Crônicas Di Angelo escrita por log dot com


Capítulo 9
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

Demorou, mas chegou. Lembrando, esse é o penúltimo capítulo, no próximo a fanfic acaba. Bom, espero que gostem, pois esse é um Capítulo Especial, ou seja, tem narrações de outras personagens que não sejam Bianca e Nico. Aproveitem. :))



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/428366/chapter/9

A têmpora de Valentin estava sangrando há duas horas.

Seu corpo estava cansado e sujo, sangrando em alguns pontos, e seu corpo estava amarrado à uma tábua de madeira ultra-desconfortável, enquanto ele tentava dormir em uma caverna escura, úmida e sinistra, com a impressão de que não sairia vivo de lá.

Isso sem falar na saudade de Bianca, que o corroía internamente cada vez mais. 10 dias. Era esse o castigo que ele vinha passando. Sem ouvir, sem sentir, sem nem ao menos ver Bianca. Ele não gostava de sofrer daquele jeito. Isso o matava por dentro, e por fora também. Ele não conseguia viver sem ela. Nunca conseguiria. Ele a amava.

Um pouco de culpa pesava em sua consciência, afinal, ele tinha “traído” Bianca com Karla.

Karla. A filha de Ares. Ou melhor, a semideusa/semi-empousa (longa história: Ares “acidentalmente” acabou por “ficar” com uma empousa, daí nasceu uma “semi-deusa/empousa) filha de Ares. Valentin não sabia explicar o que sentia por aquela menina. Só sabia que ela lhe lembrava terrivelmente Bianca, e que, quando a mesma o beijou, ele não conseguiu resistir e entrou numa dança imaginária dum beijo que nunca tinha acontecido entre ele e a filha de Hades. E agora, Karla o “traía”, levando-o diretamente ao covil de suas semi-irmãs, onde ele seria sacrificado.

Exato. Você leu exatamente o que você leu: sacrificado.

No dia em que Valentin foi capturado, a magia das servas de Hécate (vulgo empousai) era mais forte. Se um/uma filho/filha de Apolo fosse sacrificado nesse mesmo dia, junto de uma Caçadora de Ártemis, num ritual macabro próximo ao amanhecer, o dia não raiaria, pois algo como “a morte da magia de Apolo e de Ártemis morreria por um dia” entraria em ação.

Valentin também demorou para entender, mas funcionava mais ou menos assim: no dia do sacrifício, e apenas naquele dia, se um filho de Apolo e uma Caçadora tivessem seu sangue sacrificado na Mesa do ritual macabro, o Sol e a Lua não nasceriam por aquele dia prestes a raiar. Todas as vinte e quatro horas inteiras seriam apenas escuridão.

E onde entrava Bianca nisso tudo? Valentin não sabia. E, sinceramente, uma parte dele queria que a filha de Hades tivesse escapado das garras das empousai. Pois a outra parte apenas queria que Bianca fosse levada até lá, direto para os braços dele. Para morrer? Talvez, mas ele não ligava. Apenas queria ela em seus braços.

Então, desconfortável e tristemente, Valentin forçou-se a dormir, pensando e sonhando com aquilo que ele sonhava nos últimos dias, e sonharia dali em diante...

Bianca di Angelo.

______

Nico achou que nunca iria esquecer a figura daquela mulher. Seus cabelos longos e negros como as trevas esvoaçavam e rodopiavam, e seus olhos se perdiam num negro profundo, e sua pele, apesar de branca, irradiava um terror e um poder tão grandes que Nico não pode deixar de tremer.

Nix, a deusa da Noite. A deusa do Medo. A deusa das Trevas.

_Nico di Angelo. Há dias espero uma oportunidade para falar com você.

Nico tremeu, e gaguejou. A deusa primordial estava quase o fazendo fazer xixi nas calças.

_O-o qqq-que? – Perguntou Nico, tentando não deixar transparecer seu medo na voz. Fail.

_Estive lhe observando, Nico, e decidi lhe dar uma... Ajudinha.

Okay, Nico sabia o suficiente para entender que “ajudinha”, vindo dos deuses, significava “fuja para as colinas porque agora o negócio vai ferrar legal”.

Nix sorriu levemente, como se lesse os pensamentos de Nico.

_Eu coloquei muitos testes em seu caminho, filho de Hades. E você passou em todos. Agora, eu lhe darei o teste final: uma escolha.

Okay, escolhas são ruins, e Nico sabia muito bem disso.

_Oi?

Nix pigarreou, e prosseguiu.

_Você quer encontrar Bianca, correto?

Nico assentiu vagarosamente.

_Digamos que você nunca irá encontrá-la, pois sempre vocês dois estarão se movimentando, e sempre que um chegar perto do outro, um se afastará cada vez mais, até algum dos dois morrer e a história acabar. E suponhamos que eu saiba disso e possa alterar esse futuro. Por um preço.

Nico sentiu o estômago embrulhar. Okay, quando os deuses exigem um “preço”, então corra. Sua vida acaba segundos depois.

_E-e q-qual seria ess-esse preço? – Nico voltou a gaguejar, pois estava com medo. Se Nix estivesse falando a verdade, ele nunca mais veria Bianca. E isso estava fora de questão. Mas e se o preço fosse algo que Nico não pudesse pagar? O filho de Hades temia cada vez mais a hora em que tivesse que decidir...

_Em um momento, eu lhe darei uma escolha: sua irmã ou seu amor. E você terá que escolher um dos dois, Nico. Você terá.

Então Nix se dissolveu nas Trevas, assim, sem mais nem menos. Nico gritou para ela voltar, mas era apenas ele e a Escuridão. Assim, sem sentido algum.

_HEY, PARE COM ISSO! – Gritou uma voz na escuridão, e logo Nico viu Mattew vir andando até ele com o cenho franzido. Deuses, Nico suspirou imediatamente e não soube bem porque. Ou melhor, soube. Ele sempre soube. Mattew estava sem camisa, e a calça caía-lhe pela metade, e isso fez Nico corar. Acredite, Nico corou bastante.

_Por que você está gritando feito louco? – Perguntou Mattew, e Nico deu de ombros.

_Às vezes é bom gritar. – Certo, Nico mentiu. Mas algo lhe dizia que Mattew era seu amor, e que, se Nix estivesse certa, para achar sua irmã seria necessário negar-lhe. E nunca que o filho de Hades conseguiria descrever uma coisa dessas. Primeiro porque não sabia se Mattew gostava dele desse jeito, e, depois, e se gostasse? Então, Nico teria que lhe dizer adeus...

O garoto sacudiu a cabeça, tentando afastar esses pensamentos, e se sentou num canto escuro, numa pedra. Mattew o seguiu, sentando no seu lado.

_Hey, você sabe que somos amigos, não?

Nico acenou com a cabeça em concordância.

_E sabe que pode me falar qualquer coisa, certo...?

Não, dessa vez Nico não assentiu nem acenou nem negou. Ficou quieto. Apenas isso. Quieto.

_Se algo o estiver incomodando, é só falar. – Insistiu Mattew. Nico deu de ombros, o que Mattew entendeu como um “não-me-incomode”. Foi a vez de Mattew dar de ombros.

_Tá legal, se você não quiser falar...

_Argh, que droga! – Exclamou Nico. – A questão que me incomoda, Mattew, é que eu... Eu, gosto...

Vai, Nico, só mais um pouquinho. Admita.

_Gosta de? – Mattew levantou as sobrancelhas, sério. Nico respirou fundo, e abriu a boca. Mas a voz não saía.

_A questão é que, todo esse tempo, eu me... Eu m-me afeiçoei a-a v-vvoc...

Um estrondo quase explodiu os ouvidos dos dois semideuses, e sombras grotescas surgiram da escuridão, formando um círculo de quinze monstros em volta dos dois garotos.

Nico sacou a espada. Mattew também. E os dois ficaram lado a lado para enfrentar quisquer monstro que ousasse desafiar seu caminho.

Eram trasgos, por sinal. Todos eles de pele grossa e negra, com uma aura sombria irradiando deles. No fundo, Nico sabia quem tinha os enviado. Uma deusa primordial não tão cordial assim. Nix.

______

Quando Valentin acordou, Karla estava levando uma caneca de água para sua boca.

_ARGH! – Ele afastou a semi-empousa, enojado. Karla olhou-o de cima a baixo, um pouco irritada e triste.

_Qual é a necessidade disso e...?

_Saia daqui, serva escura do Mal. – Valentin a afastou. Tudo bem, admita que ele tinha seus direitos. Aquela garota tinha acabado de conduzi-lo à morte certa num ritual das Trevas onde seu sangue seria utilizado contra seu pai, Apolo.

Karla fungou com o nariz como se fosse chorar.

_Pare de me maltratar. Eu não fiz por querer, sério. Quando eu te beijei, Valentin, e-eu... Falei a verdade. Eu te amo. – E Karla tentou beijar o filho de Apolo mais uma vez, e Valentin estava quase entrando nessa e correspondendo o beijo novamente. Sério, eu já mencionei que empousa são extremamente perigosas quando o assunto é amor para os homens?

Seus lábios enfim se tocaram mais uma vez, e Valentin não aguentou. Karla lembrava-o demais Bianca. Karla, com o sedutor poder das empousai, fazia-o ver Bianca na sua frente. E a barreira foi quebrada. Logo, Valentin e Karla se engoliam num beijo, enquanto a semi-empousa lentamente sufocava o filho de Apolo...

Mas os dois foram interrompidos, pois nesse momento, adentraram na caverna duas empousai sorridentes. E vinham com uma pessoa. A pessoa que Valentin menos esperava ver no momento. A pessoa que ele mais tinha esperado nos últimos dias.

Bianca di Angelo.

______

Nico e Mattew já tinham matado dois dos quinze trasgos. Faltavam apenas treze.

Silenciosamente, Nico rezava para o pai, Hades. E, um pouco mais alto do que ele esperava, Mattew rezava para sua mãe, Afrodite.

A luta estava bem parcial, acredite. Nico estava cercado por mais de sete daqueles seres envoltos por magia negra, enquanto Mattew se virava com os outros seis.

Nico matou um. Dois. Três. Quatro. Logo, só faltavam dois tragos para serem mortos. Mattew tinha feito um avanço considerável também, pois para ele só faltava um monstro. Estava quase acabando, faltava pouco.

E, em cerca de poucos minutos, os trasgos estavam derrotados. Completamente aniquilados. Mortos.

Mattew sorriu, um pouco zombeteiro.

_Até que foi fácil matar esses trasgos. Sério, eu esperava bem mais e...

Nesse momento, uma névoa negra desceu dos céus e cobriu os cadáveres dos trasgos, que, aliás, não tinham se dissolvido em poeira amarelada. E então, os quinze, aos poucos, retornaram à ficar de pé, e caminharam até os dois semideuses.

_A-Ah, não... – Sussurrou Nico, caminhando para trás. Os trasgos avançaram, mas dessa vez em Valentin. Todos. Sem exceção de nenhum.

Nico não sabia o que fazer, e se sentiu paralisado. Então, um portal se abriu, e uma voz fria e gélida soou. Nix.

_Nico di Angelo, o dom da escolha lhe será dado. O portal à sua frente lhe levará até Bianca. Entre nele e você e sua irmã imediatamente estarão unidos. Se você salvar a vida de Mattew, o portal se fecha. Escolha, Nico di Angelo, escolha. Pois sua única chance é essa.

Suor escorreu pelo rosto do garoto. Ele não poderia escolher. Simplesmente não poderia. Então ele olhou para trás, onde quinze trasgos-zumbis furiosos dilaceravam lentamente Mattew. Nico poderia salva-lo. Tinha feito isso uma vez, até mesmo recebendo uma benção de Hades. Mas se o fizesse, nunca mais veria Bianca. E ele não tirou essas conclusões por alguém ter dito isso a ele. Não.

Ele sentia que nunca mais veria Bianca se ousasse salvar a vida de Mattew.

Nico o amava. Sempre o tinha amado. Mas não podia mais ajudá-lo. As Parcas tinham decidido. Era Mattew ou Bianca.

E nunca Nico deixaria de escolher Bianca.

Os trasgos então se transformaram em pó, como se já soubessem da decisão do garoto. E então ficaram apenas Nico e Mattew. Um olhando para o outro.

_N-Nico... M-Me... M-Me ajude... – Sussurrou a voz de Mattew, estendendo a mão para Nico. O corpo inteiro do garoto estava sangrando. Sua carne estava dilacerada, e seus membros estavam carcomidos.

Nico se aproximou do garoto com o coração apertado, enquanto uma vozinha interior dizia: “Salve-o, salve-o. Você o ama. Salve-o”, mas era sufocada por outra, que dizia:

Sempre escolha Bianca. Sempre”

E Nico deu as costas para Mattew com lágrimas escorrendo pelo rosto. Tinha feito sua escolha. E sempre a repetiria, se necessário. E a última coisa que Nico ouviu antes de entrar no portal foi uma voz de um antigo amigo, um cara que tinha salvado a vida dele várias e várias vezes. Uma voz sussurrante que lhe dizia:

_Eu te amo.

_____

Bianca quase enlouqueceu quando viu Valentin e Karla se beijando vorazmente no chão daquela caverna fria e úmida. Quase.

Pois ela se sentiu deliciosamente vingada quando as empousai brigaram com a “filha de Ares”. E sentiu-se imensamente satisfeita com a cara de susto e de culpa de Valentin. Ah, sim. Ela ficou.

_Logo sacrificaremos o filho do deus Sol, o deus Apolo, e a caçadora da Lua, Ártemis. Assim, nosso plano estará completo e a Noite dominará o Dia...

Bianca sentiu seus pelos arrepiarem. Estava brava com Valentin, mas ainda assim... Se ele morresse, ela não saberia o que fazer, simplesmente não saberia.

_E a garota? O que faremos com a garota? – Perguntou uma das empousa. Karla sorriu, e abanou as mãos.

_Dessa aí eu cuido. Pode deixar. – Bianca sentiu novamente medo. Medo por ela e por Valentin. Medo por tudo.

E foi desse medo que Bianca tirou forças para o ato final. Ela não sabia como tinha conseguido, mas conseguiu. Pegou o medo que a corroía por dentro. E o transformou em poder.

O chão começou a tremer sob os pés das empousai. Poeira começou a cair do teto da caverna, e uma raiva profunda começou a crescer no âmago de Bianca. Raiva daqueles monstros. Raiva daquela situação. Raiva de tudo e de todos.

Pedaços do teto começaram a desabar. Um grande buraco se abriu aos pés das empousai, que gritaram. E ela foram puxadas para o Tártaro.

Para quem não sabe, pense nos seus medos mais profundo. Pense neles todos juntos, só que ampliados por mil, ou por milhões. Imagine todos esses medos ampliados por milhões num lugar só. E você está preso nesse lugar. Aterrorizado, na companhia dum ar ácido e dum lugar que aspira morte, junto de milhares e milhares de monstros inacreditáveis. Se você conseguiu vislumbrar apenas um pouco disso, você sabe apenas um pouco sobre o Tártaro.

Pois o Tártaro é ainda pior. Mil vezes pior.

E era para lá que Bianca estava enviando aquelas empousai. Para o Tártaro.

Os monstros começaram a gritar, mas todos estavam sendo atraídos pela força magnética que os puxava para a grande cratera que os levaria para o Tártaro. Apenas Bianca e Valentin continuavam parados, no mesmo lugar.

Isso por que Bianca controlava aquela força. De uma maneira que ela não sabia, mas controlava. Então, Valentin e ela estavam a salvo.

_Bianca... – Sussurrou Valentin com um olhar espantado. E Bianca demorou demais para perceber o que estava acontecendo.

Karla tinha agarrado o pé de Valentin enquanto era puxada para as profundezas do buraco aberto por Bianca. E agora Valentin estava lá, sendo arrastado por aquela semi-empousa nojenta.

_VALENTIN! – Gritou Bianca, segurando a mão dele. Valentin começou a se esticar, e Bianca ouviu Karla chiar enquanto se esforçava para manter suas mãos bem apertadas no tornozelo dele.

Bianca queria poder fazer alguma coisa. Mas não podia.

_Bianca... Por favor... se lembre de mim. – Sussurrou ele, fechando os olhos.

Bianca começou a se desesperar.

_Você não vai morrer. Eu não vou deixar.

Valentin sorriu tristemente, e uma lágrima escorreu por seu rosto.

_Apenas se lembre de mim. Não me esqueça. Pois eu nunca te esquecerei.

Bianca não aguentou e começou a chorar.

_Eu te amo, Valentin. Sempre... te amei.

Valentin sorriu tristemente novamente, e agora os dois choravam.

_Eu também te amo, Bianca.

E o rosto de Bianca começou a se aproximar do rosto de Valentin. Seus narizes se encostaram e, quando seus lábios estavam prestes a se encontrar, a mão de Valentin escorregou da mão de Bianca, e o filho de Apolo caiu para a Escuridão do Tártaro.

_VALENTIN! – Gritou Bianca, chorando desesperada.

As palavras dele ainda ecoavam no vazio da caverna: Não me esqueça.

_Eu nunca te esquecerei, Valentin. Eu juro pelo Rio Estige.

Eu nunca te esquecerei.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Ok, chorem. Vai demorar um pouco para sair o próximo, pois eu estou um pouco atolado. Espero que vocês continuem acompanhando e comentem esse capítulo, o que gostaram e o que não gostaram. Mas enfim... Até o próximo!! :))



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Crônicas Di Angelo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.