Incandescente escrita por Catiele Oliveira


Capítulo 25
24. O poço não tem fim.




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24.

O poço não tem fim.

POV 3ª PESSOA.

Ás lágrimas deixava sua visão turva, mas ele sabia qual caminho que agora deveria seguir. Havia tantas dores para administrar... Principalmente a dor do que acabara de fazer com sua mulher. Deveria ter controlado o ódio, ter sido mais sábio. Só Deus sabe o quanto ele quis ser impedido daquilo, ter um pouco de senso e clareza. Ter seu amigo lá para segurá-lo, ou quem sabe alguma luz divina. Qualquer coisa. Mas, nada apareceu.

Quando a chave virou a maçaneta, a mulher já estava pendurada em seu pescoço, o abraçando com força. Sua amiga. Por que Molly não conseguia entender que Frankie é apenas sua amiga? Como uma irmã, como Lana, a irmã que há tantos anos ele não tinha contato. Frankie trouxe para ele algumas felicidades que após anos na mesma mesmice e monotonia de casamento não conseguia ter, e agora, ela estava segurando-o com força e o deixando chorar. Quando tudo que ele precisava era chorar.

— O que houve Pablo? — Ela o colocou sentado no sofá e correu para a cozinha, quando retornou estava com um copo d’água entre as mãos. Fora parar na dele a seguir.

— Eu... — Mais choro. E vergonha. Ele nunca diria o que fez, fatalmente ela descobriria, principalmente se Molly abrisse um boletim de ocorrência na delegacia contra ele, seria tão fácil provar o abuso sexual...

— Shhh, não importa o que aconteceu. O importante é que você está aqui e ninguém no mundo poderia te entender e aceitar qualquer coisa como eu, acredite em mim. Estamos juntos nessa, tá bom? — Ele assentiu, Francine secou suas lágrimas.

— Ela estava completamente drogada... — Indagou Pablo.

— Molly? — Assentiu ele — Nossa.

— Eu vi tudo se repetir em nossa vida. Ela ficou tão péssima... — Choramingou, Frankie rapidamente secou as lágrimas dele — A culpa é toda minha. Eu deveria ter compreendido. Eu deveria estar lá com ela e não fazer o que fiz!

— Shhh! Seja lá o que fez, foi o certo. — Atacou ela, os olhos negros de Frankie estavam brilhando, mas ele não a conhecia o suficiente para captar a felicidade estampada neles. — Ela foi imatura e impulsiva. Eu em nenhum momento pensei em fazer algo assim, e motivos não me faltam! Você me desculpe dizer isso, mas ela é tão mimada... — Silêncio. Ele não gostou de ouvir a amiga falar mal da esposa, porém nada o fez. Precisava admitir que havia verdades ali, na sua opinião.

— Filha única... Como você.

— Eu entendo sobre ser mimada. Mas como pode ver: teve seu limite, certo? — Ele assentiu em silêncio — A tentativa de... Você sabe. Isso machucou minha família, mesmo contra o bebê, você sabe, minha mãe é religiosa. E depois... Enfim, você sabe. Acabei expulsa de casa com a desculpa que eu deveria refazer minha vida com quem me engravidou... — Mais silêncio.

Pablo não respondeu, mas se indagou sobre a paternidade da criança. Molly nunca nem se quer tocou no assunto sobre o pai, apenas deixando oculto qualquer detalhe importante. Tantas experiências e assuntos que eles trocavam, mas esse assunto pareceu ser proibido para ela. Não que isso o importava então, desde o momento que Nikki viesse ao mundo e ele pudesse estar junto com a criança sem uma presença paterna para atrapalhar! Ele já estava bem até demais com isso. Passou a ser uma coisa boa Nicholas não ter pai. No fim, ele acabaria levando o título. Era questão de tempo... O destino não quis. Certas coisas não estão predestinadas a acontecerem, já outras...

xXx

POV FELIPA.

— Eu vim o mais rápido que pude! — A cara de espanto de George atingiu meu coração. Christopher não se moveu do sofá, ele nem estendeu um olhar na minha direção.

Eu subi as escadas tão rápidas. Da minha casa. Lembrei que Christopher havia dito que estava em seu apartamento, mas o que então era isso? Aqui é a minha – sua – nossa casa, não seu apartamento. Respirei fundo ao correr pelos corredores, ofegante, e ao tocar na maçaneta do quarto de hospedes eu temi. Quando eu ouvi a voz tremula e incrivelmente baixa de Chris ao telefone dizendo que eu deveria vir a sua casa, que algo aconteceu a Molly, eu jamais poderia saber o que era. Mas imaginei mil coisas. E agora o medo corrói minha alma.

Girei a maçaneta.

Foi a pior cena que eu poderia ver na vida.

Molly tinha a metade das pernas por lado de fora da cama, os braços abertos em forma de cruz. Ela não se movia. Mas eu podia ouvir os seus soluços baixinho, sabe quando você chora em público, mas tão baixo para que ninguém realmente perceba? Era assim que ela estava. E completamente nua... A cena involuntariamente correu por minha imaginação e as lágrimas pinicaram meus olhos. E simplesmente não soube como agir.

Sequei as lágrimas silenciosas e andei até ela, devagar. Molly nem se mexeu.

— Amiga? — Toquei seu braço esquerdo, ela abriu os olhos. O que a levou a um pranto maior, ainda assim baixo. — Estou aqui, vai ficar tudo bem... — Menti. Tudo que eu podia fazer era mentir.

— N-n-ão... — Soprou a palavra gaguejada.

— Calma, vamos levantar. Tomar um banho. Sair daqui. Vai te fazer bem Molly... — Negou rapidamente.

— Eu... E-e-e-eu... — Não esperei ela concluir, tentei levantá-la. Seu corpo estava mole, completamente frágil. E ela não me ajudou, também pudera, eu estaria sem forças. Estou praticamente sem forças, mas sei que não posso parar agora.

Consigo levantá-la, mas sei ajuda sei que ficará bem mais difícil.

— Alice! — Gritei, Molly chorou um pouco mais alto agora, ela passou seus braços em volta do meu pescoço.

— Morrer... — Sibilou — Quero morrer...

A dor mais latente.

A alma dela sangrava e a minha estava em pedaços.

— Eu estou aqui! — Alice apareceu a seguir, não precisei pedir ajuda. Com o amparo de Alice conseguimos chegar ao banheiro. Al abriu a ducha na água morna, e eu afundei a cabeça de Molly dentro dela.

— Procura por toalhas limpas e roupa confortável. Pega um par-de-moletom no meu closet. Na terceira gavetas há lingeries nova. Escolha tudo muito confortável e não demora, por favor. — Alice partiu com rapidez. Molly continuou a chorar, manteve seus olhos fechados, porém firmava seus pés no chão agora, apesar de visivelmente embriagada e até mesmo drogada.

— O que eu fiz da minha vida...? — Disse após longos minutos em silêncio, eu lhe entreguei um sabonete e uma esponja. Ela se esfregava com força e deixava marcas vermelhas pelo corpo. Eu não disse nada. Se a confortava.

— Eu não vou perguntar o que aconteceu, mas eu sei que você não merece nada do que está passando. E eu sei também que... — Engoli a saliva seca — A culpa pode ser minha...

— Para! — Grunhiu Molly, agora parecia mais consciente. Respirei fundo. — Sua? Você é sempre tão b-b-oa... — Chorou novamente e me abraçou, respirei fundo.

— Eu a trouxe para sua vida, mas prometo que vou tirar Molly... Eu prometo... — Negou rapidamente.

— Não me importa — Soltou-me e voltou a se esfregar — Eles morreram para mim.

Alice voltou com a toalha e um roupão. Nós ajudamos Molly a se secar a vestimos com o roupão, o tempo inteiro fitou o olhar preocupado de Alice.

— Vamos para meu quarto. — Ela assentiu, Molly escondeu o rosto em meu ombro enquanto saímos do quarto de hospedes, no meu quarto ela parecia melhor. Mais confortável.

— Eu vou fazer um café bem forte. Uns biscoitos doces... — Assenti, Molly negou rapidamente.

— Eu quero apagar. Não quero ficar sóbria...! Por favor, Felipa! — Seus olhos lacrimejaram novamente, eu respirei fundo.

— Você ainda está bêbada... Quando estiver melhor eu posso te dar um remédio para dormir, tudo bem? Pode ir fazer o café Alice, eu chamo se precisar. — Ela assentiu e saiu rapidamente.

Enrolei a toalha no cabelo de Molly e a ajudei a se vestir. Em seguida liguei o ar-condicionado para ventilar e arrumei a cama para que ela pudesse se deitar, Molly fungou e secou as lágrimas, deitou e eu a cobri. Sentei-me ao seu lado e seguei sua mão, todo o tempo ela apertou a minha com força. Ela ficou ali chorando baixinho, de cabeça baixa, apertando minha mão, enquanto eu apenas tentava ser forte, segurando o choro. Sabendo que se abrisse a boca para consolá-la choraríamos juntas. Tudo que ela não precisava era de alguém sentindo pena dela em um momento desses.

Vê-la triste era inédito. Ela sempre fora a mais madura. Sorridente. Feliz. Eu que recebia constantes conselhos dela, e não ela de mim. Eu nunca imaginei que poderia estar nessa posição com ela agora, que poderia estar segurando sua mão sussurrando que tudo ficaria bem. Eu nunca me senti confortável consolando, eu sempre era a consolada. Eu sempre era a protegida. Eu sempre era a criança. Eu preferia estar no lugar dela ao vê-la sofrer assim.

Uma batida de leve na porta me alertou.

— Entre, por favor. — Eu me surpreendi quando percebi que não era Alice, e sim Christopher. Ele trazia consigo uma bandeja. Fechou a porta com a bunda e caminhou para a cama. Nos pés da mesma ele deixou a bandeja. Tirou dela a xicara de café e caminhou para Molly.

— Forte e com pouco açúcar, do jeito que você gosta. — Ainda muito envergonhada ela não o olhou, eu peguei a xicara de Christopher e passei para ela, rompendo nossa conexão. Chris sentou-se do lado esquerdo da cama, do lado de Molly. Olhando para o nada.

Eu me levantei para pegar umas rosquinhas, contra vontade ela comeu a primeira, só então percebeu que estava com forme. Não sobrou absolutamente nada do que viera. Até a tigela de salada de frutas ela devorou.

— A tontura melhorou? — Perguntei, ela assentiu.

— Deita um pouco Molly, tenta dormir... — Christopher sussurrou. Ele parecia tão envergonhado.

Ela deitou. Eu voltei a segurar sua mão direita, e surpreendentemente, Christopher segurou a esquerda. Ela deu um meio sorriso forçado e apertou minha mão.

— Não vamos sair do seu lado, você pode dormir se quiser... — Murmurei, parecia que era tudo que ela queria ouvir. E tudo que queria ter. Pessoas que não a deixassem.

— Estaremos aqui o tempo inteiro, nada vai acontecer. Eu prometo bravinha... — A voz dele estava cheia de sentimentos. Embargada. Molly derramou uma lágrima e fechou seus olhos.

Christopher me encarou o tempo inteiro, eu não sei ao certo quando tempo permanecemos naquela posição, o aperto de Molly em nossas mãos fora se afrouxando aos poucos e então eu consegui me levantar, Christopher demorou um pouco mais. Nós fomos até nosso banheiro... Ah, o banheiro... Tantas histórias. Respirei resignada e encostei a porta o encarando.

— Como ele simplesmente pôde? — Nunca entenderia.

— Há perguntas que não têm respostas. — Disse Christopher, eu levei as mãos até o rosto e senti os braços quentes me rodeando. Quando estava confortavelmente em seu peito desabei em meu pranto. — Eu também estou odiando ele agora. Mais que tudo.

— Eu vou odiar ele para sempre! — Soquei o peitoral de Christopher, ele gemeu de dor e de surpresa — Você não pode continuar sendo amigo dele! Não depois disso! Você não pode!

— Shhhh, calma... Calma... Fica calma. Fala baixo, ela acabou de pegar no sono. — Consolou-me, Christopher passou a mão pelos meus cabelos e respirou fundo. Consternado.

— Ela está horrorizada... Molly usou alguma droga? Eu não consigo entender! — Exclamei baixo e o empurrei, andei até o lavabo molhei minhas mãos e rosto, Christopher me passou a toalha.

— Ela teve um problema com isso no passado. É um assunto esquecido, Pablo a ajudou superar. Mas agora... Eu não entendi também, eu nem estava em casa. Eu nem pude impedir! Parece que eu estava lá na hora, sabe? Que eu também fiz...

— Não deixa aquele idiota te fazer se sentir assim, a culpa é toda dele... — Segurei as mãos de Christopher, ele não me encarou. Eu sabia que ele estava chorando. — Eu vou ficar com ela.

Cada um lidava com sua dor do modo que conseguia e eu soube que Christopher precisava chorar e não o faria na minha frente, não agora. Voltei a me sentar ao lado de Molly e observá-la. Parecia estar em um sono pesado, profundo... E era melhor que realmente estivesse. Ela merece dormir bem.

Eu jantei com Christopher, Alice e George. O silêncio durou durante toda a refeição, eu praticamente engoli a comida. Eu voltei ao quarto e ela ainda permanecia na mesma posição, isso me levou a um banho de dez minutos e eu agradeci mentalmente por não ter levado absolutamente nada que fosse meu daqui. Coloquei um dos meus pijamas, não sabia se conseguiria dormir, mas ao menos tentaria. Avisei a Martha onde estaria, ela estava furiosa comigo. Eu estava adiando minha viagem mais uma vez e o medo dela era que eu me mantivesse tão envolvida com minha vida atual, que não pudesse retomar minha vida antiga. Só que ela simplesmente já havia morrido, não há muita coisa a se fazer.

Mas antes de deixar ainda havia algo que eu precisava fazer.

Uma coisa importante.

Frankie levou cinco chamadas para me atender, ela tinha a voz arrastada e o lugar onde estava era um completo silêncio.

— Eu espero que você realmente esteja feliz agora. — Encarei Molly. Minha voz estava sussurrada, mas era audível e ríspida suficiente.

— Felipa? — A conhecia muito bem para saber quando ela se fazia de desentendida.

— Eu perdoei muitas coisas, eu perdoei coisas realmente imperdoáveis. Perdoei você me dedurar para o John e para o Christopher no mesmo dia. E toda a sua inveja. E mentira. Frankie! Você não tem noção do que causou a Molly...!

— Eu não sei do que você está falando, amiga. Molly está bem? — Falsa. Quis soca-la.

— Não seja cínica assim! — Grunhi — Eu espero que ele faça com você o mesmo que fez com ela! Deus que me perdoe, eu nunca desejei mal a ninguém. Mas eu quero que ele faça pior com você. E espero que você morra com seu próprio veneno, sua vadia!

— O quê? — Rebateu. O que mais me irritava era o fingimento.

— Só mais uma coisa: se você simplesmente acha que isso vai ficar assim... Você vai descobrir que estar no fim do poço não significa nada quando esse poço não tem fim, Frankie. — Ela gargalhou. Perversamente.

— Jura? — Ralhou em alto bom som — Se o fim do poço é ter um homem lindo, loiro e rico dormindo ao meu lado todas as noites... Que o fim do poço chegue bem rápido para mim. Passar bem, cara amiga.


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