As Fitas da Retaliação escrita por Radioactive


Capítulo 10
Capítulo 10 - Uma pequena mexida nas coisas




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"And you stood there in front of me

Just close enough to touch

Close enough to hope you couldn't

See what I was thinking of"

— Sparks Fly, Taylor Swift

— Sabem como funciona, certo? — Ryan fitou Blake e Fawn. Eles assentiram. — Ótimo! Então... Entrem aí. Sairemos do quarto e trancaremos a porta. Privacidade total, colegas. Cronometraremos os oito minutos, e então apenas vamos invadir, ok?

— Hmmm... Ok — disse Fawn, tentando não parecer tão nervosa quando de fato estava.

Logo estava trancada em um armário com Blake. Era algum tipo de closet, então pelo menos era um pouco espaçoso. Não o bastante para que eles pudessem sentar-se sem se tocar, mas o bastante para que não respirassem um no outro.

Um cabide ficava acertando Blake constantemente. Fawn riu.

— Quer saber, isso é bom.

— É mesmo?

— Sim, precisamos conversar. De verdade, dessa vez.

— É mesmo?

Ela suspirou.

— Eu não sei se deveria dizer isso, mas está realmente me atormentando — ela fitou-o. — Cody me contou algo. Algo que você disse a ele sobre... mim. Eu acho.

Blake enrubesceu.

— Ah...

— Então sabe do que estou falando? — Sobre não conseguir esquecer você e ficar pensando em você o tempo todo? Lembro-me das palavras exatas.

Ela desviou o olhar.

— Achei que ele tivesse inventado aquilo.

— Sério mesmo?

— É... Quero dizer, não é como se você gostasse de mim. Sou só uma escapatória, e me odeio por isso.

— Espere... Como assim, não é como se eu gostasse de você? — ele se aproximou, franzindo o cenho. — Fawn, você é minha única certeza quando eu acordo. A única coisa que eu sei é que meu dia não fica completo até eu fazer você sorrir. E eu sei que é errado, mas, pela primeira vez, eu juro, eu não ligo. Eu literalmente não dou a mínima, porque eu sequer penso em outra coisa quando estou com você. Eu simplesmente quero você. O tempo todo. A cada segundo de cada dia, e isso está me enloquecendo. E sei que não posso tê-la, então me contento em fazê-la rir ou levá-la para casa. Eu só não quero ser ninguém na sua vida, Fawn.

Fawn queria dizer alguma coisa, mas tudo o que saiu de seus lábios foi:

— Blake...

— E eu juro para você que se eu tivesse qualquer outra garota no universo que não fosse você comigo na festa do Liam, aquela noite não teria acontecido. E eu juro que, se eu não gostasse de você, não faria isso — e então beijou-a nos lábios.

Se aquele era o gosto do pecado, Fawn desejou que não fosse tão bom.

Por um momento alguma coisa no fundo da cabeça dela berrou que Blake era um canalha. Ele meio que era, mesmo. Estava quebrando o coração da melhor amiga dela da pior forma possível.

E Fawn estava ajudando-o.

A verdade atingiu-a de uma só vez. Ele era um canalha. Um grande canalha! E ela também não era flor que se cheirasse, mas...

Cara, naquele momento? Ela não dava a mínima.

Então apenas beijou-o de volta.

— Temos sete minutos — ele sussurrou. — Cinco para nos beijarmos e dois para arrumar tudo e riscar jogos da velha na porta do armário com a chave do meu carro para fingir que passamos oito minutos fazendo isso?

Fawn riu.

— Gosto do jeito que você pensa — e então voltou a beijá-lo.

Blake puxou-a mais para perto, pressionando-a entre ele e o fundo do armário. Ela mordeu levemente seu lábio quando as mãos dele subiram pela coxa dela, levantando um pouco o vestido. Nada muito indecente.

Bem, talvez um pouco.

A única coisa em que Blake conseguia pensar era Fawn, Fawn, Fawn, que por sua vez apenas pensava Puta que pariu.

O que realmente sintetizava todos os pensamentos dela, tanto bons quanto ruins. Os lábios dele desceram para o pescoço dela, passando pelos ombros e depois achando o caminho de volta para os lábios.

Eles se entreolharam um pouco e riram. Quem visse pensaria que estavam chapados, mas simplesmente estavam em seu próprio mundo.

Mas não era isso que acontecia quando se estava chapado? Fawn não sabia. Nunca ficara chapada. Só ficara bêbada uma vez, na noite em que recebera a notícia da morte de David.

Para alguém que sempre fora vista como uma boa moça, ela já não sabia mais em que patamar estava. De qualquer forma, importava?

O celular de Blake bipou. Ele suspirou.

— Acabou o tempo.

Eles se entreolharam por um momento, e então apenas começaram a se arrumar, penteando o cabelo com os dedos e retocando o batom (no caso de Fawn, enquanto Blake apenas tentava tirar qualquer resquício de gloss do próprio rosto). Blake pegou a chave do próprio carro e começou a desenhar jogos da velha aleatórios na lateral do armário.

Eles terminaram rápido. E então apenas se sentaram e inventaram algum jogo aleatório.

— Países que começam com a letra A — disse ela. — Austrália.

— Alemanha.

— Argélia.

— Argentina.

— Afeganistão.

— Antártida.

— Isso não é um país.

— Angola.

— Armênia.

— Arábia Saudita.

— Agora... B. Brasil.

— Bélgica.

— Bósnia Herzegovina.

— Essa porra existe?!

— Procura no Google se não acredita!

Foi quando a porta do armário se escancarou. Um coro de "Ahhh!" desanimados tomou o quarto quando perceberam que eles não estavam se beijando.

— Sobre o que estavam conversando? — Ryan Johnson ergueu uma sobrancelha.

— A Bósnia Herzegovina — respondeu Fawn, sorrindo.

— Essa porra existe?!

— Fica perto da Croácia.

— Como se eu soubesse onde isso fica.

— Sudeste da Europa.

— E vocês passaram oito minutos falando disso?!

— Hã... Não. Jogamos jogo da velha também.

Ryan balançou a cabeça em desaprovação para Blake, como se dissesse "Cara, você já foi mais rápido".

— Certo, deem o fora daí.

Blake e Fawn saíram do closet. Fawn estava saindo do quarto quando Ryan a segurou.

— Foi um plano quase perfeito — ele sussurrou.

— Do que está falando?

— Sério, eu quase me convenci — ele apontou para uma marca roxa no pescoço de Fawn. — Quase.

— Bati em um cabide — mentiu ela. Cara, que terrível.

Ryan riu e ela deu-lhe as costas, correndo para fora do quarto.

— O que ele disse? — Blake fitou-a enquanto eles desciam as escadas.

Ela apontou discretamente para o chupão, depois cobrindo-o rapidamente com o cabelo. Fawn podia começar um sermão, mas era desnecessário, então apenas disse:

— Não faça isso de novo.

— Certo. Não era minha intenção... Bem, mais ou menos. Eu não pensei na hora.

— Está bêbado ou algo do tipo?

Ele fez que não com a cabeça.

— Posso contar um segredo?

— Eu não posso te impedir.

— Não tenho bebido mais do que um ou dois copos desde que começamos a nos falar — ele deu de ombros. — E isso para mim é tipo não beber.

— Seu pai deve estar orgulhoso.

Ele riu.

— Como se ele ligasse. Afinal, você nunca falou sobre o seu pai.

Ela deu de ombros.

— Não há o que falar.

Blake assentiu, compreensivo. Seus olhos verdes vagavam o salão sem rumo, pensativos. O cabelo escuro estava ainda mais bagunçado, mas ficava melhor assim. Ele encheu uma das bochechas de ar e depois soltou-o devagar, revelando suas covinhas.

Tudo o que ela conseguia pensar era Cara, como ele é lindo, mas obrigou-se a preencher a mente com outra coisa.

— Minha professora de teatro nos aconselhava a fazer essa coisa do ar — contou ela. — Dizia que ajudava a relaxar.

Ele abriu um leve sorriso.

— Posso contar outro segredo?

— Vá em frente.

— Eu costumava fazer aula de teatro quando tinha quatorze anos. Bem, era obrigado a fazer. Minha mãe queria que eu fosse um grande ator.

— Não rolou?

Ele riu.

— Não.

— Fiz teatro até alguns meses atrás, mas parei. Me arrependi, mas eles não querem me deixar entrar no meio do semestre.

— Por que parou?

Ela hesitou.

— Bem... Aconteceu uma coisa, e eu simplesmente achei que não pudesse viver nenhum outro personagem que não fosse Fawn Depressiva.

— Eu não consigo imaginar a Fawn Depressiva.

Ela riu.

— Ainda não passou tempo o suficiente perto de mim.

— Gostaria de passar — as palavras pularam para fora da boca dele.

Ela fitou-o por um momento.

— Blake...

Foi quando ouviram sirenes de polícia. Fawn ficou meio (muito) perdida, mas Blake já passara por aquela situação milhares de vezes.

— Os fundos — disse ele, e arrastou-a pela mão até o quintal. — Vamos ter que pular a cerca, ok?

— Ok.

Sério mesmo?

Eles pularam a cerca e andaram rapidamente pela calçada, até que pareciam apenas um casal normal — bem, mais ou menos — andando pela rua.

— Eu já estava meio que esperando por isso — Blake riu. — As festas do Thompson sempre acabam com a polícia invadindo, é incrível. Às vezes eu acho que ele mesmo a chama.

— Por que ele faria isso?! — Para tornar a coisa toda muito mais legendária. Ou para que ninguém durma chapado no sofá. Sei lá. Uma coisa é certa: quando a polícia chega, é idiotice ficar lá.

— É?

— Fawn, sabe quanta gente menor de 21 estava bebendo? Fora o estoque de maconha embaixo do colchão — sussurrou ele. — Bem, é o que dizem — Fawn ergueu uma sobrancelha. — É sério, Jensen. Sempre esperando o pior de mim?

— É mais fácil assim — admitiu ela, dando de ombros.

— Me ver como um canalha?

— Basicamente.

— Só assim?

— Talvez... um canalha com olhos irritantemente bonitos.

Ele riu.

— Você é sincera demais, sabia?

— Diga isso à minha melhor amiga, a quem eu disse que ficaria assistindo Grease de pijamas no meu quarto a noite inteira.

— Por que mentiu?

— Porque eu sou uma vaca.

Blake riu.

— Não, não é.

— Sou o que, então? A boa moça?

— Quase isso.

Quase não é o suficiente.

— E por que não? Você não bebe, não fuma, não cheira, não pega vinte em uma noite, não usa roupas curtas, não fez... Sei lá, uma tatuagem escondida; não picha muros, não costuma chegar muito tarde em casa, e suas médias são basicamente A, exceto Biologia, mas quem precisa de Biologia?

— Biólogos?

Ele riu.

— Esclarecedor.

— Certo, afinal, eu não faço nenhuma dessas coisas! Só dou uns pegas no namorado da minha melhor amiga às vezes, mas, afinal, por que não, né?

Blake bufou e começou a andar mais rápido, chegando até o próprio carro.

— Odeio quando faz isso.

— O quê?

— Cria uma impressão sobre mim e simplesmente faz soar como se ela resumisse tudo. Eu não chamo você de "melhor amiga da minha namorada", chamo? Já fiz isso alguma vez? Não. Porque eu sei que você tem uma vida que não inclui a Cassidy, e eu posso conhecer você como pessoa, e não como um prêmio bônus que vem com a minha namorada.

— Não tente fazer soar como se fosse certo.

— Não estou tentando fazer isso. Argh, Fawn. Podemos só manter isso desse jeito? Eu sou o Blake. Você é a Fawn. E só.

Fawn hesitou.

— Não.

— Não?

— Não.

— Por que não?

— Porque eu não posso.

Ele trancou as portas e encarou-a.

— Tenho a noite toda.

Ela bufou.

— Porque eu não consigo separar as coisas sem ter vontade de beijar você o tempo todo, idiota. Pronto. Era isso o que queria ouvir?! Acelere logo essa merda

Blake assentiu, um pouco atônito com a súbita explosão, e acelerou.

* * *

Quando chegaram à casa dela, Blake fitou-a por um longo minuto.

— Em que está pensando? — Fawn perguntou.

— Você tem razão em um ponto. A sociedade é feita de rótulos, e esse é o nosso — disse ele, suspirando. — E mesmo que não conte a história toda, conta a parte que deveria importar. E é basicamente a parte na qual eu simplesmente não penso quando estou com você. E quando não estou, ela preenche minha mente completamente, e eu odeio tudo isso.

— Blake... Por que eu sinto que você vai fazer alguma coisa muito idiota?

— É para a minha própria sanidade mental. Bem... Tchau?

— Tem certeza de que está bem?

— Relaxa, Jensen. Não sou uma menininha, eu me viro.

Ela riu.

— "Relaxa, Jensen. Não sou uma menininha" — ela repetiu, imitando-o. — Foi o que você me disse depois que eu quebrei seu coraçãozinho na noite da Festa de Halloween.

Ele tentou comprimir um sorriso, mas não conseguiu.

— Eu não falo assim.

— É, outra razão pela qual deixei o teatro: sou péssima com imitações — ela deu de ombros e saiu do carro.

* * *

Fawn tentou falar com Cassidy várias vezes durante o feriado, mas não obteve resposta. Convenceu-se de que estava tudo bem. Afinal, a internet não pegava direito na cidadezinha de Cassidy.

Certo?

Mas isso foi antes de Fawn encontrar uma fita cassete em seu armário na segunda-feira. Possuía um número 3 nela, o que queria dizer que Fawn não fora a primeira a recebê-la. Se estava certa, o número na fita falava sobre o foco central dela. E se Blake era o Número 3... Aquela era a fita dele. Ele já havia ouvido. Além do mais, Blake não tinha a combinação do armário dela. E nem sabia como arrombar armários e consertar depois, e certamente não pediria a alguém para ajudar. Então outra pessoa tinha colocado a fita lá. E aquela fita já estava circulando por ali há algum tempo.

No intervalo, correu até o pátio e colocou os fones de ouvido, escondendo o toca-fitas no bolso do casaco para fingir que era um iPod. Talvez fosse por isso que as informações/ameaças vinham em fitas cassetes. Ninguém levaria um toca-fitas para a escola, a não ser que estivesse com a fita.

A não ser que estivesse envolvido.

Bem vindos de volta às Fitas da Retaliação. A não ser que esta seja sua primeira fita. Nesse caso, seja bem-vindo.

Não é o caso da Número Um, não é? Haha. Essa garota já está começando a me entender bem melhor do que vocês. Mas nessa fita não vamos focar nela. Vamos focar no Número Três, como o número na fita bem diz.

Eis uma pequena história: Era uma vez um garoto que possuía como namorada a garota considerada a mais desejada da escola. Talvez do bairro. Talvez até mais.

Até que algo muito trágico aconteceu e eles não podiam mais se ver todos os dias. Tadinhos.

Mas o amor deles não morreu, claro que não! Não é?

Um riso maligno saiu da fita.

Número Um também se sentiu muito fragilizada com a partida da querida amiga, então talvez por isso eles decidiram confortar um ao outro.

A traição não é linda? E se você acha que ela fica em casa no sábado à noite assistindo musicais dos anos 60, tenho dó da sua pobre alma.

Mas, bem, vamos consertar essa ingenuidade. Depois de toda essa história, digo-lhes de primeira mão: Número Três terminou com sua querida namoradinha. Exatamente. Acabou. C'est la fin. Mas vocês acham que ele contou a história toda? Haha. Até parece.

Já ouvimos essa baboseira de "Relacionamentos à distância são complicados" antes, Número Três. Mas obrigada. Você torna as coisas muito mais divertidas sendo o canalha que é.

Sabe, como um gato esperando seu ratinho dar as costas para procurar um ratinho mais saboroso. E mais fácil.

Fawn sentiu-se tão enojada e tão ultrajada. Até perceber que, no meio de tantas coisas horríveis, não havia mentiras.

Porque, sabe, esse é o tipo de gato pilantra que ele é. Todo mundo sabe disso. Exceto a Número Um, que parece pensar que ele não faria a mesma coisa com ela na primeira oportunidade. Haha.

Eu teria pena, mas, como já disse, não existem vítimas nessa história.

Não se preocupem, pombinhos. Seus segredos estão seguros comigo. É com seus amigos que vocês deveriam se preocupar.


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Notas finais do capítulo

Uma pergunta curiosa: No momento, quem é o personagem favorito de vocês? :3



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