A cidade da Luz escrita por Raquel de Oliveira


Capítulo 1
Santiago, O grande


Notas iniciais do capítulo

Pessoal espero que gostem, é minha primeira história. Comentem!! bjos :*



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25 de julho

Eu podia ter certeza de que estava lá, parecia tão real. Eu estava presa numa espécie de gaiola, tinha uma mesa, e em volta várias pessoas estranhas, elas vestiam capas pretas e falavam coisas confusas. Eu não sei bem o que aconteceu depois, mas eu lembro de um homem em especial, ele aproximou-se de mim, não disse nada, mas me analisava de uma forma constrangedora. Ele tinha uma cobra em sua mão direita, e eu quase cai na tolice de achar que ela pensava, ela me olhava de um jeito hipnotizador , o homem chegou mais perto, e disse “ a sua hora, não vai chegar”. Não sei por que ainda escrevo sobre esses sonhos, mas sinto essa necessidade de alguma forma, ultimamente tenho me sentido estranha, não consigo mais seguir minha rotina comum, algo aqui dentro de mim está errado. Bom..esquece tudo o que eu escrevi, hoje é dia de Santiago, O grande,vai ser bom para distrair, preciso tirar esses sonhos malucos da cabeça.

A menina parou de escrever, fazendo uma rápida análise nas duas primeiras linhas que escrevera, com um gesto repentino deixou de lado seu diário tentando se convencer que estava ficando maluca, que nada daquilo poderia vir acontecer, até porque, não existe, claro que não! Ela se levantou e abriu seu armário, mais uma vez se viu no espelho, percebeu pela primeira vez que havia mudado muito de uns tempos pra cá, seus olhos estavam mais verdes, como carvalhos na primavera, seus cabelos cresceram e agora ondulados e seu corpo estava mudando. Era de fato, linda!

Uma banho quente e comida, é o que eu preciso, pensou ela. A menina quase não se importava com o que vestir, mas tudo que vestia parecia perfeito, hoje ela escolheu uma calça jeans, uma camisa branca rendada e uma sapatilha dourada, tudo estava em sintonia, só faltava uma coisa, o batom vermelho que sempre destacava sua pele morena. Sofia tinha uma beleza típica de uma mulher espanhola, morena, olhos verdes, cabelos ondulados e charmosa.

- Sofia, vamos nos atrasar para missa, anda, depressa! – a voz veio quase inaudível do primeiro andar.

A morena foi saindo do quarto,fazendo uma analise rápida antes de sair, estava tudo como sempre, não estava acontecendo nada de errado, pensou, depois fechou a porta e desceu as escadas.

Na cozinha, Luna, de 6 anos, comia cereais a mesa junto com seu pai Leonard que lia jornal, sua mãe Lívia fazia omelete e queimava outra coisa no fogão. Lívia era do tipo mãezona, dedicada que fazia de tudo pela família, tinha um rosto fino e cabelo loiro escuro, pele branca, lembrava a porcelana. Sofia deu-lhe um beijo no rosto e sentou-se a mesa.

- Bom dia! – disse Sofia, pegando uma fatia de peito de peru e queijo – desculpe pelo atraso, tive mais um daqueles sonhos e...

- Você ainda quer insistir nessa bobagem? – disse o homem com expressão forte, ele tinha cabelos negros e olhos castanhos escuro, tentava passar autoridade.

A garota o fitou com raiva, mas logo passou, ela continuou comendo em silencio, durante alguns minutos, que pareceram séculos, até baterem na porta, foi um alívio para Sofia, ela queria sair dali, o mais rápido possível. Ela então levantou-se, já sabia quem era, e ao abrir a porta, confirmou. Jéssica, a menina baixinha com o rosto em formato de coração, com seus olhos meigos cor de mel e seus cabelos ruivos ondulados, ela estava com um vestidinho rosa claro com varias flores azuis e roxas, estava sorridente, como sempre e foi entrando, se acomodando no sofá grande e macio, de couro legítimo.

- Vamos chegar atrasadas, cadê todo mundo? – perguntou a menina ruiva observando a sala de estar grande com quadros da década de 50 e moveis sofisticados e antigos, ela amava decorações antigas.

- Estão terminando de tomar café da manhã- respondeu a morena, meio pra baixo, tentando não demonstrar que havia acontecido algo – Por que demorou ?

- Demorei para escolher a roupa, ainda não sei se escolhi certo. – Jessie parou encarando a amiga desconfiada, sabia que tinha algo de errado, ela convivera com Sofia desde 5 anos de idade, a conhecia melhor que ninguém – Mas, por que está assim? Aconteceu alguma coisa?

Sofia desviou o olhar, parando por um instante, não tinha como mentir para sua melhor amiga, ela finalmente a olhou nos olhos e disse com certo desanimo.

- Tive mais um daqueles sonhos, cada vez mais real, eu não consigo entender, mais tenho me sentindo estranha também, está tudo tão confuso.. e não sei o que me deu na cabeça de comentar isso na mesa do café agora pouco sobre isso, meu pai acha que estou fazendo para irritá-lo, não sei, ele age como se afetasse muito ele.

A garota parou de falar quando ouviu o arrastar das cadeiras, ela deu uma piscadela para Jessie indo em direção a porta e ficou esperando todos no carro. Sofia foi na janela,estava pensativa, ainda não conseguira tirar esses sonhos estranhos da cabeça, estava tentando recapitular o último, mas nada fazia sentido. Ela estava cansada, sempre que tinha esses sonhos, era como se vivesse eles, irritada por se sentir perdida em seus próprios pensamentos, pegou seu fone e começou a escutar don’t cry- guns N’ roses, aos poucos a menina foi cerrando os olhos e viajando na música.

Quase 30 minutos depois, a família Sant’ana e Jessie estavam chegando na famosa catedral de Santiago, era o principal ponto turístico da cidade, muitos peregrinos passavam por ali e ficavam admirados com tamanha beleza, albergava ali também o tumulo de Santigo, um dos apóstolos de Jesus.

Ao descer do carro, Sofia percebeu pela primeira vez que o dia estava lindo, o sol estava com um brilho radiante, mas não estava calor. Ela foi andando na frente com Jessie, e até agora não falara nada, ainda estava em silencio, até que um menino alto, com cabelos castanhos escuros e olhos negros se aproximou abraçando as duas. Steven, ele era o tipo de garoto que conquistava com o sorriso, era simpático e tinha um certo charme no olhar.

- Pensei que não iriam vir mais, vamos, já está quase tudo cheio lá dentro. – Disse o garoto charmoso quase que arrastando as duas. – Meus pais me obrigaram a vir, acham que ainda tenho 10 anos e podem me obrigar a participar disso.

Steven fora criado numa família católica assim como Sofia e Jessie, mas ele nunca teve muita fé, sempre acreditou em coisas sobrenaturais, e para ele tudo aquilo de religião não passava de uma grande balela. Sofia sempre descordara dele, apesar de sempre duvidar da sua fé e Jessie sempre preferiu acreditar, nunca questionava, apesar de também sentir coisas estranhas, ela as vezes conseguia pressentir algumas coisas que ia acontecer, mas nunca alimentava isso.

Sofia olhou para ele com ar de reprovação, e continuou andando até chegar a porta daquela catedral, mas como era linda, a menina havia esquecido de como aquele lugar era surpreendente, por fora já era maravilhosa, era feita de pedra, muito antiga, era alta e por dentro,meu Deus! Era detalhada com ouro, com janelas muito antigas e paredes de pedra, Sofia foi entrando admirada e sentou-se num banco junto com Steven e Jessie. Durante muito tempo, quando a garota entrava ali, se sentia em casa, mas isso havia mudado, hoje, ela se sentira estranha, como se ali não fosse seu lugar, ela não gostou do que estava sentindo, e logo mandou embora esses pensamentos. Poucos instantes depois começou a missa. A morena já sabia todos o rituais, e geralmente os fazia com prazer, mas não hoje, ela estava fazendo quase que no automático, como se não estivesse ali. De repente Sofia começou a ver tudo girar, ela perdera o foco, o lugar onde estava foi mudando e agora ela estava em um tribunal, ela estava no centro dentro daquela maldita gaiola, todos pareciam discutir e não saber ao certo o que fazer, até que um homem, aquele homem, batera o martelo, dizendo:

- Nós a encontramos, agora é muito simples, temos de matá-la antes que o conselho a descubra! Não podemos perder nosso poder novamente.

O homem saiu de trás da bancada e caminhou até a menina, era o homem dos sonhos, ele parecia com raiva, mas ao mesmo tempo com um ar irônico. Ele aproximou-se ao ponto de tocá-la com as mãos.

- Então a maldição não funcionou bruxinha, era de se esperar, vocês sempre me dão trabalho, mas aqui está você! – disse ele quase que sumindo, Sofia tentou gritar, mas não saia som, até voltar. Ela estava suando e com falta de ar, olhos arregalados de pavor, Steven e Jessie a olhavam assustados.

- Você está bem ? Começou a suar e fazer uns barulhos estranhos. – Disse a menina meiga e baixinha com a voz tremula, assustada em ver a amiga naquele estado – Você precisa de um copo d’agua, vamos..

O menino alto ia falar alguma coisa, mas elas já tinham ido. O padre ainda fazia sua homilia, Steven o olhou e foi de encontro com Jessie e Sofia. Agora eles estavam numa salinha, Sofia estava sentada ainda pasmada, Jessie estava ajoelhada olhando para a amiga.

- O que aconteceu? Você não fala, está me deixando aflita. – A ruiva estava nervosa e com medo, ela nunca vira nada parecido acontecer com Sofia.

- O homem, ele apareceu. Eu estava numa sala, eu não conseguia me mexer. Ele tinha as mãos geladas, eu não consegui de novo ver o rosto dele, não consigo olhar em seus olhos. – sem perceber, a morena começou a chorar, ela estava descontrolada, agora mais do que nunca estava confusa, não fora um sonho, ela tinha certeza disso.

- Que homem? Aquele do sonho? Mas Sofia,não exis.. – antes de terminar a frase, Sofia a olhou com indignação.

- Eu o vi, agora, não foi um sonho, eu o ouvi, eu não estou ficando maluca. – quando estava prestes a gritar e sair andando, Steven a segurou pelo braço e disse.

- Eu acredito em você, também tenho sonhos estranhos, mas nunca entrei em transi desse jeito. – ele começara a falar, com um certo orgulho. – eu não sei o que é, mas eu acredito!

Sofia o olhou tentando entender aquelas palavras, mas estava cansada demais para falar ou tentar explicar. Então a menina foi andando até a porta, ela os olhou com esperança de encontrar refugio, mas não achou. A garota passou pela igreja, quando estava acontecendo a consagração, ela fez reverencia e saiu.

Lá fora o sol não estava mais radiante, estava coberto por nuvens e agora tinha vestígios de chuva. Sofia foi andando sem direção, estava perturbada, com um turbilhão de pensamentos e emoções, “ o que foi aquilo ? “ , ela refazia essa mesma pergunta varias vezes e não conseguia achar resposta. Até que ela parou, não estava muito longe da igreja, havia caminhado dois ou três quarteirões no máximo.

Estava perto de um parque, ela sentou-se em um dos bancos, estava praticamente vazio. Ela tentou organizar seus pensamentos, mas tinha dificuldades. Sem perceber um jovem sentou-se ao seu lado, ele era forte, tinha os cabelos castanho claro e olhos cor de mel, aparentava ter no máximo 18 anos, ele vestia calça jeans e camisa branca, com um all star de couro preto.

- Bom dia, o dia estava tão bonito, mas acho que vem chuva por ai. – disse ele com um ar de bom humor, olhando para o nada.

A linda menina o olhou surpresa, como ela não percebeu ele chegar? Ele era lindo, ela quase que falou isso sem perceber, mas abaixou a cabeça com vergonha.

- Bom dia, não te vir sentar, desculpa.. . – ela disse meio desanimada

- Tudo bem, pensei que ia pegar chuva, mas você chegou bem na hora – ele continuava sem olhá-la. – Mas, agora podemos ir, estou morrendo de fome, onde fica sua casa?

Sofia o encarou franzindo a testa, tinha ficado confusa com essas palavras.

- Quem é você ? Eu não te conheço, não vou te levar para minha casa! . – ela disse quase que rindo, já estava acontecendo coisas demais para um estranho fazer brincadeiras, mesmo sendo extremamente sedutor.

- Desculpa, eu não me apresentei. – O garoto levantou-se e estendeu a mão. – Prazer sou Dave Clarckson, bom eu fui mandado pelo conselho de bruxos, acho que chegou sua hora de partir. – Dave falou tudo assim, sem rodeios, por um momento ele quase riu, mas tentou ao máximo se manter sério.

- O que? Mas.. – Sofia ia falar que ele era maluco, e que isso não existia, mas todos os sonhos, aquele momento que acabara de acontecer na igreja veio à tona, ela ficou paralisada, ainda tentando ignorar a verdade.

- Eu já passei por isso, não é fácil, mas Sofia, você nunca se perguntou por que sempre foi diferente? Nunca teve sensações estranhas? ou sonhos? . – ele disse tentando consolar.

- Como sabe meu nome, eu não.. Como sabe dos sonhos? – A menina estava cada vez mais assustada, confusa, com medo, mas curiosa.

- Vem, eu vou te contar, e mostrar também. Você vai finalmente entender sua história!

Sofia tentou resistir, mas uma força enorme dentro de si a atraía, ela precisa ouvir aquilo, mesmo que depois decidisse não acreditar, ela queria mais do que tudo na vida, ouvir o que ele tinha para dizer.

O garoto foi andando para perto dos carvalhos, sem dizer nada. Sofia ia ao seu lado, desconfiada. Enquanto andava pode observar Dave, ela percebeu o quanto era realmente lindo, tinha um ar de galã, e seu cheiro, tinha cheiro um tranqüilizador e ao mesmo tempo irresistível. Ela disse a si mesma que não era hora para isso, era só um estranho, e maluco!

Dave parou perto de um dos carvalhos e sentou-se, fez um gesto gentil para ela sentar também, ele tinha um sorrisinho convidativo.

- Eu sei que está assustada Sofia, mas eu venho te acompanhando já faz um tempo, eu fui enviado para te proteger, você corre perigo, assim como sua cidade. – ele fez uma pausa, e a olhou, tentando passar tranqüilidade. – eu vou te explicar tudo, só promete que não vai desmaiar ou sair correndo..

- Eu não entendo, eu acordei sabendo de alguma forma, que iria acontecer algo, e esses sonhos, desde pequena que eu os tenho. – ela o olhou buscando respostas e continuou. – e agora você aparece do nada, eu não te conheço, e que cidade? Por que eu corro perigo?

Eles se observaram por um longe segundo, e Dave deu um sorriso e tirou um anel do bolso. Era um anel prata, ele tinha uma pedra azul lápis lázuli que ficava encima de uma pequena caixinha.

- Antes de começar, você precisa disso, vai te proteger! – ele estendeu a mão para por no dedo da menina, ela tentou resistir, mas aceitou. Depois ele segurou sua mão, e disse:

- Você pode sentir uma tontura, mas é normal, logo estaremos de volta, eu prometo. – ele disse essas ultimas palavras, quase gritando e antes que ela pudesse contestar, aconteceu!

Agora eles estavam num campo, com muitas margaridas, era lindo. Eles aos poucos foram levantando e Sofia não conseguia descrever o que estava sentindo, estava de fato impressionada. Dave fez sinal para que ela o seguisse, e eles começaram uma caminhada.

- Aqui é o Dulcis vallem, me trouxeram aqui quando revelaram minha origem. – ele disse num tom baixo, fazendo memória. – Bom, então vamos começar. – O menino apontou o seu anel prata com um linda pedra verde para o horizonte e proclamou:

- Aperta vitae!

Na mesma hora, abriu-se uma grande tela, parecia de mentira. Sofia podia ver todas as fases de sua vida. Mas o que te prendeu foi a primeira imagem. Ela via uma mulher, dando à luz a dois bebes, ela parecia desesperada. Logo em seguida, uma imagem de uma batalha, e varias pessoas morrendo,a última imagem aparecia um menino de costas, ele era alto e estava no escuro.

Sofia ficou confusa e olhou para o lindo menino em busca de explicações, ele assentiu e sentou-se. Poucos segundos depois Dave começou a contar a vida de Sofia. A vida que era dela, mas que nunca conhecera.


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