Alice olhava sem entender nada cena. Shay beijando a bochecha de Emmelie e a sobrinha sorrindo como se tivesse encontrado uma melhor amiga.

– Pera aí. Shay desde quando você conhece minha sobrinha? - Alice perguntou. O rosto completamente confuso.

– Primeiro entrem. Vamos sentar e aí eu te conto. - Shay deu espaço para Alice entrar e a guiou até o sofá branco da sala. Emmelie ainda em seu colo.

– Tá bom, agora explica isso. De onde você conhece a Emmelie? - Alice perguntou curiosa vendo a sobrinha sorrir distraída brincando com a fita da lateral da blusa de Shay.

– Eu a conheci no hospital. Eu estava chorando por causa do meu pai que está internado e a Emmelie me viu e veio conversar comigo. Ela é a garotinha mais doce que já vi. E conheci o pai dela também. Muito simpático ele. - Shay explicou se lembrando do episódio do hospital em que teve o prazer de conhecer Emmelie e Emmett.

– Ah sim. Deve ter sido no dia que ela passou mal no parque. Nossa bonequinha tem asma. - Alice suspirou triste, esticando o braço para acariciar os cabelos de Emmelie. Os grandes cachos que pendiam até as costas da pequena.

– É ela me contou. Mas ela tá bem agora né ou voltou a passar mal? - Shay perguntou preocupada, olhando de Emmelie em seu colo para a amiga ao lado.

– Não, não. Ela está ótima, né minha lindinha?! Minha família morre de preocupação por ela. - Emmelie assentiu olhando pra tia e sorriu. Esticou os bracinhos e Alice a pegou.

– A Shi minha miguinha, tia Lice. O papai dela tá dodói, mas o médico de blanquinho deu emédio pla ele, né Shi?! – Emmelie perguntou, sentada no colo da Alice.

– Deu sim, Emmelie. – Shay sorriu, apertando de leve o queixo dela.

– Ela te chamando de Shi é engraçado. – Alice riu. Shay a acompanhou na risada.

– Mas é o nome dela, tia. Num é Shi? Seu nominho é Shi. Foi sua mamãe e papai que coleu, foi? – Emmelie falou, fazendo carinha de preocupada.

–Não se preocupe não, Emmelie. Pode me chamar de Shi mesmo, viu?! Sua tia Alice que é uma boba. – Shay olhou para Alice, que lhe mostrou a língua. – E sim, foram minha mãe e pai que escolheram meu nome.

–Eu não sou boba não. Você que é uma chata babona. – Alice replicou.

–Babona? Só se for pela Emmelie, porque ela é um encanto. – Shay cruzou os braços.

–Shi tá bigando com a tia Lice? Não biga não, ela é minha tia, Shi. Meu papai não góta. – Emmelie defendeu a tia. Como sempre tão inocente sem entender que as duas estavam brincando.

– A gente não está brigando não, Emmy. Eu posso te chamar de Emmy, né? – Shay pediu.

–Pode sim. Eu góto de Emmy, mas góto de Emmelie também. Eu góto dos dois, Shi. – Emmelie sorriu satisfeita mostrando as covinhas.

–É meu amor, a tia Shay não está brigando comigo não. Pode relaxar. – Alice beijou o topo da cabeça da sobrinha.

–Shay, o jantar está pronto! – A mãe de Shay entrou na sala avisando.

–Ah, mãe esta é a Alice, a amiga de quem falei. Fizemos curso de fotografia juntas ano passado, ela veio algumas vezes aqui, se lembra? – Shay levantou apresentando Alice à mãe. – Alice, minha mãe Cheryl.

–Oi, tudo bem com a senhora? – Alice se levantou, entendo a mão para cumprimentá-la, segurando com um pouquinho de dificuldade Emmelie no colo com um braço só.

– Ah, a baixinha faladeira?! Eu me lembro de você sim. – Cheryl falou se lembrando de Alice. Um comentário não muito educado já que não era tão conhecida de Alice para falar assim.

– Mãe! – Shay a repreendeu.

–Tudo bem, Shay. Eu sei que falo demais. – Alice riu sem graça.

– A tia Lice é fadadeila. – Emmelie falou rindo, escondendo o rosto no pescoço de Alice. Shay riu com ela.

–Só um pouquinho faladeira, né Emmelie?! Mas sua tia é uma ótima pessoa. – Shay piscou para Alice, tentando amenizar o clima.

–E quem é essa menina? – Cheryl perguntou.

–Minha sobrinha Emmelie. – Alice respondeu.

–Se parece com você. Achei que fosse sua filha. Hoje em dia as jovens estão engravidando cedo, não é?! – Cheryl disse. Era notável que a mãe de Shay não era nem um pouquinho agradável com as visitas.

Alice fez cara de desentendida, como se pensasse no que se passava na cabeça dessa senhora.

–Ok mãe. Vamos comer que é melhor. – Shay encerrou o assunto. Ela as conduziu para cozinha.

Cheryl se serviu normalmente como se não tivesse mais ninguém do que a própria filha ali. Shay servia Emmelie e Alice, tentando ser o mais cordial possível.

Shay perguntou da viagem para Alice e as duas logos começaram uma conversa bem animada sobre moda e Paris na mesa. Alice dava comida de Emmelie na boca e nos intervalos comia a sua. Emmy até tentou comer sozinha, mas acabou derramando macarronada no vestido bege que usava. Alice limpou com um guardanapo, mas mesmo assim aquela mancha de molho não sairia tão facilmente.

Cheryl olhava tudo sem demonstrar muita reação. Perecia só um tanto insatisfeita em ter que jantar em silêncio, já que a filha estava mais ocupada conversando com a amiga e babando por uma criança suja de molho.

–Shi eu sonhei com minha mamãe, sabia?! Meu papai contô hitólinha aí eu sonhei de novo. – Emmelie interrompeu a conversa para contar.

– Jura?! Que legal Emmy! E como foi seu sonho? – Shay parecia realmente curiosa.

–Foi da hitólinha do meu nome, Shi. Eu tava na baliga da mamãe igual tá na foto. Depois a mamãe ela meu anjinho.

– Nossa que lindo. E você gosta de sonhar com sua mamãe?

–Eu góto, Shi, góto. Ela ama eu de montão assim – Emmelie abriu os bracinhos para enfatizar. – Lá do céu. Ama muito que o papai disse.

–Ama sim, pode apostar. – Shay sorriu para a pequena.

– Awn, ela não é a coisa mais linda da tia? É a bonequinha do papai dela, né Emmy?! – Alice falou mordendo de leve a bochechinha de Emmelie e apertando sua cinturinha. Emmelie se encolheu toda rindo baixinho do carinho que tanto amava receber da tia Alice.

–Eu sô a bonequinha do meu papai, Shi. Você sabia? – Emmelie falou quando Lice a soltou.

– Acabei de descobrir. É uma boneca mesmo. Você é muito linda, viu?! – Emmy sorriu tímida para Shay, que devolvei abertamente o sorriso.

– Certo, vou tirar a mesa. – Cheryl se manifestou depois de um jantar todo em silêncio.

–Querem sobremesa? Eu pego pudim pra vocês. – Shay sugeriu querendo agradar o máximo possível as duas ali.

–Estou de dieta, sorry. – Alice riu. - Mas aposto que a Emmelie quer, né amorzinho?

Emmelie assentiu. Os olhinhos brilhando só pela palavra pudim, como toda criança que adora esse tipo de coisa. Ela adorava os doces que a avó Esme fazia.

–Quelo, Shi. Pudim é gotoso. Igual da vovó, né tia Lice?

–É sim, bebê.

Shay seguiu a mão para cozinha, levando os pratos de Alice e Emmelie. Estavam só as duas na cozinha quando ela resolveu conversar com a mãe.

–Mãe, o que deu em você? Pelo amor de Deus, porque falou daquele jeito com a Alice? – Shay questionou baixo, para evitar que a amiga ouvisse da sala de jantar ao lado.

– Shay, minha filha, não comece. Eu não fiz nada. – Cheryl se fez de desentendida.

–Não fez nada? Ah, não? E chamar a garota de ‘baixinha faladeira’ foi o que então?

–E ela não é? Então. Além do mais ela vem de vista e ainda traz bagagem junto. – ela revirou os olhos.

–Não fala assim, mãe. A Emmelie é um amor. Eu disse a Alice que ela poderia trazê-la. Nós já nos conhecíamos do hospital.

–Ah, a menina com asma que você ficou falando por horas enquanto seu pai estava lá numa cama de hospital?! Bom saber filha. – resmungou.

Shay estava se controlando para não discutir com a mãe. Ela a amava apesar do jeito rude de ser.

–Já temos muitos problemas, Shay. E você ainda traz uma criança doente pra casa? No que você está pensando?! Não quero mais dor de cabeça nessa casa.

–A Emmelie não é uma criança doente, mãe. Ela é saudável, só tem uma dificuldade respiratória. É diferente. – Shay explicou. – E ela é uma menina adorável, você mesma viu. A mãe dela morreu no parto e o pai dela, assim como a Alice, cuida muito bem dela.

– Outro ponto em questão, filha. A menina sonha com a mãe que está morta. Pelo amor de Deus, Shay! Olha com quem você está se metendo, filha. – Cheryl falou encarando a filha.

Shay não conseguia entender como sua mãe não tinha nem um pouquinho de compaixão que fosse pela história de Emmelie.

–Já chega mãe. Não acredito que você pode ser tão sem coração dessa maneira. – Shay falou decepcionada. Pegou um potinho com pudim da geladeira e uma colher e foi saindo. Antes parou para falar com a mãe. – O papai não agiria assim.

Cheryl não deu importância ao que a filha disse. Seu coração estava muito longe de poder sentir qualquer coisa que não fosse tristeza pelo marido que estava no hospital. Ela já foi uma mulher mais feliz e a filha sabia disso, sentia falta de como era a mãe antes. Mas o problema de saúde do pai de Shay, as preocupações, a tornaram uma mulher amargurada.

–Aqui seu pudim, Emmy. Desculpem a demora. – Shay sentou em frente à Alice, revirando os olhos. Alie apenas sorriu fraco, mostrando que estava tudo bem. Mas não estava.

Alice não queria ser chata. Piorar mais o clima da noite do que já estava. Mas ela ouvira boa parte da conversa que, sem Shay ou Cheryl percebessem, estavam falando um pouquinho alto.

Emmett ficaria tão magoado se soubesse o que a mãe de Shay pensou de sua garotinha. Além de completamente irritado. Pois ele não suportaria ouvir falarem mal de sua menina. De sua bonequinha que desde que nascera lutou tanto. Emmelie podia não aparentar, mas era uma criança muito forte. E a família toda sabia disso.

Assim que ela terminou de comer o pudim Alice sugeriu que fossem para casa. Aproveitou da desculpa que Esme já teria chego em casa e estranhado não vê-las ali.

Quando ia descendo da cadeira, Emmelie bateu a mãozinha num copo de água que estava sobre a mesa, derramando água pela mesa e pingando no chão.

–Diculpa Shi. – falou envergonhada. Alice a pegara no colo, beijando sua testa.

–Tudo bem, linda. A tia seca tudo depois. – Shay a tranquilizou.

– A tia Lice? – perguntou olhando para Alice.

–Não, a tia Shay. – Alie respondeu olhando para ela e depois para amiga, piscando em seguida.

–A tia Shi? – Emmelie apontou para Shay como se confirmasse a pergunta e Alice assentiu. – Eu góto de tia Shi. Você é minha tia Shi agola, né Shi?

Shay olhava encantada para Emmelie. Como podia caber tanta fofura em uma garotinha tão pequena?

–Se você quiser, sou sim. – Shay sorriu para ela. Emmelie esticou os braços querendo ir para o colo dela, que a recebeu de bom grado.

–Tchau tia Shi. – Emmelie beijou a bochecha dela.

–Tchau Emmelie. – ela beijou a cabeça de Emmelie e a devolveu para Alice. –Tchau, Alie. Desculpas pela minha mãe, amiga. Não fica magoada não, viu?! – ela se desculpou já na porta.

–Não tem problema, Shay. A Emmy nem entendeu nada mesmo. Está tudo bem. – Alice lhe sorriu, afugentando qualquer receio que ela tivesse de perder a amiga. – Mas na próxima o jantar vai ser lá em casa, ok? – as duas riram.

–Ok. Adeus Alie. – Shay ficou olhando a amiga se afastar e colocar Emmelie no banco de trás do carro. Depois esperou Alice sair entrar para poder voltar para casa, fechando em seguida à porta.

Shay realmente se preocupou com o comportamento da mãe, mas tentou entendê-la. Estavam passando por um momento difícil e esse era o jeito dela de sofrer talvez. Impedir que novas pessoas entrassem em sua vida. Shay só não queria perder a amizade de Alice e nem o carinho que acabar de conquistar de Emmelie. Pois apesar de só terem se visto duas vezes, Shay adorara a companhia da pequena. E no coraçãozinho de Emmelie ela também já havia conquistado um lugarzinho.