Não se apaixone por um idiota escrita por Lua Barreiro


Capítulo 8
Marshmallow e éguas


Notas iniciais do capítulo

Me inspirei em uma música, a missão de descobrir qual é fica para vocês.



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O homem um tanto quanto desastrado deixou o sorvete sob a mesa e a cereja que eu tanto desejava no chão.

Maldito.

Remexi todo o chantilly até poder chegar ao sorvete de maracujá, um dos meus sabores favoritos. Saboreei uma colher em silêncio e observei Spencer enquanto fazia o mesmo. Admito que meu coração esteja apressurado e que eu estava me segurando para não perguntar qual era a sua indagação, mas eu sou um soldado fraco na guerra da vida.

— E então, o que ia me perguntar? — Limpei toda a aglomeração de sorvete do meu lado da mesa.

— Ah, é mesmo. — Assentiu com a cabeça. — Será que você poderia me dar uma carona? Sabe como é, meu carro, trote e tal.

—Claro, por que não? — Ri meio decepcionada.

Não que eu esperasse um pedido de namoro ou para nós ficarmos, mas, talvez no fundo eu quisesse isso. O que não faz o mínimo sentindo vjá que nem somos próximos o bastante para isso e tem várias vadias gostosas atrás dele.

Ficamos em silêncio por alguns minutos até que ele anunciou que iria pagar a conta e eu afirmei que daria partida no carro enquanto isso. Não deu cinco minutos para que ele voltasse e nós seguíssemos o caminho. Deixei-o em sua casa e fui direto para minha, o dia ainda estava claro.

Chegando peguei um pacote de bolachas e fui para o meu quarto, chequei meu celular que estava carregando ao lado da cama.

Vinte e duas mensagens, Mackenzie.

Todas do tipo:

— Ei, eu posso passar ai? Quero te mostrar algo. —O que poderia ser? Seu novo gel? Ou sua nova camiseta polo? Talvez, seu novo carro.

Respondi-o com um sim, já que sou uma pessoa amável.

Tá, um pouco só.

Depois de meia hora lá estava Mackenzie na minha janela com seus cabelos completamente molhados.

— Cara, seu cabelo está pingando. —Eu sou meio óbvia. — Não molhe o meu tapete, ele cheira a fungo, não quero que cheire a Mackenzie com fungos.

Ele fez questão de chacoalhar os fios, creio que minha mãe falhou na sua missão de me levar para o caminho de pessoas educadas e promissoras.

— Dane-se seu tapete que cheira fungos, vamos curtir o calor.

— Tá e o que você quer dizer com isso? Por que o máximo que eu tenho no meu quarto ou na minha casa para curtir o calor é um ventilador de dez dólares que eu comprei na venda de garagem da minha vizinha, que por um acaso furtou grande parte dos meus livros para vender naquela merda.

— Eu cuido disso e, por favor, fale menos.

— Santo deus, estamos no século vinte e um, por que privam as mulheres de falar ainda? Isso é tão machista.

— Não estou te privando, só quero que fale menos.

— Isso suou grosseiro, mas, vou considerar por que realmente minhas calças estão grudando nas minhas coxas gordas. — Calor me deixa pior que qualquer criança que acabou de aprender a falar.

Ele riu.

Ajudou-me a pular a janela e foi logo depois, descemos em silêncio para não chamar a atenção da minha mãe que por sinal não liga para onde eu vou, é só questão da adrenalina ser maior. Fomos correndo até o seu carro, competido para quem chegasse primeiro.

Digamos que eu corra igual a um boneco de posto e que isso não me favoreceu em nada.

— Você pratica algum esporte? — Ele perguntou.

— Não, não mesmo.

— Deu para perceber, não que eu esteja dizendo que você corra igual a uma retardada, só estou dizendo o que eu percebi mesmo.

— Eu sei o jeito que eu corro, mas você deveria calar sua boca, por que você corre igual uma salamandra.

Deu partida no carro com seu ego ferido.

Ligou o rádio e cantou as músicas que conhecia e eu fiz o mesmo. Às vezes apontávamos para a estrada e outras para nós mesmos a fim de mostrar o quanto nossas danças eram ridículas. Tudo parecia estar tão bem, que nem parecia que eu estava com o Mackenzie, alguém por quem eu sempre estabeleci uma relação de paixão e ódio.

— Chegamos. — desligou o carro. — Se sinta lisonjeada, já que é a primeira vez que trago uma menina aqui.

— Aposto que você diz isso para todas, Philips, eu não vou cair na sua laia.

Acho que eu preciso parar de usar gírias antigas, não me traz uma boa imagem, tipo laia. Quem fala laia? Todas as pessoas do asilo? Talvez.

Philips pegou em minhas mãos e me puxou para uma direção qualquer no meio de todo aquele mato, não demorando menos do que dois minutos chegamos a um local lindo. Havia uma cachoeira e uma lagoa calma, várias flores cercavam o local. O sol estava se pondo trazendo a cor alaranjada para o céu e deixando tudo completamente perfeito sob a visão de qualquer ser que saiba apreciar uma paisagem.

— É lindo, mais lindo que o jardim. — Afirmei.

— Eu sei, costumo passar um bom tempo aqui. O motivo do meu cabelo molhado, aliás.

— Por que você me traz para esses lugares? Você é estranho, cara.

— Não sei, eu confio em você.

Eu sorri.

— Bom, eu quero entrar lá, por que está calor e suor me irrita. E para isso eu preciso tirar a minha roupa, não tudo, é claro...então você poderia virar de costas? Não vou pedir, por favor, por que isso é meio que uma ordem.

Ele assentiu com a cabeça e virou.

Comecei a tirar minha blusa larguinha e logo depois a minha calça. Meu rosto estava corado mesmo que ele não estivesse olhando, dei uma leve enroscada no pé da calça fazendo com que eu soltasse um grunhido vergonhoso. Mas, consegui completar a minha missão.

— Pode virar. — Falei enquanto cobria meu corpo estranho com uma toalha.

— Vamos lá, você sabe que não vai entrar de toalha não é? — Tirou sua camiseta despreocupadamente e pulou na lagoa.

— Nada me impede de nadar de toalha.

— Tira logo essa merda. — Gritou.

Tirei e simultaneamente meu rosto ficou completamente vermelho, um dos problemas de ter a pele igual a um leite. Tentei entrar o mais rápido possível dentro da água para que ele não pudesse me visualizar.

Não que eu me importe, mas, sim eu me importo.

— Suas coxas não são gordas. — Afirmou enquanto estava abaixo da cachoeira.

— Ah claro, são apenas um saco de lipídios complexos localizados. Para que um dia, caso eu precise, me forneçam energia.

Ele riu.

— Vem, mergulha comigo. — Pegou em minhas mãos.

Eu tentei desassocia-las.

— O que foi? — Ele indagou.

Esse é o momento em que eu digo para todos que sou quase uma adulta que não sabe nadar e muito menos mergulhar. Um momento vergonhoso.

Mais vergonhoso do que se esquecer de fechar a porta do banheiro e alguém te pegar lá.

— Eu não sei nadar. — Abaixei o tom de voz, até que o nadar não pudesse ser escutado direito.

— Quê?

— Não sei nadar. — Disse do mesmo modo.

Ele entendeu.

— Oi? — Riu.

— Vá se danar, seu piolhento.

Eu sinceramente preciso procurar no Google gírias da atualidade.

— Pegue na minha mão, eu vou te ensinar a nadar. — Eu peguei em suas mãos, como ele pediu, mas soltei logo em seguida. —De logo essas mãos.

Dei minhas mãos para ele, em um ato de confiança suprema. Eu tenho que pavor de imaginar a minha cabeça de baixo da água. Preciso me manter viva nesse mundo até que eu complete minha missão de vida.

Colocar mais de vinte marshmallows na minha boca enquanto acaricio uma égua chamada Angelina Jolie.

É um sonho de infância, sem julgamentos prévios.

Ele segurou minhas duas mãos fortemente e começou a me guiar dentro da água. Sempre dizendo que ficaria tudo bem e que não me deixaria cair. O ambiente ficou completamente em silêncio, era o nosso momento. Os olhos dele estavam em mim e os meus neles. Eu repetia cada um de seus movimentos.

Eu estava me sentindo corajosa, como se eu pudesse fazer qualquer coisa ali. Nossos passos se acalmavam cada vez mais, suas mãos desceram e foram para minha cintura. Ele me segurava como se não quisesse descuidar-se de mim por nenhum segundo.


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Notas finais do capítulo

Nove dias sem o nyah, meu deus me considero uma campeã por estar viva ainda.