O Legado de Lily Potter escrita por O Coração Negro, Lana


Capítulo 16
Capítulo 15 – Implicações de um duelo mal sucedido.


Notas iniciais do capítulo

Coisas importantes nas notas finais.



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Capítulo 15 – Implicações de um duelo mal sucedido.

– Expelliarmus! - Esse feitiço sempre funcionou, e era minha única saída, ou então Hugo teria algo pior do que simples e grotescas orelhas de burro. O feitiço de desarmar fez com que a varinha de Alexander se soltasse de suas mãos com tanta rapidez que ele só percebera quando se ouviu o baque surdo de madeira contra o chão de pedra, do outro lado do corredor. O raio iluminara o local que em sua parcial escuridão, escondera as facetas dos presentes.

Menos a dele, eu pude ver com clareza.

Alexander pareceu assustar-se com a minha inesperada intromissão, mas sua expressão ficou mais nebulosa ao notar o olhar de ira que eu lhe lançava. Escórpio pegou a varinha que havia sido arremessada há pelo menos cinco metros do combatente e fez um gesto para o que o amigo o acompanhasse. O duelo pelo menos terminou, e caso tivesse continuado os danos poderiam ser irreversíveis.

Tabitha estava paralisada, enquanto Hugo chorava com as mãos na cabeça. Não era possível que meu primo seria imbecil ao ponto de se achar capaz de enfrentar o provável herdeiro do Lorde das Trevas. Sendo ele isso mesmo, devíamos agradecer por não ter tirado sumariamente a vida do garoto.

Abaixei-me para conferir o estrago que Alexander fez:

– Consegue se levantar? – eu perguntei baixinho.

– A minha dignidade não deixa. – Hugo disse em um mísero sussurro.

– Sua estupidez provocou isso, agora se levante! – Eu praticamente ordenei, e francamente, ele não estava em condições de retrucar.

Deixando-se mover, saindo parcialmente do transe, Tabitha finalmente murmurou algumas palavras.

– Será que Madame Pomfrey não poderia dar um jeito nisso? Ela está velha, mas sua memória medicinal permanece intacta... – eu reconheci como uma válida tentativa de animar o rapaz.

– Podemos tentar. Vamos Hugo! – Eu praticamente o arrastei pelos corredores, ainda que ele insistisse em se esgueirar pelas sombras, tamanha era sua vergonha. De nada adiantaria, pois eu apostava que há essas horas a escola toda já estava sabendo do duelo entre ele e o misterioso Alexander Miller, que agora já se revelava para mim como alguém de péssimo caráter.

Chegando à ala da enfermaria, Hugo se recusou em nos deixar acompanhá-lo. Deve ser mais um de seus dilemas com a sua dignidade... Demorou-se muito tempo por lá, e mesmo que eu e Tabitha estivéssemos com os ouvidos colados á porta, nada podíamos ouvir, e então desistimos. Arrastamos as costas pelas paredes até que nos sentássemos no chão, frente a frente.

– Ufa. Pelo menos orelhas de burro não são passíveis de causar a morte. – dei um breve sorriso.

Tabitha meneou a cabeça em concordância, mas seu semblante denunciava que algo a incomodava. Lancei meu melhor olhar inquisitivo e este foi o estopim para que ela disparasse a falar num fôlego só.

– Lily, as coisas só vão piorar, eu estou sentindo. Não sei o porquê disso tudo, ou o que há por trás do Alexander e de toda essa história de FOOP e de legado do Voldemort, mas isso não está cheirando nada bem. Hugo provocou o duelo, mas o que o garoto fez com ele foi uma espécie de aviso, do tipo: “Não atravessem o meu caminho.” É exatamente isso que estamos fazendo.

– Você tem razão, mas já chegamos a um ponto em que desistir seria muito pior. Eu sempre fui o alvo, já tentaram me matar várias vezes. Hugo tomou minhas dores e veja só, acabou atacado também. Você está com medo, seria mais prudente que se afastasse dessa história toda, porque ainda tem tempo Tabitha. Eu já não tenho mais essa opção. – conforme ia falando, tentava me mostrar destemida, mas não sei se consegui. De fato, tudo o que eu disse era a mais pura verdade.

– Eu não vou abandonar vocês. Custe o que custar, lealdade acima de tudo. Eu não seria digna de Hogwarts e de ser amiga de vocês se não fosse assim. – Ela desenterrou de dentro de si um sorriso de coragem, e seus olhos transpareciam que ela queria muito acreditar nele. Tabitha me surpreendeu, e vi que não errei ao elegê-la como minha melhor amiga.

Finalmente a porta se abriu. Levantamos rapidamente e Madame Pomfrey saiu acompanhada de Hugo. As orelhas de burro permaneciam junto a ele, que continuava cabisbaixo.

– Meninas, não pude fazer nada de imediato para curar nosso amigo aqui. Se ele tomar a medicação de ervas que preparei, talvez em uma semana as orelhas vão sumir. Cuidem para que ele siga o tratamento á risca, e não se assustem se houver efeitos colaterais... Diarréias são completamente comuns. – ela falou com muita propriedade. Eu e Tabitha assentimos, enquanto o rosto de Hugo parecia estar em ebulição, de tão rubro.

Andamos em silêncio pelos corredores. Ninguém ousava a falar nada, não com um garoto com orelhas de burro suspirando pesadamente a cada quinze segundos. Até que ele mesmo decidiu quebrar o clima de tensão.

– Acho que vou faltar ás aulas por uma semana.

– Você não pode, ou vai repetir o ano. – Tabitha interferiu.

– Não quero ser motivo de chacota... – Ele choramingou.

– Hugo, você não vai conseguir se esconder por muito tempo. De uma forma ou de outra vão descobrir, porque sua ausência será notada. E, além disso, daqui a uma semana, as orelhas sumirão.

Uma lágrima escorreu por seu rosto.

– Eu estou ridículo Lily! – Ele levantou as mãos e apontou para as famigeradas orelhas. O abracei. Não sabia o que falar naquele momento, porque nada além de um “Está mesmo” passava pela minha cabeça. Tabitha passou a mão de leve por suas costas enquanto ele me soltava. Quando ele olhou em direção a ela, mais uma vez a menina me surpreendeu.

– Você não estará sozinho. – E sorriu mais uma vez.

Os boatos insanos sobre o duelo de Hugo Weasley e Alexander Miller estavam tomando proporções assustadoras. Eu não me importava com o que falavam de mim, mas as ofensas ao meu primo estavam completamente fora de controle, já que as zombarias ultrapassavam em muito o limite tolerável.

Nos primeiros dias a regra estabelecida entre nós três era ignorar completamente qualquer comentário maldoso. Ouvíamos de tudo, desde que Hugo provocara Alexander por ciúmes de mim, o que era completamente sem fundamento, e até que eu havia proposto o tal duelo me oferecendo como prêmio. Imagine só... Isso apenas no dia do duelo, quando todos jantavam no Salão Principal. Ainda nem tinham visto o que acontecera ao garoto, e eu soube que seria muito pior.

A aula de Poções foi totalmente esquecida no instante em que o menino com orelhas de burro irrompeu sala adentro. Hugo tentou dar meia volta, mas o professor não permitiu que ele se ausentasse, e então para controlar a língua ferina dos piadistas, eu lançava olhares carrancudos que sei que eram capazes de assustar.

– Então a filha do Potter está em um triângulo amoroso... Pena que o duelo que ela própria armou não deu certo. Os dois incompetentes apaixonados ainda estão vivos. – eu apenas rolei os olhos. Não queria acreditar no absurdo que ouvia.

Mas Hugo se precipitou.

– Cale a boca! Você não sabe de nada. A Lily não é um objeto para ser disputada. – Ele só parou quando concomitantemente eu e Tabitha o tocamos. Deve ter voltado á realidade.

– Falou o grande Sr. Weasley com suas imponentes orelhas de burro! Olhe-se no espelho. – E dessa vez, ele não se atreveu a retrucar.

Parecendo uma verdadeira eternidade, a aula finalmente teve fim e Tabitha teve a ideia de pedir ao professor se ele conhecia alguma poção curativa para livrar o pobre Weasley do tormento. A única resposta foi o mesmo preparado de ervas de Madame Pomfrey, o que fez Hugo murchar suas novas orelhas. Definitivamente, a semana seria longa.

Os murmúrios sobre eu ter dispensado Hugo para ficar com Alexander corriam pelos corredores mais rápido do que as vassouras utilizadas pelos jogadores profissionais de quadribol mais badalados. Eu desmentia sempre que não era mais possível simplesmente fingir que não escutava, enquanto Hugo parecia mais preocupado com a humilhação de que era alvo e Tabitha o ajudava a contornar o vale da depressão, pois eu mesma não tinha condições no momento.

Alex parecia não se importar, e até rebatia a ideia com teorias irônicas de como seria impossível se afeiçoar por uma criatura irritante como eu. Eu achava isso bom, mesmo que por hora eu tenha ficado ofendida com as palavras dele, e não entendi bem o porquê. Na verdade, eu evitava ficar por mais do que segundos em qualquer ambiente que ele estivesse, pois minha ira só aumentava a cada vez que olhava para o que fizera com meu amigo e eu temia explodir. Não era hora de criar mais um motivo para me assassinar.

Com o passar dos dias, até as mais intensas mentiras perderam a força e pude finalmente respirar um pouco melhor, isso até lembrar de que logo teria aula de Defesa contra as Artes das Trevas. CórmacoMcLaggen é o avesso da simpatia e o sinônimo perfeito da arrogância, e só esses atributos me fizeram estremecer quando sua figura se fez presente no recinto.

– Boa tarde alunos. Ora ora, o que temos aqui? Então foi isso que acontecera ao nosso adorável Weasley... até que combinou contigo garoto. – A sala se encheu de risinhos inconvenientes e chiados insuportáveis. O professor deu um sorriso maldoso.

Hugo manteve as vistas baixas, folheando o livro fingindo não se importar com que acabara de ouvir. Qualquer um pensaria que, tendo se passado três dias desde o duelo e a azaração que o fizera adquirir tais orelhas, ele deveria estar acostumado. Porém todos sabem que dificilmente nos acostumamos com a desagradável humilhação diária.

Córmaco parecia não estar com vontade de falar sobre o tema da aula. Mais uma vez se vangloriava por seus ‘feitos’, e era palpável que ninguém fazia questão de o ouvir, até que suas histórias convergiram para os membros do Ministério da Magia e suas respectivas funções. E o que eu temia aconteceu: ela novamente usara meu pai como alvo de suas ofensas.

O nome Harry Potter ainda continha o efeito de despertar o interesse de qualquer pessoa que estivesse perto. Querendo ou não, meu pai ainda era o menino que sobreviveu, e ninguém esqueceria tão fácil a história do garoto da cicatriz que venceu o Lorde das Trevas, este que agora estava morto e enterrado. Bem, talvez não tão morto assim...

– Muitos dizem que Potter é um grande bruxo, o maravilhoso auror do Ministério da Magia. A verdade é que ele não fez grande coisa desde que assumiu esse posto. Continuou a ser a criatura intragável de sempre. Nada mudou desde que ele entrou, pelo menos nada que seja de suma importância, e tenho certeza de que o cargo em que ocupa seria mais adequado para alguém mais experiente com as artes das trevas. – era incrível como ele sempre se repetia. Sem dúvidas, essa mágoa o professor carregaria até o fim de seus dias.

O sangue subiu até minhas têmporas com as palavras dele. Segurei-me na cadeira apertando os braços da mesma até que os nós de meus dedos ficassem muito brancos. Obviamente meu pai era a pessoa que o ‘adorável’ professor mais odiava na vida, e deduzi que talvez fosse por saber que nunca igualaria seus feitos. Mordi a língua quando ouvi um garoto, cujo nome eu não recordava, responder o mínimo que eu teria dito àquele ser irritante.

– Penso que não professor. Quem seria mais experiente que o próprio garoto que enfrentou Lorde Voldemort em pessoa? Não vejo outra pessoa com o gabarito do senhor Potter. – ele disse meio receoso, e só lembrei-me dele quando McLággen se dirigiu para rebater. Era um garoto da Corvinal.

– Sr. Andrews, deveria ser mais atento ao mundo bruxo. Potter não fez mais nada além de derrotar o lendário Lorde das Trevas, mas não se esqueça de que não fez isso sozinho. Eu mesmo passei a vida lutando contra criaturas malignas e não tenho o mínimo reconhecimento que dispensam ao escroto Harry Potter. – sua voz era repleta de asco, mas aquele sorriso irritante persistia em seu rosto.

Não podia mais escutar qualquer coisa que visse da boca imunda daquele ser desprezível. Levantei-me de súbito e praticamente corri para a porta, e antes de sair, escutei-o se dirigir a mim,

– Srta. Potter, não lhe dou licença para sair. – Parei por um instante, mas sem responder nada, virei as costas e continuei porta afora. Depois de alguns dias apenas me esquivando de mentiras, eu precisava de um tempo para pensar.

Irrompi sobre a Sala Comunal da minha casa e joguei-me em uma das poltronas perto da lareira apagada. Estava incomumente vazia, a não ser por um gatinho estirado sobre o sofá do lado oposto, ronronando baixinho, este cuja raça não sabia dizer ao certo, mas era tão peludo quanto qualquer gato persa. Nunca o tinha visto por ali, e talvez tenha sido só minha falta de atenção.

O vi cochilar por um tempo e não percebi quando também peguei no sono. Algum tempo depois, fui acordada por barulhos de conversas cada vez mais altos, e despertei por completo quando uma garota quartanista se fez soar por todo o cômodo.

– Gente, as marcas são verdadeiras. Acho que a Lily realmente esteve na biblioteca com Alexander durante a noite e Hugo não gostou quando viu... – todos deram sorrisinhos maliciosos.

– O que? – Eu esfreguei os olhos ainda atordoada, mal acreditando ser real aquilo que acabara de ouvir.

– É, não tem como negar Lily, você foi o pivô que desencadeou o duelo entre os garotos... – Ela olhou de novo para as recentes cicatrizes em minha mão. Minha vontade era realmente dizer que o duelo aconteceu por minha causa, mas estavam imaginando o motivo errado. Senti que não deveria falar sobre o ataque do visgo do diabo, mas de qualquer forma não acreditariam em mim.

– Pensem o que quiserem, já estou de saco cheio de todas essas suposições ridículas. – Levantei-me, contudo, não tinha ideia de onde deveria ir primeiro. A aula estaria acabando neste exato momento e o SrMcLággen provavelmente estaria irado por eu tê-lo desobedecido. Não seria bom que me visse andando pelo corredor...

Subi para o meu dormitório. Esperava encontrar a paz e poder analisar quais seriam as próximas atitudes que tomaria para defender meus amigos e a mim, pois ficar parada significava a mesma coisa que assistir a ascensão do FOOP e o meu consequente declínio.

Petra e Ester estavam lá. Possivelmente foram elas que inventaram boa parte de todas essas inúmeras teorias que cercavam o duelo e que envolviam-me como numa teia de aranha, da qual eu não tinha meios para me soltar. Olharam-me curiosas, mas eu apenas tomei impulso e me joguei em minha cama como se aquele fosse o único esconderijo em que podia deixar que todas as minhas descobertas saíssem dos vãos da minha mente.

– Não vai tentar desmentir os boatos Lily? Todos estão dizendo que o Hugo desafiou Alexander para o duelo por sua causa... – ela estava com uma face zombeteira. Ester apenas acompanhou com o olhar toda a situação que se instalara.

Apenas olhei-a de relance e dei de ombros.

Ela pareceu se ofender com a minha indiferença, com impaciência a perpassar em seus olhos de cotia. Sem mais esperar, ela aproximou-se de mim e com o dedo indicador á altura de seu tronco, começou a balbuciar algumas coisas das quais eu não tinha conhecimento. Petra ofendeu-se mais do que o necessário com toda essa história, e por tanto, descobri que ela gostava de Alexander.

Desatei a rir. A Srta. Dobembolt á minha frente não tinha ideia de quão ridícula parecia com seu ataque de ciúmes completamente sem sentido. Quanto mais ela me encarava com o semblante de escárnio, mais vontade eu sentia de rir de sua injusta acusação. “Você não o tirará de mim” foi a gota d’água. Tive que parar pois o fôlego tinha cessado enquanto Ester parecia uma libélula assustada com a reação da amiga.

– Pode ficar com ele para você, não tenho o mínimo interesse. – Eu disse mais para mim do que para ela.

Seu rosto involuntariamente se iluminou. Petra estava repentinamente sem fala, e então sua amiga Andreiko decidiu ser sua porta voz.

– Então vocês não tem nada um com o outro? Eu jurava que você tinha trocado seu primo Hugo por ele. – A muda apenas concordou.

– Não que isso seja da conta de vocês, mas eu não tenho e nem tive nada com nenhum deles. – Decidi ser amigável, até porque ambas eram minhas colegas de quarto e seria interessante que não fizesse mais inimizades.

Tendo conseguido arrancar de mim algumas respostas, mais do que depressa elas correram escada abaixo para fofocar aos outros o que tinham descoberto. Pelo menos assim eu teria o silêncio necessário para organizar os acontecimentos, desde quando eu pisei pela primeira vez no castelo.

No início recordar aquele momento que parecia que há muito se passou foi bom. Pisar no castelo onde meus pais se conheceram e batalharam para triunfar sobre o mal que pairava como uma nuvem negra que impede o sol de brilhar era uma ideia extremamente animadora... Foi uma pena que o sonho azul não durou muito tempo, e as subsequentes tentativas de assassinato pareciam mais claras a cada lembrança que eu rememorava.

Pela janela, vi que a noite chegara e tudo o que eu queria era que o que se passara se desvanecesse no céu estrelado acima de Hogwarts. Depois de fazer minha higiene, o sono abraçou-me e eu acreditei que nenhum sonho viesse a me atormentar esta noite. Ledo engano.

Sonhei mais uma vez com o dia em que o menino com o caráter mais duvidoso que já conheci na vida cruzou meu caminho pela primeira vez. Apareceu na hora certa para me livrar da morte, em um lugar insólito como a Bulgária, com uma varinha que depois descobri ter o núcleo gêmeo da minha... Como as coisas mudaram, porque aquele que me salvara, hoje quer a minha morte. E um dia eu acreditei que ele tivesse um coração puro, e realmente é puramente de Lorde Voldemort, o bruxo moderno mais terrível.

E Alex era o seu legado. Isso não iria mudar.

Desta feita, o sonho foi um pouco diferente. Depois de me tirar da frente do trem eu via a expressão do garoto se transfigurar e um instante depois eu encarava o rosto que reconheci ser de Tom Riddle, uma face pálida e horrivelmente macabra, embora ainda tivesse uma certa beleza por trás de seu ar sádico. Antes que eu pudesse gritar, tapou minha boca com uma das mãos e com a outra, obstruiu minhas vias respiratórias num aperto enlouquecedor. Eu me debatia em seus braços, mas uma de suas pernas travaram as minhas e impedia que eu me soltasse; tentei morder sua mão, mas meus dentes pareciam não fazer nada á pele gelada e a esganadura fazia com que lágrimas escorressem por minhas bochechas.

Sem conseguir respirar acordei ofegante.

Senti um grande desconforto no pescoço, e uma ardência sem explicação onde, no sonho, as mãos que eram de Alexander/Voldemort estavam a me asfixiar. Ainda com os olhos molhados sentei-me e vi que as duas colegas de quarto já dormiam, e pela janela, pude ver que a madrugada se fazia presente.

Sem fazer barulho, esgueirei-me até uma das janelas e abri a dobradiça, colocando a cabeça para fora a fim de mergulhar no inebriante vento e encher meus pulmões dele até que doessem. Era melhor do que a sensação de sufocamento pela qual minutos antes eu passara.

Por Merlin, tinha sido apenas um sonho. Ou não, e nas atuais circunstâncias, não cabia a mim dizer. O que eu percebi verdadeiramente é que o sonho foi a manifestação da mudança que meu subconsciente fez com a figura de Alexander: antes um heroi, durante algum tempo um mistério e agora, o legado de um monstro.

Sabia que não voltaria a dormir essa noite. Ainda faltavam algumas horas para a alvorada e eu precisava ocupar minha cabeça para que não ficasse remoendo o pesadelo. Decidi fazer algo útil e então me pus a estudar o livro de Transfiguração, pois prima Victoire é muito exigente. Para isso, sentei-me no topo das escadas e comecei a ler o conteúdo dos exames que se aproximavam e por um instante, o meu mundo pareceu como quando entrei na escola, há quase um ano atrás, de volta aos eixos.

***

O café da manhã fora servido no Salão Principal bem cedo. A mesa da Grifinória estava empanturrada de gente em suas laterais e comida por toda a sua extensão, e mesmo em meio a preguiça, o barulho de conversas paralelas era ensurdecedor.

Hugo e eu continuávamos a ser o assunto preferido, e dessa vez, o comandante das chacotas era meu irmão James.

– Então você resolveu duelar pela honra da donzela indefesa? Que patético cara, logo por essa magrela! – todos riram, e Hugo retraiu-se, como costumava fazer nos últimos dias.

– Se soubesse o real motivo, não estaria rindo assim. – Weasley apenas murmurou.

– E porque você não me conta, primo? – James não parecia realmente interessado, só buscava um gancho para uma nova piada.

– Não sei se devo dizer. – Ele olhou para mim, e espero que tenha entendido meu olhar de censura.

A partir de então, James ficou mais tenso. Talvez tenha se lembrado do episódio de Arika e feito alguma correlação com o possível assunto. Meu irmão era brincalhão demais, mas não era burro.

– Hugo, o que quer que seja, eu tenho que saber. Ainda sou o irmão mais velho dela e tenho que protege-la.

Eu tive que interferir.

– Não, deixe James fora disso. – Minha voz soou autoritária, mas não o suficiente para fazer com que qualquer um dos dois hesitasse. Falávamos aos sussurros agora, de modo que somente nós podíamos escutar.

– É bom que ele saiba,Lily. Não sabemos quando será a próxima tentativa e se você terá a sorte de escapar novamente, e ele pode ajudar a te proteger.

– Tentativa? Proteger de que exatamente? – James agora parecia atordoado, embora ainda muito curioso.

Hugo respirou fundo, e eu também. Antes de falar, meu primo Hugo Weasley olhou para os lados vendo se estavam todos distraídos o suficiente para não ouvirem.

– É simples. Querem matar a Lily, e já tentaram várias vezes, e em todas elas conseguiu escapar. A pergunta é: até quando? Você deve saber quem nutre grande antipatia por ela.– Eu desviei o olhar em relutância à afirmação, mas sabia que ele estava certo. Hugo continuou contando os acontecimentos com detalhes, inclusive o episódio da biblioteca, e não sei por qual motivo me senti corar nessa parte, e ainda assim, nada disse.

James paralisou e permaneceu por um bom tempo assim. Por fim, levantou-se rapidamente da mesa e chamou dois amigos para o acompanharem. Quando ia perguntar para onde ia com tanta pressa, olhei para a porta e vi que seguiam ninguém menos que Alex e Escórpio e inesperadamente, meus músculos ficaram rijos temendo que meu irmão fizesse alguma besteira.

Quis ir atrás deles, mas Hugo me segurou e instantes depois Tabitha se juntou a nós.

– Não sei o que James vai fazer, mas tenho que impedir de qualquer forma! – e levantei-me bruscamente do banco.

– É melhor que não vá. Acho que seu irmão vai tirar satisfações e é bom que o Alexander saiba que você não está sozinha. – ele estava sério, embora as orelhas atrapalhassem sua seriedade. Sentei novamente.

– Hugo está certo Lily. E estamos atrasados para a aula do professor Slugorn.

A passos pesados e com a cabeça longe, fomos para a aula, que a meu ver parecia estar parada no tempo. Não prestei atenção a sequer uma palavra do professor, com medo de ter acontecido algo, e o sonho da última noite recorria aos meus pensamentos sempre que uma onda de pressentimentos ruins me invadia.

Quando finalmente o sino se fez soar, uma multidão de alunos se aglomerava pelos corredores, uns aflitos e outros um tanto eufóricos... alguns choravam e havia também aqueles em que o que prevalecia era uma faceta de horror.

Arrepiei-me, mas tive que fazer a fatídica pergunta a um estudante que não conhecia.

– Aconteceu algo? – Hugo e Tabitha estavam postados atrás de mim.

– Um assassinato dentro do castelo. Parece que Alexander Miller, da Grifinória, matou alguém.

Minhas pernas amoleceram e se não fosse segurada, certamente teria desmanchado na frente de todos. Um nome retumbava em meu cérebro em sinal de alerta e era a única coisa que eu sentia era um grande aperto no coração. Quando recuperei a voz, disse em um timbre esganiçado.- Não pode ter sido o James! – e desatei a chorar.


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Notas finais do capítulo

Eu estou com preguiça de escrever qualquer coisa nas notas finais (que ironia né), então comentem.
Apesar da minha preguiça tenho que agradecer a Srta Malfoy, que fez propaganda da nossa fic no blog dela e ainda entrevistou a Luani (Lana) e eu. Acredito que a entrevista está bem legal e até engraçada, se alguém quiser ver: http://semprenyah.blogspot.com.br/



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