Era sábado, então escolhi ficar em casa para não arrumar mais problemas. Eu era como o polo norte de um imã e os problemas o polo sul.

-Filha, desce aqui! -a voz da minha mãe entrou em minha mente, e já era à noite. -Tem alguém aqui querendo falar com você!

Quem poderia estar querendo falar comigo esta hora? Desci e visualizei Noah na minha frente, com uma camisa branca e uma calça social. Ao me ver, ele ficou confuso, e eu me perguntei porquê.

-Spencê... Oi.. -ele me cumprimentou.

-Oi Noah! O que.. -eu comecei a perguntar, antes de me interromperem.

-Ei filha, vem aqui na cozinha. -minha mãe me puxou pelo braço em direção a cozinha, que ficava ao lado da sala. -O que ele veio fazer aqui? Você vai em um encontro com ele?

-Hmm.. e você se importa? -perguntei de relance, e só depois percebi minhas palavras. -Desculpa. Não quis dizer isso. -Ele é só um amigo, mãe.

-Não quero que você saia com ele. -minha mãe estava nervosa, e era possível observar pelas marcas de expressão que iam aparecendo enquanto ela falava. -Não quero que ele seja seu amigo, nem seu namorado, ok? -eu não entendia. Ele era um bom menino, pelo menos era o que o pessoal do bairro dizia. Ele ia bem na escola, e tudo, então, qual era o problema dele?

-Por que, mãe? -perguntei, e ela fechou sua cara e saiu da cozinha.

Voltei para a porta e Noah continuava lá, fitando um vaso de orquídeas roxas falsas.

-O que.. -eu comecei, e ele começou a olhar em meus olhos. Seus olhos estavam brilhando ao olhar para mim, e me perguntei se os meus estavam brilhando também -o que você está fazendo aqui?

-Spencer.. -ele começou - Você esqueceu? -vasculhei minha mente, mas não encontrei nada -Nós tínhamos um encontro hoje.. e.. -ele pausou, procurando as palavras certas -e você esqueceu.. e você não liga para mim, é isso? -seu rosto era como de um cachorro abandonado, com os olhos saltando e aquela falta de esperança.

-Não... nós não tínhamos.. não me lembro de ter conversado com você sobre...

-Como assim, Spencer? -ele havia começado a ficar nervoso, e antes seu rosto como o de um cachorro abandonado, agora era um cachorro raivoso -Eu te mandei uma mensagem, e você respondeu! -Peguei meu celular que estava em meu bolso, tentando provar à Noah que não, eu não havia marcado nada, mas me surpreendi ao ver na conversa com Noah as mensagens "Quer ir em um encontro comigo? -N" e uma resposta "Lógico! -S".

-Mas... isto não faz sentido.. - eu parei, olhando ao redor -Eu não estou ficando louca.. não..

Noah olhou para mim, e seus olhos azuis era como mar, e eles olharam raivosos para mim, e saiu da casa batendo a porta. Será mesmo que eu não estava ficando louca?

.

Eu e Aria riamos ao ver uma fantasia de pássaro em uma vitrine. Ainda era longe do Halloween, e bem, quem iria usar uma fantasia de pássaro? Estranho no mínimo.

-Como nós sobrevivemos sem isso na nossa vida toda? -Aria disse, fazendo uma cara de assustada.

-Não sei! -Coloquei a mão na frente da boca aberta, como se estivesse tremendamente assustada.

O passeio fora divertido, mas quando Aria citava Ezra eu ficava quieta como um túmulo, rindo falso das piadas sobre e sorrindo, mas o fato é que no fundo eu estava um furacão.

Não, eu não podia ter uma atração por Ezra.

Sim, eu tinha que terminar com Noah.

Mas a minha cabeça queria fazer tudo ao contrário, e eu ficava pensando se eu me visse em uma série qualquer, e eu me acharia uma vadiazinha, como Noah tinha me falado há dias? Talvez na verdade ele realmente achava isso de mim, e só estava brincando comigo.

Afastei o pensamento da minha mente: ele havia se arrumado para um encontro comigo, mesmo que eu não soubesse.

Ouvi uma risada. Uma risada que me dava nostalgias: Alison. Sim, ela estava morta. Mas isso não proibiu sua irmã gêmea tentar matar eu, Aria e Hanna, isso não impediu Emily gritar por ela, e morrer por ela.

Um bipe interrompeu meus pensamentos e a visualização daquela calça jeans clara, que estava perfeita no corpo da modelo na foto da Top Shop. Aria olhou para mim, eu sabia o que ela perguntava, e eu virei a cabeça horizontalmente, dizendo que "Não, não estou recebendo mensagens de -A".

Eu sempre pensara que eu mentira mal. Mas quando era para mentir, era automático. Era até perverso. Belas Mentirosas, já dissera os jornais. Eu não sabia se eu era bela, mas mentirosa com certeza.

Olhei para o celular. Mensagem anônima. Já era normal, mas sempre me arrepiava ao ver.

Se você não quer que Aria saiba,

462 Handley Avenue, New Hope, PA

18 hs.

-A

Eu já esperava pelo anexo, Ezra com sua maleta jogada ao chão e eu com meus cabelos castanhos bagunçados com livros no meu braço, se beijando. Guardei meu celular rapidamente antes olhando a hora: 16:30.

-Tudo bem, amiga? -Aria me perguntou, com seus olhos percebendo minha ação brusca.

-Tudo! Era só um spam. -bufei, mentindo melhor do que eu esperava. Ela não desconfiou, então continuamos.

.

A rua estava escura, e as casas eram antigas. Sebos e lojas estranhas resumiam a avenida Handley. Número 450. Continuei a andar em direção ao local marcado com -A. Por que ele me queria lá? Bem, era -A, boa coisa não era. Estremeci. A casa era antiga, como aquelas nos filmes de terror. O portão estava fechado, mas ao encostar era frio e fácil de abrir. O gramado estava descuidado e com pragas, e fui em direção à porta. Estava aberta. A madeira estava fria, mesmo ainda tendo o sol, era como se tivesse lua.

Abri a porta, e lá dentro estava escuro. Era possível ver uma luz em algum lugar para frente, e parecia uma vela.

Meu celular estava em minhas mãos, e ele brilhou. Bipe. Mensagem anônima. Esperado, pensei.

E que a aventura comece!

-A

Eu estava arriscando minha vida por uma amizade. Por uma amizade baseada em mentiras, mortes, e tudo de ruim que o mundo pode ter.