mentir para a Cass.

— Eu sempre vou ter que mentir para ela! Vou viver com essa merda de culpa para sempre, apenas sabendo a grande filha da mãe que eu sou.

— Mas eu estava pensando que talvez nós...

— Você disse que não tinha feito isso por mim — ela fitou-o. — Honre o que disse e pare a frase bem aí.

Blake fitou-a por um momento e sorriu.

— Tudo bem — e então empurrou-a na parede e a beijou.

Fawn abriu a primeira porta que viu — um armário de limpeza — e eles se enfiaram lá dentro até o sinal bater. Ela fitou Blake por um minuto e bufou.

— Essa foi a última vez.

Ele beijou-a novamente.

— Estou falando sério — ela encarou-o. — Adeus, Blake.

— Que seja — ele abriu a porta e observou-a se afastar.

* * *

Cacheesedy diz: E foi, tipo, do nada, sabe? Sem nenhum bom motivo.

Fawn engoliu em seco, escondendo o celular no bolso do casaco na aula de História.

FawnForPresident diz: Uhum. Que babaca!

Cacheesedy diz: Eu sei, né! Mas, cara, como eu tenho uma queda por babacas.

FawnForPresident diz: Cass, se ele não quer mais nada com você, siga em frente! Ele é quem está perdendo!

Cacheesedy diz: Não é tão fácil assim superar o Blake. Nem me diga, pensou Fawn.

FawnForPresident diz: Mas você tem que pelo menos tentar.

Aquele diálogo já estava parecendo as conversas que Fawn tinha consigo mesma em frente ao espelho.

— Jensen, o que você tem aí?! — o sr. Vosbury encarou-a.

— Nada — ela escondeu o celular.

FawnForPresident diz: Tenho que ir. Melhoras! Lembre-se: ele não vale a pena.

Agora definitivamente parecia as conversas que Fawn tinha consigo mesma em frente ao espelho.

* * *

— Tia — Fawn repetiu pela vigésima quarta ou quinta vez naquela tarde. — Estou falando sério. Você não pode falar disso com ninguém, entendeu?

— Total — Tia Suzzie sorriu, acelerando o carro.

Danielle suspirou no banco de trás.

— Fawn, eu vou morrer.

— Não vai, não, porque eu já paguei a consulta.

— Ah, meu Deus, você pagou?! Jensen, eu não...

— Relaxa. Aquele dinheiro ia acabar indo para botas novas, ou sei lá. Totalmente desnecessário.

— Mas... Botas! Fawn riu.

— Vai dar tudo certo.

* * *

— A Fawn pode ficar? — Danielle pediu à doutora quando se deitou na cama da sala de consulta.

— Se você quiser — respondeu a dra. Foster.

— Tudo bem, então.

— Levante a blusa, por favor.

Danielle o fez, com medo de olhar para o telão, mesmo que não tivesse certeza de que veria alguma coisa.

— Quantos anos você tem, Danielle?

— Dezesseis.

A doutora assentiu, suspirando como se passasse por aquilo o tempo todo. Depois de algum tempo, desligou os aparelhos.

— Sente-se, por favor.

Naquele ponto, era difícil identificar quem estava mais nervosa: Fawn ou Danielle.

— E então? — Fawn encarou a médica.

— Danielle... Você vai ser mãe.

Danielle respirou fundo, comprimindo a vontade de gritar. Não conseguia tomar conta de um peixe, que dirá de um bebê.

—... Quero ter certeza de que entende as consequências disso. E suas opções.

— Minhas opções — ela repetiu.

— Não estou sugerindo aborto — acrescentou a dra. Foster rapidamente. — Mas quero que entenda o quão complicado é criar um filho. E temos um programa de pais que não podem ter filhos, onde tenho certeza de que a criança estaria em excelentes mãos, e...

— Eu entendo — interrompeu Danielle.

— Ótimo. Quero que volte para outra consulta em algumas semanas.

— Pode deixar — Fawn assegurou-lhe, e então fitou Danielle. — Vamos?

A loura assentiu e acompanhou a outra garota até o carro.

* * *

Danielle não podia se sentir mais grata pelo apoio de Fawn. As duas garotas não eram tão próximas, mas o apoio de Fawn era inacreditável.

Ela era uma boa pessoa. Isso era tudo o que Danielle via e tudo com o que se importava.

— Isso é ainda pior do que a consulta — Danielle suspirou, tentando manter a respiração constante.

— Vocês têm se falado?

— É, bastante. Mas... não o suficiente para que ele não vá pirar quando eu disser que... Você sabe. De qualquer forma, eu não queria contar aqui no colégio, cara. É pesado demais.

— Bem, eu tenho tentado falar Ei, vamos sair no final de semana? há algum tempo, e ele sempre tem alguma coisa para fazer, então não temos escolha.

Danielle inspirou fundo.

— Tudo bem. Vamos fazer isso.

— Estarei bem aqui.

— Obrigada. Ei, Peter! — ela tentou sorrir ao vê-lo.

Peter Randall sorriu ao ver Danielle, e acenou. Ele afastou os cachos escuros despenteados do rosto e correu até ela.

— Bom dia — ele roubou um selinho dela.

Bom começo?

— Oi — ela fitou-o. — A gente precisa conversar.

— Eu deveria ficar preocupado? — ele abriu um meio sorriso, com o tom brincalhão de sempre.

Ela não respondeu. Apenas puxou-o até um dos bancos do pátio.

— Você gosta de mim? — ela perguntou, desviando o olhar.

— Que pergunta boba. É claro que gosto de você.

— Quanto?

— Mais do que você imagina.

Ela fungou. Não, não podia chorar antes mesmo de começar a apresentar a situação.

— Ei — o tom dele se suavizou. — O que houve? Pode contar comigo.

Ela assentiu.

— Olha... Eu não sei se vou te pedir muito, mas simplesmente precisava te contar, porque... Independentemente do que eu vou fazer... Independentemente do que nós vamos fazer — ela se corrigiu. — Você está tão envolvido quanto eu, e eu realmente agradeceria se você pudesse tentar ser um pouco compreensivo quanto à coisa toda, porque eu juro que já está sendo um inferno na minha cabeça, e o que eu vou dizer vai tornar tudo mais real.

— Dani? — ele chamou, segurando a mão dela com força.

— Peter, eu estou grávida.

Peter ficou em silêncio por um minuto, tentando realizar o pedido dela de não pirar, por mais que fosse o que ele mais queria fazer.

— E é... meu?

Era uma pergunta idiota, mas ele precisava dela.

— Sim. De quem mais seria?

— Eu... Eu não... — ele soltou o ar e abraçou-a o mais forte que pôde.

Enquanto Danielle se debulhava na camisa dele, Peter não sentia vontade de chorar. Não sentia vontade de fazer nada. A escola não prepara você para essa situação.

— Tem algo que eu venho querendo te perguntar... — começou ele, sem saber se era uma boa hora ou não. — Desde a Festa de Halloween, isso não sai da minha cabeça.

Os olhos azuis angelicais dela fitaram-no com certa confusão.

—... Namora comigo?

Ela franziu o cenho.

— Isso é por causa do bebê? Porque, sabe...

Peter riu e beijou-a nos lábios.

— Não. Não é por causa do bebê — ele prometeu. — Eu estou completamente perdido, e não faço ideia de como posso ajudar, mas... Só quero que saiba que estou aqui por você. Beleza?

Ela sorriu.

— Beleza.

— Tudo bem. Tenho que ir para a aula agora. Falo com você depois?

Danielle fez que sim com a cabeça. Ele beijou a testa dela e se afastou.

Fawn sentou-se ao lado dela.

— Entãão... Parece que deu tudo certo.

Danielle recomeçou o choro. Mas dessa vez não era um choro triste. Era simplesmente alívio.

— É idiota que, com tudo o que aconteceu, eu me sinta sortuda? Sabe, por ter você — ela deu um soquinho no ombro de Fawn. — E por ter Peter. E por Peter ser o cara mais bacana do universo. Sabe, Peter. Meu namorado Peter.

Fawn arregalou os olhos e abraçou-a, rindo.

— Danielle, isso é ótimo!

— É, mas só enquanto a barriga não aparecer. Sério, eu não suportaria se alguém descobrisse. Seria simplesmente... coisa demais.

Fawn assentiu.

— Ninguém vai descobrir por enquanto. Vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance.

— Cara, você é incrível.

Fawn sorriu.

— Faço o que posso.

Fawn: a amiga mais incrível da vida de Danielle, e a amiga mais terrível e filha da puta da vida de Cassidy. Como isso era possível?! E por que ela só conseguia pensar em Blake? Ela não era terrível antes de conhecer Blake. Talvez ele simplesmente trouxesse o pior dela à tona.

Talvez ambos trouxessem o pior um do outro. Isso faria sentido. Mas não fazia com que ela se sentisse melhor, porque não mudava o que ela fizera. E não acabava com a vontade terrível dela de fazer de novo.

Fawn queria falar com Blake sobre as fitas, apesar de não ter certeza de que ele havia recebido alguma. Mas isso queria dizer que ela teria de falar com Blake, e aquilo nunca acabava bem.

* * *

— Estou ficando paranoica — confessou Danielle alguns dias depois, enquanto andava pelo corredor com Fawn. — Eu sinto como se todo mundo ficasse me encarando e cochichando, e minha cabeça começa a pirar, dizendo Eles sabem, eles sabem! e a ideia é tão aterrorizante que... Cara.

— Ninguém sabe, Danielle — Fawn tranquilizou-a. — Sério, as pessoas nem imaginam. Confie em mim. Na verdade, eu acho que...

Foi quando os olhos dela sem querer encontraram os orbes verdes de Blake, que hesitou, como se não soubesse o que esperar dela. Ela inspirou fundo e desviou o olhar.

— Acha que...? — Danielle fitou-a.

— Não sei. Não sei o que eu acho. Não sei o que eu faço. Não sei quem eu sou. E, definitivamente, não sei como eu me sinto.

— Tem falado com a Cassidy? Tipo, ela deve estar bem mal por causa do Blake.

— Não é fácil superar o Blake — defendeu Fawn. — Foi o que ela disse — acrescentou rapidamente.

Danielle sorriu.

— Eu sei que, tipo, você não vai ter nada com ele por causa da Cassidy — ela fitou a amiga. — Mas eu vejo o jeito que ele te olha. O cara é totalmente louco por você.

Fawn riu.

— Até parece. Ele no máximo me acha legal.

— Tão cética, Jensen.

— Tão sonhadora, Parkinson. Ele gosta da Cassidy.

Gostava. E já faz um tempo que isso se tornou passado. O namoro deles foi para a cova há muuuito tempo — ela fez uma pausa para tomar suco de maracujá de caixinha. Ajudava com os nervos.

— Bem, Cass não pensa assim.

— Não faz com que deixe de ser verdade.

* * *

Blake provavelmente estaria chorando e escrevendo poemas de amor para Fawn, se ele fosse o tipo de cara que chorava e escrevia poemas de amor.

Ao invés disso, só encheu a cara.

— Ei, Peter — Blake chamou Peter, que estava bebendo com ele naquele Sábado, mesmo que nenhum dos dois dissesse o motivo para o outro. — Toca alguma coisa aí.

Peter pegou o violão e começou a fazer alguma batida aleatória, enquanto Blake inventava alguma letra aleatória.

— Seu cabelo é cheiroooso... Peter, o que rima com cheiroso?

— Gostoso?

— O cheiro dele é gostoooso... E quando penso em vocêê... Nem penso na mina da tevêêê...

— Blake. Cale a boca.

— Tudo bem.

— Sério, vai ficando pior a cada verso.

— Foi mal aí se eu não sou Shakespeare.

— Deve ser por isso que não conseguiu a garota.

Blake ergueu uma sobrancelha.

— Quem disse que eu não consegui a garota?

— Ninguém cria uma porra de música dessas se tivesse conseguido a garota.

— Existem outras garotas no universo — garantiu Blake, apesar de que não acreditava muito naquilo. — E não é como se eu tivesse problemas em consegui-las.

Era verdade, Blake sempre fora aquele cara que conseguia a menina que quisesse. Até que não quis mais nenhuma menina, exceto a que menos deveria querer.

* * *

Fawn recebeu outra fita na segunda-feira. Havia um número 4 nela.

Vocês não parecem ter sacado direito como as fitas funcionam. A fita sempre vai primeiro para a Número Um, que repassa para o Número Dois, a não ser que eu queira que outra pessoa ouça antes. Então, se você recebeu essa fita e não é a Número Um, pode ter certeza de que ela está sendo bem obediente.

Espero que continue assim.

Bem, vamos ao assunto da fita de hoje. Bebês não são lindos? Todos gorduchos e melequentos, cheios de fraldas cagadas e remela. Awn.

Será que a Número Quatro gosta de bebês? Vamos torcer que sim, porque tem um vindo aí, pessoal!

Fawn pausou a fita. Não precisava ouvir o resto. Não queria ouvir o resto. A única coisa que ouvia era a voz aterrorizada de Danielle rezando para que ninguém descobrisse.

Fawn podia ter problemas, mas o de Danielle nem se comparava. Ela não merecia ter aquilo espalhado, até porque não fizera nada imoral ou errado — imprudente, sim, mas só isso —, enquanto Fawn simplesmente anexara imoral como nome do meio.

Um plano se formou em sua cabeça, e pela primeira vez em muito tempo ela tinha certeza de alguma coisa: ninguém mais ouviria aquela fita. Sabia o que isso significava: se não passasse a fita, Cassidy receberia a primeira fita. Isso aconteceria mais cedo ou mais tarde, não é? E não tinha jeito.

Quando Fawn decidia colocar todo mundo na frente dela própria, era assim até o fim.

— Cody — ela engoliu o orgulho e chamou o rapaz.

— Bom dia, Jensen — ele abriu o sorriso idiota de sempre.

— Aquela fita. Preciso saber para quem você a mandou.

— E por que eu te diria, mulher?

— Porque quero mandá-la para a Cassidy.

Ele riu.

— Nunca cansa de machucar as pessoas, não é?

— Por favor.

— Com uma condição.

— Sim?

— Fale bem de mim para a Jenny.

Fawn engoliu em seco.

— Fechado. Para quem você mandou?

— Hanks. Liam Hanks.

— Obrigada! — e então correu até Liam.

* * *

— Não estou mais com a fita — disse Liam quando indagado.

— Para quem você passou?

Liam apontou com os olhos para Blake. Fawn suspirou. É, aquele era um jeito de introduzir a ideia.

— Ok. Obrigada!

Fawn correu até Blake, mantendo uma distância segura.

— Blake! A fita.

Ele arregalou os olhos.

— Hum?

— Não minta. Recebeu uma fita, não é? Ainda está com você?

— Chegou ontem. Eu queria falar dela com você.

— Certo, depois. Primeiro: ainda está com você?

— Sim.

— Ótimo. Eu preciso dela.

— Por quê?

— Blake, você contou a alguém o que eu disse a você, sobre a Danielle?

— É claro que não.

— Bem, a louca das fitas sabe, e você foi o único para quem eu contei.

— Eu juro para você.

Fawn suspirou.

— Tudo bem. Então. Eu não vou repassar a fita de Danielle.

— Mas, Fawn, isso quer dizer que...

— Cassidy vai ficar sabendo de tudo? Eu sei. Eu mesma vou mandar a fita para ela.

— Tem certeza de que é isso o que quer?

— Você se importa? Deixou bem claro que não se importava de admitir que a traiu.

— Bem, eu ainda me importo com os sentimentos alheios.

— Vai doer menos se ela ouvir de mim. Só preciso da fita.

Blake suspirou e tirou a fita e o toca-fitas do bolso. Fawn colocou a fita no correio no mesmo dia.

"Ouça.

Eu sinto MUITO.

Diga alguma coisa.

Seja rude comigo

Por favor

Eu imploro

Só não me ignore.

Eu sei que não tenho nenhum direito de dizer isso, mas preciso de você.

— Fawn"


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Notas finais do capítulo

O que vocês fariam se fossem a Cassidy?



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