Não se apaixone por um idiota escrita por Lua Barreiro


Capítulo 21
Julie em como parecer a versão feminina de Philips.


Notas iniciais do capítulo

Acredito que esse capítulo tenha ficado um tanto bobo, mas afirmo que estamos na reta final da história.
Um dois ou três capítulos serão suficientes para a finalização.



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A luz da clareira é tão forte que tão pouco posso abrir aos meus olhos. Tentei voltar a dormir, mas a cada movimento o meu corpo entrava em contato com o de Philips de forma não muito agradável, acredito que seja por isso que grandes partes dos casais deixem de dormir juntos antes mesmo das bodas de pérola.

Posso afirmar que conheço grande parte das bodas, como por exemplo, ao cinquenta de dois anos de casado você acabará de completar as de argila.

Nossos cotovelos se chocarem pela terceira vez foi o suficiente para que Mackenzie acordasse, logo em seguida esfregou os olhos e bocejou lentamente. Virou-se de lado novamente em uma tentativa falha de voltar a adormecer.

— Julie? — Murmurou.

Assenti com a cabeça.

Uma atitude idiota, já que supostamente ele não estaria me enxergando.

Ficamos em silêncio por alguns minutos, até que ele se levantou a fim de sentar-se contra ao sol. Demorou um pouco para que retomássemos ao assunto.

— Como viemos parar aqui?— Indagou.

Revirei os olhos.

— Você não se lembra de nada?— Torci para que ele lembrasse.

Seria completamente estupido caso não recordasse, eu poderia fielmente classifica-lo como o maior idiota que já beijei e também como o melhor beijo que já experimentei.

Mas, ainda sim incrivelmente idiota.

— Não. — Pausou por um instante. — Nós bebemos tudo aquilo?— Apontou para as garrafas jogadas ao chão.

Assenti afirmativamente com a cabeça.

— Está explicado. — Riu. — Eu deveria estar bêbado para caralho e você também. Aposto que também não se lembra de nada, não é?— Gargalhou como uma criança.

— É. — Concordei sequiosamente.

Agarrei minha bolsa que estava jogada entre as folhas bordos, que se encontram alaranjadas por estarmos no outono, e fui em direção à saída da clareira.

Alarguei meus passos para que Mackenzie não me alcançasse, percebi que ele não se importou com a minha saída e apenas depois de colher todos os seus objetos espalhados pela terra que começou a me seguir.

Dado isso, eu comecei a correr.

Logo nos dois estávamos correndo em meio às árvores, ele parecia não entender minha atitude.

Mas, na verdade nem eu estou.

Avistei seu carro ainda no acostamento e fui até ele. Joguei minha bolsa no banco passageiro e aconcheguei-me rapidamente ao lado direito do carro, o piloto. Visualizei todos os botões que seriam necessários para que aquela joça ligasse, e bem são muitos. Lembrei-me da sequência que ele havia me explicado anteriormente e que aquilo seria o suficiente para que o carro ligasse e andasse normalmente por todo o trajeto.

— Você não está fazendo o que eu estou pensando?— Philips gritou quando eu acionei o motor. — Qual é o problema Martins?

Dei ré no carro de modo bárbaro, fazendo com que o mesmo quase se encostasse ao corpo de Mackenzie. Em seguida coloquei minha cabeça para fora do carro e berrei um lindo poema em sua homenagem:

''Vai se danar, seu biscateiro fedido. ’’- Martins, Julie.

Talvez não seja lindo, mas ainda sim um poema.

Dizem que os poemas se diferem das poesias justamente por expressarem sentimentos com a ausência das rimas, e no momento é isto que eu estou sentindo.

Continuei o meu percurso fortemente, sem que o peso na consciência assolasse em minha mente. Evitei olhar no retrovisor e ver qual era sua reação.

A única coisa que não passava em minha cabeça é que em qualquer momento um guarda poderia parar o carro.

E perceber que meu nome não é Philips Mackenzie e que certamente eu não sou homem.

Dito e feito.

Estacionei o caso beirando o canteiro policial. Podia sentir a minha respiração parar em alguns momentos e que o suor já caia sob minha testa.

—Seu nome? — O guarda perguntou mordiscando uma de suas rosquinhas.

Pensei por algum tempo.

— Isso é um pouco complicado. — Respondi. — Há pouco tempo realizei uma cirurgia para mudança de sexo. — Tentei não gaguejar, por que isso levaria a tona que na verdade eu nunca tive um pênis.

— Pode me dizer seu nome verdadeiro. — O policial encarava fielmente os meus seios, como se os hormônios falsos tivessem realizado seu trabalho corretamente.

— Philips Mackenzie. — Respondi.

— O.K., tudo certo. — Pegou outra rosquinha de sua caixa de rosquinhas. — Pode seguir em frente.

Certamente esse policial será despedido em menos de alguns meses ou semanas. Caso isso não aconteça, entrarei em profunda depressão por aparentar ser realmente um traveco.

Philips poderia me denunciar por roubar o seu carro ou coisa parecida, mas eu também poderia denuncia-lo por esquecer-se do nosso primeiro beijo.

Está bem, eu não poderia.

Mesmo assim acredito que estamos magoados de mesma forma, e que estamos terminando da mesma maneira que começamos. Bem, na primeira vez era tudo uma brincadeira de sua parte.

Eu agradeço isso diariamente, pois não me perdoaria por esquecer-se da minha primeira vez.

Joguei-me inteiramente ao banho, quando estamos em contato com aquela tórrida água sentimos que todos os sentimentos vão embora juntamente com ela, tudo fica abaixo daquele repugnante ralo.

Mas, em menos de horas voltamos à realidade e não permitimos mais que o falso e momentâneo prazer do banho nos iluda.

Afinal, nada nos abandona tão rápido. Apenas o que nunca foi tangivelmente nosso.

Ao sair do banho vesti uma das minhas camisetas antigas, algumas ainda manchadas de tinta. Liguei ao hospital perguntando qual seria o horário de visita porvir, afirmaram que os domingos são inteiramente reservados a atividades criativas e que eu deveria ir hoje.

Adulterei minha confortável camiseta por um largo moletom, prendi aos meus cabelos e vesti um jeans qualquer. Antes de ir abocanhei algumas das bolachas que ainda restavam na geladeira, que, no entanto se encontravam moles.

O que me fez cuspi-las dentro da lixeira e comer apenas as que estavam no fim do pacote.

Ao ligar a escopeta ela funcionou de prontidão, trazendo um breve sorriso em meu rosto. Desviei do carro de Philips que se encontra estacionado em frente a minha casa e fui a caminho do hospital.

Tardei um bom tempo para me localizar em meio aquele movimentado centro. Contudo, encontrei o local.

Dei meu nome a recepcionista e a mesma o anotou em sua caderneta. Antes que me liberasse pediu para que eu fizesse silêncio em todo o percurso até o quarto.

Eu apenas respondi-a com um O.K.

Ao abrir a porta do quarto percebi que ela estava acordada, corri para abraça-la, ela respondeu de imediato ao meu ato. Sentei-me em uma poltrona localizada ao lado de sua cama, o que foi suficiente para que ela pegasse em minhas mãos e começasse a contar tudo sobre seus dias no hospital.

Tudo era igual, ao menos uma coisa.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Não gostaram? Comentários? Recomendações? Sem comentários? Sem recomendações?
Façam o que quiserem, afinal recebemos aquilo que merecemos :3
Abraços leitoras ♥