— Nami!! Tem certeza que não está vendo nada?

— Certeza absoluta, Usopp!

No Novo Mundo dias calmos são dias incomuns, e mesmo quando havia uma tranquilidade superficial, Usopp ficava preocupado, ele segurava firmemente a vara de pescar com as mãos, mas a todo o momento gritava para Nami, confirmando se tudo estava realmente bem, ela acomodada na sua cadeira com os binóculos grudados ao rosto, respondia suavemente.

— Olha novamente!

— Nada!

— Tem cert-

— Maa, maa... Usopp, eu quero tomar meu suco, né...

Ele bufou derrotado, olhou desconfiado para o horizonte, avaliando qualquer movimento que denunciasse um perigo iminente.

— Tudo bem, Usopp, se surgir algum inimigo, nós chutamos a bunda dele, eu tenho os melhores e mais fortes nakamas.

A voz do capitão de repente soou séria ao lado do atirador, por um instante pareceu que todo o universo parou, foi como se os pássaros parassem de voar, as ondas parassem de ir e vir, até o ar congelou em torno deles frente à tamanha honraria que era a declaração de Luffy. Usopp voltou o rosto, enrubescido pelo elogio, e foi quando o discurso de Luffy perdeu toda a magia, o capitão borrachudo, mastigava as minhocas da isca com a boca aberta, era possível vê-las se enrolando rente a língua dele.

— AH... POR QUE VOCÊ COMEU AS ISCAS??

— Elas pareciam gostosas... olha, pega uma... ah... acabou!

— BAAAKA, COMO VAMOS PESCAR SEM ISCAS??

Usopp gritava a plenos pulmões, o rosto contorcido de raiva e os dentes afiados, muito próximo de Luffy, que se encolheu diante da ira do atirador.

Neste momento Luffy e Usopp notaram que algo estava puxando a vara de pescar de Luffy, talvez ele tivesse pescado algo afinal, ambos ergueram as sobrancelhas e se abaixaram para puxar o pescado.

Quando a extremidade do anzol se mostrou, o que havia na ponta não era um peixe, nem mesmo um ser vivo, era na verdade uma garrafa. Usopp a retirou do anzol e analisou cuidadosamente o vidro escuro, não demorou nem meio segundo para notar que havia algo no interior da garrafa: um papel.

— MIIINNAAA!! EU PESQUEI UMA GARRAFA!! — Luffy anunciou feliz, enquanto Usopp estava entretido abrindo o papel e lendo.

— Uma garrafa? É sake? — Perguntou Zoro, se erguendo de algum canto do gramado do Sunny-Go e indo até eles.

— Claro que não, aho Marimo. — Respondeu Sanji, pulando da porta da cozinha e chegando até Usopp, rapidamente com suas longas pernas.

— Deve ser um mapa de tesouro, né-éh? — Falou Nami, e seus olhos já tinham dois sinais de bellys cravados, brilhantes como joias.

Todos se juntaram silenciosamente na mesinha no meio do gramado onde Usopp esticou o papel, eles todos puderam ler o que estava escrito.

“Venha nos ajudar, estamos privados de nossa liberdade, fomos separados de nossas famílias, temos fome e alguns que aqui estão, adoeceram.

Este bilhete é um vivre card, se você tiver bom coração, força e coragem, será capaz de nos encontrar onde estão os doces.

Venha depressa, venha antes do Halloween, por favor.”

— Há doentes? Por favor, Luffy, eu tenho que ir! — Chopper já chorava ao lado de Luffy.

— É claro que somos fortes. — Disse Zoro desembainhando a Meitou, um sorriso lascivo desenhado no rosto.

— Isso é encrenca, Luffy, nós não vamos! — Usopp se adiantou, sacudindo o líder dos Mugiwaras, enquanto assistia o rosto do capitão mudando de expressão.

— Eles foram separados das famílias, Usopp... você sabe como é o sentimento. — Nami apontou, e frente à verdade e determinação das palavras dela, Usopp apenas se encolheu.

— Se eles têm fome, é minha obrigação ajudar! — Sanji falou acendendo um cigarro e dando uma grande tragada, pensativo.

— Nós vamos! — O capitão declarou batendo as duas mãos em punhos. — Nami, pode seguir para este lugar?

— Sim... basta navegar para onde o vivre card aponta. Franky, me ajude com o leme. Usopp, você a Robin procurem informações na biblioteca, há livros lá sobre as ilhas do Novo Mundo. Os outros... se preparem!

— Yohohohoho... Nami-san, antes de chegarmos lá, me deixaria ver suas calcinhas?

— DAMARE! Até parece! — A navegadora respondeu socando a cabeça do esqueleto.

— Yohohoho... então eu vou criar uma música para esta nova aventura!

Brook riu e se afastou com seu novo calombo no alto do crânio, Chopper foi até a enfermaria providenciar primeiros socorros suficientes para uma expedição, Zoro foi para o Ninho do Corvo se exercitar para ficar mais forte, Sanji já contabilizava os alimentos que tinha em estoque, e Luffy, estava sentado na cabeça do Leão, ele observava o mar, os braços cruzados e um imenso sorriso grudado no rosto.

~*~*~*~*~*~*~*~

Na biblioteca, Usopp folheava o quinto livro sobre festas tradicionais das ilhas do Novo Mundo. Ele leu atentamente um texto e ergueu o rosto para encontrar Robin, que fazia o mesmo do outro lado da sala.

— Sabe o que me preocupa? — A voz dele soou no silêncio, atraindo a atenção de Robin. — O que me preocupa mesmo é este papo sobre “halloween”. Pelo que eu li até aqui parece algo apavorante.

— O que quer dizer, Nagahana-kun? Eu pensei que outros fatores eram mais preocupantes... — Ela perguntou suavemente, os olhos castanhos atentos no atirador.

— Quero dizer que parece algo terrível, pessoas se vestindo de monstros e batendo em portas pedindo doces. — Ele respondeu com a voz mais cavernosa que pôde, olhando ansioso para Robin.

A arqueóloga sorriu.

— Não se preocupe com isto, se precisarmos nos vestir de monstro ao menos poderemos nos esquivar de ser comidos por algum deles, sim? — Ela respondeu calma.

— E você diz isso assim? — Usopp gemeu aterrorizado. — De qualquer forma, acho que já temos material suficiente aqui — ele disse em um gesto largo apontando as anotações de ambos —, vamos levar lá para o convés e mostrar aos outros.

No gramado do Sunny, Usopp fez sinal para Nami se aproximar, ela desceu aos pulos a escada, seguida por Franky, eles se juntaram a Usopp e Robin.

— MINA!! Vamos ver o que o Usopp e a Robin descobriram! — Nami gritou.

Em poucos instantes os nove mugiwaras estavam em um círculo sentados no gramado.

— Robin? — Nami chamou, dando sinal para Robin falar.

— Como eu devo dizer... Bem, pode-se dizer que esta ilha é muito provavelmente Little Muffin, nesta ilha há algum tempo as crianças têm desaparecido misteriosamente, elas voltam a aparecer já quando são adultas, mas não há qualquer indício de memória sobre os anos em que estiveram fora.

— Mas isso não é nada... o mais importante — disse Usopp — é que nesta ilha há uma festa tradicional, que ocorre uma vez ao ano.

— Festa? — Disse Luffy.

— Sim, uma comemoração... as pessoas se vestem com fantasias tenebrosas, e batem às portas pedindo doces, se a pessoa que atende a porta não der doces aos pedintes, está sujeita a grande punição. Mas se a pessoa que atender a porta colocar o doce dentro da cesta do pedinte antes que o pedido seja feito, então é a pessoa que atendeu a porta que determina uma punição aos pedintes.

— Doces? — Pulou Chopper animado.

— Parece divertido. — Falou Zoro.

— NÃO PARECE NÃO!! — Gritou Usopp.

— Eu achei legal a parte das fantasias, me faz sentir certa nostalgia, me lembra de Thriller Bark. — Disse Franky feliz, olhando para Robin com o canto do olho, ela cobriu os lábios escondendo um sorriso.

— E O QUE TINHA DE LEGAL LÁ? — Usopp tornava a gritar.

— Luffy-san, o que acha? — Perguntou Brook.

Luffy coçava o nariz, com olhar de tédio.

— Nhah... Comemoração misteriosa. — Ele falou como se aquilo definisse toda a pesquisa que Usopp e Robin fizeram.

— Ele nem mesmo entendeu! — Falou Nami e olhou para Usopp buscando apoio.

— Eu sei. — Confessou Usopp, e os dois se ajoelharam no chão, deprimidos.

— Tudo bem Nami-san, nós entendemos o suficiente. — Falou Sanji dando suaves batidinhas nas costas dos outros dois.

— Parem de choramingar! — Ordenou Zoro. — E expliquem isso de novo, mas com calma agora. Vamos, Usopp!

— Ele também não entendeu. — Percebeu Nami trocando um olhar com Usoop, que correspondeu e ambos sacudiram a cabeça em sinal de derrota.

— Teoricamente, nós nos fantasiamos e batemos nas portas para pedir doce, se a pessoa que atender a porta não tiver doce, nós damos a ela uma punição; mas se a pessoa que atender a porta colocar o doce na nossa cesta antes que falemos, então é a pessoa que nos dá uma punição.

— Devemos ser rápidos e não deixar ninguém colocar nada na cesta, certo? — Falou Chopper.

— Bem, sim, mas eu falei hipoteticamente, não é como se nós fôssemos nos fantasiar e tudo o mais. — Ponderou Usopp.

— Por que não? — Falou Luffy interessado agora.

— Eu não tenho certeza que vamos encontrar as pessoas que pediram ajuda se estivermos fantasiados por aí... — Usopp completou vacilante.

Nami olhava para ele com grandes olhos castanhos fascinados.

— Que olhar é esse? — Ele se intimidou.

— Usopp, você é genial! — Ela falou o abraçando.

— Ah, claro que eu sou! Não contei para vocês daquela vez que eu tramei o plano para desbancar uma grande rede de tráfico de... elefantes? — Ele contou orgulhoso, apontando o polegar para o peito inflado.

— SUGEEE USOPP!! Você fez mesmo isso? Ajudou os elefantes? — Chopper já tinha os olhos brilhantes e a boca aberta em espanto e admiração.

— Ora, parem com isso! — Falou Sanji. — Deixem a ~~NAMI SWAAAN~~ falar o plano dela. — Cantarolou o cozinheiro, girando em meio a uma explosão de corações.

— Tudo bem, Mina, vai ser simples, ouçam meu plano: — Nami falou e todos se concentraram na declaração dela. — Quando chegarmos nesta ilha, vamos nos fantasiar e nos misturar com os cidadãos. Assim será fácil coletar informações e encontrar a origem do pedido de ajuda.

— Nami, não vamos suuuper chamar a atenção, andando todos juntos? — Questionou Franky.

— Na verdade eu pensei em algo para isso também: Não chamaremos a atenção, se nos separarmos em grupos, e cada grupo segue em uma diferente direção da ilha!

Ela olhou nos olhos de cada um procurando sinais de dúvidas quanto ao plano, como os nakamas não demonstravam qualquer contrariedade, ela prosseguiu.

— Faremos um sorteio e vamos nos dividir em duplas, o último que ficar sem dupla, montará guarda no Sunny-Go, esperando que os outros voltem.

— Parece muito bom, Kokaishi-san. — Disse Robin calmamente.

— Todas as vezes que fazemos um sorteio eu levo a pior! — Usopp declarou contrariado.

— Are, are.... pare de reclamar, Usopp! — Nami chamou a atenção dele. — Você não quer ser um Grande Guerreiro do Mar? Então vamos lá.

Nami preparou dois papéis com os números 1, 2, 3 e 4; e apenas um com o número 5. Ela tirou o chapéu branco da cabeça de Usopp e colocou os papéis lá dentro, depois pediu que cada Mugiwara tirasse um papel.

E assim as duplas se formaram.

Aparentemente Brook era o mais aliviado, ele foi sorteado com o número 5 e ficaria montando guarda no navio.

Luffy também estava contente, ele pegou o número 1, como era esperado do Rei dos Piratas, ele dissera, e junto com Chopper, eles formavam o primeiro grupo, que iria explorar o norte da ilha. O médico do bando estava apreensivo de ter que sair em ambiente hostil com o capitão inconsequente.

Zoro e Sanji se encaravam enfurecidos, em poucos instantes ambos estavam envoltos em chamas, tamanha era a ira que cada um sentia, eles haviam tirado números correspondentes, e formavam o segundo grupo, que iria em direção ao sul da ilha.

Usopp estava embaraçado e amedrontado, Nami o abraçava apertando o peito contra as costas do atirador, eles foram sorteados com o número 3 e eram os integrantes do terceiro grupo, que iria para o leste da ilha.

E para fechar os grupos, Robin e Franky pareciam animados, ambos estavam com seus papéis com idênticos números 4 escritos. Eles iriam para a direção oeste da ilha.

Agora faltava apenas decidirem sobre as fantasias, e estariam prontos para esta nova aventura de resgate.