Não se apaixone por um idiota escrita por Lua Barreiro


Capítulo 4
Aula de matemática


Notas iniciais do capítulo

Creio que eu estou tomando um rumo totalmente diferente, acho que eu sou idiota e-e



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/431630/chapter/4

Amassei o bilhete e o ataquei na lixeira, localizada próximo à porta. Sai rapidamente para evitar qualquer contato com Philips/Miles. Tirando o fato de que a chance de algum deles vim me procurar é mínima, pelo menos em público sim.

Cheguei ao estacionamento ainda vazio, liguei a escopeta para ir até ao único Drive-thru da cidade e logo depois ao parque. Eu não sabia o que fazer, eu não queria ir encontra-lo, mas ao mesmo tempo queria. Chegando, ao drive-truh escolhi o lanche mais calórico possível e um milk-shake, quer dizer eu não conferi as calorias, mas tem três hambúrgueres. Comi os em frente à lanchonete, quando terminei limpei minha boca suja de maionese na parte de trás blusa, já que havia esquecido de pedir pelos guardanapos e segui até o ponto de encontro.

Demorei um pouco para chegar, como de costume. Eu sou uma puta de uma motorista, mas não sei estacionar, sério. Fica escrotamente torto ou completamente fora de onde ele deveria estar. Desci lentamente, procurando aonde o garoto poderia estar. Quando o avistei pude perceber que já estava impaciente.

— Por que demorou tanto? — Falou levantando-se do banco.

— Não faço a mínima questão de estar aqui. — Respondi enquanto manuseava meu canudo, para que pudesse pegar a calda que restava no copo do milk-shake — Então não me peça satisfações.

—Amável. — Bufou. —Eu só queria te entregar esse negócio.

Estendeu as suas mãos que estavam segurando um caderno preto. Peguei-o rapidamente, já que é nesse mesmo caderno que eu desenho e desabafo todo os meus problemas juvenis e superficiais, como a paixão que tive por ele em meados dos meus treze anos. Guardei-o rapidamente dentro de minha bolsa e já podia sentir meu rosto esquentar.

— Você não abriu? Não né? Diga que não ou serei obrigada a utilizar o golpe do redemoinho em seu cabelo estático.

— Não tenho nada a dizer, apenas que você desenha até que bem. — Sorriu apenas com um canto da boca.

— Idiota.

Chutei o seu joelho num ato involuntário de raiva (esses ataques são mais comuns do que eu gostaria), o garoto não representou nenhuma reação. Sai correndo e liguei o escopeta, seria uma saída emocionante se não demorasse desgraçados quinze minutos para o motor funcionar. Nessas horas que eu desejo um vidro fumê.

Finalmente ele ligou e eu saí, segui para minha casa. Chegando em casa subi sem cumprimentar nenhum dos amigos da minha mãe que estavam em casa e também ninguém fez questão de me cumprimentar, tranquei a porta do quarto e me joguei na cama. Não costumo fazer deveres de casa e muito menos trabalhos, creio que seja por isso que minhas médias não estejam grande coisa. Então me rendi ao sono rapidamente.

O dia amanheceu escuro, dificultando meu despertar. Vesti uma calça jeans e soltei meus cabelos, logo em seguida fui até a cozinha e comi uma maçã que estava velha. Sai um pouco antes do que o habitual.

Quando cheguei escola ainda estava vazia, as pessoas foram chegando aos poucos, todos iam ao seu devido lugar com seus devidos amigos. Nerds, esportistas, cantores, desenhistas, todos que compartilhavam interesses em comum conversavam freneticamente, como se nunca fossem se encontrar novamente. Eu que compartilho vários interesses, converso apenas com meu subconsciente, como estou fazendo agora. Ainda me pergunto por que Philips deixou para me entregar o caderno apenas no parque, talvez vergonha de falar com alguém tão “excluída e estranha” quanto eu.

O sinal bateu e nós todos entramos, a primeira aula é de matemática o que é sinônimo de fones-nos-ouvidos. A garota da caspa me trocou por um garoto, que parece flertar com ela, mesmo que a cara dele esteja quase branca.

Então eu estou sozinha.

A aula passava como um ano inteiro, até que ela foi interrompida pela coordenadora. A missão da mulher de cabelos vermelhos era nos apresentar um aluno novo, que havia chegado de uma cidade próxima a pouco tempo.

Alto, cabelos escuros e sedosos. Seu corpo é perfeito na medida certa e seu sorriso completamente branco. Os olhos claros envolvem qualquer um. O professor pediu para que o mesmo se apresentasse e ele fez, não representando nenhum tipo de timidez. Se fosse o meu caso eu já tinha desmaiado ou vomitado, coisas de Julie Martin ou Júlia se forem ver pelo lado do idiota/Philips.

— Meu nome é Spencer Peters. —Sorriu. — Eu tenho dezesseis e sei lá, gosto de sushi.

— Muito bom Spencer, é bom sabermos sobre seu gosto por comida japonesa, quando tempos toda uma teoria de ângulos para aprender. — Retrucou grosseiramente a apresentação do garoto. — Sente-se ao lado de Julie Martin, é a única cadeira vaga. — O professor apontou para mim, sinto que meu rosto avermelhou, para variar.

Ele veio até a mim como se não se importasse com o fato de todos estarem o encarando. Sentou-se e jogou a mochila no chão com descaso. Parecia que ele já fazia parte da turma a mais tempo de que todos os outros alunos, de tão tranquilo que estava.

— E ai Julie. — Fez sinal de sentido como forma de comprimento.

Tirei meus fones.

— Oi, Spencer? — Indaguei. — Desculpa, não ouvi direito o seu nome, na verdade eu já havia pensado até na data de nosso casamento.

Mas digamos que eu sou uma garota difícil. Não é qualquer cara que fala “e ai” para mim e acha que já estamos namorando.

— É Spencer.

Depois disso ficamos em completo silêncio, creio que ele deve estar planejando algum jeito de me pedir em casamento. Afinal, quem não quer se casar comigo? Por favor, eu sou o furacão dos garotos e já tenho até a data do casório.

Quando se fala de Julie Martin, se fala de pacote completo.

Quando a aula acabou percebi que ele estava tentando falar algo, então tirei meus fones novamente.

— Quem é aquela garota? —Perguntou apontando para Miles.

— Miles, uma vadia completa.

— Hum. — Assentiu com a cabeça sorrindo. — Qual o motivo dessa denominação fenomenal?

— Não importa.

O sinal do intervalo tocou, Philips chamou-o para a famosa mesa dos caras gostosos. Não é novidade que ele se encaixe lá, já eu preferi ficar na sala afinal não iria comer e muito menos conversar com alguém. Desenhei um pênis na mesa da Miles, apenas para passar o tempo.

Assinei com a letra J.

Às vezes eu deixo que a infantilidade me domine.

Quando todos voltaram para a sala o professor de literatura iniciou a aula. Olhei para Miles, que aparentemente esperava que eu a fitasse. Quando isso ocorreu ela lambeu o desenho que eu tinha feito na carteira e mostrou o dedo do meio. Ignorei o gesto vadio dela.

Spencer puxou inexplicavelmente tentou puxar assunto:

— Qual é de você ficar na sala?

— Não gosto da galera.

— Talvez eles não gostem de você.

— Talvez eu não esteja nem ai para isso.

Ficamos em silêncio por alguns segundos.

— Cara, eu estou lendo Apreço da Punição. — Acredito que ele tenha visto o livro embaixo da minha carteira e continuou tentando puxar assunto. — E definitivamente a Kitana é foda.

— Espera aí? Garotos leem esse tipo de livro? Estranho. — É o tipo de livro mais mamão com mel que alguém pode ler.

— Não sei, mas eu leio. — Ele sorriu tímido. — Aposto que você leu esse livro centenas de vezes chorando e se entupindo de brigadeiro.

— Qual é, eu sou um verdadeiro macho, chorei só um pouco. Aliás, a Kitana é uma desprezível.

— Por que acha isso? — Questionou indignado.

Eu sorri.

— Em que página você está?

— Duzentos e três.

— Leia até o final e chegará a mesma conclusão que a minha.

Então ele pegou o livro de baixo da minha carteira e começou a ler. Gargalhava em algumas páginas e eu perguntava em que parte ele estava, logo depois eu me lembrava de tal narração e começava a rir também.

Não sei por que, mas eu me sinto diferente.

Algo está tomando conta de mim.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então, o que acharam?