Incandescente escrita por Catiele Oliveira


Capítulo 21
20. Revelações parte II


Notas iniciais do capítulo

E lá vamos nós...



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Martha estava me olhando com curiosidade. O clima em casa era o pior. Desde quando eu entrei, até agora. Tinha sido o pior momento aqui.

— Felipa, o que aconteceu? — Ela me perguntou. Parecia assustada e preocupada.

— O que aconteceu? — Christopher se levantou — Você e meu pai foderam com a minha mãe. O que você acha que aconteceu?

Pasma.

Silêncio...

Molly e eu nos olhamos apreensiva. Martha estava pálida. O que diabo estava acontecendo? E o que minha mãe e o pai dele tinham feito? Christopher deu duas voltas na sala e ria ironicamente. Perverso.

— O que você sabe sobre isso, garoto? — Hostil. Como sempre dura. Ela não iria fraquejar com ele.

— Garoto? — Ele arqueou as sobrancelhas e virou o rosto. Havia uma determinação estranha em sua face. Uma ansiedade. Talvez alívio — O meu pai deixando minha mãe por você. Ela ficando completamente acabada. Magra. Triste. Depressiva. E depois você o deixou pelo fracassado do Gregório! E ainda vem me perguntar o que eu sei sobre isso? Sabe o que eu sei? Que você e seu marido estragaram minha vida. Porque anos e mais anos eu os ouvia gritar e falar do seu nome. De como ele nunca superou você ter o deixado e como ele descontava nela toda a frustração que era viver sem você. Cruel. Desenfreado. Até que com o passar dos anos as coisas melhoraram um pouco. Sabe por quê? Porque vocês estavam falindo. E isso o fez feliz. Mas eu só descobri isso depois de sua morte. E por incrível que pareça ele só queria que você sofresse o pão que o diabo amassou.

— E você escolheu descontar na minha filha? — Fora tudo que Martha respondeu.

Eu estava chocada. Nunca tinha ouvido uma história tão absurda. Segurei firme na mão de Molly para não fraquejar. E sentia nojo, muito nojo... Como um ser humano poderia fazer o que ele estava fazendo? Agora certas coisas fazem sentido... Como que eu pude pensar em me entregar a ele? E como eu posso malditamente amá-lo mesmo com toda essa merda que ele joga contra minha mãe?

— Esse era só o começo. Ainda faltava muito tempo. Longos anos... Mas. Adiantaram o trabalho. Felipa era só uma pequena peça no meu jogo. O que está por vir é muito pior Martha... Eu quero vocês na lama. Na rua. No nível mais baixo da cadeia alimentar. Pior que qualquer inseto nojento! Eu quero que vocês implorem pela minha compaixão!

O QUÊ? Eu não podia está ouvindo essas palavras. Coloquei a mão na boca de tanto horror... Christopher só podia estar enlouquecendo...

Martha gargalhou tão alto que eu estremeci. Ela ria com vontade. Realmente achando graça de tudo.

— Você é tão deprimente! — Exclamou. Ele rosnou — Eu lamento o dia que cruzei o caminho do seu pai... Mas sabe, você é igual a ele. Idêntico. E até pior... Porque apesar de Joseph não valer o prato que comia... Ao menos ele era decente. Não ficava armando vingança. Ou premeditando a ruina dos outros. — Ela parou para rir um pouco mais, Christopher a encarava sério — Eu senti pena da sua mãe... Porque eu sabia como ele era e antes que você venha com esse papo de ‘você destruiu nossa vida’ não foi bem assim, garoto.

— Eu não quero saber! — Ele gritou.

— Mas vai saber! — Ela gritou de volta — Eu conheci seu pai muito antes da sua mãe, meu bem. Muito antes! E ele sempre foi o monstro que você conheceu. Eu o larguei assim que ele conheceu Cecília... Pobrezinha. Mas eu a avisei. Eu disse que ele não a faria feliz. Ela não era como eu, ela sempre foi de uma família rica. Eu era pobre. Casar com seu pai faria de mim nobre... Ele era obcecado por mim. Assim como você é por ela — Ela apontou para mim, Christopher me olhou com nojo, contrariado — Não adianta negar. Eu reconheço isso de longe. Era desse jeito que ele me olhava. Sua mãe era a moça que ele precisava, mas eu a moça que ele queria. De toda forma, eu o amava... Ou achava que amava. Eu inventei esse amor...

— Mãe... Pelo amor de Deus... O que é isso? — Precisava dizer algo. Estava assustada com tudo aquilo, ela respirou fundo.

— Se acalma. Vai ficar tudo bem — prometeu-me.

E continuou:

“Então ela apareceu. Doce. Bonita. Como minha filha... Elas se parecem muito, não fisicamente. E o pai de Joseph o obrigou a casar com ela. Eu já era carta fora do baralho. Ele aceitou de início, mas depois se revoltou. Nós voltamos, mas seu avô Christopher, ele era muito pior que você e seu pai juntos... E no meio disso tudo eu conheci Greg... Um bobão perto de Joseph. Sem malícia, tão ingênuo”

Martha interrompeu-se para rir. E prosseguiu:

“O seu pai teria que ir mesmo, então... Eu me envolvi com Gregório e me apaixonei. Ele me tratava como eu nunca fui tratada na vida. Eu descobri o que era ser tratada bem. Ele não tinha muito, mas com o pouco que tínhamos fizemos um império. Pequeno. Quase nada perto do seu. Mas era nosso, éramos felizes. Porém, sempre vivendo a sombra do seu pai... Sempre. Minha vida também foi um inferno. Minha filha também cresceu ouvindo briga dos pais. Ela não recebeu todo o carinho que merecia porque seus pais estavam discutindo sobre um romance que desgraçou a vida de todos à sua volta! Não foi só a sua mãe! Ela amava aquele desgraçado e ele aprendeu a amá-la, tenho certeza. Enquanto a minha filha trabalhava de atendente em uma farmácia porque estávamos ficando pobres, o seu pai comemorava porque enfim ele sentia-se vingado. Infeliz. Pobre infeliz... E veja só o que ele está fazendo com você... Sua mãe queria mesmo que você se vingasse?”

— Não fale da minha mãe. — Rosnou ele.

— Eu falo. Porque eu gostava dela e ela de mim. Nunca te falou isso? — Eles ficaram calados por alguns segundos — Nós tínhamos pena uma da outra.

— Você está mentindo.

— Não quer acreditar? Problema é seu. Fique com a sua ilusão. Eu não ligo querido. Quer nos tirar tudo? Tire. Mas sabe de uma coisa? Eu vou tirar tudo de você também. No instante que eu atravessar essa porta você vai estar tão vazio que vai implorar pela minha compaixão. Vai rastejar aos meus pés. Você vai parecer um inseto nojento! Não eu. Não minha família. Não minha filha. Você. Só você. — Martha me olhou rapidamente e apontou para a saída. Eu respirei fundo. — Vamos Felipa. Agora.

— O quê? — Christopher gritou instantaneamente.

Eu estava parada sem ação. Molly queria falar algo, mas parecia tão em choque como eu.

— Você enlouqueceu se acha que vai levar ela! Ela é minha! Temos um contrato...

— Não disse que você era obcecado por ela? O contrato acabou! Você pode pegar tudo que é seu de volta. Acabou. Você vai ficar fora das nossas vidas. De uma vez. Minha filha vai para a faculdade. Eu não vou mais esconder as cartas de admissão por você. Não vou mais te ajudar...

— Martha... — Ele rosnou ameaçador. Corri para perto da minha mãe.

— Faculdade? É isso mesmo...? — Christopher me puxou pelo braço.

— Você não vai a lugar nenhum. Você é minha mulher. Seu lugar é ao meu lado.

— Solte a minha filha ou eu chamo a polícia!

— Parem vocês dois! — Gritei. Puxei meu braço de Christopher — Acabou Christopher. Você não precisa fingir mais essa coisa de marido e mulher. Já acabou. Já se vingou. Estamos pobres, você ganhou. Legal. Agora pode nos deixar em paz...

— Não! Você não estava incluída nisso. Você ficaria... Você não estaria com seus pais quando eles estivessem acabados. Na minha família não há divórcios, você está presa a mim para sempre! Não vai a lugar algum, por favor... — Ele estava desesperado. Completamente. Sua postura havia mudado... Meu coração saltou no peito.

— Princeton te aceitou. A Universidade de Nova York. A universidade de Seattle. Harvard. Dartmouth. Entre outras... Elas não param de chegar... — Meu olhar iluminou.

— Harvard? — Estava quase saltitando.

— Sim. Kansas. Mississipi. Tennessee. Aonde você quiser ir querida... Bolsas completas. Você poderá ser quem quiser ser longe de toda essa sujeira...

— Felipa... — Christopher sussurrou com a voz embargada. Respirei fundo.

Quem eu quiser ser... A palavra salivou minha boca. De repente eu queria ser médica. Cantora. Atriz. Advogada. Publicitaria. Administradora. Tudo, menos casada. Tudo, menos morar em Seattle. Tudo, menos ser uma Molina. De repente eu me vi sufocada, sobrava medo, receios, insônia. Faltava-me sonhos, felicidade, liberdade... E por mais que você ame alguém, depois de um tempo você não suporta mais sofrer. Em vão. Quando se é uma pessoa tão complicada como Christopher. Obcecada. Disposto a tudo realmente como mamãe disse. Eu podia ir para longe, mas, ao mesmo tempo, quando o olhava só queria ficar e consertar tudo...

— Você precisa pensar amiga... — A voz de anjo soprou em meus ouvidos.

— Eu já me decidi... — Ambos me olharam esperançosos — Eu vou.

— Não. Não você não pode ir! — Ele gritou descontrolado. — Você não vai levar ela daqui! Eu me recuso! Nunca vou dar o divorcio, nunca!


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Notas finais do capítulo

Que dó do Chris! Nem sabia a história toda ): Tadinho gente, vamos acalentar nosso menino! Buá ):



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