Após a ''Esperança'' escrita por HungerGames


Capítulo 16
Capítulo 16


Notas iniciais do capítulo

...''não consigo disfarçar meu humor, a angústia que ainda estou, então não falo muito, nós nos deitamos abraçados como sempre e eu durmo, desejando que nada aconteça''....



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No outro dia recomeça a semana, e Peeta vai pra padaria e eu pra escola, meu humor ainda não melhorou até as crianças percebem, eu tento disfarçar, forçando sorrisos, mas não acho que funcionou muito bem, quando chega na hora do almoço a diretora pergunta se eu não quero almoçar na escola, por que vai ter uma reunião logo após o almoço com os professores e eu decido aceitar, mas como não avisei pro Peeta eu vou até a padaria e o aviso, ele diz que então também vai ficar por lá, como ontem ele não trabalhou ficaram algumas coisas pra fazer e ele ia aproveitar pra terminar. Eu volto pra escola e me sinto tão deslocada quanto no tempo que eu era apenas uma aluna, as pessoas se sentam em mesas, todos conversando entre si, rindo, e eu sem saber onde sentar ou o que falar, e com meu humor desse jeito acho que também não está ajudando muito, então me sento e permaneço quieta mas a assistente da diretora tenta me colocar em todas as conversas, eu apenas tento responder com educação depois de um tempo acho que ela percebe que não é um bom dia e desisti. Terminamos de almoçar e logo começa a reunião, falando sobre alguns materiais que irão chegar, sobre alguns alunos que causam problemas, enfim confesso que não prestei muita atenção, afinal da minha parte mesmo eu sou apenas a professora substituta de musica, não tem muito o que se falar, todos elogiaram as aulas, disseram que as crianças estão amando, mas ainda não sei se tudo foi realmente sincero ou se só disseram em vista de quem eu sou, ou já fui um dia. A reunião leva quase a tarde toda, quando termina eu logo saio, passo pela padaria pra ir embora com o Peeta, quando chego ele ainda está terminando algumas coisas, eu espero, e depois de um tempo ele termina. Nós seguimos nosso caminho.
– Você ainda não está bem! – a voz de Peeta que quebra o silencio e me desperta.
– Eu vou ficar! – eu falo tentando parecer confiante.
– Eu tenho uma ideia então – ele diz sorrindo.
– Que ideia? – eu falo olhando pra ele.
Então ele começa a me fazer cócegas.
– Não! – eu grito rapidamente me desviando e embora eu esteja tentando não rir não consigo.
– Peeta! A gente tá no meio da rua e está todo mundo olhando – eu reclamo enquanto tento escapar dele, mas ele me segura.
– Então melhora essa cara – ele fala enquanto coloca os braços em volta de mim, me abraçando.
Eu forço um sorriso, ele balança a cabeça como se não estivesse bom, e faz cócegas de novo, e eu começo a rir.
– Assim é melhor – ele diz sorrindo.
– Isso não tem graça. – eu falo mas estou rindo.
– Pelo menos você riu – ele fala me dando as mãos e nós voltamos a andar.
– Você é um garoto irritante – eu digo olhando pra ele mas sorrindo.
– Você é uma garota mal-humorada – ele fala também sorrindo.
Não demora muito e chegamos em casa, quando abro a porta e entro vejo Haymitch saindo da cozinha com uma garrafa na mão e uma maçã na outra.
– Por que será que isso não me surpreende? – eu falo enquanto tiro a jaqueta que estava e jogo no sofá.
– Boa noite pra vocês também – Haymitch fala se aproximando.
– Boa noite – Peeta responde enquanto também vem entrando em casa.
Eu passo por ele andando, quando ele entra na minha frente encostando a garrafa em mim.
– Oh não, queridinha. Precisamos conversar – ele fala me parando.
Eu reviro os olhos e corto caminho pelo outro lado.
– Eu não sei o que foi dessa vez, nem qual a piada, mas hoje não é um bom dia Haymitch, minha cabeça está explodindo e eu vou dormir – eu falo e já estou com o pé no primeiro degrau da escada quando a voz dele alta e clara me para.
– Plutarch Heavensbee me ligou!
Sinto todo meu corpo se paralisar e então tudo começa a rodar, obviamente não está acontecendo mas sinto como se minha cabeça estivesse dando milhares de voltas rapidamente, meu coração parece parar e em seguida voltar a bater descontroladamente, minha respiração também fica suspensa no ar, não consigo mexer um único músculo sequer, apenas um único nome ecoa na minha cabeça ‘’Plutarch Heavensbee’’ e só esse nome já é motivo suficiente pra me apavorar, por que junto com ele vem lembranças que eu estou lutando a cada dia pra esquecer, ou ao menos pra não doerem tanto, então por mais que eu não saiba ainda o que está acontecendo e o que pode acontecer eu sei que a sensação ruim que eu tive ontem e continuei hoje o dia inteiro tem a ver com isso, seja lá o que for, eu sinto que não é algo bom. Não sei quanto tempo se passou até a voz de Peeta perguntar o que eu não consigo.
– Por que ele ligou? O que ele quer? – ele pergunta com uma voz tensa, e eu permaneço parada de costa pra eles, sem ser capaz de mexer um único músculo nem dizer nenhuma palavra, eu sinto como se qualquer movimento que eu faça possa estragar tudo.
– Bom, no próximo mês vai completar um ano desde o fim da Revolução, a queda do Snow e o inicio do novo governo – Haymitch fala devagar tentando explicar e embora eu não esteja olhando pra ele posso dizer com toda certeza que ele também está tenso e preocupado, mas ele segue falando – e a capital vai fazer uma comemoração, segundo as palavras de Plutarch, será finalmente a iniciação pra essa nova era.
– E por que ele ligou? – Peeta pergunta novamente, já mostrando seu nervoso.
– Por que ele quer todo mundo lá, todos os vitoriosos, todos que participaram da revolução.
E é nessa hora que eu encontro os movimentos e a minha fala, rapidamente como se tivesse sido despertada eu me viro e vou na direção do Haymitch é tudo tão rápido que nem ele nem Peeta tem tempo de alguma reação, eu chego o empurrando, a garrafa que ele estava cai no chão e se quebra mas eu não me importo. Ele ainda está me olhando assustado quando eu começo.
– Eu não vou! – eu falo gritando com desespero e urgência na minha voz – Eu não vou a lugar nenhum. Você entendeu? – eu falo com todo meu ódio.
– Ei ei calma – ele fala dando passos pra trás com certo receio do que eu vou fazer. Peeta se aproxima de mim e tenta me segurar pelo braço pra que eu recue.
– Calma Katniss, deixa ele falar - mas eu puxo meu braço me soltando dele.
– Não Peeta, eu não vou me acalmar – eu falo gritando e me virando pra ele, ele recua também e permanece parado me olhando, eu volto a olhar pro Haymitch – Não tem o que falar, eu não vou!
Haymitch está se recuperando ainda, mas tenta manter sua postura.
– Eu posso explicar – ele começa a falar.
– Não tem o que explicar – eu falo interrompendo ele – Acabou! Eu fiz tudo que vocês quiseram, eu não vou fazer mais nada, me deixem em paz! – eu falo gritando e então começo a chorar. Peeta vem até a mim e me abraça tentando me acalmar, ele permanece me abraçando e acariciando meu cabelo, mas eu não consigo me acalmar eu sinto todo aquele medo de perder ele de novo, toda vez que eu me mexia no meio daquela confusão coisas ruins aconteciam e agora quando finalmente as coisas estavam se ajeitando eles querem me tirar daqui e me colocar no meio disso tudo de novo. Não. Eu não vou. Eles não podem me obrigar. E é então que eu lembro. Eu paro de chorar, limpando meu rosto com as mãos.
– Espera! – eu falo enquanto me viro pro Haymitch de novo – eles não podem! – eu falo como se tivesse me lembrando de algo.
– O que? – Haymitch pergunta com olhar fixo em mim
– Eles não podem Haymitch – eu falo sorrindo e eles me olham como se eu estivesse louca – Eles não podem me tirar daqui. Eu estou presa, eu matei a presidente Coin. – eu falo como se essa fosse a proteção que eu precisava – Eles não vão poder me tirar daqui, essa é a minha prisão – eu falo e ainda mantenho o sorriso, é como se eu não pudesse ser atingida aqui, eles não podem voltar atrás e soltar uma assassina. Mas quando eu olho pro rosto de Haymitch minha certeza desaparece de novo, então eu olho pro Peeta ele está me olhando ainda confuso com tudo que está acontecendo mas tentando me passar segurança.
– Não é Peeta? Fala! Eles não podem me tirar daqui – eu falo como se implorando pra que ele concorde comigo – Fala Haymitch! – agora eu estou virada pro Haymitch gritando desesperada.
– A gente tem que conversar – ele me diz desviando o olhar de mim, e nesse momento eu sinto a minha ultima esperança despedaçar.
– Não, não, não! – eu me descontrolo e começo a chorar, soluçando e mal conseguindo respirar, minhas pernas e todo meu corpo parecem esquecer como funcionam e eu escorrego até o chão, Peeta tenta me segurar mas acaba no chão também, ele me abraça me envolvendo no braço dele e fazendo um som pra que eu me acalme – Por favor Haymitch! – eu falo entre os soluços tentando parar de chorar – Por favor, não deixa! Eu não quero voltar pra lá – eu falo e volto a chorar de novo. Ainda consigo ver o olhar de Haymitch pra mim, ele me olha com pena e como se não pudesse fazer mais nada. A sensação que eu sinto nesse momento é a mesma que eu senti quando eu vi o presidente Snow fazendo a leitura do cartão do massacre quaternário, quando soube que ia ter que voltar para aquele inferno e é desse jeito que eu me sinto agora, mas ainda pior, por que agora eu estava realmente tendo uma vida aqui, eu e Peeta estávamos finalmente começando algo nosso, bem próximo do normal e agora isso. Eu ter que voltar pra toda aquela confusão. Eu não vou conseguir. Não sei quanto tempo se passa que nós ficamos assim, Peeta me abraçando tentando me acalmar e Haymitch em silêncio me olhando, até que finalmente eu paro de chorar, ainda estou soluçando e meu nariz está escorrendo, sinto meus olhos inchados, mas não tenho mais força pra chorar, Peeta limpa meu rosto, me ajeita no seu abraço de novo, mas eu permaneço parada, sem dizer uma única palavra por que eu simplesmente não quero que isso continue, eu sinto que se eu ficar parada talvez as coisas se ajeitem. Peeta olha nos meus olhos e por mais que eu veja a ansiedade e o nervoso no olhar dele, eu também encontro a segurança e confiança que ele sempre me passa, ele me olha e força um sorriso pra me acalmar e sussurra pra mim.
– Vai ficar tudo bem, a gente tá junto lembra? – eu não respondo, não sorrio, apenas observo o movimento dos lábios dele.
Então ele faz um sinal com a cabeça que indica pro Haymitch continuar explicando, e com uma voz calma e baixa ele volta a contar.
– Como eu disse daqui a duas semanas vai ser o primeiro ano desde que tudo mudou, como forma de lembrança e agradecimento por todas essas mudanças positivas vai haver na capital cinco dias de comemorações – ele fala de modo pausado e lento – e pra essa comemoração ser completa eles esperam por todos nós lá, todos os vitoriosos e aqueles que de alguma maneira ajudaram na revolução – ele pausa e me olha, eu permaneço sem dizer nada apenas olhando pra ele.
– Katniss, eu tentei! – ele fala saindo da cadeira e sentando no chão na nossa frente – eu sabia que você não ia querer voltar lá, acho que nenhum de nós quer não é mesmo? – ele fala olhando pro Peeta – então eu consegui apenas duas alternativas, ou nós vamos pra lá por esses cinco dias – ele pausa novamente e continua – ou eles vem até aqui.
– Como assim eles vem até aqui? – Peeta pergunta sem entender.
– Plutarch deixou bem claro que eles não irão abrir mão de nenhum dos vitoriosos principalmente se um deles for você ou a Katniss, por isso se nós não formos ele manda uma equipe de filmagem aqui pra acompanhar toda a nossa rotina, o que inclui a casa, a padaria e a escola – quando ele fala da escola eu me desperto.
– A escola? – eu pergunto minha voz muito baixa e rouca.
– Sim, é claro que eles souberam desde o primeiro dia que você estava dando aulas, então eles vão querer usar isso também – ele fala explicando.
– Usar? – eu pergunto confusa.
– Sim Katniss, o que eles querem é mostrar como as coisas melhorando, como as pessoas estão felizes e tudo está lindo e perfeito – ele fala com uma certa ironia em seguida segue falando sério de novo – se nós não formos eles virão. A escolha é sua! – ele termina de falar e me olha.
– Eles não podem vim – eu falo me endireitando pra sentar. Eu olho pro Peeta e ele me olha aguardando uma resposta – Peeta eu não quero eles aqui em casa, nem na padaria, muito menos na escola – eu falo lentamente.
– Katniss, a escolha é sua, eu vou está com você seja aqui ou lá – ele fala passando a mão pelos meus cabelos – Sempre lembra? – ele diz e força um sorriso, eu olho pro Haymitch e com uma voz firme e decidida eu falo – Ok. Nós vamos!
Haymitch balança com a cabeça concordando em seguida ele coloca a mão por cima da minha apertando, olha pro Peeta e mesmo que ele queira disfarçar dá pra sentir toda a emoção na voz dele quando ele diz. – Juntos? – Peeta coloca a mão sobre a dele nós trocamos olhares e repetimos ao mesmo tempo – Juntos!


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