A Feiticeira escrita por rkaoril


Capítulo 8
Dragon Slayer


Notas iniciais do capítulo

Eaí, como foi o apocalipse do nyah?



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/434398/chapter/8

VIII

ELIZABETH

ELIZABETH NUNCA CORREU TANTO em toda a sua vida. Ela poderia ter tropeçado mil vezes, mas por alguma ironia do destino conseguiu subir a colina meio-sangue até a entrada do acampamento sem dar com a cara no chão ou amputar uma de suas pernas com a espada. Ela estava respirando pesadamente quando chegou ao cume, seus cabelos estavam grudando em seu rosto suado e ela mal conseguia se manter em pé.

De alguma forma, ela percebeu enquanto uma mistura de homem das cavernas com jogador de futebol americano ignorava os outros semideuses e subia a montanha na direção do acampamento. Ele parecia que estava em carne viva, como se tivesse se queimado completamente há alguns dias mas não se cicatrizado por completo. Ironicamente, ele vestia apenas uma camiseta imensa e chamuscada dos Giants de Nova York. Seus olhos eram pequeninos atrás de muita carne, ele não possuía cabelos ou orelhas e segurava uma bola de fogo e suas mãos enquanto subia a colina com uma expressão faminta.

Elizabeth – com horror, e ao mesmo tempo alívio – percebeu que boa parte dos monstros começaram a ignorar a maioria dos outros semideuses e ir em sua direção. Ela entendeu o recado, saindo do espaço protegido do Acampamento Meio-Sangue e entrando na colina, onde toda a batalha acontecia.

Quase que de imediato, ela deu de cara com aquele monstro dos Giants. Ela nunca havia usado uma espada antes, mas de alguma forma manobrou a lâmina suficientemente bem para fazer um corte em diagonal no monstro, o transformando em pó dourado e fazendo com que a bola de fogo desaparecesse. Logo a seguir, ela desviou por pouco de uma mulher muito feia que tinha cobras no lugar dos cabelos e brilhantes olhos vermelhos. Elizabeth fez o mesmo com ela, mas dessa vez decapitou o monstro.

Ela nunca se sentira tão sortuda em toda a sua vida. Era como se a espada fosse uma continuação do seu corpo, como se sempre tivesse lutado com ela. Elizabeth culpou seu Déficit de Atenção pelo modo no qual estava completamente ciente dos monstros ao seu redor, sendo capaz de desviar quase sempre com facilidade.

Embora a sorte pela primeira vez parecesse estar ao seu favor, Elizabeth não estava saindo ilesa das lutas – ela tinha cortes e arranhões sangrando por todo o seu corpo, estava convencida de que deveria ter torcido algum dedo em uma de suas esquivas e de que algum daqueles monstros devia ser venenoso, pois seus braços estavam cada vez mais doloridos e pesados.

Felizmente, ela não estava sozinha na luta – vários dos outros jovens que lutavam antes de sua chegada se juntaram a ela, muitos dando gritos de vitória quando matavam algum monstro. Elizabeth ás vezes percebia horrorizada quando um de seus companheiros era golpeado, sempre tentando manter todo mundo a salvo.

Pelo canto do olho, ela conseguiu ver quando Sabrina e Suzana olhavam estupefatas para ela, logo depois aproveitando que os monstros as ignoravam para ajudar os feridos e manterem-se seguras.

Quando a vitória parecia ser certa ao invés de improvável, algo fez com que Elizabeth tremesse. Ela acabara de matar outra mulher com cabelo de cobra – chamada por Raphael de górgona – quando o chão pareceu tremer sob seus pés. Era uma sensação parecida com a de quando sentiu que o cavalo em chamas viria, como se algo debaixo da terra estivesse conectado por wi-fi à sua cabeça fazendo com que ela estivesse ciente do que acontecia.

Ela olhou para os meninos e meninas que terminavam com o último monstro, começando a comemorar. Elizabeth não teve tempo de alertá-los – no momento que abriu sua boca para gritar, a terra se rachou debaixo de seus pés e ela quase foi engolida pela terra.

Os outros semideuses, assustados, se distanciaram do local. Alguns fecharam os elmos de suas armaduras, preparados para a luta. Outros corriam até os feridos que estavam caídos no chão, procurando leva-los até um lugar seguro.

Quando Elizabeth conseguiu se levantar, ela teve um rápido vislumbre da forma que acabara de rachar o chão. O monstro parecia ser feito de aço negro, como a espada de Elizabeth. Pelo corpo em escamas, o fogo saindo do que parecia sua boca e o rugido que quase fez as árvores ao redor se desprenderem do chão, Elizabeth pensou que fosse um dragão.

Aquilo era definitivamente pior do que um dragão. Era um autômato – um daqueles robôs mágicos – feito do mesmo material que a espada de Elizabeth, pronto para matar todos do acampamento com seu bafo quente superforça e peso. Como se não fosse suficiente, o ferro negro parecia ser tóxico à outros semideuses, fazendo com que eles enfraquecessem rapidamente e alguns desmaiassem.

Por um segundo, Elizabeth ficou parada olhando para o dragão do mesmo modo que fizera quando o cavalo de bronze atacou suas amigas. Ela se sentiu fraca, estúpida e covarde, impotente diante a situação caótica que estava fadada a matar todos ao seu redor. Nesse momento, Elizabeth se deu conta de uma coisa – ela era a única que poderia ajuda-los.

Ela avançou na direção do dragão, desviando de sua calda longa que insistia em balançar constantemente. O dragão estava de costas para ela, o que dava a ela a vantagem de ter que lidar apenas com a calda naquele momento.

Ainda correndo, Elizabeth percebeu que as várias camadas de ferro negro sobrepostas uma sobre a outra para dar o efeito de escamas poderiam funcionar como uma escada, se ela tivesse sorte. Felizmente, parecia um dia sortudo para ela.

Elizabeth se jogou no chão quando a calda avançou para ela de novo, criando uma cratera ao seu lado que tinha cerca de dois metros de profundidade. Ela se levantou rapidamente, correndo com toda a sua força e fazendo o possível para não machucar a si mesma com a própria espada.

Ela não tinha certeza, mas foi mais ou menos no momento que ela pulou nas costas do dragão que sua visão ficou em preto e branco. Ela se perguntou por que diabos tudo havia ficado como um filme antigo, mas não permitiu a si mesma distrações – escalou o mais rápido que pode as costas do dragão.

Embora o ferro negro não fosse maléfico para ela, o calor era e as lâminas eram. Ela praguejou escalando o dragão enquanto suas mãos criavam bolhas e ela era assada pelo ferro aquecido, ao mesmo tempo que recebia vários cortes pelas escamas afiadas. Ela se concentrou em procurar um modo de destruir o dragão quando chegasse à sua cabeça, por isso não percebeu que suas mãos estavam deformando as escamas do dragão enquanto ela subia.

Finalmente chegando ao topo, o dragão começou a se mexer mais constantemente, como se tivesse se dado conta de que Elizabeth estava o escalando. Elizabeth se agarrou ao pescoço do dragão quando tudo começou a girar. Ela se sentia dentro de um liquidificador, como se estivesse sendo triturada em lâminas cortantes. Com dificuldade, ela alcançou a espada e tentou de alguma forma cortar as escamas do dragão, ou quem sabe decapitá-lo.

Isso não funcionou por que a) o dragão estava se mexendo tão rápido que ela não via onde acertava e b) a cabeça do dragão era do tamanho de um fusca. Foi quando Elizabeth percebeu uma coisa – entre as frestas das escamas de ferro, deveriam haver engrenagens e puxadores de ar (afinal, se o dragão cuspia fogo devia ter uma forma de refrigeração). Ela tentou várias vezes cravar a espada em uma daquelas frestas, quando percebeu que suas pernas estavam ardendo.

Aparentemente, onde ela se segurava para não cair era o ponto no qual o dragão se refrigerava. Ela percebeu que se não o matasse logo, morreria assada pelo calor ou queimada na explosão quando o processador do dragão chegasse à temperatura máxima.

Apenas uma vez – ela pensou – se eu acertar entre as escamas, o dragão já era. Foi quando o mundo pareceu se tornar um borrão – Elizabeth não via nada além de seu alvo e a espada, como se o mundo estivesse infestado de névoa. Tudo pareceu ocorrer muito lentamente, como se ela tivesse feito um rasgão na realidade. Elizabeth cravou com toda a sua força entre a escama central do pescoço do dragão, rezando para que sua teoria estivesse certa.

A espada se cravou até muito fundo. Elizabeth ouviu um click, então o dragão cuspiu uma última baforada de fogo e se desfez debaixo dela enquanto ela perdia a consciência.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!