Aloha passou a tarde ensaiando para a apresentação noite seguinte. Ela sabia que quanto melhor se saísse menor seria o castigo sofrido.

– Muito bem Aloha – disse Sweetie – nos faça ganhar muito dinheiro essa noite aqui. Ouvi dizer que os rapazes da região são cheios da grana.

A morena alta estava ali há pouco tempo e não possuía as mesmas regalias que Aloha. Diferentemente da menina, todas as outras além de participarem do show também poderiam ser vendidas. Quanto mais cada uma ganhasse menos iria ser o seu castigo na mesma noite.

– Vamos ver como eu me saio hoje, não quero que nenhuma de vocês passe mais um segundo na gaiola.

A temida gaiola ficava no dormitório dos soldados e era um pequeno espaço onde elas só podiam ficar sentadas na mesma posição a noite inteira. Além disso, tinham de lidar com as provocações feitas pelos homens.

–Eu sei querida – respondeu Artie, uma ruiva que estava por perto – mas também não queremos que você continue sendo tratada assim pelo Josh.

Josh era o filho de Wallace e em seu aniversário de 19 anos ganhou a pobre menina como um presente. Ele exigia sua exclusividade e só a deixava participar das apresentações apesar de compensar a falta de lucro com muita violência.

– Acabou o ensaio vadias– gritou Karl pela porta.

As 10 meninas se alinharam e foram algemadas por Karl e seus soldados.

Cada uma foi levada para uma pequena e suja cela onde elas passavam a maior parte do tempo. Aloha sentou no chão imundo e se encostou cansada na parede. Tudo poderia ser diferente nesses dez meses, ela não sabia mais onde estaria sua esperança, já havia pensado em se matar várias vezes, mas era covarde demais para isso, ou talvez corajosa demais.

Ela cresceu no circo com seus pais. Dançava e cantava desde pequena e sempre foi uma das atrações principais. Dez meses atrás Wallace e Josh assistiram a uma de suas apresentações e o mais novo ficou encantado pela menina. Na mesma noite um incêndio foi armado e matou todos que ali estavam. Apenas Aloha foi retirada da tenda por Josh que a via como sua propriedade.

– Senhor mais uma se foi! – gritou Karl no corredor das celas enquanto corria para os aposentos do chefe.

Aloha foi para junto das grades assustada. Quem seria dessa vez? Os suicídios eram quase semanais. E isso só enfraquecia a vontade que ela tinha de lutar. Nenhuma delas importava para Wallace apenas o dinheiro que elas arrecadavam.

– Liz? Quem foi? – gritou pela grade para a menina da cela ao lado.

Esperou o que pareceu uma eternidade pela resposta. E só ouvia o silêncio.

– quem fez Liz? – gritou mais alto sentindo uma lágrima escorrer pelo seu rosto.

– Acho que foi a Michelle – surgiu uma voz silenciosa da cela ao lado.

Michelle havia acabado de se juntar ao grupo e estava com eles há três semanas. Ultimamente estava muito triste e tinha apenas 16 anos.

Aloha bateu sua cabeça na grade como um gesto de desespero. Quanto mais ela iria aguentar? Ela ainda tinha esperanças que ia fugir? Todas que tentaram foram mortas. Mas seria a morte pior do que aquilo?

Suas lágrimas corriam pelo rosto desesperadas. Não, ela não estava acostumada.

Wallace, um homem robusto com barba e cabelos pretos passou lentamente pelas celas observando a tristeza de todas. Aloha evitava sempre que possível olhar em seus olhos, pois nunca gostava do que via. Ele era um homem morto e sem alma por dentro, era uma criatura horrível para se estar por perto.

–Sabia que ela não duraria muito tempo – disse o homem olhando o corpo ensanguentado da pobre garota ­– essas meninas estão me trazendo muito prejuízo...

–Podemos levá-la chefe? Podemos procurar alguma outra vadia durante a viagem.

– Não, já chega, está na hora delas aprenderem que já chega essa ladainha de se matar aqui – disse alterando a voz para um rugido terrível olhando para cada uma em cada cela – Parece que vocês não aguentam não é? Vamos ver se mais alguma vai querer se matar... Daqui para frente cada uma que decidir se matar vai levar a vida de outra junto.

–Não! – gritou Aloha desesperada

– Não se preocupe querida, você ainda não vai ser a primeira, você trás muito lucro para mim ­– disse se afastando de sua cela – pelo contrário a senhorita aqui anda meio tímida não é?

­– Pare seu monstro! – gritou Aloha ­ao vê-lo se aproximar da cela de Sweetie.

– Cale a boca sua nogentinha! Meu filho vai vir buscar você mais tarde – ele se voltou para um dos guardas ­– Mate a morena. Agora vai ser assim, o suicídio de uma causa a morte de outra.

Aloha derramava cada vez mais lágrimas ao ver sua amiga lutando contra dois guardas. Quando ela passou por sua cela jogou um pequeno colar para Aloha.

­– Seja forte vadia ­– sussurrou com um tom brincalhão entre suas lágrimas.

O colar era uma pequena flor de lótus.

– Você vem comigo – disse Josh abrindo sua cela.